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E se eu tivesse feito animação?

Introdução

Quando eu era pequeno, eu dizia que queria fazer cinema. Nessa área, acima de tudo, eu gostava eram das animações. Me lembro do meu encantamento de criança com os filmes do Studio Ghibli, das aventuras que eu tinha com Totoro e Nausicaa, com Chihiro e Mononoke. Eu sonhava com aqueles mundos fantásticos, cheios de cores e de esperança. A partir desses filmes, surgiu em mim o sonho de ser um animador O que a minha criança desejava era criar estórias fantásticas que conquistassem públicos e ajudassem as pessoas a sonhar.

Mas meus pais não facilitaram essa decisão. Logo me podaram as asas, disseram que animação não era pra mim (em parte, eles tinham razão, pois sempre fui um péssimo desenhista, e sou até hoje). Mas no fim, acabei desistindo de cinema mesmo; ver filmes e animações acabou se ganhou o espaço de hobby apenas. Pensei depois em fazer Letras, Psicologia ou Jornalismo. Acabei no Direito.

Mas desde então ficou uma curiosidade em mim: que futuro me aguardava se eu tivesse optado por fazer cinema, anos atrás? O que aconteceria se eu fosse para o ramo da animação? Assim, o que eu desejo fazer neste trabalho é olhar para o mercado de animações, em comparação com o mercado de filmes (aqui vou adotar essa nomenclatura de “filmes” para designar tudo que não é animação, apesar de que animações também podem ser filmes).

Para realilzar este trabalho, vou me valer da base de dados do IMDB. Essa base contém 3713 linhas por 15 colunas, em que cada linha é um filme diferente, e cada coluna é uma variável deste filme. As variáveis que mais me interessam aqui são: gênero do filme, ano, orçamento, receita e nota no imdb.

Animações contra filmes

Para conseguir comparar melhor as animações, criei uma variável dummy, chamada “animacao”. Ao todo, observamos que há apenas 180 animações nesta base, de um total de 3700 filmes.

O que eu quero ver, em geral, é o que dá “mais certo”: filmes ou animações? O primeiro passo para isso é definir o que é “dar certo”. A medida que vou adotar aqui para escolher quem é pior ou melhor, vão ser duas: o faturamento de cada filme e a avaliação deles.

O faturamento eu calculei pela diferença aritmética entre a receita e o orçamento. Essa medida vai ser utilizada para medir o sucesso dos filmes pois, pensando no que os meus pais me disseram lá atrás, eles não acreditavam muito no mercado das aniamções. Então olhar para o faturamento talvez seja exatamente o olhar que me faltava aos meus 10 anos de idade.

Do outro lado, não basta que a animação seja lucrativa. Ela deve gerar um público que a cultive, que goste e ame o que eles estão vendo. Daí a medida das notas do imdb.

Vou começar essas comparações de uma perspectiva histórica. A escolha de comparar animações e filmes pelo ano de produção se deu porque cada período na história do cinema tem suas pecualiaridade. E na verdade, a história da animação é também a história de um desenvolvimento tecnológico específico. Enquanto os filmes se relacionam ao desenvolvimento das câmeras, e a técnicas específicas de capturar luz e movimento e som, as animações se relacionam à história da fotografia, da digitalização, do desenho e dos softwares de desenho gráfico. Enfim, começando com essas comparações simples entre as animações e os demais filmes, observamos os seguintes resultados.

Quando comparamos animações com filmes, o que chama a atenção é, primeiro, as altas notas das animações das décadas de 1960 e 1990. Vemos e cara esses dois picos. As animações de 1965 chegam a uma nota média de 8,4 enquanto as não-animações do mesmo ano ficaram com apenas 7,35 pontos na média. Isso se repete para as animações de 1994, mas nesse ano a distância fica ainda maior em relação aos filmes, em que as animações ficaram com 8,5 pontos de avaliação, em média, enquanto as não-animações com apenas 6,63.

