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Bom noite a todos, sejam bem-vindos. Vamos começar novamente com o nosso trabalho. Vocês viram que tem aí um texto para esta aula? Esse texto é a continuação de uma velha apostila que está reproduzida na segunda parte, aqui em letra menor. Eu não sei se vocês lembram desse começo que é de 2002. Isso tudo ainda faz parte da mesma investigação sobre o fenômeno da paraláxia. É evidente como nós estamos fazendo todo esse estudo. É o diagnóstico de uma espécie de patologia intelectual. Então, não temos como fazer este diagnóstico se nós não tivermos. Mas é junto com a patologia, uma fisiologia, uma certa ideia do que seria a vida intelectual no seu sentido pleno. O que seria a atividade filosófica normal e saudável. Claro que nós podemos fazer um partido de uma concepção meramente usual, costumeiro ou tradicional, mas eu não acho que isso não é a maneira certa. Eu tenho a impressão que, embora o padrão da normalidade da vida intelectual continue vigente, e que, de alguma maneira, no fundo da sociedade, embora a maior parte das pessoas, as funções cognitivas, continuem operando do mesmo modo, isso não quer dizer que haja uma clareza conceptora, não quer dizer que as pessoas saibam fazer esprecitamente essa distinção, mesmo porque a ideia de que existe um elemento patológico num desenvolvimento histórico de vários séculos é uma ideia bastante arriscada. Claro que hoje em dia tem muita gente que pronuncia esses diagnósticos com a maior legandade, achando que todo mundo está no direito de condenar as civilizações inteiras e jogar séculos inteiras de história no lixo, mas certamente eu não sou um deles. Se eu descubro que existe um fenômeno desse tipo, eu me sinto obrigado, não só a fornecer a prova integral daquilo que estou dizendo, mas também fornecer os motivos pelos quais eu considero que o fenômeno é patológico e também porque eu acho que ele poderia ser evitado e que existe meio, e por que que existe meio de contorná-lo? A paralaxa unitiva, na medida em que eu a defini como um deslocamento do eixo entre a experiência existencial e a construção teórica, ela implica evidentemente a ideia de uma espécie de estúdio de percepção. Então, algo como um desdúvio de percepção. Então, nesse caso, eu senti a necessidade de reconstruir o que seria o processamento normal da experiência existencial pela inteligência, e é isso mesmo o que eu estou chamando de percepção do fato concreto. O simples fato de que a filosofia durante três ou quatro séculos tenha estabelecido uma distinção muito rígida entre o que é a percepção sensível e o que são todas as construções ideais que se fazem em cima dela já é, a meu ver, patológico, porque na experiência real, do ser humano, não existe essa distinção entre o sensível e o não sensível. Por exemplo, quando você encontra uma pessoa, sua conhecida, você não vai dizer que você percebe separadamente a presença física dela, e o conjunto de impressões quase indefendíveis, pelos quais ela transmite a sua personalidade, a presença de uma consciência que está olhando para você. Então, você traçar o limite do sensível para o não sensível é evidentemente um trabalho posterior. Nós não podemos dizer que a experiência direta, a experiência efetiva do nosso conhecimento diário seja constituída de fato sensíveis, de impressões sensíveis, a distinção do sensível, do supracensível ou extra sensível, é muito posterior, é já uma elaboração. O que nós conhecemos na vida diária, o que nós temos na experiência efetiva, é o que nós formamos de fato concreto. É a partir do fato concreto que nós podemos começar a fazer essas várias distinções, inclusive a do sensível, não o sensível, para não falar da famosa distinção entre percepções primárias e secundárias, como fez Newton. Tudo isso é evidentemente uma elaboração, mas essa elaboração não poderia ser feita se não houvesse um material, qual é a feita. Esse material é justamente o que nós formamos de fato concreto. E não deixa de ser curioso que existindo ao longo de todo esse século, que vem desde o 16 até o século 20, tantas teorias sobre a percepção não existem efetivamente nenhuma teoria do fato concreto. Por exemplo, se existe uma escola materialista e uma escola idealista, é evidente que a distinção delas se dá a partir das interpretações que elas fazem de um material de base que se supõe seja o mesmo oferecido a ambos os filósofos, que os membros dessa corrente vivem no mesmo mundo. Então, se o jeito está a mesma experiência. E essa base de experiência primária, é isso aí que eu chamo o fato concreto. E é disso aí que eles têm que partir para fazer as suas divisões e elaborar as suas teorias. Mas essas teorias, todas elas, se referem sempre a distinções posteriores. Por exemplo, se o que predomina no conhecimento que nós temos do mundo é a percepção sensível, ou se é, como dizia Kant, vamos dizer a projeção das formas inatas, das estruturas do nosso esquema de percepção sobre o mundo. Então, tudo isso aí pode ser muito interessante, mas a pergunta é, a propósito do que que eles estão discutindo isso? Qual é o objeto de toda essa discussão? Não é necessário dizer que, como a filosofia moderna fez uma ênfase tremenda na questão do sujeito, e uma boa parte dela se desenrola na discussão de como se dá o conhecimento da realidade pelo sujeito, houve, na mesma medida, um desprezo pelo objeto, um esquecimento do objeto, é certo? E isso é claro que criou uma série de distinções. E isso já é, para mim, um dos sintomas da paralaxe cognitiva. Então, para entender o que, efetivamente, se passou, nós temos aqui, vamos dizer, ter primeiro lugar uma filosofia do fato concreto para que nós possamos entender, a partir de que elemento primeiro, elemento inicial de percepção, que desenrolaram todas essas diferentes interpretações, cuja disputa constitui a história da filosofia durante três ou quatro séculos. Então, eu vou ler o texto uma vez, de maneira direta, e depois vou ler de novo, acrescentando alguns comentários orais. Esse texto foi feito especificamente para esta aula, e certamente ele deve ter um ou outro erro de revisão, até de redação, mas a gente aproveita a ocasião para corrigir. Então, como o primeiro, esse texto, é um fato concreto e depuração extractiva, isso aqui, chama a mesma coisa com o número 2. A palavra concreto vem do latim, com crescer, crescer junto. Designa a vastidão de processos temporais, o certo espaço temporais, processos espaço temporais que concorrem, juntos e inseparávelmente, para a produção de qualquer acontecimento, por mais mínimo que seja. Por exemplo, você pega por, como exemplo, a percepção que você está tendo desta situação, deste momento de você estar nesta sala, assistindo a esta aula, tentando entender o que eu estou dizendo. Então, bom, este conjunto de estar nesta sala, assistindo a esta vida de conferência, é um fato simples da vida, mas ele se compõe, é fácil você perceber, que ele se compõe de uma quantidade inumerável, de acidentes, que concorrem para que essa situação se componha. Por exemplo, o conteúdo da aula que eu estou dando aqui, não tem nada a ver com o material de que são compostos as cadeiras, as cadeiras na qual vocês estão sentados, não há ligação nenhuma. Porém, o fato é que estas duas coisas, o conteúdo da aula e o material do qual são feitas as cadeiras, eles tendo a estar presentes para que esta situação aconteça. Então, é isso que eu quero dizer o fato concreto. Quando nós raciocinamos sobre a situação, dificilmente nós pensamos sobre o fato concreto, é muito difícil pensar sobre o fato concreto, mas normalmente nós pegamos um aspecto que é aquele que nos interessa no momento e descrevemos a situação tomando aquele aspecto como centro, mas não quer dizer que os aspectos exteriores e acidentais sejam dispensáveis, sem eles a situação não aconteceria. Note bem que uma situação que seja vista apenas por um aspecto que não aconteça no teatro, em uma peça de teatro. Por exemplo, você coloca lá os personagens, você coloca as falas de cada um, cria a situação dramática. E isso tudo pode estar escrito no papel, com referências muito pequenas ou até sem referências, a circunstância física concreta na qual aquilo vai se dar, de modo que isso deixa margem para o diretor de cena, de colocar aquelas falas, aquelas situações num determinado ambiente físico ou no outro. Quer dizer, a mesma cena é transportável de um ambiente físico para outro, mas nós sabemos que na realidade isso não acontece. Na realidade concreta, a situação já acontece e só acontece naquele momento que estão acontecendo. Elas não são transportáveis, elas não são isoláveis do seu cenário físico, ainda que o cenário físico seja indiferente. Por exemplo, você supõe uma briga de casal, tal, lá o marido discutindo com a mulher. Eles podem estar discutindo no restaurante, em casa, em quarto, em banho, na rua, na casa de um amigo, em cima de uma ponte, embaixo da ponte, tanto faz. Eles podem discutir em qualquer lugar, mas em algum lugar, efetivamente, eles têm que estar. E naquela discussão específica, em cada discussão específica, eles estarão num lugar e não em outro, não podem estar em vários ao mesmo tempo, porque eles não são trocáveis. Embora o lugar em que eles estão não tenha uma relação direta com o conteúdo da discussão, é justamente a junção inseparável desses dois elementos, que nos mostra que aquele fato aconteceu realmente. Ele não é uma ficção, ele não é uma coisa inventada por nós. Quando nós inventamos uma cena, nós nunca podemos inventá-la inteira. Nós só inventamos um pedaço. Por exemplo, se você pegar uma peça de teatro, você verá que, do conjunto de elementos que comporiam uma situação real análoga, o dramaturgo só coloca alguns dos traços. Se ele tivesse que descrever, vamos supor que ele momentem que Mark Bette encontra as bruxas que fazem aquela profecia sobre a vida dele. Ele pode dar uma indicação genérica do lugar onde eles estavam. Eles estavam na floresta tal. Muito bem, mas ninguém pode estar na floresta tal. Eles têm que estar em algum lugar preciso da floresta tal. Não pode estar na floresta toda ao mesmo tempo. Daí nós perguntamos em que direção eles estavam, norte, sul, leste, oeste, quando Mark Bette estava falando com as bruxas. Quem estava no sul, no norte, no leste, no oeste. Alguém tinha que estar em algum desses lugares. Você não pode estar em todas as direções do espaço ao mesmo tempo. Você não pode estar olhando para todas elas ao mesmo tempo. Então, a direção do espaço em que eles estavam não tem nada a ver com a cena. Mas o fato é que, para ser um fato concreto, em alguma direção você tem que estar. É justamente pela presença simultânea, pelo cruzamento inseparável dessa multidão de linhas acidentais que nós podemos distinguir a realidade da fantasia. Muitas vezes, quando você acorda de um sonho, você pode ter um momento de hesitação que você não sabe, se você ainda está dentro do sonho. Você pode ter um momento de desitação que você não sabe, se você ainda está dentro do sonho, se você está acordado. Mas quando você percebe que você está acordado, que você está ali naquele quarto de fato e não é mais para do sonho, qual é o critério de distinção? Examine direitinho o que, como que você faz essa distinção e você vai ver que a distinção é feita inteiramente por este elemento que eu chamo de concreto. Quer dizer, na situação real existe sempre uma multilateralidade, um número indefinido, de elementos de condicionantes, de linhas de causa, que estão presentes em separavelmente. Elas não são, vamos dizer, isoláveis, elas são isoláveis mentalmente. Quer dizer, você por exemplo, você estando num lugar, você pode imaginar que está no outro, mas você não pode estar em dois ao mesmo tempo. Digamos, dos vários elementos físicos que estão presentes na cena, por exemplo, os móveis, os objetos, etc. Você pode não querer que alguns estejam ali, mas para que você não goste de que eles estejam ali, é preciso que eles estejam ali, você pode até tirá-los, mas para tirá-los é preciso que eles estejam. Então, isso quer dizer que o que você tem que fazer, é que você tem que fazer isso, você tem que fazer isso, você tem que fazer isso, você precisa que eles estejam. Então, isso quer dizer que o fato concreto é uma situação que não é manejável, os seus elementos não são isoláveis, separáveis, só são isoláveis mentalmente, mas justamente, no momento em que você isola, é que você percebe que você está operando na clave puramente mental e não real. Ora, essa não sendo o fato concreto, eu creio que ela é uma das mais desprezadas em filosofia. Os filósofos não dão muita atenção a isso, eles pegam um ou outro aspecto que já interessou a eles e começam a filosofar a partir daquilo ali. Mas acontece que qualquer distinção, qualquer elaboração, conceptó que você faça, ela só tem valor justamente a partir do fato concreto. Quer dizer que, por exemplo, você sabe perfeitamente que o dia em que você morrer, concretamente, você vai morrer em um determinado lugar, em um determinado momento do tempo, e vai haver determinados