Vamos lá. Eu não sei se alguém aí tem alguma dúvida a respeito da aula passada. Eu aqui não estou recebendo som de você, mas pode mandar perguntas por inscritos. Então se alguém tiver alguma dúvida a respeito da aula anterior, eu sugiro que mas apresente agora no começo da aula. Eu vou contar aqui um minuto se eu não receber nenhuma nenhuma pergunta a respeito da aula passada e eu vim já direto no assunto desta. Muito bem. Muito bem, não há muito perguntas. Então vamos entrar diretamente no assunto desta aula. Eu peço licença para você para começar por um detalhe autobiográfico que vem a calhar justamente porque o assunto das autobiografias está no centro desta investigação que eu tenho aqui exposto a vocês. Então não é de todo intertinente, eu comece com um episódio autobiográfico. Na minha adolescência eu passei por uma sucessão de experiências que determinar de uma vez por todas o rumo que eu haveria seguir na vida. E eu acredito que a que foi de mais impacto foi a seguinte. Eu havia até os primeiros anos do ginásio, que varia o que hoje é a quinta e sexta série, estudado num antigo colégio público, o São Paulo, que chama colégio Estadal de São Paulo, que era um espécie de colégio tradicional, tinha muita fama e merecia a fama. Porque entre os seus professores havia uma meia dúzia de intelectuais sérios, que eu me lê muito bem um deles. Quando estava na segunda série, o colégio mudou de prédio e fundiu-se com outro colégio, que era um colégio da prefeitura, que ficava não muito distante ali, e no qual havia três vezes mais alunos do que no nosso, e dez vezes menos em cima. É um colégio péssimo, uma confusão realmente. E a mudança evidentemente teve um impacto muito grande nas vidas de todos nós, tanto professores quanto alunos. Desde logo houve a mudança do ambiente físico. O nosso colégio ficava num prédio velho, com móveis de madeira entalhada, aqueles painéis da parede, as paredes cobertas de madeira, aqueles painéis com sucessivas gerações de alunos veneráveis nos olhando. E o novo colégio, ao contrário, era um prédio, uma geringonça modernosa, horrível, e já praticamente todo destruído pelos quatro ou cinco mil vândalos, que não digo que estudassem ali, mas que pelo menos frequentavam aquele lugar todo dia. Então de repente nós saímos de uma espécie de monumento histórico e entramos dentro de um favelão. A segunda experiência foi a mudança dos professores. Eu tinha tido alguns professores notáveis, cujo ensino me marcou para sempre. Eu nunca fui um aluno muito atento, eu não me interessava muito por matéria alguma, mas a gente tinha professores tão bons que mesmo os piores alunos acabavam aprendendo alguma coisa. Eu me lembro muito, claramente, das aulas de um cidadão chamado Francisco de Almeida Magalhães, que era um professor de história, um velho de professor de história, já estava com 70 anos de idade, 70 ou mais, cuja casa no Barro da Mó, que eu costumava frequentar com alguns amigos para me beneficiar da biblioteca do homem tinha. A biblioteca ocupava todos os compartimentos da casa, você tinha pilhas de livros no meio da sala, na cozinha, e eu ia vasculhando aquilo e pedindo ao professor algumas informações sobre o que eram os livros, formando de certo modo uma espécie de repertório do que viria as minhas futuras leituras. Foi ali que pela primeira vez me passou pelos olhos o nome Jacó Vásserman, que eu fui ler muito tempo depois, o livro O Processo Maurícius. O Magalhães é um homem de muita cultura e que ele tinha essa característica que ele não ligava, absolutamente seus alunos estavam prestando atenção no que ele dizia ou não, ele ficava dá-lo ali perto, fazendo discurso de uma hora e embora. Se você prestou atenção ou não, era o problema seu. Todo mundo passava de rame com Magalhães, ele dava 7, 8 para todo mundo, porque ele não tinha a menor ideia de quem era bom aluno ou mau aluno. E ele estava tão interessado na matéria que ele não queria saber se nós estavam prestando atenção ou não. Tinha um professor latim chamado José Odebrando Britas, cujo aliçoio me dera por primeira ideia do que era a estrutura da organização racional. Essa aliçoia me serve até hoje. Nós tínhamos vários professores realmente muito bons, inclusive um gênio pedagógico, que era o professor mais antigo da casa, um homem chamado Délcio Gris, que era realmente cêntrico, maluco, mas era um gênio pedagógico, ele conseguiria ensinar biologia a um poste, tanto conseguir ensinar um poste, conseguir ensinar até a mim. Então, tudo isso havia deixado uma marca muito grande. Quando nós fomos para o colégio novo, os professores eram muito mais jovens, eram todos amadores, não estavam absolutamente interessados nas aulas e eram menos professores do que funcionários públicos. O ideal deles era bater o ponto o mais tempo possível e ir para casa e marcar um dia menos na contagem para a aposentadoria, que era a sua maior ideal na vida. Então, evidentemente, nós, os alunos da escola antiga, nos sentimos pedagógicamente desamparados. Eu nunca tinha tido muito interesse pelos estudos e o pouco que eu tinha, eu perdi imediatamente em função desta circunstância. Havia também alguns professores com hábitos muito esquisitos, que seduziam alunos. Isso é uma confusão dos demônios. Então, era uma confusão tanto física quanto uma confusão humana. É, evidentemente, uma confusão pedagógica. Eu tenho a impressão que os nossos colheres tinham 1.500, um pouco mais, um pouco mais os guios de 1.500 alunos. Todos eles foram, premedamente, prejudicados pela mudança. E, obviamente, finalmente, o impacto, vamos dizer, conviva entre duas comunidades radicalmente diferentes. Eu me lembro com o nosso colher. Há um colher extremamente seletivo, não do ponto de vista financeiro, que era um colher gratuito, mas ele tinha um exame naquela época. Há um exame da dimissão, não sei se existe ainda, acho que não existe mais. Um exame da dimissão muito rigoroso, então a foma era que isso aí, é para lá quem queria estudar mesmo. Então, aqueles que foram para lá com essa ideia de estudar mesmo, foram rapidamente frustrados devido à fusão dos dois colheres. As comunidades tinham mentalidades tão diferentes que onde eu só quis eram inevitáveis. Então, nós, naturalmente, tínhamos um desprezo tremendo pelos alunos da escola