Agora, comparando financeiramente animações com filmes, observamos que a década de 1990 apresenta um boom de animações, com uma média de faturamento, orçamento e de receita muito superiores aos dos filmes. Um grande orçamento indica muitas pessoas trabalhando em um mesmo projeto, o que indica muitos profissionais sendo remunerados. Uma grande receita, indica sucesso de bilheterias e movimentação entorno das produções. Essa receita, por sua vez, é o que dá conta do orçamento. E o faturamento indica que as produções de animação não são deficitárias, ou seja, que os profissionais de fato conseguem ser pagos, e ainda sobra dinheiro ao final (e não sobra pouco).

Mas…

Não se deixem enganar

Mas… Esses dados enganam. Eles enganam porque na verdade, os dados referentes às animações padecem de um grande defeito: a falta de observações. Por exemplo, quando vemos que a nota do imdb dos filmes de 1994 são, em média 6,63, estamos falando da média entre 44 filmes, em comparação com a nota de 8,5 de uma única animação! A seguir temos o número de animações por ano.

Quando nós olhamos a quantidade de animações a cada ano, vemos que as quantidades são sempre muito pequenas. 2006 é o primeiro ano em que tem mais de 10 animações em um único ano. E de qualquer jeito, a maior quantidade de casos que houve em um ano, foram apenas 13! Isso dificulta bastante tirar quaisquer conclusões a respeito do mercado de animações, porque não estamos diante de grandes números para inferir algo sobre as animações em geral.

Então, por mais sentido que faça dividir as comparações por ano – pois dessa forma conseguiríamos respeitar a história e o desenvolvimento das animações – a falta de casos nos dificulta continuarmos com essa estratégia.

Levantado este problema, é que vou partir para uma análise mais minuciosa dessas comparações. Vou tentar contornar esse problema de duas formas distintas: (1) agrupando os períodos em grupos maiores, a fim de aumentar o número e observações por grupo e (2) analisar globalmente, sem distinguir por tempo.

Grupos

A fim de criar grupos maiores, vou agrupar os anos em épocas, ou períodos. Para não fazer agrupamentos arbitrários, vou seguir os periodos históricos da história da animação. Os períodos são 6 (apesar de que o primeiro não será utilizado). Esses periodos refletem a proposta do historiador italiano Giannalberto Bendazzi, que escreveu “Animation: A World History”, um livro dividido em três volumes. Os periodos são:

  1. A fundação (0–1908): É o periodo antes da primeira animação a passar nas telas de cinema, Fantasmagorie de Émile Cohl. Não há nenhum filme na base deste periodo, obviamente, pois antes disso, animação não existia propriamente.
  2. OS pioneiros (1908–1928): São os primeiros filmes que começam a se desenvolver a partir de Fantasmagorie. Aqui, nasce a Disney. Não há nenhuma animação na base deste periodo tampouco.
  3. A Era de Ouro (1928–1951): É a época do boom das animações da Disney, em que Walt Disney domina a industria e populariza as animações nos Estados Unidos. Muito do nosso imaginário sobre o mundo das animações está ligado a esta época.
  4. O nascimento de algo novo (1951–1960): Nessa década, a Disney começa a perder seu público e sua audiência nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, do outro lado do Pacífico, é lançado o primeiro festival de animação internacional, na França. Esse é o momento em que a animação europeia ganha corpo.
  5. Os três mercados (1960–1991): Essa década vai até o fim da Guerra Fria. Ela é importante porque é nesse momento que surge um terceiro mercado de animações, nem americano, nem europeu, mas soviético.
  6. Contemporaneidade (1991–atualmente): Esse periodo começa do fim da Guerra Fria. Esse é um fato relevante, porque a partir de então as animações soviéticas, que até então ficaram fechadas, começam a se disseminar pelo mundo, bem como as animações europeia e americana ganham um enorme mercado inédito no Leste Europeu. Nesse periodo também é que as animações se encontram com avanços tecnológicos incríveis, dando escala para a sua produção. Além disso, é neste momento que ocorre o progresso da Asia enquanto produtora de animação, e não mais consumidora.