objetos presentes, vai haver, digamos, uma temperatura x-áutobacha, vai haver pessoas presentes ou ausentes, vai haver uma infinidade de detalhes presentes. Se eu fosse pegar, se eu fosse enumerar, digamos, só os elementos que estão presentes nesta sala, de onde eu estou transmitendo essa aula, ou os elementos que estão presentes na sala de aula onde vocês estão, você não terminaria. Por exemplo, se você disser, olha, aqui tem um tapete, você sabe perfeitamente, um tapete se compõe de uma quantidade enorme de fios trançados. Esses fios tiveram que ser trançados um por um, eles não podem se juntar todos ao mesmo tempo. E cada fio tem uma infinidade de nós que, emendo ele com fios, quer dizer, com os outros fios. Tudo isso tem que estar presente para que eu possa dizer que existe um tapete. Então, mais ainda, se você começar a imaginar, se dá onde vieram esses objetos, por exemplo, aqui nós temos um tapete, mas também tem uma câmera de andimento, também tem um computador, também tem uma mesa, tudo isso, nada desvei parar aqui sozinho. Tudo isso teve que ser feito, feito por pessoas que usaram suas mãos, seus cérebros, etc. Isso é para produzir cada um desses objetos por meios completamente diferentes. Quer dizer, você não pode fazer uma mesa pelos mesmos meios pelos quais você teste um tapete. Está certo? Você não pode fazer um computador pelos meios com que você construa uma mesa, nem com o mesmo material. Notem bem, toda essa quantidade heterogênea, absolutamente, quer dizer, confusa, quase caótica de materiais diferentes, de processos diferentes, todas tiveram que se juntar neste momento e neste lugar para que nós tivéssemos esta situação concreta. Está certo? Então, eu acho que, assim, eu pino um pessoal mínimo. Eu acho que a coisa mais útil em filosofia é a análise da situação concreta. Está certo? Sem a tentativa de reduzir-la a um dos seus fatores componentes, tido, com ou sem razão, como predominante. Ou seja, qualquer que seja o ângulo de interesse pelo qual eu olho a situação, ela, para existir concretamente, ela tem que ter uma série de outros ângulos componentes em quantidade e na barcava, que não tem nada a ver com o meu ângulo predominante de interesse, mas que tem que estar presente para que a situação aconteça. Está certo? Por exemplo, se tem uma coisa para que eu não tenho interesse nenhum, está certo? São automóveis. Eu tinha muito interesse por automóveis na década 50, quando os automóveis eram interessantes, porque eles eram diferentes dos outros, cada fábrica tinha a sua linha de desenho, hoje todos os caras são iguais, todos têm o formato de um ovo cortado na metade, no sentido longitudinal. Então parece barbeador elétrico, parece um tênis, alguma coisa assim. Então, eu não me interesse absolutamente por carro. Para mim, se perguntar qual é a marca do carro, para mim não tem marca, são todos iguais. No entanto, o fato é que vocês foram transportados até esse lugar por algum carro, que tinha que ser de uma marca e não de outra. Um carro não pode ter duas marcas ao mesmo tempo. Está certo? Também o carro não pode ter duas cores ao mesmo tempo. Não pode ter dois pesos diferentes ao mesmo tempo. Está certo? Os pneus dele não podem ser novos e velhos ao mesmo tempo. E assim por dente, quer dizer, toda essa série de componentes que não tem nada a ver com o conteúdo da nossa aula, e que para mim não tem mais mínimo interesse, eu digo, olha, se todos os caros que transportaram vocês até aí, carro longe, tivesse falhado, vocês não estariam aí, portanto não teria aula. Está certo? Agora, esses caros também foram dirigidos por alguém, ou por vocês, ou por outra pessoa. Se não tivesse ninguém para dirigir esses caros, vocês também não estariam aí. Está certo? Então, tudo isso são componentes da situação concreta. Agora, não te bem, veja que coisa mais maravilhosa que a situação concreta. Está certo? Porque é a verdadeira vida? É onde as coisas realmente acontecem. Está certo? Os filósofos já se interessam muito pelo que eles pensam, e eles interessam um pouco pelas coisas que realmente acontecem. Está certo? Eu notaria, por exemplo, que em todos esses elementos que eu estou falando, isso seria muito difícil eu separar o que são os elementos sensíveis dos elementos não sensíveis. Está certo? Porque, por exemplo, quando eu chamo de uma coisa sensível, quer dizer que ela me lança um estímulo, ou seja, um estímulo visual ou táctil, que tem que estar dentro de uma certa longitude de onda que seja captável pelo meu corpo, se não, não capta. Por exemplo, se for um estímulo visual demasiado fraco, eu não capto, não vejo. Está certo? Então, tudo o que eu estou chamando de sensível, é sensível porque guarda uma certa proporção matemática com a minha capacidade de percepção, com o meu esquema de percepção. Agora, por um lado, tenho eu, que tenho aqui um corpo físico, por outro lado, tenho o objeto, que também tenho uma presença física, e nós estamos unidos, está certo? Por uma proporção matemática. Agora, esta proporção é sensível ou insensível? Uma proporção matemática em si não é um elemento sensível, não é um elemento corporal, está certo? E, no entanto, a presença do elemento corporal e a sua percepção por um organismo vivente depende deste elemento matemático. Então, como é que vamos chamar essa... por que vamos achar tão importante a distinção entre os elementos sensíveis e supracensíveis? Se nós sabemos que em qualquer percepção, por mais mínima, por mais idiota, por mais banal que seja, esses dois elementos tendem a estar inseparávelmente presentes. Quer dizer que ser, a suposta presença física do objeto, não transmitir estímulos, está certo? Dentro da longitude de onda captável pelo sujeito, o sujeito não percebe nada e aquele objeto então estava ausente. Quer dizer que se não se forma esta equação matemática entre o sujeito e o objeto, não há percepção. Esses elementos estão presentes em todo e qualquer percepção. Por mais mínima, por mais banal, por mais estúpida que seja, esta equação está lá. Se o número fosse um pouquinho diferente, você já não captava ou ia captar diferente. Então quer dizer, esse elemento não sensível, esse elemento puramente matemático, ele está presente na própria percepção sensível e pior ainda, é ele que determina o fato de que a percepção seja sensível, de que você possa sentir aquilo. Está certo? Isso quer dizer que a impressão que nós temos, de que os elementos de que existe embaixo de tudo a percepção sensível e em cima existe o mundo das ideias, dos pensamentos, das interpretações, dos conceitos, etc. É uma coisa completamente errada, porque esses elementos, vamos dizer, por assim dizer, intelectuais e não sensíveis, eles já estão presentes na própria percepção sensível e a percepção sensível por sua vez, só é sensível por causa deles. Não sei se está ficando claro isso que eu estou dizendo, mas isso aqui é básico, é fundamental. E esta junção, esta fusão inseparável de elementos sensíveis e não sensíveis, está certo? Que Aristótia chamaria a matéria a forma, isto é o fato concreto. E este é o verdadeiro assunto da filosofia. Este é o assunto mais importante, porque tudo mais o que nós especulamos, vamos dizer, são apenas ideias, que nós fizemos de distinções, que nós fizemos a partir do fato concreto. Se nós esquecemos de retornar ao fato concreto depois, o que acontece? Nós tomamos as nossas abstrações como se elas fossem a realidade. Por exemplo, tem pessoas que acreditam que a verdadeira realidade se constitui do mundo corporal, que eles chamam de material. Eu digo, mas o que você quer dizer com esta corporalidade, com esta materialidade? Você quer dizer uma determinada proporção matemática, a qual em si não é sensível de maneira alguma. Então, é claro, nós sabemos que existem corpos que ocupam lugar no espaço. Mas o que significou ocupar lugar no espaço se não ter uma certa medida, se não significa também uma equação matemática? Estes elementos, eu estou puxando pelo aspecto matemático, porque é o mais abstrático, mais aparentemente insensível que tem. Mas há outros aspectos também, aspectos qualitativos, aspectos estéticos, etc. Não podem ser reduzidos a corporalidade. A distinção do corpório e do incorpório, ela é muito secundária, ela é já um artifício que nós fazemos. E depois os filósofos ficam discutindo para saber se o que predomina o corpório e o incorpório. Então, aparecem materialistas e idealistas, um dizendo que é tudo composto de matéria e o outro dizendo que é tudo composto de espírito. Mas é claro que os dois estão dizendo uma impossibilidade absoluta, porque esses dois aspectos, o material e o imaterial, são apenas destinções que os próprios filósofos e o cientista fizeram no corpo do fato concreto. Está certo? Então, o critério básico da sanidade de uma filosofia ou de uma teoria científica, é a possibilidade do seu retorno e do seu reencaixe no fato concreto. Porque na realidade, vamos dizer, qualquer teste que você faça de uma teoria ou de uma ideia que você tem, será sempre, ele por sua vez, também um fato concreto. Digando, por exemplo, um experimento científico. Diz, bom, um experimento científico, teoricamente ele pode ser repetido. Mas o que se repete no experimento científico? Por exemplo, você quer fazer aquele experimento do ratinho que aprende a apertar um botão para cair um queijo. E uma vez que você assistiu uma reunião da SBPC, que havia, acho que, mais de 400 trabalhos que eram o mesmo experimento do mesmo ratinho apertando a mesma alavanca e comendo queijinho. Todo mundo já sabia o que o ratinho ia fazer, mas, por fim das dúvidas, eles continuavam testando, testando, testando. Então, eles têm um exemplo de experiência científica repetível. Mas, um momento, o que que foi repetido na experiência? O que foi repetido de uma experiência para outra, é somente um núcleo esquemático no qual uma experiência coincide com a outra. Mas há uma infinidade de outros componentes que tendem de estar presentes para que a experiência seja possível e que, aparentemente, não tem nada a ver com ela, não tem nada a ver com o conceito específico daquela infinidade, mas se os pais não seriam realizáveis. Por exemplo, o experimento foi realizado no andar térreo ou no primeiro andar, no segundo andar, no terceiro, no quarto, no quinto, em algum ele tem que ter sido. Isso aí não vai afetar em nada o comportamento do rato. Mas, você, vamos dizer que foi um experimento que não foi realizado nem no andar terro, nem no subsolo e nem em nenhum dos outros andários de edifício. Assim, ele não foi realizado. Então, isso quer dizer, para fazer esse experimento, você tinha que ter um edifício. Esse edifício foi construído por pessoas que, naturalmente, nem estavam pensando que isso seria usado para o experimento com ratinho. Mas, se não tivesse sido construído, então o experimento não poderia ser realizado ali. Do mesmo modo, por exemplo, cada pessoa que participou do experimento, ela também tinha uma determinada situação familiar. Era casada, era solteira, estava de bem com a sua mulher, estava mal, estava... estava esperando beber, não estava esperando beber. Alguma coisa estava acontecendo. Isso não tem nada a ver com o ratinho, mas alguma situação familiar as pessoas tinham que ter. Também elas tinham que ser altas, baixas, gordas ou magras ou médias. Alguma coisa elas tinham que ser. Também o ratinho não tem nada a ver com isso. Todos esses componentes que são alheios à definição lógica da experiência, tá certo? Eles não são repetidos de experiência para experiência. Quer dizer, quando nós dizemos que nós fazemos uma experiência científica, nós pegamos uma situação que é totalmente diferente de outra e olhamos essa situação apenas por um ângulo, tá certo? Que nos interessa, que é o comportamento daquele ratinho. Tá entendendo? Isso quer dizer que não pode haver experimento científico do fato concreto. Experimento científico é como peça de teatro. A peça de teatro também é repetida. Tá certo? Quantas vezes já ensinaram Hamlet ou Macbeth, tá certo? O hotel. É milhões de vezes, tá certo? Mas o que se repetiu? Só o esquema, só o núcleo esquemático da trama. Hum? Nem todas as vezes que se ensinou o hotel, se ensinou no mesmo teatro e com os mesmos atores, tá certo? E com o mesmo público. Era um público diferente, em lugares diferentes, tá certo? Então nós dizemos assim, houve, não sei quantas insenações da peça do hotel ou o experimento com o ratinho foi realizado x vezes. Nós estamos nos referindo apenas à repetição de um elemento esquemático que é o elemento que nos interessa naquela situação. Portanto, o que nós estamos repetindo de fato, seja ao repetir a peça, seja ao repetir o experimento científico, é apenas uma ideia nossa. O resto da situação não se repetiu absolutamente. Então compreendê? Então isso se aplica, vamos dizer, a... Todas as experiências humanas e todos os conhecimentos humanos, tá certo? Ora, se nós chegamos à conclusão, por exemplo, que o ratinho, em determinadas condições, reagirá de determinada maneira, tá certo? Nós estamos isolando essas condições esquemáticas