nova, e eles, por isso, aí, nos retribuímos, não gostavam nenhum pouco de nós, nos considerá uma espécie de aristocratas e encombados. Não importa saber quem tinha razão, mas tudo importa, é que, durante pelo menos uns dois anos, os estudos que antes eram o centro da atenção, sem atividade, recuaram para uma periferia muito distante, porque os problemas humanos, as dificuldades ali eram tantas que estas vieram para o centro da atenção, os problemas de ajuste ao novo ambiente. A própria convivência entre professores não era fácil, mas os professores da escola velha e nova haviam mesmo um problema entre os alunos. A do lado haviam desprezo e do outro espécie de inveja rancorosa. Em suma, estava tudo muito mal. Então, é claro que por toda a parte, os alunos caíram muito no nível de aprendizado, mesmo os melhores alunos foram prejudicados. O eixo da nossa atenção se deslocou, dos estudos, porque no ambiente tudo estava arrumado, eu havia uma ordem em torno, nós estávamos livres para dedicarmos ao estudo, e no novo ambiente, os problemas de adaptação eram tão intensos que não dava para você prestar atenção em matéria nenhuma. Todo o conteúdo das matérias se tornou para nós, e, de repente, se tornou totalmente irreal. E eu me lembro que eu observava tudo aquilo com uma imensa preocupação, ficava consternada, não queria que aquelas coisas estivessem acontecendo, eu sofria muito por causa daquilo. E, sobretudo, eu me sentia muito deprimido no ambiente físico. Havia um teatro dentro da escola que estava completamente depredado, estava tudo estragado, o prédio era muito mais novo, o nosso prédio tinha até mais de 100 anos e estava em ordem. E o prédio novo que não tinha, acho que, sim, quando é verdade, estava completamente devastado. Então, o ambiente físico me deprimia muito. E, também, o ambiente humano, havia uma tendência geral entre o nosso grupo a considerar que os do outro colégio andam todos cafagestes, talvez nós não estivéssemos de toda lado. E eu me lembro que, a partir do certo momento, eu decidi fazer alguma coisa. E a primeira coisa que eu fiz, foi tentar entender o que estava acontecendo. E nós tínhamos um jornalzinho moral na época. E eu escrevi ali uma série de artigos descrevendo o estado e coisas. E isso foi a minha primeira incursão na terra de as ciesas sociais. Mas, a experiência que me marcou, e esse fato de o conteúdo dos estudos, o conteúdo das matérias que nós estudávamos, desse tornado muito distante da realidade que nós estávamos vivendo. Havia ali uns 4 mil, sei lá, 5 mil adolescentes de ambos os sexos, vivendo uma confusão desgraçada. E nada do que nós estudávamos tinha a menor utilidade para explicar aquilo, para nos ajudar a sair daquela situação. E, derrequente, eu me perguntei, se escuta, se é para estudar alguma coisa? Por que nós não estudamos precisamente aquilo que está acontecendo? Isso foi a primeira vez na vida que me passou essa pergunta pela cabeça. Então, eu notei que a realidade da experiência que nós estávamos vivendo não era abrangida por nenhuma das disciplinas que nós estudávamos, e na verdade não era um estudo que tivesse nome. Você tinha uma realidade em aberto. E dentro dessa realidade em aberto, havia uma série de rituais pedagógicos estabelecidos. Claro que cada um, um aspecto da realidade, mas não da nossa realidade. Se nós íamos estudar, por exemplo, figuras geométicas, claro que figuras geométicas existem, mas estudar figuras geométicas não nos ajudava em absolutamente nada a compreender a nossa situação. Do mesmo modo, estudar a Revolução Francesa, o Renate de 2014 também, ou a Independência do Brasil também não parecia muito pertinente dentro da situação. E foi aí que eu tive uma ideia da qual, de certo modo, estou vivendo até hoje, que é, quer dizer, o primado da realidade de vida sobre as denominações, as definições das várias disciplinas. Todos nós vivemos num mundo de experiência onde as coisas nos sucedem, para as quais nós estamos preparados de maneira alguma, onde nós temos que tomar decisões que estão acima da nossa capacidade, onde nós somos responsabilizados por atos que, às vezes, cometemos de maneira impensada ou inconsequente, e em suma, somos o tempo todo pressionado para absorver uma multidão de informações para equacionar uma situação existencial e nos posicionar perante essa situação através de ideias, crenças, palavras e atos, que aos poucos vão perfezendo a nossa história e nos dando uma ideia de quem nós mesmos somos. Quando você percebe, já passou algum tempo e você já tem uma história, e se você não prestou muita atenção no que você, nos vários atos, foram compondo essa história, de repente você começa a ter uma figura estranha para você mesmo. E dentro de uma situação complexa que você não está entendendo direito, de certa maneira todas as suas decisões são arbitrárias, elas não têm fundamento na realidade porque elas não se arraigam no conhecimento da realidade. As suas ações e decisões surgem da sua imaginação mais ou menos arbitrária solta dentro do conjunto. E eu percebia que no desenrolar das situações, muitas das nossas ações eram realmente arbitrárias, não faziam o menor sentido, só que depois de você ter agido, aquilo já havia se encontrado na sua história e já era alguém que não era aquele que você queria ter sido. E eu percebi que tudo aquilo que nós estávamos estudando, se de alguma maneira não nos orientar na própria vida que ele estava vivendo, não faria o menor sentido mesmo porque o conteúdo daquelas disciplinas, o conteúdo que nós aprendimos nas aulas, também fazia parte da mesma situação. Quer dizer, não era uma coisa separada, você estudar matemática, história, não era uma coisa separada da situação, era a própria, o próprio desenrolar da situação num dos seus aspectos particulares. Então essa relação entre o conhecimento escolar, o conhecimento formalmente constituído, o conhecimento oficial e a vida real dentro da qual você adquire esse conhecimento, isso me chamou a atenção muito cedo. E aí eu percebi que eu não era um sujeito totalmente carente de vocação para os estudos, eu tinha a vocação para os estudos, mas como eu estudo não tinha nome, não correspondia a nenhuma disciplina, não era esse dado na escola, e enfim, no fim das contas ninguém sabia do que se