Olhando para a quantidade de filmes por cada periodo, percebemos que os resultados não melhora muito. Para os “Anos de ouro”, há somente 3 observações! E para “Os três mercados”, apenas 4. Felizmente, o periodo de animações contemporâneas ficou bem mais robusto. Ele contabiliza um total de 169 observações. Como esta alteração criou apenas um grupo em que as animações pode ser devidamente comparadas com filmes, acredito eu que não vale a pena realizar essa comparação, pois, na verdade, a próxima seção irá se dedicar a comparar os dois grupos de forma global. A diferença de observações entre a comparação das animações no periodo contemporâneo, com uma comparação que não leva em consideração o ano daquela película, é de apenas 7 casos.

Isso mostra, na verdade, a dificuldade em se obter informações a respeito das animações, deixando as análises incertas e tortuosas. Sigamos para a última comparação.

Análise global

A última análise que falta é a análise global: e se eu não considerar nenhum marco temporal, considerar apenas o conjunto?

Quando olhamos para a distribuição e faturamento das animações em comparação aos filems, vemos que as animações tem em média um faturamento maior do que os filmes. Essa conclusão passa a ser mais confiável do que as demais, pois agora estamos olhando para um número maior de animações (mais especificamente, para o orçamento de 180 animações). Essa informação – de que o faturamento médio das animações é maior do que o faturamento médio dos filmes – nos dá um pouco mais de certeza relacionada às conclusões que tiramos nas comparações por ano e por período. Quando comparamos os filmes e animações ao longo do tempo, pudemos observar que os orçamentos e receitas das animações eram muito maiores a partir da década de 1990. Essa conclusão, alertei eu, poderia estar enviesada, dado o baixo número de observações nos períodos analisados Entretanto, o que observamos agora é que, ao considerarmos todas as animações juntos, a tendência de as animações serem mais lucrativas do que os filmes se mantém.

Já quando comparamos as notas, observamos que, tanto animações como filmes, são igualmente bem recebidos pelo público. Ambos com uma nota média por volta de 7. Aqui, pelo menos, não há muita diferença entre animação ou filmes.

Conclusões: que futuro me aguardava?

É anedótico que o ramo do cinema que a minha criança gostaria de ter seguido tenha poucas observações para eu tirar conclusões. A escassez de observações traz um elemento de insegurança para qualquer análise. E talvez em grande medida era exatamente essa incerteza a que meus pais me alertavam, quando ofereciam resistência à minha escolha. O futuro que me aguardava no ramo da animação era um futuro incerto.

Das poucas conclusões que tiramos, vemos que, em geral, as animações possuem orçamentos maiores do que os filmes. Isso, talvez, indique que existem mais profissionais envolvidos na realização de animações e de que eles sejam mais bem pagos. É difícil comparar o preço de um set de filmagem, com o preço de softwares de computer graphics. Mas é um indicativo (e olha a incerteza aqui novamente).

Ao mesmo tempo, a grande desproporção entre animações e filmes (180 animações versus mais de 3500 filmes) também mostra uma dificuldade desse mercado. Isso indica que as animações são muito menos produzidas do que os filmes, ou seja, há muito menos projetos em andamento; o que leva a ter muito menos oportunidades de emprego. Então, novamente, a incerteza, a insegurança e a ambiguidade aparecem. As animações ao mesmo tempo envolvem mais profissionais (o que dá mais oportunidades de trabalho) e possuem uma produção reduzida (o que dá menos oportunidades de trabalho).

Se esse trabalho surgiu de uma curiosidade pueril, ele se conclui com muitas incertezas ainda, sem saber ao certo o que me aguardaria se houvesse escolhido uma carreira em animação. Mas também, não é como se eu me arrependesse das escolhas que eu fiz. Eu fico na verdade feliz de ver que as animações estão bem, firmes e fortes no mundo.

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