de todas as demais condições, tá certo? Necessárias para que a experiência se realiza. Por exemplo, se você disser o ratinho, se você não é treinado para isso, ele apertará o botão. Eu digo, bom, isso houver um terremoto. O estudo dos terremotos não faz parte da psicologia experimental nem da psicologia animal, quer dizer, é um conceito inexistente. Se você pegar todas as obras de Ivan Pavlov, a Borow Skinner, o John Watson, todos esses behavioristas, todos que estudam ratinho a vida inteira, você não verá lá o conceito de terremoto. Tá certo? Mas o fato é o seguinte, nós, no instante que você está fazendo a experiência, pode acontecer um terremoto. Tá certo? E a conduta do ratinho certamente será diferente, porque tudo vai começar a cair para um lado para o outro, o ratinho vai, em vez de pegar o queijo, ele vai tratar de livrar a pele. Tá certo? Tratar de salvar a pele. Pode acontecer, não precisa nem acontecer um terremoto, você pode acidentalmente derrubar mesmo, ele tá o ratinho, tudo isso pode acontecer. Todos esses componentes, seus quais a experiência não poderia se realizar, não fazem parte da experiência. Então isso aqui é uma coisa básica. Todo o conhecimento científico que nós temos é todo obtido de experiências esquemáticas recortadas de dame do fato concreto. Porém, até para testar essas teorias, você precisa de um outro fato concreto, que é a experiência que você mesmo vai realizar no dia tal, na hora tal, numa circunstância tal, com tais ou quais pessoas ali presentes ou ausentes etc. Então, agora pense bem, por importantes que sejam as nossas teorias, por importantes, interessantes, verdadeiras, decisivas etc., etc., elas não são nada na comparação com o fato concreto, porque todas elas são apenas coisas que nós pensamos, né? Elas não são a realidade, elas são pensamentos esquemáticos com que nós captamos certos aspectos da realidade, que nós achamos que parcialmente podem ser repetidos numa outra situação. Tá certo? Mas, o fato é que enquanto nós fazemos essas coisas, nós continuamos vivendo dentro do mundo do fato concreto. Tá certo? Note bem, para você fazer uma experimenta científica, ou fazer uma teoria científica, você vai precisar isolar, então, mentalmente, alguns desses aspectos, que você considerará que são importantes, ou que são essenciais para a teoria que você está fazendo, ou para o experimento que você está fazendo. Então, você vai começar por isolar o essencial do acidental, do que você chama de acidental. Por exemplo, um terremoto no meio da experiência sobre os ratinhos, para o psicólogo, tá certo? É um elemento inteiramente acidental, tá certo? Que não faz parte, da essência do que ele está querendo estudar. Mas para um geólogo, é exatamente o contrário. O terremoto é que é essência ou ratinha que é o acidente. Tá certo? E o fato de ter alguém fazendo experiência com um ratinho no horário do terremoto, também para o geólogo, é puramente acidental, não é isso que ele estuda. Não entendo, digo eu, o ratinho e o psicólogo são tão existentes, são tão reais quanto o geólogo e quanto o terremoto. Tá entendo? Note bem, na nossa vida diária, tá certo, a partir do instante em que você desperta, você sabe perfeitamente fazer a distinção entre o que é o mundo fato concreto. E o mundo pensamento abstrato, com um sonho também abstrato, um sonho, você imagina certas imagens, elas estão recortadas, tá certo? Elas aparecem isoladas, fora, do seu contexto, espaço temporal, do espaço contexto, espaço temporal que elas precisariam para existir, normalmente. E por que você as isola? Tá certo? Você pode combinar elas de uma maneira que você não poderia combinar elas na realidade. Tá certo? Por exemplo, no sonho você pode, num instante, estar num país e num instante seguinte, dois segundos de povo, você está no outro. Tá certo? Eu depois que mudei para cá, os meus sonhos misturam os Estados Unidos com o Brasil e eu estou ao mesmo tempo nos Estados Unidos com o Brasil. Eu sei que na realidade concreta isso não acontece, mas na minha cabeça acontece. Então, na minha mente acontece. E isso só é possível, uma das combinações esdruxulas são possíveis por que? Porque eu isolei as essências dos acidentes. Quer dizer que se eu estou, onde sonhando, com uma situação específica, digamos, um cachorro quer me morder. Então, o meu sonho é sobre isso. O restante da situação, que é de onde está o cachorro, que lugar, que ruta, não vem ao caso. Eu posso até botar isso também no sonho, mas não preciso por. Pode aparecer um cachorro solto no espaço. E ele vai ser tão interessante para o sonho quando um cachorro é real. Mas tudo isso se dá dentro da mente na hora que eu desperto. Eu vejo primeiro que não há mais essa separação entre essência e acidente. Está tudo ao mesmo tempo. Quer dizer, as essências estão presentes, mas também estão os seus acidentes. Por exemplo, eu acordo e vejo que está ali na porta do quarto, está a minha filha, a Leila. Muito bem. A Leila é a mesma Leila de ontem. Quer dizer, antes de eu dormir, eu via a Leila, agora eu acordei e via a Leila de novo. A Leila tem que estar vestida de algum modo. Vestida ou pelada, porque as duas coisas ao mesmo tempo não é possível. Então, ela tem que estar com alguma roupa. A roupa não faz parte dela. É um elemento puramente acidental, mas ela tem que instalar a roupa ou a loja de roupa. Como todo mundo. Nem um de vocês nasceu com essas roupas e nem vai estar com ela daqui a um ano. Espero pelo menos que não esteja. Algumas vezes você deve trocar de roupa. Até o ano que vem. Espero para o seu benefício. E benefício das pessoas em torno. Está certo? Mas note bem, as duas coisas, a pessoa e a roupa da pessoa estão presentes ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Eu sei que se você trocar aquela roupa da pessoa, você tira a roupa, colher o arroz, colher a bobra. A pessoa não mudou nada. Está certo? Mas eu estou fazendo esta separação. Então, no momento em que eu acordo, eu vejo que eu já não consigo separar a essência de acidente e combinar as essências do jeito que eu quero. Está entendendo? Elas vêm numa hora e numa articulação. Está certo? Que não sou eu que determino. E que se compõe de uma junção e de número ilimitado de acidentes. Está certo? Entre os quais você não pode estabelecer uma conexão lógica. Por exemplo, uma pessoa tem que estar ou sentada ou de pé ou deitada. Essas três coisas ao mesmo tempo para não poder estar. Então eu estou olhando uma pessoa e a pessoa está sentada e ao mesmo tempo está fazendo alguma temperatura. Está frio ou está calor? O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Nada. Mas não é possível que a pessoa não esteja nem sentada, nem de pé e nem deitada e que não faça temperatura alguma. Então é da junção dessas coisas que são logicamente inconexas, que se forma este negócio que nós chamamos de realidade. Então entendo? Nós vivemos dentro da realidade concreta. Concreta por quê? Porque todos os fatores que a compõem, embora sejam logicamente inconexos, estão concretados na situação. Se desenvolveram juntos e juntos, compuseram esta situação. Está certo? Ora, nós, do alto da nossa soberba, da nossa orgulho, nós achamos que separando as essências dos acidentes, nós fizemos um grande negócio. E que nós estamos descobrindo o segredo do universo. Está certo? Mas acontece que se é separando as essências dos acidentes que a gente consegue descobrir alguma coisa, também é separando as essências dos acidentes que a gente cometa os grandes erros. E é separando as essências dos acidentes que a gente parte porém da fantasia e da estupidez completa. Ou seja, a nossa atividade de separar essências dos acidentes, ela vale alguma coisa, se ela for capaz de depois se reencaixar no mundo do fato concreto. Ou seja, se dentro daquela cena composta, vamos dizer de uma infinidade de fatores sucessivos e concomitantes, que são logicamente separáveis, mas realmente inseparáveis, se eu não sou capaz, ou seja, de reencaixar os meus esquemas abstratos dentro dessa situação concreta, então é porque eu estou pensando besteira. Ou seja, quando nós separamos alguns elementos e construímos entre eles articulações lógicas, nós dizemos, por exemplo, se o teste disso é experiência, mas a experiência se dá aonde? Era se dar no fato concreto. Está certo? Ora, por exemplo, a experiência do ratinho. Está certo? Se você diz que o ratinho vai se comportar da mesma maneira, ele vai ter que se comportar da mesma maneira dentro de uma série de situações concretas. Que excluído o núcleo esquemático são completamente diferentes de umas das outras. Se isso não acontecer, você vai dizer que a experiência falhou. Isso quer dizer que se não fosse o fundo concreto dentro do qual você faz a experiência, você não poderia dizer que a experiência funcionou ou não funcionou. Isso quer dizer que em toda a experiência científica existe como pano de fundo e como corretivo dela. A infinidade dos elementos presentes que não tem nada a ver com a experiência. Ora, o que eu chamo de paraláctice cognitiva é justamente um tipo de construção mental, um tipo de elaboração mental que não se reencaixa no fato concreto. Embora em si mesma ela seja, possa ser, vamos dizer, coerente e fundamentada. E é justamente a partir de uma espécie de fenomenologia do fato concreto, fenomenologia simplificada e ela também é abstrativa, de certo, é que nós podemos ver o que existe derrado na paraláctice cognitiva. Porque a paraláctice é um fenômeno específico que acontece num determinado lugar, num determinado momento da história para um determinado grupo humano, não se propaga para todo mundo automaticamente, ele não se identifica, vamos dizer, com os erros tradicionais de lógico de observação que se pode notar em qualquer época ou lugar. E ele só pode ser dito, a normal, patológico, por causa disso. Quer dizer que se não temos a consciência, uma espécie de estudo fenomenológico do fato concreto, nós vamos perder de vista o que existe de específico na paraláctice e nós vamos confundi-lo, vamos dizer, com o sofismo, com o erro de lógica, com incongruência, com a mentira, etc. A paraláctice não é mentira, a paraláctice não é erro de lógica, a paraláctice não é erro de observação, a paraláctice é um fenômeno existencial, algo que se dá na existência de um ser humano. Quer dizer que não é apenas um fenômeno cognitivo, se nós isolássemos o fenômeno cognitivo nós não poderíamos estudarmos uma filosofia, só pelos seus elementos cognitivos nós não poderíamos dizer que existe a paraláctice. Eu posso dizer que, eu posso anotar que aconteceu um fenômeno de paraláctice, porque eu sei o que um sujeito estava fazendo e sei o que ele estava dizendo ao mesmo tempo. Se eu soubesse só uma dessas coisas eu não poderia dizer que houve um paraláctice, tá certo? É porque eu sei que, diante dos olhos do indivíduo, havia determinado os fenômenos, tá certo, que foi acontecendo, fatos acontecendo, e porque eu posso comparar esses fatos com o que ele disse, é que eu posso ver que houve uma paraláctice, se não, não. Como é que eu vou saber se um discurso encaixa com a situação, se eu não conheço a situação, tá certo? Mas ainda, qualquer laboração mental que você faça, qualquer atividade científica, filosófica, artística, etc., uma separação entre a mente e o meio ambiente, quer dizer, se você não consegue ser isolado o meio ambiente, pra você raciocinar você não vai poder estudar, não vai poder fazer ciência, nem filosofia, nem coisa, nenhuma. Isso, evidentemente, não é isso que eu me refiro quando falo da paraláctice, não é a este tipo de isolamento e de abstração, é de uma coisa mais grave. A paraláctice existe quando, a partir de uma teoria, pegando o conteúdo desta teoria, desta elaboração mental que o Felipe fez, eu não consigo de maneira alguma reconstruir a situação concreta na qual ele estava. É só quando o conteúdo da teoria desmente a possibilidade daquilo mesmo que estava acontecendo concretamente pra ele, ali é que existe a paraláctice. E fora disso não. É por isso que eu estou dizendo que é um fenômeno específico, isso só acontece. Para que aconteça a paraláctice, é necessário, primeiro, que a vida intelectual, em uma determinada sociedade, tenha alcançado um certo nível de intensidade, é necessário que exista muito intercâmbio, muitas ideias circulantes e muitas pessoas falando. Está certo? Porque se não fosse isso, então este mundo das ideias, este mundo dos símbolos que estão sendo trocados pelos vários participantes do diálogo, não adquiriria uma certa autonomia em relação à situação existencial real das pessoas. Está certo? E portanto não poderia surgir, vamos dizer, este fenômeno de um indivíduo estar, vamos dizer, raciocinando como ser apenas estes símbolos fossem reais e como se a situação entorno não fosse real. Então, eu vejo que, por exemplo, toda a noção da ciência moderna, ela se forme e se estabeleça sobretudo, graças a uma entidade que é a Royal Society de Londres. Ora, a Royal Society de Londres foi fundada por um sujeito chamado Elias Ashmo, que era mago ocultista alquimista, era o sujeito mais macumbeiro