tratava. Então quando me perguntava o que eu queria ser quando crescer, eu não sabia o nome da coisa, eu sabia exatamente o que que era. Certo, eu queria, em suma, eu queria entender a vida real, era isso que eu queria me dedicar, mas isso não tinha um nome. Quando muito mais tarde eu fui adquirir alguns conhecimentos de ciência social, de filosofia, mesmo essas disciplinas não pareciam estar relacionadas a aquilo que me interessava, porque elas sempre tratavam de aspectos abstrativos da realidade, e tratavam de uma maneira puramente escolar, isso é também separado da vida do comprometimento real das pessoas. Então o que eu me perguntava era se uma imensidão de informações absorvidas no curso das aulas, de leituras, etc., etc. Não servisse de base para as suas atitudes na vida real, significava que você não acreditava em nada daquilo, ou seja, que você estava absorvendo aqueles conhecimentos exatamente como quem participasse de uma experiência teatral, ou seja, quando você entrava, por exemplo, na aula de matemática, havia um teatrinho, até certo no qual as realidades eram constituídas, não se dizia que asções algébrica, de triângulo, de seno, cosseno, etc., e todos esses eram os personagens de um teatrinho que você só iria viver naquele momento. Mas nada disso pesaria em absolutamente nada, na sua decisão e reações na vida real. Do mesmo modo, se você fosse estudar a história, você iria se interessar por personagens mais ou menos imaginários que supostamente tinham vivido numa outra época, certas e cujas atitudes políticas militares, etc., etc., ocupariam a sua mente por alguns momentos, na duração daquela atividade de estudo, e que depois, ao voltar à sua vida real, também não teria absolutamente nada a fazer com aquilo. Então, me ocorreu essa ideia de que se todos esses conhecimentos escolares, que nesse sentido não parecia haver muita diferença entre o que aprendiam no colégio e o que aprendiam na universidade, se todos esses conhecimentos, não serviam para você, não serviam de base para as suas reações e decisões reais, era porque você, no fundo, não acreditava em nada daquilo, a não ser no sentido da participação numa experiência teatral, exatamente como um ator. Durante o período da encenação da peça, ele acredita que ele é o hotel, o hamlet, o desdémone, etc., mas ele não vai levar isso para casa. Quando termina o espetáculo, ele simplesmente desveste aquele papel e volta a ser quem ele era, volta a ser aquele nome de personagem indefinido que ele é no dia a dia. Então, essa diferença também entre definido e indefinido começou a me chamar atenção, porque em todas as disciplinas que você estudava, havia conceitos definidos, ou pelo menos personagens claramente delineados, você jamais confundiria, na poliângua na parte do Dom Pedro II, mas que quando você voltava a sua vida real, você mesmo não era um personagem definido como eles. Nenhum de nós sabia exatamente quem ele próprio era, e, em suma, seria mais fácil você falar de Napoleão Bonaparte, Dom Pedro II, do que de si próprio, porque eles você conhecia como você conhecia equações trigonométricas, figuras geométricas, etc., etc. Ou seja, tudo aquilo que se estudava parecia estar perfeitão bem recortado, definido e definido, que por isso mesmo não podia ter nenhuma relação com uma vida real que era vivido dentro de um campo bem aberto onde nada absolutamente estava definido e onde, em certas situações, você realmente não entendia nada do que estava acontecendo. Ora, se essas disciplinas tinham exatamente este caráter recortado, este caráter separado, e, portanto, teatral, qual seria a autoridade delas dentro da vida real? A resposta é praticamente nenhuma. Quer dizer, nenhuma daquelas disciplinas versava sobre a realidade do que nós vivíamos, e, portanto, dentro desta realidade, elas não tinham autoridade nenhuma. Ou seja, na vida real você estava autorizado a proceder como ser tudo aquilo que você tinha estudado fosse tudo falso. Ou seja, você não precisava levar nada daquilo em conta. Então, foi nesta época que me chegou o conhecimento. Meu pai me deu uma coleção de seis livros que eram novelas de Luí de Pirandelo, novelas que ele também depois adaptou para peças de teatro, muito das histórias, os títulos dos contos correspondem às das peças. E nessa aí teve um que me impressionou muito, que se chamava Manonel na Cosa Série. Quer dizer, mas não é uma coisa séria. E era exatamente este título que poderia servir para denominar toda a minha experiência vital naquele que eu tive no colégio. Tudo o que se passava dentro da hora das aulas não era uma coisa séria. Era uma coisa absolutamente inconsequente. Mas era um papel decorado, que você absorvia aquele papel, usava nos momentos de próbola e de exames, e depois esquecia tudo e voltava para aquele mar de indefinições e desitações que constituía a sua vida. Não obstante o que tornava o assunto ainda mais paradoxal aos meus olhos, é que o conteúdo daquelas disciplinas tinha a pretensão de ser verdadeiro. Ou seja, o Sr. Etoche ensinava a história. Por exemplo, ele não dizia para nós que ia nos contar uma história da caroachinha. Ele dizia que ia cumprir aquela finalidade que o RANQ assinalava a ciência da história, que ia contar como as coisas efetivamente se passaram. E me parecia muito engraçado que você conseguisse contar exatamente como se passaram, coisas que tinham se passado, doze ou vinte séculos antes, e você não conseguisse contar aquilo que estava acontecendo para você naquele mesmo momento. Então, a pergunta era, será que essa impressão de clareza que nós temos sobre a vida de Napoleão Monaparto, a vida de Júlio César, não é uma simples ilusão causada pela distância? Ou seja, se nós estivéssemos lá, ou se eles estivéssemos aqui, a vida dele nos pareceria muito mais confusa e indefinida, tanto quanto a nossa, nos parecia em comparação com as vidas daqueles personagens. Do mesmo modo, as medidas e tamanhos das coisas. Quando você estudava matemática, estava tudo contado, pesado de medidas, figuras geométricas, se comportavam com uma regularidade maravilhosa. Mas, quando você olhava em torno, primeiro que as figuras que você via no mundo real não eram geométricas. Quando eram geométricas, eram apenas uma imitação longínquada, uma figura