que tinha em Londres. Está certo? E, todos os demais participantes da sociedade também tinham, está certo? Alguma atividade ocultista. Eu digo, olha, como é que a partida, a noção de ciência vai se isolando? Como se ela existisse enquanto realidade independente e não tivesse nada a ver com essa sua raiz ocultista mágica, etc. Este é um exemplo de paralaxe extrema. Então, nós podemos dizer que a Royal Society foi uma sociedade criada para ocultar as suas raízes e fazer de conta que um certo núcleo de ideias, está certo, que os seus participantes aceitaram em comum, fosse a verdadeira realidade em função da qual a sociedade foi fundada. Isso não é nem paralaxe, isso não é loucura completa. Você já passou muito da paralaxe. Eu, hoje em dia, já estou seguro de que qualquer pessoa que acredita em um negócio chamado cosmovisão científico, visão científica da realidade, está certo? Ou seja, está realmente no mundo da Lua. Primeiro, há quase totalidade das teorias científicas que circulam, ou teorias religiosas, teorias magicas, teorias ocultistas. Sempre surgiram, todas elas surgiram como símbolos, como mitos, etc. E através de uma longa e complexa elaboração, foram se estabilizando, enquanto teorias científicas. Nós dizemos que elas são científicas a partir do momento em que elas podem ser enunciadas em uma certa linguagem estabilizada, comunicadas desta maneira estável, e dar ocasião a certos experimentos que mais ou menos conferem com o que está dito ali. Ora, mas esta possibilidade já existia muito antes, no tempo em que esta teoria circulava como símbolo, como mito, como ritual ocultista, etc. Já tinha esta possibilidade, as pessoas apenas não havia explorado aquilo. Então, a ideia de que existe um pensamento científico independente e que se opõe até, vamos dizer, o que eles chamam? Pensamento místico, mágico, etc. Isso é uma estupidez fora do comum. Nunca existe uma teoria científica que fosse independente, das suas raízes ocultistas e mágicas. Por que? Porque isto é cognitivamente impossível. Porque a razão humana, o resto assim, só opera, não é nem a partir dos dados do sentido, só opera a partir dos dados da fantasia. É aquilo que não foi captado em fantasia, não é suscetível para receber um segundo nível de abstração. Primeiro, temos a abstração sensível que separa alguns elementos dos conceitos da memória e elabora fantásticamente na imaginação. Depois, você tem que fazer um upgrade na abstração e estabilizar aquilo mais ou menos em conceitos repetíveis. Mas esses conceitos não têm substância fora, dá raiz perceptive, imaginativa e fantástica da qual eles emergiram. Eles não são nada fora disso. Mas ainda, quando você transmitir esses conceitos, eles vão ser recebidos por outras pessoas, que também não vão captar aquilo somente pelo seu aspecto lógico, mas vão fazer milhões de associações fantásticas, oníricas, etc. Isso acontece o tempo todo. Isso é assim e não pode não ser assim. Ora, mas se nós estamos andando em um diálogo científico, nós consentimos em isolar de todo este conjunto de percepções um pedacinho que convencionalmente nós dizemos que pode ser repetido científicamente e que é racional. Agora, você dizia que só isso é a parte verdadeira, a parte real, isso também é absolutamente impossível. Então, isso é só para dar um exemplo. Quer dizer que quando você vê que passados alguns séculos do advento da chamada ciência moderna, as pessoas realmente acreditam que existe um domínio científico independente da certa das suas raízes, mágico, mística, religiosa, etc. É porque foram parar muito longe, não rendem a fantasia. Porque não sabem a história de como vieram parar ali e estão tão acostumados a pensar, vamos dizer, somente naqueles termos que designam os conceitos abstratos correspondentes, e elas não prestam atenção no reino do fato concreto de dentro do qual emergiram essas palavras e esse conceito. Então, isso significa que aquilo que o fruto supremo da razão, quer dizer que é a concepção científica da realidade, ele surge, na verdade, de uma atividade alucinatória. Eu digo que uma atividade mental é a alucinatória quando ela não se reencaixa no fato concreto e por tentar não sabe as suas próprias limitações. Por exemplo, bom, deixa exemplo lá, vou continuar lendo aqui e depois voltamos a isso, tá bom? Então repetindo, fato concreto designa a vastidão de processos temporais que concorrem juntos em separavelmente para a produção de qualquer acontecimento por mais mínimo que ser. Estamos tão acostumados, aqui escrevi acostumados, tá errado, estamos tão acostumados a dividir os fatos segundo as perspectivas das várias ciências pelas quais eles são estudados sobre seus vários aspectos, que frequentemente tomamos esses aspectos como se fosse a realidade concreta, quando eles nada mais são do que ângulos de interesse pelos quais olhamos essa realidade. Mas também, qualquer fato que seja, pode ser encarado sobre o prisma de várias ciências. Cada uma dessas ciências só olha um determinado aspecto dele mas ele não pode fazer com que os outros aspectos inexistam. E se você somar os vários aspectos que são estudados pelas várias ciências, você não terá esgotado o objeto. E se você pegar as várias interconexões entre esses aspectos, então elas escapam formidavelmente do horizonte de todas as ciências somadas. Então isso quer dizer, quando a pessoa fala de ah, existe limitações do conhecimento científico, às vezes tem cientistas que até são bonzinhos e reconhecem que o conhecimento científico é limitado, eles fazem isso como uma concessão. Eles estão esquecendo o seguinte, o conhecimento científico, né, que ele é limitado, ele se compõe dessa limitação. O que é uma ciência? Uma ciência é escolha de olhar determinados objetos ou determinados fatos, sobre determinados aspectos e fazer sobre eles determinadas perguntas e não outras. Isso é uma ciência. Portanto, a ciência é uma limitação da perspectiva cognitiva. Essa limitação determina a estrutura da ciência. Quando os escolásticos diziam que uma ciência, um determinado conhecimento, ele se... para definir determinada ciência, nós precisamos saber qual o seu objeto material, primeiro. Segundo, qual o seu objeto formal. Se esse objeto formal se dividia por sua vez. Não quer dizer que ele chama formal motivo e formal terminativo. Já vou explicar o que é isso. Eles já tinham perfeita consciência de que cada ciência se compõe de uma limitação inicial, se compõe de um isolamento de uma parcela infinitesimal do terreno, qual seria o lado apenas sob o ângulo de determinadas perguntas e não outras. Não outras da série infinita de perguntas que se poderiam fazer a respeito de qualquer objeto. Então... Por exemplo, se você pegar, digamos, a... a fisiologia das baratas e a anatomia das baratas. Então, o objeto material que elas têm, eu vou pegar um terreno bem delimitado para não ter problema. O objeto material dessas duas ciências é o mesmo, é a barata. Tá certo? Porém, o objeto formal, quer dizer, o aspecto da barata, que elas estudam, já não é a mesma. Porque uma vai estudar a estrutura do corpo da barata. Quais são os órgãos que se acompõem com as suas encargas, quanto médica dá um, quanto pesa, etc., etc., etc. Tá certo? E a segunda, vaulhar o funcionamento deste conjunto. Tá certo? O funcionamento não pode ser deduzido da mera anatomia. Ou seja, não basta você conhecer a estrutura dos órgãos para saber como eles funcionam. Por quê? Porque o funcionamento de um organismo, ele é a suas relações com o meio ambiente, e não com a sua própria estrutura. Por exemplo, se o bicho não respirar, não comer, ele não vive. Mas o ar e a comida não fazem parte da sua estrutura. Tá entendo? Então isso quer dizer que a fisiologia já terá que incluir, na sua área de estudos, alguns elementos que não fazem parte da anatomia. Tá entendo? Mas ainda, então você vê que a barata é a mesma, mas a anatomia estuda por um aspecto e a fisiologia por outro aspecto. Claro que existem interações e interrelações entre uma coisa e outra. Tá certo? Porém, a pergunta que essas duas ciencias fazem não é a mesma. Só que os escolas que vêm de dividir um objeto formal, o objeto formal é o aspecto pelo qual o objeto é estudado, em formal, motivo e formal terminativo. O objeto formal e o motivo são as perguntas específicas que você está fazendo. E o formal terminativo é a que tipo de resultado, a que tipo de resposta final você pretende chegar. Ou seja, qual é o objetivo da ciência? É a pergunta que eu posso explicar mais detalhadamente dos elementos não sensíveis. Não preciso explicar. É só você ter em conta que a percepção de qualquer objeto sensível é uma revolução, que é uma revolução, que é uma revolução de qualquer objeto sensível. É uma relação, é uma equação que se forma entre a intensidade do estímulo que esse objeto emite. Por exemplo, digamos que um objeto recebe uma luz, então ele transmite para você, ao reflexo dessa luz, numa certa intensidade. A percepção é a relação entre essa intensidade do estímulo e a faixa da sua capacidade receptiva. Portanto, ser sensível significa estar dentro de uma equação matemática. Mas essa equação por si não é sensível. As quantidades, os números, por si não não são sensíveis. Portanto, se não há esse elemento insensível estruturando o sensível, o sensível não é sensível. Então é isso para só para mostrar. Se o aspecto sensível e supracensível, ou insensível, eles não são separáveis. São apenas nomes que nós damos às coisas, aspectos das coisas. Eles não são realidades. Então, mas se nem o sensível é separável do insensível, tá certo? Então, quando você forma uma ciência e você isola, primeiro você isola um objeto, depois você isola certo aspecto desse objeto, e depois você isola o objetivo com o que você está estudando esse objeto. Então isso corresponde ao objeto, o material, objeto formal, motivo, objeto formal, terminativo. Nesse sentido, os escolascos sabiam como funciona uma ciência, e as pessoas não sabem. Por exemplo, o Richard Dawkins, ele disse, mas adianta eu até aceitar isso, ele disse, pode até ser que existam questões, existam questões importantes, cercura a resposta, a ciência não tem. Não é bem, ele até admite que pode existir. Mas o que que é ser uma ciência? Ser uma ciência consiste em não ter resposta a nenhuma das perguntas que você não fez. Ser uma ciência consiste em limitar estreitamente o horizonte de perguntas e a ter-se somente aquelas que defirem o seu campo. Portanto, quando as pessoas falam que existe limitações ou conhecimento científico, é porque elas não sabem o que é ciência. Não é que existe limitações do conhecimento científico, conhecimento científico, é a limitação, é a limitação metódica, tá certo? Muito bem. Isso quer dizer que da infinidade de objetos que existe no mundo, tá certo? Pode se desenvolver uma infinidade de séries de perguntas, tá certo? cuja investigação sistemática comporá ciências. Portanto, o número de ciências possíveis é infinito e limitado. Tá certo? Ora, existem essas ciências todas? Não, só existem na prática um número limitado. Então, eu estou falando aqui por um lado da cultura interna do conhecimento científico. Por outro lado, estou falando da ciência como prática social efetivamente existente em um determinado momento e lugar. Como prática social só existe no determinado número de ciências investigando o número X de questões. Pode ser bastante grande, mas é limitado. Mas, em princípio, o número de ciências possíveis é inesgotável. Portanto, ser um conhecimento científico significa ser um conhecimento limitado se não não seria científico, porra. É? Tão entendendo? Então, como é que nós pudemos chegar a esse estado de estupidez em que é preciso discutir se existem limites ao conhecimento científico ou não? Quer dizer, a hipótese do não eliminaria automaticamente a existência das ciências. Elas só existem porque elas são limitadas, porque elas consistem na sua limitação. Tá certo? Muito bem. Se o número de aspectos sobre os quais qualquer objeto pode ser estudado é ilimitado, tá certo? Por exemplo, vocês podem fazer uma lista. Se eu peguei esse o mesmo objeto que escolhi, uma barata, você imagina a lista de perguntas que você pode fazer sobre as baratas. Faça a lista e você obterá já um número maior do que o número de ciências existentes. Não o número de ciências que estuda a barata, eu digo o número total das ciências existentes, não abarca o número das perguntas que você pode fazer sobre uma barata. Se você pegar dessas perguntas, você dizem quais dessas perguntas, quais as que podem, quais as que nós podemos tentar investigar por um meio sistemático ordenado e experimental. Certamente, é um número menor do que o número total das perguntas que podem ser desabaradas, mas ainda o número ilimitado. Tem dois ilimitados, dois indefinidos. Tem um número indefinido de perguntas que você pode fazer sobre a barata e um número indefinido de perguntas científicas que você pode fazer sobre a barata. E certamente, dessas ciências todas, somente algumas existem. De todas as perguntas, você teria que desenvolver, vamos