geométrica. Quer dizer, os quadrados, triângulos e círculos do mundo real tinham muitas imperfeições e irregularidades. Ou seja, nada do que se estudava parecia ter alguma operacionalidade dentro da vida real. E eu me perguntei, será que existe o estudo da vida real? Será que existe o estudo da realidade? Note bem, que quando eu falava realidade, eu não queria dizer somente aquilo que estava nos acontecendo. Não estou falando só do aspecto social, psicológico da coisa. Era... o ambiente físico também fazia parte disso. Um dos elementos mais importantes da nossa experiência naquela transição tinha sido justamente o contato com a feiura de um ambiente fisicamente estragado, sujo, anarquico, etc. Então, a diferença entre o ambiente físico e a nossa experiência era que, na verdade, o ambiente físico era um dos elementos mais importantes da nossa experiência naquela transição. Então, a diferença entre a feiura e a beleza, eu me lembro que na adolescência eu era um sujeito excepcionalmente sensível a essa diferença. Tanto a... eu não conseguia passar por um lugar que me parecesse bonito sem eu parar para olhar aquilo, não conseguia passar por um lugar feio, sujo e confuso sem me sentir instantaneamente deprimido, do mesmo modo. A feiura e a beleza das pessoas também me impressionava muito. Quando eu vi uma das garotas bonitas do colégio eu ficava assim, entrando em estado de contemplação estática, e se viu uma pessoa feia, eu instantaneamente chegava a confusão de que ela não deveria existir de maneira alguma. Então, esse aspecto físico, estético, também fazia parte da experiência. Então, as realidades de ordem física, peso, distância, etc., também fazia parte. Eu me lembro que um dia houve uma festa de São João no colégio e havia um ginásio de esportes que era uma cúpula muito alta e alguém queria pregar uma lâmpada, uma luminária decorativa no centro, no topo do estádio, e só que não havia como subir lá as escadas não chegavam, e eu tinha um colégio que era um sujeito baixinho e gago, e ele, como compensação da gagueira, ele havia desenvolvido uma bravura, uma coragem física absurda, e ele, então, se propôs subir por uma das colunas curvas que iam dar no centro do ginásio de esportes, e ficando pendurado na coluna, apenas com as suas pernas, amarrar a lâmpada lá no meio. E todo mundo acreditava que ele não ia fazer, que ele não ia conseguir, e ele capostou, e ele falou, não, esse baixinho é um facto, porque esse sujeito é terrível. E ele foi e realmente fez isso. Então, aquela realidade de altura em que o sujeito estava, e calcular como é que ele ficaria, qual seria o formato do corpo dele se ele caísse dali esses borrachás no chão, era uma realidade física de enorme impacto, isso também fazia parte da experiência. Ou seja, o que, a vida real me parecia, constitui de situações de fatos consumados que estavam presentes o tempo todo, ela nunca parava ao passo que o conteúdo das aulas parava, aquela realidade hipotética que nós estudávamos na história, na literatura, na geografia, tudo aquilo era hipotético, hipotético e intermitente, mas aquilo que nós formamos é realidade, estava sempre presente, seja sobre a forma do impacto, do peso, da distância, da força, quanto sobre o aspecto humano, das confusões, dos desafios, dos temores, das humilhações, das dúvidas, etc. Tudo isso estava presente o tempo todo. E eu acabei vendo que eu não me interessava por nenhuma das disciplinas escolares, justamente porque eu me interessava profundamente pela realidade. Tudo me parecia muito estranho, às vezes doloroso, mas sempre digno de uma atenção muito, muito séria, porque tudo aquilo tinha consequências reais sobre os seres humanos, quer dizer, havia perigos reais, haviam sofrimentos reais, havia alegrias reais, isso era uma experiência de fato, não era uma brincadeira como aquilo que fazíamos nas aulas. Então, eu me perguntava mais, por que nas aulas nós não investigamos exatamente isso, se isso é tão urgente, e se o próprio conteúdo daquilo que nos transmite nas aulas faz parte dessas experiências, quer dizer, é também uma experiência humana que está chegando até nós, se bem que deu a maneira muito indireta e abstracta. Muito bom este ano, eu me lamo ter lido alguns livros de filosofia, e sobretudo ter ouvido de um amigo meu uma leitura, ele me lê todo um livro de Heidegger, o livro era muito curto, aqui é isso, a meta física, ele leu o livro todinho e interrompia com comentários, porque ele estava estudando isso na universidade. Uma boa parte daqui me pareceu de um artificialismo sufocante, especialmente a linguagem do sujeito, mas ali eu reconheci que ele estava tentando falar de um negócio que se poderia ser uma realidade, um conjunto de experiências e de dados dentro do qual você está. O assunto do qual ele estava falando não era uma matéria, uma disciplina que você pudesse projetar num quadro, e da qual você pudesse falar para os alunos como se fosse uma coisa externa a você, ao contrário, havia uma espécie de mudança da direção do eixo de atenção, ele estava tentando falar daquela mesma realidade dentro da qual eu o estava ouvindo naquele momento. Então pela primeira vez eu ali me senti envolvido dentro do conteúdo de uma determinada disciplina. E, então, eu pensei, mas então é isso que é a tal da filosofia. Essa primeira impressão positiva da filosofia foi em seguida totalmente desmentida pelos contatos seguintes, com obra de filosofia e professores de filosofia, que voltavam a tratar o assunto exatamente como os nossos professores de matemática e geografia tratavam no ginásio, como se fosse também um domínio perfeitamente recortado e bonitinho, sobre o qual o professor tinha pleno domínio, mas que não poderia de maneira alguma nos servir como base para decisões na vida. Eu me lembro da través deste meu amigo ter tido contato com o professor da publicidade que ensina a filosofia da linguagem, e sem dúvida é um homem bastante preparado, muito culto e inteligente, mas... e que nos expunha aquelas doutrinhas de derrida, de modriada, mas eu não sei de mais que coisa, mas eu com 19, 20 anos, acho que nem isso, eu tenho 18, 17, sendo exposto a todos esses monstros. E um dia esse professor estava contando que algumas pessoas do auditor, ele cobrando que traduzisse aqueles ensinamentos