dizer, através do exame específico do campo que você delimitou, porque você faz uma abstração. Desta abstração, se você não esqueceu a abstração que você fez, aí você pode fazer uma fenomenologia deste aspecto da realidade e ver qual é a possibilidade de isolá-lo mais ou menos dos demais aspectos para que dentro daqui daqui você possa empreender um estudo científico. Se você então conseguir fazer isso, você pode desenvolver métodos de investigação dessa sua pergunta, que ser suscetíveis de teste científico. E daí você terá fundado mais uma ciência sobre a barata. Então, se você fizer este exercício, vamos dizer, não precisa durante muito tempo, com ceda meia hora a este assunto, e você verá quantas ciências novas você poderá fundar só sobre as baratas. E daí você pergunta se essas ciências existem. Então, a própria discussão de se existe em limitações do conhecimento científico já é absurda, porque aí essa discussão consiste em ignorar o que é o conhecimento científico. Então, vou continuar lendo aqui. Estamos tão acostumados a dividir os fatos, segundo as perspectivas das várias ciências, pelos quais eles são estudados sobre seus vários aspectos, e frequentemente tomamos esses aspectos como se fosse a realidade concreta, quando eles nada mais são do que os ângulos de interesse pelos quais olhamos essa realidade. Ora, nós todos estamos sempre dentro da realidade concreta, ou seja, a cada momento nós sabemos que qualquer situação que nós estejamos, ela se compõe de um número ilimitado, de acidentes e de interconexões, que podem ser montados, podem ser esquematizados, segundo várias perspectivas das quais obteremos várias essências, ou seja, vários ângulos de interesse que nos parecem predominantes daquele momento. Então, por exemplo, do ponto de vista social, didático, que nos interessa, isso aqui é uma aula. Agora, o próprio fenômeno aula, ele tem uma multidão de componentes, ele tem um componente pedagógico, ele tem um componente linguístico, ele tem um componente físico, que é o lugar que nós estamos, ele tem um componente comercial, ele tem um componente social de interação humana, ou seja, esse fenômeno já pode ser olhado sobre um milhão de ângulos. Se você isolar um desses ângulos, a aula não acontece. Você pode isolar mentalmente, mas se eles não estiverem todos presentes, então você não está falando de uma aula que efetivamente aconteceu, mas só de um sonho que você teve. Então, entende? Por exemplo, você pode sonhar com uma aula que não está acontecendo especificamente em lugar algum, você só se lembra da cara das pessoas, o professor falando, mas você não sabe onde estão. Ou seja, para o sonho é irrelevante o lugar, mas para que uma aula aconteça, ela tem que acontecer em algum lugar específico e em algum momento específico. Então, se vocês sabem, então que cada ciência é a limitação da área de estudo, a um determinado ângulo, ou sistema de ângulos, dos quais serão gerados algumas perguntas, e portanto, um método, um método de investigação e um critério de verificação, vocês entendem que a realidade pode ser objeto do número indefinido de ciências, e que se você pegar todos os ângulos pelos quais todas as ciências atualmente existentes, estudo a realidade, você não obtém uma barata sequer, você não obtém nenhum objeto real, porque além dos ângulos, pelos quais eles são estudados por estas ciências, existe uma outra infinidade de ângulos, que tende a estar presente para que o objeto exista, mas que infelizmente não existe, nem uma ciência para estudá-los. Portanto, se você somar tudo o que todas as ciências sabem, você só alterar uma seleção abstrativa muito pequena, que comparada ao fato concreto, é uma titica de galinha. Agora, eu acho engraçado que, quando as pessoas querem falar de limitações do conhecimento científico, elas têm que apelar a vida após a morte, a Deus, aos ângulos, aos fenômenos místicos, etc. Quando eu estou mostrando aqui no próprio mundo material, onde nós estamos, o horizonte científico é limitado porque ele consiste em limitações. Você já ouviram alguém dizer isso em algum debate? Sobre este negócio de ciência? Não. Não, por que? Porque só tem ignorante. Nós estamos numa época de uma ignorância, você não imagina a profundidade da ignorância que impera sobre o que nós tomamos de cultura, debate cultural hoje em dia. Quando você ouve um Richard Dawkins falar de uma... A incultura desse sujeito é monstruosa, monstruosa. Ele ignora praticamente tudo o que ele fala, todos os assuntos que ele fala, exceto a biologia da Arviniana. Aí eu tenho que reconhecer que ele entende. Está certo? Mas... A biologia da Arviniana também, ele não sabe nem sequer que isso também tem origem ocultista. Ele não sabe nem que o avô de Charles Darwin já tinha proposto a evolução como mito, como símbolo esotérico. E que, vamos dizer, as seitas rinósticas, os cátaros já tinham uma perspectiva evolutiva, ele não sabe que esta ideia se desenvolveu como símbolo ao longo de séculos, antes de que alguém pudesse pegar um aspecto dela e decidir equacionar-lo de modo a poder desenvolver dali um método de observação, um critério de verificação e tentar uma teoria científica. Não pode haver uma teoria científica que não tenha origem, homístico, religiosa, ocultista. Não há nenhuma, não pode haver, porque nada está na razão humana que antes não tem estado na fantasia e na percepção. Então, vamos lá. Idealmente, cada delimitação de um campo científico corresponde a um aspecto objetivo da realidade que pode ser estudado eficientemente segundo princípios que não se aplicam ou não se aplicam necessariamente aos demais aspectos. Isso quer dizer que quando você cria uma ciência, ou cria uma proposta de investigação científica, você vai isolar determinados aspectos do seu objeto, vai isolar primeiro um objeto e segundo certos aspectos dentro dele e vai tentar reduzir-los a certos princípios gerais que muito provavelmente não explicarão os demais aspectos que não são abrangidos nesse estudo. Isso quer dizer que o mesmo objeto qualquer pode ser estudado sob ângulos que são incomençuráveis entre si e entre os quais você não consegue estabelecer a mais mínima relação. O que não quer dizer que essa relação inesista, mas como as relações que unem os objetos são, em princípio, ilimitadas, nós jamais vamos chegar a um tipo de conhecimento que tenha todas as articulações entre um objeto e os demais, entre um aspecto do objeto e todos os demais aspectos. Por exemplo, todo mundo sabe que as mulheres têm medo de barata. Fazer não só as mulheres, isso de todo mundo viu no YouTube o homem do tempo. O sujeito tá transmitindo a previsão do tempo, e de repente aparece uma baratinha, a bicha louca sai gritando, desesperado. Muito bem. O que isso tem a ver com a fisiologia da barata ou com a anatomia da barata? Nada. Como não tem nada? Se a barata tivesse uma forma física diferente, as mulheres ou aquele sujeito teriam a mesma reação? Não. Então é porque existe alguma articulação entre a forma e a anatomia da barata. E as fantasias que ela evoca para certas pessoas. Ou seja, essa fantasia não é totalmente gratuita, não é totalmente desconectada da forma da barata. Não é porque outra pessoa vendo, não sente aquilo, que você pode dizer que a fantasia é uma cabra que faz pessoas subir em cima da mesma cara da barata, e está totalmente desconectada da forma da barata. Então, a gente tem que ter uma forma de desconectar a forma da barata. Existe algum estudo científico que provou qual a relação que existe entre a forma física da barata e a fantasia que as pessoas têm a respeito. A fantasia não pode ser totalmente arbitrária, porque ela se baseia numa percepção sensível. Então, alguma relação, ah meu Deus do céu, existe alguma ciência que estuda isso não. Então, isso quer dizer, este fenômeno mais velho do que o mundo, das mulheres ficaram com medo da barata, está certo? E algumas bichinhas também fingem, pelo menos fingem que tem, está certo? Para se parecer com as suas mães, aqui nem o português diz que usa a bigode para parecer com a mãe, então a bichinha quer parecer com a mãe, então ela finge que tem medo de barata com a mãe. Então, você já tem aí uma reação de segundo grau, quer dizer, existe o medo da barata e existe a imitação do medo da barata. Mas a imitação do medo da barata, porque eu não sei se vocês viram, o negócio no YouTube é muito interessante, você põe lá o Edderman, e vai aparecer, tem milhões de cópias de circulando por aí. É evidente ter o elemento teatral, o elemento estriônico na conduta, mas é esteatral só no primeiro momento, porque ele começa fingindo que a pouco ele está acreditando aquele negócio, ele está desesperado mesmo. Isso é totalmente desconectado da forma física da barata, fala que não pode ser. Alguma ligação tem, e até hoje nós não sabemos, nós não sabemos nem isso. Então, não sabemos nem isso, por que? Porque não existe uma ciência que estuda isso. Se alguém quiser estudar esse negócio, olha, eu acredito que em apenas 200 anos você vai obter a explicação cabal deste fenômeno, sob este aspecto. Agora, os princípios explicativos, que descem conta, que tem essa conduta psicológica, dentro da barata, se aplicariam a explicação de por que que a barata tem a forma que tem e não outra? Não. Para saber por que que as baratas têm este formato, não você precisaria, por exemplo, recorrer à hipótese evolutiva. É uma explicação possível, não sei se é verdadeira ou falsa, mas as baratas não é assim, porque evoluir dessa, dessa, dessa, agora chegou neste ponto. Bom, é uma explicação possível. Mas essa explicação, por sua vez, não explica por que que a pessoa reage daquela maneira. Então, aí você teria uma articulação, vamos dizer, entre dois princípios explicativos, que um não explica o que o outro explica, e que acidentalmente eles podem confluir num certo momento e provocar uma reação como aquela que nós vimos no YouTube. Então, mas a autonomia epistemológica dessas várias perspectivas distintas, não significa que usar vários ângulos que eles correspondem no objeto, sejam ontologicamente independentes uns dos outros. Ou seja, os princípios que explicam por que a barata tem a forma que tem, não explicam por que alguém reage de determinada maneira diante da visão dessa forma. Tá certo? Mas é o fato de que a barata tem essa forma, e não outra, ele é um dos elementos causais da conduta estérica, de medo da barata. Então, entendão? Então, eles se juntam na realidade, mas epistemologicamente não podemos juntá-los, no reino da ontologia, o reino do ser, alguma conexão há entre eles, por que? Porque eles acontecem juntos, eles confluem num mesmo momento e lugar, está presente a forma física da barata, e está presente a reação psicológica, da madame ou do sujeito. Então, entendão? Então ontologicamente não são separáveis, mas epistemologicamente e científicamente não temos como conectá-los. Se você quiser conectar esses dois fenômenos, você vai levar alguns séculos para explicar esta pequena coisa, esse pequeno fenômeno. Então, vamos lá. Edmond Russel dizia que não há uma fisiologia dos triângulos, nem uma trigonometria dos leões. Mas o fato de que não possamos tirar conclusões trigonométricas da fisiologia, nem conclusões fisiológicas das equações trigonométricas, não impede que na prática, os leões tenham de se submeter às equações trigonométricas, quando modulam a força do empuche, a força do empuche à distância, faltou a força do empuche à distância do salto. Se o leão vai ter que fazer um salto de 12 metros, ele vai ter que fazer um esforço X, e se o salto for de 2 metros, o esforço é Y. Esta curva que ele vai descrever, esta é uma equação trigonométrica, e ele está submetido às vezes da trigonometria enorme que ele faz. Queira ou não, saiba ele ou não. Eu duvido que algum leão tenha jamais desconfiado disso. Às vezes, mais claramente, quando você vê um gato tentando subir, subir, pular o muro, então o que ele faz? Ele fica sentado olhando o muro e ensaiando a força que ele vai ter que fazer. Então, ele está a uma distância horizontal do muro, e o muro tem uma certa altura vertical, e tem no meio a hipotenusa. O que ele está fazendo? Uma equação trigonométrica. E ele está submetido. A estanta ele está submetido, e se ele fizer o cálculo errado, ele cai. Ele não alcança o muro. Está certo? Então, muito bem. Isso não impede que, na prática, os leões tenham de se submeter às equações trigonométricas, quando modulam a força do empuxe à distância do salto, nem que nós outros tenhamos de acender, penosamente, as fórmulas da trigonometria, por meio de figuras geométricas, e isso é por causa da nossa pobre fisiologia animal. Ou seja, como foi que nós chegamos às equações trigonométricas? Foi observando corpos sensíveis. Está certo? E tentando articular mentalmente o que se passava entre eles. Daí, alguém chegou uma hora que percebeu que existia uma relação matemática. Se não tivessemos essa percepção, não chegaríamos às essas equações. Ou seja, a fisiologia e a trigonometria não têm absolutamente nada uma que vê com a outra, mas sem uma não tem a outra, e se é outra não tem a uma. Então, no mundo do fato concreto, elas estão unidas. Leões e triângulos, afinal, existem dentro do mesmo campo que denominamos realidade. Realidade é tudo que pode, em princípio, ser concebido como objeto de experiência com a ressalva de que só uma parte infinitesimal dela chega efetivamente a experiência de cada um de nós, ou mesmo da humanidade como um todo. Sempre sabemos que, para além da experiência efetiva, existe o campo ilimitado, que ficou limitado, é isso, o campo ilimitado da experiência teoricamente possível. Também sabemos, embora com frequência o esqueçamos, que, para além de toda experiência humana possível, ainda continente-se mais continente de existência. Para isso, parece contraditor, porque eu disse que aquilo que pode ser concebido como objeto de, que a realidade é que pode ser concebido como objeto de experiência, é neste instante que nós inventamos aquilo que a praça trabalhava hipótese de Deus. Há coisas que não podem ser o grato de experiência humana, mas não quer dizer que não possa ser o grato de experiência de ninguém. Então, suponhamos um ser assim, assim, assado, eterno ali presente, ele veria, teria tais ou quais experiências que nós não podemos ter. Então, ou seja, mesmo aquilo que nós sabemos que está para além da nossa experiência, é concebido como objeto de experiência possível, ainda que seja impossível para nós. Esse conhecimento faz parte da própria estrutura da experiência, que contém inseparávelmente a expectativa de um mais além. O que eu quero dizer com isso? No mundo facto concreto, nós já vimos que ele se compõe de uma infinidade de perspectivas. Essa infinidade é intelectualmente inabarcável por nós. Ou seja, nós não podemos abarcá-la, mas é ela que nos abarca. Nós sabemos que estamos dentro dela, nós sabemos que estamos neste momento, em qualquer momento, dentro de uma confluência, tá certo? Ilimitada de fatores que nos colocou aqui neste momento, neste lugar, sendo o que nós somos e fazendo aquilo que nós fazemos. Nós temos esta consciência o tempo todo, ela está sempre no fundo de nós, porque se não tivesse, nós não seríamos capaz de distinguir a realidade e fantasia. Se não tivéssemos isso, em vão você acordaria, tá certo? E perceberia que você emergiu do sonho para a realidade, porque não haveria realidade, você continuaria no sonho. O sonho é aquilo que está a mercer da sua imaginação. O sonho se compõe inteiramente de abstrações, mas a realidade não se compõe de abstrações, a realidade se compõe de fatos concretos, e em cima dos quais nós fazemos as abstrações. Então é isso que eu quero dizer que é o expectativo do mais além. Esta expectativa está sempre presente, você sabe que está sempre dentro de um horizonte ilimitado, e é porque você sabe que está dentro de um horizonte ilimitado, que você consegue mais ou menos circunscrever o horizonte de atenção, porque você sabe que o seu horizonte de atenção não coincide com o horizonte da realidade. Se coincidir, você estaria no sonho. Ou seja, eu neste momento estou olhando aqui só o que está dentro desta sala, não estou vendo nada lá para fora, mas eu sei que tem algo lá para fora que eu não estou vendo. Se eu suposesse por um minuto que não há mais nada lá fora, essa sala se tornaria o universo. Mas esse universo seria impossível, porque eu teria que ter sido gerado aqui dentro mesmo, teria que ter passado toda a minha vida aqui. Eu sei que isso não aconteceu. Portanto, o horizonte de atenção é móvel. Você presta atenção no pequeno, no grande, agora eu presta atenção no que está escrito aqui, depois eu viro e presta atenção na classe, vejo aqui a câmera, vejo a imagem da classe aqui, vejo as pessoas que estão aqui em volta. O nosso horizonte da atenção é sempre móvel. Ele é móvel, ele é limitado, sempre limitado. Mas ele só pode ser móvel porque ele é um horizonte hipotético, recortado dentro de um horizonte que nós sabemos que é ilimitado. Nós sabemos, por exemplo, que podemos aqui expandir a nossa imaginação até conceber, vamos dizer, o universo e o que está para além do universo. Podemos até pensar nisto, está certo? Se não pudessemos fazer isso, também não poderíamos ter um horizonte de atenção mais limitado e ser concreto, porque ele é limitado e ser concreto dentro de um ilimitado. É, facilmente podemos observar que o conjunto daquilo que sabemos ou podemos saber sobre um fato, por mais mínimo que seja, nunca esgotará a sua realidade, sempre estará faltando alguma coisa. E no ato mesmo de tomar conhecimento do fato e tentar explicá-lo com os dados que temos ou que podemos escolher, sempre contamos com esse algo, com esse resíduo, com esse X que não vemos e às vezes nem imaginamos mais que sabemos que está lá. Porque se não soubessem o que está lá, não conseguiríamos recortar e circunscrever o nosso circo de atenção. Ou seja, podemos ter um horizonte de atenção limitado porque vivemos dentro de um horizonte ilimitado. É certo? Se não, haveria um... Vamos dizer, se investisse dentro de um horizonte, se ele vive dentro de um horizonte já limitado, o número de recortes que poderíamos fazer nele seria também limitado. Está certo? Então, a nossa imaginação, o nosso circo de atenção, não teria esta imensa flexibilidade que tem e que nós exercemos a cada momento. Está certo? Por exemplo, você está conversando com uma pessoa e falando uma a outra. Vaz no mesmo momento, você está pensando na imagem da pessoa com o que você está falando e no mesmo instante você repara a expressão da pessoa que está te ouvindo. Veja a flexibilidade da atenção, ela vai e volta. Está certo? Então, o número de círculos de atenção e o número de direções da atenção é ilimitado. Claro que nós podemos catalogá-los, mas ele é limitado. Qualquer fato, se isolado desse elemento desconhecido, ser reduzido, portanto, ao que sabemos dele, ou mesmo ao conjunto hipotético do que imaginamos poder saber dele, deixa automaticamente ser um fato da realidade e passa a ser um pensamento nosso apenas. Um esquema mental, uma representação, um modelo em miniatura ou como o que eles não chamaram. Saímos do mundo e entramos no teatro. Realidade, portanto, é o conjunto daquilo que pode, em princípio, ser objeto de espírice e jamais chegar a ser o por completo. Então, realidade é essa tensão entre o limitado e ilimitado, essa tensão permanece, essa passagem permanente entre vários graus de limitação e de ilimitação. A única coisa completa que conhecemos é a representação que fazemos dos fatos e os próprios fatos vão sempre muito além dela ou pelo menos vão quando você está acordado. Tem aquela frase maravilhosa de Heráctito, quer dizer que os homens acordados vivem todos no mesmo mundo, quando eles dormem eles vão cada um para o seu mundo. Ou seja, eles saem do ilimitado e vão para o mundo limitado. Viver na realidade é, portanto, estar sempre numa tensão entre o esforço de completar nossos pensamentos, de modo a poder expressá-los ao menos para nós mesmos, com uma forma identificável, idealmente repetível, e a necessidade de dissolver a forma cerrada desses pensamentos e abrindo-nos de novo e de novo para a realidade que os transcende. Esta tensão permanente é o que nos garante que nós estamos na realidade e não na fantasia. Nenhuma ciência estuda fatos concretos, a realidade concreta. Cada ciência é uma perspectiva determinada, uma forma específica assumida pela curiosidade humana. Essa forma é que determina o recorte respectivo a ser efetuado no continuo um da realidade para fins de investigação metódica. É só idealmente que as fronteiras entre as ciências refletem os limites ontológicos de seus objetos respectivos. Quer dizer, Edmondo Kustler dizia, na introdução das investigações lógicas, que idealmente o sistema das ciências deveria imitar a própria estrutura da realidade. Essas divisões, as várias ciências, corresponderiam as divisões entre os objetos efetivamente existentes, os objetos de conhecimento possíveis. Mas nós sabemos que isso é só idealmente. Isso é, vamos dizer, uma definição teleológica ou finalística da ciência. Quer dizer, a ciência se define por um objetivo que ela sabe que não pode alcançar. E a existência do sistema da ciência também depende de, primeiro, jamais devista esta finalidade teleológica, que é coincidir com a estrutura da realidade, e, por outro lado, saber que ela está a quem da estrutura da realidade. Esta tensão também define a ciência. Portanto, o sujeito do vídeo discutir se existem limites ou não existem limites da ciência, mas sem esse limite, sem esta tensão entre o limitado e o limitado, não existe ciência nenhuma. Eu sei que a pessoa pode ter uma formação científica maravilhosa, estudar físico, estudar arquivo, estudar matemática, ler inteira, e não ter a menor ideia do que é ciência. Ele não sabe o que ele está fazendo. E eu, que sou uma besta quadrada, que nunca pratiquei ciência nenhuma, mas pensei a respeito, e examinei os materiais que documentam a atividade científica e os comparei-amos com os outros. Eu sei. Por isso que eu tenho pensado que tem muita gente que estudou a biologia, para que ela estudou muito mais que eu, só que tem o seguinte. Por exemplo, quantas pessoas vocês conhecem que leram a origem das espécies? Poquíssimo. O mundo está cheio de evolucionistas, e antes de evolucionistas, que jamais leram a origem da espécie, eu li. Então, isso é um documento. Você está me entrando? Isso quer dizer, todos os caras falam sobre a teoria de evolução, eles estão falando já de um produto que é a décima quinta, ou décima nona, ou milésima, versão de uma coisa que começou com Charles Darwin. Está certo? E que hoje é muito diferente do que Charles Darwin dizia. Existem muitos evolucionismos. E, naturalmente, quando o sujeito defende o evolucionismo, ele defende a sua última versão, que está mais na moda e que vai deixar de estar na moda amanhã. Está certo? Agora, eu não tenho prática da investigação científica, mas tenho prática da investigação histórica, sobretudo, tenho prática da investigação da história das ideias. Então, por exemplo, os livros fundadores do evolucionismo, nem o que são os de Charles Darwin, Ernest Hackel, Louis Buchner, Ludwig Buchner e outros, esse eu li todos. Isso está científicamente atrasado, evidentemente, porque são livros do século XIX. Mas foi com isso que a história toda começou. Está certo? Então, quando eu estudo essas coisas, e eu penso o que é essência, o que eles estão fazendo quando fazem isto. Está certo? E o que eu faria se eu estivesse no lugar deles? Está certo? Agora, tem pessoa que pode passar a vida estudando conteúdo das ciências e as técnicas usuais de investigação, sem nunca pensar o que é isto. Está certo? Agora, eu estou a ler um livro muito interessante desse Elester McGrath, Dawkins, o Deus de Dawkins, em que ele confessa que ele teve uma formação semelhante ao Dawkins, quer dizer, ele estudou matemática, depois foi estudar ciências naturais, e era um evolucionista, materialista, etc. E achava que aquilo tinha superado todas as ideias anteriores. Ele achava que não tinha a menor ideia de que ideias anteriores eram essas. E que na hora que ele foi estudar, quando ele foi estudar os filósofos coláceos, ele caiu de costas. Ele não imaginava que fosse uma coisa tão consistente, muito mais consistente do que aquilo que ele pensava antes. Quer dizer, a ignorância daquilo que você está discutindo é frequentemente o único fundamento das suas ideias. E se você está concebendo as ideias alheias, não como elas foram pensadas pelas pessoas que as pensaram, mas como ela está sendo imaginada por você, pelo mero contraste com relação às suas. Você pega as suas ideias usuais e você inverte e pensa que é assim a ideia do outro. Isso é um processo infantil, poeirio. Se não fosse isso, não haveria tanta discussão besta no mundo. Mas... Vamos dizer, essa ideia de que a ciência se compõe de uma tensão entre... a divisão entre os territórios das várias ciências e a estrutura da realidade, nunca coincide, perfeitamente, uma coisa ou outra, jamais já coincidi totalmente. Mas a noção de uma estrutura da realidade é fundamental para a existência da ciência. A estrutura da realidade, ela pode servir de modelo teleológico, modelo finalístico, mas você não pode abarcar ela totalmente. Nenhuma ciência pode abarcar a realidade, porque ela está sendo desenvolvida dentro da realidade. A ideia de uma ciência que abarcaça a realidade, é uma impossibilidade, por simples, a ideia de qualquer conhecimento abarcar a realidade total, já é uma ideia imbecil, a finalidade do conhecimento não é abarcar a realidade. Note bem, tudo o que nós conhecemos, pensamos, falamos, etc., está acontecendo aonde? Só na nossa cabecinha? Não, está acontecendo dentro da realidade. Na hora que eu penso, que eu tenho qualquer ideia, por inteligente ou imbecil que seja, essa ideia foi pensada dentro da realidade, dentro do universo. E não é uma coisa separada. O isolamento que eu fiz, é só um isolamento hipotético, é só mental, é só uma ilusão de isolamento. Por exemplo, na hora que o senhor está sonhando, quando o Heráclito