numa linguagem mais próxima da vida real delas, e ele, então, tinha respondido, e ele contava pra nós isso com muito orgulho, ele respondeu com a seguinte frase, eu não desço do meu universo semântico, e quando ele disse isso, eu me lembrei dele assim, num amphitheatro da Pulp, onde tinha o pau, o cara bem elevado, a platéia, então eu vislumbrei o sujeito lá em cima, dizendo para aquela massa ignara que eu não desço do meu universo semântico. Mas aí me ocorreu a ideia, mas se ele não desce do universo semântico, tudo isso que ele está dizendo só vale dentro do universo semântico dele, é assim que eu quis dizer, quando ele sai, porque ele está vivendo dentro de uma situação que não foi criada por ele mesmo, dentro do seu universo semântico, ele está totalmente desligado disso tudo, dito de outro modo, ele não podia levar para casa, que ele ensinava na Pulp, e eu também observei que a mesma coisa se passava com praticamente tudo o que se estava estudando, tanto na Pulp, quanto na Pulp, com relação à filosofia, eu sabia disso porque eu estava planejando realmente cursar uma dessas falcudades de filosofia, e em vista de conhecê-las, eu ia, ouvia muitas aulas, assistia muitas aulas como ouvinte, pegaram os programas de estudos, bibliografias, perguntavam para os alunos, etc., etc. E essa dúvida que eu tenho aqui, eu não tenho, porque eu tinha pouco tempo na vida, eu já tinha começado a trabalhar no jornalismo, eu tinha que administrar o meu tempo muito bem, e eu pensava assim, se eu saí de casa, agora toma um ônibus para ir até lá, onde fica a cidade universitária, eu gastava uma hora e meia nisso, depois da ter uma série de intervalos entre as aulas, eu vou gastar umas oito, nove horas por dia nessa coisa, então eu tinha que jogar, aquilo é muito bem jogado, por isso não me informei muito bem, mas tudo o que chegou ao meu conhecimento, então, se enquadrava dentro dessa categoria do nome desse do meu universo semântico, e eu disse, puxa, mas continuamos então sem uma disciplina que estude a realidade, quer dizer, aquela que, teoricamente, ou tal como eu havia esperado pela leitura de Heidegger, deveria tratar exatamente disso, parece que está muito ocupada de outras coisas que só valem dentro do seu próprio universo semântico. O fato de ter o universo semântico fechado era bom, vamos dizer, do ponto de vista burocrático administrativo, porque permitia, quer dizer, delinear, definir exatamente qual era a matéria que cada professora ensinava, certe distinguir dos outros professores do lado, e portanto, permitia a organização administrativa da escola, permitia formar um programa pedagógico, coerente e compreensível. Ao passo que o estudo da realidade jamais poderia ser feito através de um programa coerente e compreensível, porque a primeira característica da realidade era estar em aberto, era ser mais ou menos imprevisível, era não estar sob o nosso controle, ao contrário, era de jamais poder ser colocada num quadro negro ou projetado numa tela, porque exatamente nós estávamos dentro dela, não poderíamos projetar nós mesmos dentro da tela. Então, longe de ser uma coisa que nós estávamos observando, era algo que nos incluía. Então, essa relação, o teatrinho escolar, o teatrinho científico, o teatrinho erudito, o teatrinho dos estudos, e a vida real, isso aí, me pareceu um dos dados fundamentais da minha experiência, um enigma que eu teria que resolver de alguma maneira, porque eu também pensava assim, se eu for estudar esse negócio chamado realidade e tentar expressá-la, ninguém vai me pagar para fazer isso, porque isso não corresponde a nenhuma disciplina em particular, a nenhuma ciência em particular. Então, como é que eles vão rotular o meu trabalho e me colocar dentro de um organismo administrativo para que eu desempenhe isto? E eles possam de alguma maneira me remunerar? Simplesmente, o estudo da realidade não existia, o estudo da realidade não tinha estatuto escolar reconhecido, o estudo da realidade não era remunerado, e, em suma, o estudo da realidade era a coisa mais desprezada que havia, e podia-se estudar tudo menos a realidade. Foi aí, juntamente, que me caiu na mão, os diálogos de Platão, e uma coisa que me chamou enorme, chamou brutalmente a atenção logo de cá, era que o Sócrates jamais se ocupava de uma disciplina em particular, mas ele pegava as suas perguntas exatamente dentro da realidade, e é claro que ninguém pagava Sócrates, quando o remuneraram, o remuneraram com o corpo circuito. E, você, de maior conta, o posto de ficar assustado, eu percebi que a minha profissão seria essa. Foi uma consequência, uma conclusão que eu levei muitos anos para eu poder admitir. Então, isso quer dizer que logo no começo da vida, que já estava imerso em plena vida filosófica, se chamava de vida filosófica investigação, na realidade, no sentido de que eu fazia Sócrates, tanto imerso disso desde a adolescência, eu me recusava, terminantemente, a me definir como tal, porque me definir como filósofo seria, ou ser filósofo no sentido escolar, ou ser alguma coisa perfeitamente indefiniê-la, que era mais ou menos aquilo que Sócrates estava fazendo. E as duas hipóteses, a primeira me parecia demasiado deprimente, e a segunda, demasiado arriscada, porque era de alguma maneira dissolver o meu pobre senso de identidade, meu pericliteiro de senso de identidade, num mar de dúvidas e definições que tinha em volta. Eu não me lembro se foi nessa oposição, se for um pouco depois, mas é uma imagem que jamais, jamais esqueci, que também teve um grande impacto, é que uma vez eu estava em Ubatuba e me disseram de uma praia que se chamava praia vermelha, onde ninguém nadava porque tinha ondas de 40 metros, e daí apareceu um sujeito que dizia, não, eu nado lá todos os dias, e eu falava, eu quero ver isso, porque eu era um péssimo nadador, eu não nadava, conseguia me manter à tona, mas eu só não conseguia nadar em linha reta, nunca ia parar onde eu queria, eu ia ir para outro lugar, não ia nadar de brincadeira só. Mas quando o Sr. Edson disse, não, é um nada pra vermelha, eu falei, isso aí é coisa digna de serviço. E fui lá, e de fato, o nego se metia no meio daquelas ondas, mas ele não nadava, ele simplesmente deixava que as ondas rogassem para onde quisessem, porque se ele fosse competir com a força das ondas, ele ia perder, então o que que ele fazia? Ele se acomodava, a situação praticamente deitava em cima das ondas e era jogado daqui para lá, e sentia perfeitamente confortável naquilo, né? Então eu vi que aquilo era uma imagem bastante aproximada do que eu chamava de realidade. Nós estávamos dentro da realidade, a nossa margem de decisão ali era muito pequena, e o máximo que fazíamos era consentirem ser jogados daqui para lá. Logo em seguida tive uma outra experiência, logo em seguida ou antes, na verdade foi antes, essa foi bem primitiva na verdade, também aconteceu ali, e o Bátubu, o Caraguata Tuga, não me lembro exatamente, que ele estava lá passando férias com esse meu amigo Gagin, que era um sujeito admirável, que o Gagin vivia Romaninho Crencas e eu evidentemente o acompanhava nas Crencas, que aquilo era enormemente fascinante, me lembro que ele estava em uma balsa estacionada no toro, lá em Caraguata Tuga, e ele resolveu descer a casa das máquinas e botar a balsa, em movimento, cheio de passageiros dentro, o piloto ainda estava em terra, e de repente nós estávamos no meio do rio com a balsa e fomos evidentemente cercados pela Polícia Marítica, fomos presos e etc, e achava aquilo fascinante e achava que as ideias do Gagin eram absolutamente geniais. E numa dessas o Gagin decidiu fazer um parceiro de barco a Remo comigo no mar, mais ou menos as duas horas da unha, num lugar que não tinha iluminação nenhum, certos nós fomos e fomos remando, remando, remando, de repente nós vimos que não havia mais nada, então ele estava tudo preto, tudo, tudo, tudo, nós nos enxergávamos uma a outra, a gente ouvia o outro falando, mas eu não via a outra ponta do barco, eu estava na parte de trás, remando ele na frente, eu não estava enxergado ele nem enxergado a mim, a gente só ouvia as nossas vozes, e daí o Gagin teve a ideia, e aí o Gagin e ela diz, vamos na gara? Então, vamos, e daí nós dois pulamos na água e, dependendo da água, os nossos corpos começaram a brilhar, então estava lá aqueles dois meninos loucos, tudo preto em volta, imensa escuridão e dois corpos brilhando no vazio, não havia referência nenhuma em torno, aquilo também me pareceu uma imagem muito interessante da realidade, completamente a mercê do que pudessemos acontecer, não tinha nenhum controle da situação, eram dois idiotas no meio do nada, dois idiotas no espaço, solto no espaço, brilhando, e tudo não parecendo de mensalinho divertido, nós estamos tão felizes quanto aquele sujeito que estava sendo jogado pelas ondas daqui para lá, então essas cenas delas foram criando imagens, que permitem raciocinar sobre isso, que são uma experiência da realidade, já que a realidade não era objeto de nenhuma disciplina escolar, seria necessário então, dizer que eu começasse a criar os rodinhentos da minha investigação sobre a realidade, desde a experiência direta, e é evidente que todo conhecimento que existe no mundo começa a fornecer por imagens, pela absorção de dados e, vamos dizer, por agrupar esses dados em alguma imagem, algum símbolo que os contém a todos, então essas duas imagens dos sujeitos que vocês lagaram para lá, para cá na onda, eu e meu amigo Gaguinho estamos brilhando solto no espaço, essas imagens são, vamos dizer, a experiência do que nós formamos de realidade, é uma coisa que existe, ela está absolutamente presente, nós podemos fazer de conta que ela não está, mas é mentira, nós sabemos que ela está sempre aí, nós sabemos que ela tem poder sobre nós, nós sabemos que não estamos de fora, observa o que nós estamos lá dentro, já que estamos envolvidos na coisa, não pode dizer nem até o pescoço, que é até a raí do cabelo, isso certamente é uma coisa garantida, ela não é nomeada, não pode ser reduzida a uma definição, um conceito, mas ela é garantida, ela é, onde uma certeza que nós temos. Mas eles estão pedindo para repetir, porque não ouviram ou porque querem entender melhor. Ah, foi falha e transição, porque agora não lembro mais, agora não sei, agora não sei, agora não sei, agora não sei, agora não sei. Ah sim, eu tenho adito naquela parte que esses tipos, por ser muito difícil você voltar atrás, mas vamos lá. Se eu fosse ser um filósofo no sentido escolar da coisa, eu também não ia estar me relacionando com a realidade, eu ia pegar uma disciplina, um conjunto de conhecimento já perfeitamente definido, e ia viver mais ou menos dentro daquilo, durante as aulas, não podendo levar nada aquilo para casa quando terminasse. E se fosse ser um filósofo no sentido socrático, eu ia estar lidando com um negócio chamado realidade, que era enormemente indefinido, e que não correspondendo a nenhuma disciplina escolar existente, jamais poderia corresponder ao exercício de uma profissão determinada. Portanto, só havia duas possibilidades, ou você exerce profissionalmente o insíneo de irrealidades, ou você se dedica amadoristicamente ao estudo da realidade. É certe, as duas hipóteses me pareciam bastante incômodas, uma estava abaixo das minhas expectativas, e a outra me deixava numa insegurança humana e social completa. Mas quando, a minha meditação sobre a realidade foi prosseguindo, eu vi que se eu não podia defini-lo, eu podia pelo menos encontrar imagens que compactadamente resumissem aquilo que eu queria dizer com a experiência da realidade, aquilo que chegava até mim como experiência da realidade, e essas duas imagens, a do rapaz sendo jogado numa onda para outra, ele praticamente desdeitando em cima da onda e deixando que a onda conduzisse, e a nossa imagem dos dois meninos malucos. Nadando e brilhando na escuridão me dava isso aí, porque primeiro havia aquilo que nós chamamos de presença maciça, a realidade está aí, você não escapa dela um único minuto, você pode fingir que escapou quando você vai para o mundo seus pensamentos, mas aonde você está pensando? Você está pensando exatamente dentro da realidade, se não escapo. E aí houve uma terceira experiência que também me marcou muito, e neste mesmo lugar, e eu não lhe ansia, cara agora está tudo, isso de passo, eu morei um tempo em um baturo, mas isso pode ter se passado em cara agora está tudo um pouco antes, eu sou meio orgulho de cronologia, mas eu me lembro que um dia eu saí para passear dentro do mato e fiquei