diz, ele foi para o seu mundo, ele diz, ele foi, não, ele pensa que foi, porque ele continua sonhando dentro do mesmo mundo que as outras pessoas estão. Ele só não sabe disso. É a história do português, ficou rico, então queria fazer orgias, arrumou uma mulher à toda, mas os vizinhos não vêem, ele mandou o povido fomear na janela, só que o povido fomeu ao contrário. De maneira que eles ficavam fazendo a bagunça dele, lá é o vizinho que eu estou olhando, e ele não vêem os vizinhos. Então, em parte, vamos dizer, esta ilusão é o vizinho fomeu ao contrário. Você não está vendo, mas os outros estão vendo. Você não sabe onde está, mas nós sabemos profidamente onde você está. Então, tudo aquilo que é pensado, ou seja, o conteúdo da nossa vida subjetiva e o conteúdo total da nossa ciência e da nossa conhecimento, é algo que se dá dentro da realidade. Nenhum de nós jamais transcendeu a realidade do caso do conhecimento. Se você transcendesse, você se transformaria no infinito. Isso é mais ou menos como o místico hindu que diz que eu sou o brâmão, dizia olha sujeito, olha, não parece. Por que? Porque você continua andando por aí, tem resfriado, tem problema como todo o nosso, você não se parece o brâmão, você apenas descobriu, está certo, que você não é outro, em vez do brâmão, porque só ele existe, só o ser infinito existe, ou o supracer, se quiser. Você não pode competir em dignidade existencial com infinito metafísica, foi isso que você descobriu. Agora, você é um grande merda, e quem aqui não sabia disso? Todo mundo sabe disso no fundo, o próprio hinduismo diz que esse conhecimento está no fundo de todos, está certo. Se você transcendesse a realidade, você se transformaria no próprio infinito, e nós não poderemos estar conversando com você, como se você fosse uma pessoa qualquer. Então, a finalidade do conhecimento não é abarcar a realidade, é torná-la luminosa a ela mesma. O conhecimento, vamos dizer, é um intercâmbio que se dá dentro da realidade. Por exemplo, a hora que um objeto se torna conhecido para você, você não o conhecia, agora você investigou o científicamento, e você o conhece, não só você foi alterado por isso, mas ele também foi alterado por quê? Porque ele entrou dentro do repertório subjetivo, e talvez até o objetivo, de um ser para o qual ele não existia antes. Isso abre também para ele certas possibilidades. Então, por exemplo, quando se eles conversam certos minérios, estavam lá em terra, ninguém tinha nem visto, e quando eu não sabia que raio de coisa era, daí foi lá um geólogo, estudou aquilo, viu mais ou menos como foi a formação da coisa, chamou um químico, ele viu como é a composição do negócio, etc. Isto muda só as possibilidades dos seres humanos que estudam, não, muda a possibilidade do próprio minério, que ele vai passar a ser usado em processos industriais, por exemplo, que os quais ele não participava antes. Ou seja, isso é um acontecimento, não só na sua vida, mas na vida do minério também. Quer dizer, ele passa a desempenhar dentro, vamos dizer, da economia total da natureza, uma outra função que ele não desempenhava antes. Está entendendo? Por exemplo, o primeiro sujeito que montou o primeiro cavalo, ele mudou só a vida dele? Não, ele mudou a vida de todos os cavalos. O primeiro sujeito que descobriu que o petróleo podia ser usado como combustível, o que ele fez? Podia ser usado para você transformar numa série, mudou só a vida dele? Não, mudou a vida do petróleo, o petróleo passou a ter fisicamente, não estou falando metaforicamente, passou a ter fisicamente uma função que ele não tinha. Antes que alguém retirasse o petróleo de lá de dentro, e usasse para isso aquilo, a função dele dentro da economia da natureza era uma, a partir da hora que teve um uso humano, passou a ser outra coisa, ele passou fisicamente a ter outra função. Está entendendo? Ou seja, não só você descobriu as possibilidades do petróleo, mas ele começa a manifestar as suas possibilidades. Então, compreendendo? Então não é só o acontecimento da ordem cognitiva, o acontecimento da ordem física, no qual, por assim dizer, a natureza se tornou mais conhecida para ela mesmo, ela se iluminou, um aspecto dela que estava embutido, veio à tona. Então, a função do nosso conhecimento não é abarcar a realidade, não é dominar a realidade, é esclarecê-la desde dentro dela mesma, é a própria realidade que está se elucidando a partir da nossa atividade cognitiva. Está certo? Portanto, vamos dizer, a ideia de que não existe, dificilmente existem aspectos que não podem ser explicados pela ciência, essa ideia é contraditora à própria ideia de ciência. Enquanto existir realidade, ela terá uma infinidade de aspectos, não apenas, vamos dizer espirituais ou misteriões, mas banais comuns, materiais, que não podem ser explicados simplesmente porque nenhuma ciência os estudou, e que talvez você tenha que conceber outras ciências com outros métodos para poder estudar. Também quando você fala ciência, a pessoa pensa que ciência é uma coisa que está pronta e que só basta aplicá-la, digo não é? As ciências continuamente, elas têm que ser reestruturadas uma forma completa, radical, às vezes para poder abarcar um outro aspecto do seu próprio objeto que não tinha percebido antes, você descobre um centímetro a mais do assunto, e pronto, você tem uma revolução metodológica dentro de uma ciência? Está certo? Você pode fazer uma revolução metodológica dentro de uma ciência pelos métodos da mesma ciência? Não pode, é? Você tem que recorrer a uma outra clade de conhecimentos, está certo? E não adianta nada você dizer não, agora nós vamos mudar, nós não vamos fazer teoria do conhecimento, nós vamos fazer epistemologia científica, de você apenas mudou o nome, não mudou a coisinha de cima nenhuma, e a epistemologia científica também pode entrar em crise e ter que rever os seus métodos, e ela vai fazer pelos métodos da epistemologia científica, olha, o que é isso? Isso é sempre o barão de múnhao se puxando pelo cabelo para fora da água. Portanto, não esqueça, o conhecimento científico é limitação da perspectiva, e ele não pode abarcar a realidade, porque essa não é a função dele, a função é tornar, a função de cada ciência, a totalidade é tornar um pedacinho da realidade mais luminoso, mas vamos continuar sempre mergulhados dentro do Aperon, de Anaximandre, o indefinido, o indefinido é o mundo fato concreto. Ou seja, a própria ideia de você criar uma cosmobisão científica que explique o essencial da estrutura da realidade, ou para não dizer a estrutura da realidade inteira, é um sonho dinóstico, é macumba, é o cultismo, e como é que o gente é opor isso ao conhecimento místico, etc. Você vai ver que tiram uma macumba de... dentro da gaveta e diz que agora aquilo é a racionalidade e que aquilo se opõe ao conhecimento místico, mágico, etc. Quando ele mesmo tá sendo nada mais do que um guru, um mestre ignóstico na hora que ele diz isso. Gente, esta aula aqui, não é por nada não. Vocês não podem esquecer nunca mais, eu vou dizer aqui. Isto aqui é fundamental para todo o resto da sua vida de estudos. Isto aqui, é a base de tudo que eu fiz, tudo que eu tô fazendo, tudo que eu tô ensinando, tá certo? E acredito que é a base de qualquer vida de estudos que seja para ser levada a sério. Que é a diferença entre conhecimento e ignostrismo, conhecimento e ignose. Conhecimento é a realidade que se elucida a si mesma, graças a esse verdadeiro milagre da presença de uma inteligência humana que é capaz de pegar um pedacinho e fazer com que esse pedacinho você reconheça a si mesmo. Ignose é abarcar a realidade com o seu conhecimento. É a diferença que o Chesterton dizia, qual é a diferença entre o poeta e o louco? Ele diz, o poeta põe a cabeça dentro do mundo e o louco põe o mundo na cabeça. Muito bem. A perfeita coincidência entre o sistema da ciência, a estrutura da realidade, só seria possível por onissapiência. E onissapiência prévia. O sistema como um todo teria de coincidir com a anatomia da realidade antes mesmo que as várias ciências e preenchências de conteúdo. Porque o fato de existir uma determinada ciência em atividade nunca quer dizer que ela sabe já tudo que ela tem que saber sobre o seu objeto. Tá certo? Sempre haverá novas investigações a fazer, e novas, e novas, e novas, e novas, e novas. Tá certo? Então, para que a estrutura do sistema da ciência coincidisse ou abrangisse a estrutura da realidade, seria necessária a onissapiência e a onissapiência prévia a investigação científica, porque a estrutura do sistema da ciência teria que já abarcar este conjunto antes que as ciências tivessem adquirido os seus conhecimentos específicos através do estudo dos seus objetos determinados. Ou seja, isso é impossível. A ordem das ciências reflete a ordem das perguntas, não a das respostas. Reflete a ordem subjetiva da curiosidade, não a ordem objetiva do mundo. Se tomarmos um único fato concreto, por mínimo que seja, e enumerarmos seus aspectos segundo as ciências que os estudam, descobriremos duas coisas. Primeiro, o número das ciências existentes é muito inferior aos aspectos dignos de estudo que poderemos aprender em qualquer fato. Há sempre ciências faltantes. Se não fosse isso, como é que as pessoas falam de progresso científico e ignoram uma coisa desta? Uma colosmovisão científica não pode dar conta da estrutura da realidade. Está certo? Porque se ela desce contra da estrutura da realidade, não haveria lugar para novas ciências. E nem muito mesmo para novas descobertas dentro da mesma ciência. E você acreditar que as novas descobertas que continuarão dentro da mesma linha da teoria que você tem atualmente, está certo? Isto é macumba. Porque aí entramos naquele negócio, naquela ressuscita do POPER que sob este aspecto é válido. É um rastro de sinal que se encarada sobre certas aspectos, não sou filho, não sou boto, é verdadeiro. Para você prever os conhecimentos que você terá amanhã, seria possível que você já os tivesse hoje. Como é que eu vou saber hoje ou que eu vou saber amanhã? No momento eu não sei. Mas eu quero saber o que eu vou saber amanhã. Para saber o que eu vou saber amanhã, preciso saber agora. Isto é impossível. Então ninguém pode assegurar jamais, nunca, nunca, nunca, nunca, que os desenvolvimentos futuros da sua ciência estarão neste caminho e não no outro. Porque para isso ele precisaria ter percorrido já esses desenvolvimentos possíveis e ele não fez isso. Quer dizer, o cara que diz isso está anunciando e o Dawkins faz isso. Está certo? O Dawkins está seguro de que nada escapará, da perspectiva evolutiva que ele, na qual ele acredita, nada nunca mais escapará. Isto é macumba. Isto é macumba, isso é ocultismo. Isso é mágica. Isso é hipnose. Altipnose, em primeiro lugar. Porque isto é contraditório com a estrutura mesmo da ciência. Segunda coisa, nenhuma ciência estuda a junção com que esses vários aspectos possíveis e outros inumeráveis formaram justamente o fato concreto que sem ela não se produziria. É aqui que eu fiz uma redação, resumindo mais ou menos um exemplo que eu já dei em outras aulas. Tomamos um exemplo banal. Um cidadão matou outros atiros. A primeira reação que nos ocorre é baseada na qualificação jurídica do fato. Dizemos que foi um crime. Mas que tipo de crime? Um assassinato gratuito, obra de um serial killer que escolhe suas vítimas a êxito na multidão? Uma vingança, um assalto, um crime de paixão. As mil e uma motivações possíveis não podem ser discernidas pela ciência jurídica. Ou seja, nós definimos o fato a partir de um conceito jurídico, um conceito de crime. Mas já sabemos que nesse instante mesmo este crime não existiria, seria absolutamente impossível que ele existisse sem que algo o determinasse, o qual algo não pode ser juridicamente definido. Apelamos então a psicologia. Falamos de pulsões e complexos, estíveis e respostas, sentimentos e expectativas que não podem ser incidos e definidos juridicamente, mas sem os quais o crime não se realizaria. Então, portanto, a ciência jurídica tem que contar com esses aspectos que escapam do seu domínio até para poder dizer que o crime foi crime. Mas muitos desses fatores estão fora da área da psicologia individual, são de ordem sociológico ou socioeconômica. E isso se o crime não tiver motivação política que não pode ser reduzida também a esses fatores. Há também a arma do crime. Sua escolha pode ter alguma significação psicológica, mas seu modo de funcionamento não tem nada a ver com a psicologia. Suponhamos que tenha sido um revolver. O calibre, a qualidade da pólvora, o peso do projeto, tudo isso teve sua influência no efeito letal do tiro. E nada disso cai no âmbito de estudo direito da psicologia ou da sociologia. Existe? Existe até a pergunta. Aqui tem um crime e existe, vamos dizer, a motivação psicológica do crime. Do outro lado, existe o disparo, existe um fenômeno de ordem balística, que é, dizer, o trajeto percorrendo pela bala a partir da potência do explosão, do peso do projeto e da distância do alvo. Está certo? Existe algum princípio científico comum que possa explicar a motivação do