exatamente na situação que tinha estado no barquinho, estava tudo escuro e eu não estava vendo mais coisa nenhuma, e eu estava pensando aqui com os meus motões, está certo aqui, fazendo todo um discurso, eu estava pensando em palavras, estava falando e de repente eu vi que não tinha nada em volta, e eu falei mas com que raio de coisa estou falando, eu vi que os meus pensamentos era apenas uma coisinha que estava acontecendo, há um determinado ente que era eu, e que os outros todos entrando, estava ignorando, solenemente aquilo, eu vagamente ouvi o barulho do mar, mas eu não conseguia localizar se o mar estava direito ou esquerdo, eles não estavam perdidos ali dentro da escolidão, e eu pensei mas com quem que eu estou falando? Eu estou falando comigo mesmo e só comigo mesmo, não há mais ninguém aqui no ouvido, então essa total solidão do pensamento me mostrou que de fato esse pensamento não estava isolado de um ambiente, era algo que estava se passando dentro de um ambiente existencial, havia não só um espaço em torno enorme do qual eu tinha notícia, pelas próprias colidões e pelo ruído do mar, mas havia também um tempo, quer dizer, eu me lembrava que eu tinha saído de casa, tinha andado ali e me lembrar mais ou menos da minha sequência de pensamento, então eu estava de certo modo preso dentro dessa cruz de tempo e espaço, eu não havia saído dela um único minuto, e eu me senti profundamente ridículo de estar fazendo um solíloco no meio da escuridão, muitos anos depois, eu li um verso de Augusto Maier que diz exatamente o que eu senti naquele momento, o verso diz assim, quem pensa pensa que pensa, vai se ver, não é ninguém, então foi exatamente o que eu senti, ninguém pensando que achando alguma coisa, é certo, dentro do imenso ambiente, do imenso quadro, espaço temporal, que eu transeio infinitamente e achando que é alguma coisa ali dentro. Então, eu aos poucos fui notando uma coisa em meu próprio benefício, uma coisa que muito me lisongeou de alguma maneira, mas era também uma lisonja amiga, eu notei que enquanto todas as pessoas que eu conhecia procuravam desenvolver alguma habilidade em especial, um se dedicava a matemática, outros tocavam instrumentos, outros construíram alguma coisa, montavam aeromodelos, pintavam quadros e etc, etc, eu não sabia fazer absolutamente nada disso, nada, nada, nada, nada. E eu notei que eu estava me especializando justamente nesse negócio de conhecer a realidade e tentar dizê-la, como exatamente eu estou tentando fazer aqui para vocês, que é dizer, estou baseando numa experiência real que eu passei e fazendo uma espécie de extrusão, quer dizer, tirando, quer dizer, a estrutura interna daquela experiência e tentando dizer para vocês o que que é, com um menor sucesso. Havia nisso, é claro, uma habilidade linguística incluída, está certo? Mas isso não me torna nada de maneira alguma um escritor ou um literato, está certo? Porque a atividade do escritor ou do literato está colocada num negócio chamado obra, e obra é uma estrutura fechada, é uma estrutura acabada exatamente como a estrutura das disciplinas, na hora que ela vira uma obra e que ela pode ser objeto de contemplação, ela se tornou o centro de atenção e desviou você da realidade. Não era isso que eu queria, também, quero ser um escritor, mas não, também não quero ser um escritor, porque o escritor, ele se desliga da realidade e faz obras, está certo? E eu, o que eu queria era, de dentro da experiência da realidade, puxar, dizer, a estrutura interna dela e torná-la de certo modo transparente, ela mesmo na hora que estava sendo livrida, tanto por mim quanto pelas pessoas em torno. Ou seja, a minha atividade básica, a qual eu percebi que já estava me dedicando fazia muito tempo, está certo? A qual hoje me dedico de maneira autoconsciente e permanente e até profissional, conseguir profissionalizar isso de alguma maneira, era intensificar, dizer, a vivência consciente da realidade. E no fundo era somente isso que me interessava na vida, o resto não me interessa nada. Nenhuma disciplina, não me interessa nenhuma ciência, nem filosofia, nem arte, nem técnica, nem coisa nenhuma, porque tudo isso, considerado em face de um negócio chamado realidade, é uma futilidade. E tudo isso só adquire valor quando é encaixado na realidade. Foi só muito tempo depois que eu percebi que a ausência do estudo da realidade era uma constante da nossa, da cultura moderna. E que isso não podia ficar assim de maneira alguma, está certo? E se este estudo da realidade era exatamente o que tinha se chamado filosofia no começo, será isso o que Sócrates fazia, o Platão fazia, o que a Sócrates fazia, é fato que aquilo que se chama filosofia deixou de ser isso em época subservenente. E uma filosofia no sentido socrático já não existia, podia existir até na nossa sociedade algo que chamava busca da sabedoria. Busca da sabedoria você entrava em alguma seita mística, fazia exercícios espirituais sempre na cabeça e achava que você ia alcançar, uma realidade para além da realidade, quer dizer, os negos nem tínhamos entendido ainda a realidade na qual isso está, já queriam transcendê-la, queriam conversar com Deus, saber a vida após a morte, queriam as respostas das perguntas últimas sem ter feito sequer a primeira que é o famoso, como diz o mineiro, docovi ou poto, pocovo. O que eu estou fazendo aqui, o que está acontecendo aqui, onde é que eu estou, como é que eu expresso isso que está acontecendo nesse momento, nesse lugar. Mas como é que também o meu interesse, claro, não era só na experiência momentânea, a minha ideia era saber-se da experiência momentânea, nós podemos tirar alguns traços gerais que nos tornam mais transparente a experiência da realidade em geral, toda e qualquer experiência da realidade. Então, isso era a profissão que iria me dedicar, e a qual me estou me dedicando até hoje. É claro que eu não posso ser o filósofo na sentido escolar do termo, porque a escola se dedica a outra coisa. Também eu disse que havia a busca da sabedoria, mas era uma sabedoria já definida. A sabedoria seria a resposta determinada das questões já consagradas, tradicionalmente, já formuladas. Qual é o sentido da vida? Existe vida após a morte? Deus existe. São essas perguntas clássicas, está certo? E existem algumas