crime? Está certo? E o processo balístico do trajeto da bala? São absolutamente irredutíveis entre si. Mas, no entanto, se não houver o fator psicológico, não há o crime. E se não houver o fenômeno balístico, a bala não chega a parte de algum. É da junção desses dois processos. Scientificamente incongruentes, mas ontologicamente, vamos dizer, conectados, que se dá o fato concreto chamado crime. Mas ainda, se a bala atinge um órgão vital, o processo fíziopatológico que ela desencadeou e que culminou na morte da vítima, tem sua consistência própria e é independente de todos os aspectos considerados por aquelas ciencias. Ou seja, nem a balística, nem a psicologia, nem o direito, podem explicar por que a bala atingindo tal órgão matou o sujeito. Vamos dizer, é um processo que teria que estudar, pelo lado da anatomia patológica, a qual, mesmo assim, às vezes não chega a explicar por que Conegmo eu. Porque já se viu caso de pessoas atingidas exatamente no mesmo lugar, no mesmo órgão, com o mesmo impacto em que uma morreu ou outra não. Seria mesmo dando a própria ciencia que teria essa limitação. Ademais, é preciso considerar a velocidade do vento que poderia desviar a bala nos milímetros, mas infelizmente não o fez. Até certo. A balística vai explicar a velocidade do vento, a fisiologia vai explicar a velocidade do vento, a ciência do direito vai explicar a velocidade do vento. Então, aí você vai ver, já tem uma confluência de vários aspectos que são estudados por várias ciencias, as quais não conseguem reduzir esses aspectos a um princípio comum. E é porque não pode ser reduzido a um princípio comum que nós dizemos que é um fato concreto e não um fato pensado. O dia que as ciencias conseguem reduzir tudo a princípios comuns, o mundo inteiro terá se tornado um fato pensado, uma alucinação. Isso está incompatível com a existência mesmo da ciência. Portanto, a ciência universalmente abarcante é incompatível com a estrutura do universo e com a existência da própria ciência. Também o fato é que a assassina encontrou a vítima no local onde ela procurava, não teria podido cometer o crime se ela não estivesse lá. Que ciência explica por que as pessoas estavam em um lugar, estavam em um lugar e não em outro, num momento preciso e não em outro? Também poderia acontecer com a assassina tropeçando uma pedra e caísse errando o tiro. E não há uma ciência que estude porque essas coisas sucedem ou não sucedem. E, no entanto, toda essa confluência de elementos dos quais alguns são estudados por uma ciência, ou por outra ciência, ou por ciência nenhuma, é a confluência deles que se chama o fato concreto. Enfim, o acontecimento se compõe do cruzamento num lugar e momento particulares de uma série ilimitada de correntes e de causas, a maioria delas puramente acidentais e muitas não abrangidas por nenhuma disciplina científica. Se uma só dessas correntes fosse interrompida ou desviada, o fato não teria sucedido como sucedeu. Podia ser, por exemplo, que o assassino é rácil o tiro, ao mesmo tempo que o som do disparo fosse abafado pelo ruído de uma britadeira. Não teria havido crime e ninguém saberia da tentativa. Um crime, em suma, como qualquer outro acontecimento do mundo real, é o resultado de um número ilimitado de linhas causais, de tal modo que, se uma só delas falhasse ou seguisse um curso diverso, o acontecimento não se produziria ou seria diferente. A ciência pode tentar descobrir conexões entre essas linhas, mas a maioria dos conexões é puramente acidental e reducível a qualquer explicação científica. Uma ciência final é um determinado campo de fenômenos idealmente explicáveis a partir dos mesmos princípios gerais. Por exemplo, você explica os raios e o choque que você toma no pelo de um gato por um princípio comum chamado eletricidade. A ideia de um... Note bem que você também não sabe direito o que é, até o ordem gay explicou que é recarga elérica. Ninguém sabe o que é, mas pelo menos você acha um nome. Isso aí é eletricidade. O jeito de falar o nome é que você se sente aliviado porque ele acha que sabe o que está falando. É muito melódico quando não sabia nem o nome. A ideia de um criminoso, a fisiologia do corpo da vítima, o curso da bala que a matou, jamais poderão ser explicados por princípios comuns. Estão separados por abismos ontológicos. Abismos ontológicos, quer dizer, não é bem um abismo ontológico. É uma... A expressão abismo ontológico é abismo... Vamos dizer abismos epistemológicos é mais certo. Que a razão científica não pode transpor, mas que são transpostos na prática, em cada acontecimento real, por meio do que seja. Não são transpostos só na produção do acontecimento, mas na percepção que nós temos dele. Porque no instante em que vemos, por exemplo, assistimos a um crime. Está certo? Nós sabemos instantaneamente que ele não tem explicação unívica. Nós sabemos instantaneamente que resulta uma confluência ilimitada de fatores. Está certo? E... Por exemplo, esse crime que aconteceu aqui na Virgina faz dois dias. O reto entrou na escola e fuzilou lá 33 pessoas. Há uma série de elementos absolutamente inconhexos. Por exemplo, de quando o rapaz parou de dar tiro para ele recarregar a arma, perguntou por que as pessoas não saltaram em cima dele ou desarmaram, se elas estavam em muito maior número. Desde a ano estamos apavorados. E olha, mas o fado de eu estar apavorado com um assassino me induziria justamente a tirar a arma da mão dele na hora que pudesse, porque se eu vou deixar ele com a arma, ele fica mais perigoso ainda. Por que as pessoas tiveram essa reação e não outra? E segundo, por que todas as pessoas juntas tiveram aquela reação? Terceiro, o assassino certamente teve os seus motivos para tentar matar. Se as pessoas tiveram seus motivos, o encadeamento de causas psicológicas para reagir assim. Uma coisa pode explicar outra, a outra pode explicar uma, não. São fenômenos independentes que cruzaram no momento. Você pode passar o resto da sua vida estudando, você não vai achar uma causa comum para esses dois fenômenos. E é justamente por que eles confluíram que o massacre virou que... o massacre adquiria essas proporções, podia até parar na segunda ou terceira vítima. E não seria esse choque que foi para todo o país, também para todo mundo, todo mundo ficou assustado com isso. Mato dois, daí os terceiros voaram em cima dele, tiraram a arma, teria parado a coisa. Mas ainda existe um outro elemento aí, que também estava presente. A lei da Virginia proíbe que qualquer pessoa use a arma nas escolas. Os professores não podem usar, os funcionários não podem usar, os alunos, a maior realidade também não podem usar, e os visitantes, os pais de alunos também não podem usar. Então só quem pode usar a bandida, então... Pessoa pergunta, por que existe tanto massacre nas escolas, na América do Sul que invade escolas e mata? Porque é o lugar mais seguro com o assassino, aquele que você quer, você é um serial killer, a escola é o lugar ideal para você, porque você sabe que ninguém vai sacar uma arma para parar você. Se você sacar uma arma no Walmart, o caixa pode estar armada, o freguês pode estar armada, e você leva a chuva e tudo fica até lá. Então lá, o que ele vai fazer? Ele vai matar porque ele está garantido. Mas, então, os motivos que levaram o assassino a cometer o seu homicídio, existe uma explicação comum para essas motivações da cabeça do coreano maluco, e o fato de que existe essa lei, não, não tem, também confluiu. Mas, para seis meses atrás, seis meses ou um ano atrás, estava em discussão na Assembleia da Virginia, suspenderam essa lei, permitirem que as pessoas usassem, veram que coisa incrível, coisa fantástica. Teve lá a discussão e acabaram não revendo a lei, quer dizer, continuou proibido das armas. Daí, veja, o suprim que é diretor da Virginia Tech, a Virginia Tech é onde aconteceu o crime. Ele aplaudiu a decisão, diz muito bem, e agora todos nós vamos nos sentir mais seguros dentro da escola. Isso tudo cumpôe uma ironia, mas por que que existe a lei, por que que o sujo dice isso e qual a conexão entre isto e a cabeça do coreano? Jamais saberemos. E por que jamais saberemos? Isso constituiu o fato concreto. E nós sabemos que isto é real, isso não foi fantasia, isso não foi um filme de suspense, mas foi uma tragédia real. Muito bem. Eu acho que todos já devem estar cansados e vamos deixar o restante do assunto para a próxima vez, que isso ainda dá muito pano pra mangá-lo. Então, aqui eu estou dando os conceitos fundamentais em que eu me baseio para poder lançar um diagnóstico de paraláctica cognitiva. Algumas de vocês já devem estar entendendo, antes de eu me explicar, como é que eu uso isto como critério da ferição da paraláctica cognitiva? A paraláctica cognitiva sempre tem algo a ver, vamos dizer, com a ilusão gnostica de explicar a realidade. Nós não explicamos a realidade. A realidade se explica a si mesmo através de nós. Nós iluminamos certos aspectos da realidade. A realidade não precisa ser explicada. A realidade não é, vamos dizer, um enigma total. Ela é uma mistura de conhecimento e ignorância, ela é uma mistura de luz e trevas, ela é uma mistura de limitado e ilimitado, ela sempre foi isto. E nós só precisamos esclarecer aqueles pontos que são enigmáticos para nós num determinado momento, mas já teve alguém que já fizesse todas as perguntas? Não. E também ninguém obtive todas as respostas. Como não é possível fazer todas as perguntas, também não se pode obter todas as respostas. A ideia de que a ciência ou a filosofia serviça a explicar a realidade é baseada na premissa errada, de que é possível fazer todas as perguntas. Nós só fazemos algumas, porque outros aspectos não nos parecem enigmáticos, eles nos parecem autoexplicativos. Por exemplo, se aqui está o moleque, o moleque, a mãe dele achou que ele fez alguma coisa errada e bateu nele. Ele vai passar o resto da vida perguntando o que a minha mãe bateu em mim. Mas se ele acaba de encher o irmãozinho menor de porrada e ele leva as palmas na bunda da mãe, ele sabe por que ele apoiou. Isso não é enigmático, pode ser muito desagradável, mas não é enigmático. Então sobre isso ele não fará perguntas. Mas um outro sujeito pode fazer. Ou ele mesmo colocar no outro papel social mais tarde, ele pode perguntar de onde as pessoas tiraram a ideia de que batendo nas crianças, elas vão ficar melhores. Para aquele sujeito, isso não é um enigma, mas digamos que seja um psicólogo. Eu posso fazer, você está perguntando, aliás eu muitas vezes a fiz. Por que você acha que você bateu no sujeito, ele não vai mais fazer aqui. Pode funcionar num sentido, pode funcionar no outro. O sujeito pode ficar melhor porque ele apoiou, ele pode ficar pior porque apoiou. Ninguém sabe o que acontece. Isso não é previsível. Então quer dizer, este mesmo fenômeno banal, garoto que levou as palmas da bunda, ele contém um aspecto luminoso, isto é o óbvio autoexplicativo e contém outros aspectos enigmáticos intrínsecamente vinculados. Não são separáveis, são isoláveis mentalmente, mas não separáveis na realidade. E assim por diante, quer dizer, se nós com a mentalidade de cientista adolescente achamos que o mundo é um enigma e que nós nos cabe explicá-lo, você já entrou no agnosticismo, você já entrou no sonho agnóstico da unissa pensia. E você já está no mundo da lua, você já está no pior tipo de misto e sírilo que existe. Qualquer pessoa que tem a cabeça do lugar, tem que saber primeiro, quem diz que você é menos enigmático do que o mundo, quem diz que você é, vamos dizer, um vaso celestial repleto de claridade que vai expandir essas claridades sobre o mundo. Você também é enigmático, você também se desconhece. A sua própria inteligência pode ser o enigma para você. Está certo? Portanto, não é você que vai explicar o mundo. Há ali um intercâmbio de luzes e trevas de parte a parte. Qualquer pessoa mais primitiva sabe disso. Ela vai entender umas coisas, não vai entender outras e que a vida vai continuar assim. E todos nós temos a obrigação de saber isso. Agora, estes sonhos têm uma visão, vamos dizer, da explicação universal, da cosmovisão científica. Ela é agnosticismo, ela é do mais barato, está certo? Do mais vagabundo que existe. E não é para ser levada a sério. Um estudo sério tem que começar, mas é com o reconhecimento do fato concreto. Está certo? E somente a partir daí é que nós teremos o critério, para julgar depois os nossos pensamentos, não há luz da nossa exigência, está certo? Mas há luz da exigência que a própria realidade nos formula no dia a dia. Então, aqui encerro essa disposição, se tiverem perguntas, se tiverem perguntas, estou à sua disposição. Talvez nem ar de pergunta, porque isso aqui eu acho que foi um massacre de novidade. Se quiser um tempo a pensar, vocês fazem um pergunta no mês que vem. Então, deixe eu fazer, mas eu quero saber, se vocês percebiam como este assunto é central em toda a investigação da paraquista cognitiva. Então, está ótimo, se perceber isso, então a finalidade da aula está realizada. Pode ser certeza quando voltar, vão ter perguntas. Muito obrigado a todos.