disciplinas que são incumbidas em caminhar você para as respostas. Você faz exercícios místicos, você chega a um estado nirvana, samadhi, ou qualquer outra precaria, e você daí descobriu a resposta daqui. Então, isso também era uma disciplina escolar, era uma atividade profissional destacada já da realidade da experiência. Justamente ao contrário, quando o indivíduo entrava lá dentro, você entrava numa dessas seites, entrava numa dessas práticas, você ia se separar da sua realidade, o que é chamado de expresso, a realidade cotidiana, a realidade impírica, e você ia subir para uma outra realidade maior. Eu digo, não, mas eu estou interessado, não em realidade, em uma realidade superior, a realidade inferior, eu estou interessado em realidade em geral. É claro que dentro da experiência do que eu chamava realidade, havia uma espécie de círculos concêntricos, que iam desde o mais imediato até o mais remoto. Por exemplo, nesta coisa que eu falei, que eu estava conversando comigo mesmo no meio da escuridão, eu via nitidamente esses círculos concêntricos, porque eu mesmo estava no centro da minha própria atenção, e havia alguns dados que viam do universo intorno, cada vez mais distante até, o ruído do mar. O ruído do mar vinha da onde? Vinha da praia ou vinha de um pouco além? Quer dizer, onde se formava o ruído do mar? É difícil saber, quer dizer, você não tem um limite exato, você não pode dizer o ruído do mar começou aqui. Não, ele vem daqui, mas ele vem de um pouco mais distante, mais distante, mais distante, mais distante. E isso me dá uma imagem, mais ou menos, como a Soneto Leopardo, o infinito. Então, quer dizer, esta infinitude centrada na posição que você estava, quer dizer, você tomava com o centro de uma série de círculos concêntricos que se prolongava até no seu ano, e isso era um dado constante da estrutura da realidade, ela, por um lado, ela sempre começava quando você estava, você não tem jeito, não tem nenhum jeito de você se colocar em outro lugar, exceto no centro da sua própria experiência. Sendo que o meu lisinho, fatalmente, também teve uma série de círculos concêntricos, tomando a círculo como centro, em algum ponto esses nossos dois centros, esses nossos dois respectivos sistemas de círculos concêntricos se encaixavam no outro, assim como encaixava com o terceiro, do quarto, do quinto, e até encaixava com outros círculos concêntricos de outras criaturas não tão inteligentes quanto nós, como Tatu Bola, Nhoca, etc. etc. Tá certo? Presumindo que nós fomos um pouco mais dirigindo que eles. Então, essa ideia de infinitude, de abertura, mas não uma abertura indefinida, amorfa, não, uma abertura estruturada, quer dizer, estruturada pelo quê? Por estes vários centros de consciência, por assim dizer, articulados, uns com os outros. Sendo que essa articulação também fazia parte da própria realidade na qual estava, então, uma infinitude estruturada com múltiplos centros. Tá certo? Centro que, por sua vez, participavam, quer dizer, da estrutura do Tudo, isso era realmente o que me interessava. Eu via aqui, então, não havia nenhuma disciplina que se ocupasse disso, e até o que eles chamavam de busca da sabedoria, nos anos 60 estava muito em moda, todo mundo tinha pertencido a alguma aceita, tinha algum guru, que era apenas um subterfúgio para você evitar a realidade e pensar alguma outra coisa. Tá certo? Dentro de horas marcadas, tinha a hora de você acessões com guru, tinha as horas dos seus exercistas, suas preces, etc. etc. Também havia uma outra, segunda modalidade de autoconhecimento, que era psicoterapia, também estava muito na moda, todo mundo fazia alguma psicoterapia, e eu fiz um azoito. Não em busca de cura para algo específico, mas como um elemento dele, de autoconhecimento, como você dizia. Aliás, os copos psicoterapios, na época, confessavam que não eram os terapios, não eram os terapios de vez em quando, a primeira coisa que eles te avisavam, é que aqui não se cura ninguém. Então, é a resposta, então, porque a gente tem pagado a ser. Mas também me parece muito exito que, se era uma atividade de autoconhecimento, ou seja, uma atividade voltada a centrar o indivíduo dentro da própria consciência, por que essa atividade tinha que se desenvolver justamente no ambiente clínico, ou seja, no ambiente onde se trata de coisas anormais? Por que a coisa mais normal do mundo que desceria o tal do autoconhecimento deveria ser exercitada dentro de uma circunstância criada para tratar de situações patológicas? Então, isso tudo, toda essa associação de experiência, é acumulando em mim uma tremenda impressão de que ninguém se interessa pela tal da realidade, e de que toda a estrutura, quando você dá cultura contemporânea, foi feita para falar de outra coisa. Outra coisa que logo se consolida numa profissão, num ofício remunerado, com um nome determinado, com o regulamento do governo, isso cria toda uma estrutura ritual, que é o indivíduo exerce nas horas de estudiante, mas da qual, claro, que sempre se pode aproveitar alguma coisa para o conhecimento da realidade, mas você só faz isso se você quiser, que é o indivíduo que quiser exercir tudo aqui, se ele acreditar numa única palavra que ele está dizendo, ele pode fazer isso, e ninguém reparará nisso, e nem mesmo ele notará que está fazendo isso. Eu digo a uma pessoa acredita em alguma coisa, e quando colocada numa situação de ter que tomar uma decisão importante, ela leva aquilo em conta. Mas eu me pergunto, de todos os conhecimentos, por exemplo, que um sociólogo esse ano ou os, o que ele vai usar realmente na sua vida? Com quanto daqui ele vai, enquanto daquelas coisas ele vai apostar, efetivamente, quando ele estiver em jogo, a sua vida, a sua decisão, é sempre muito, muito, muito pouco, então todas essas ocupações escolares são, podem ter sua importância ritual, importância bulocática, administrativa, etc, etc, mas a importância que ela tem para o conhecimento da realidade é muito pouco. No esforço de conhecer a realidade, havia, naturalmente, vários obstáculos, várias dificuldades, algumas de ordem externe e social, como essa que eu estou dizendo, que ele parecia ter uma cultura toda voltada a falar de outra coisa, uma cultura do diversionismo, por assim dizer, diversonismo no sentido que Pascal falava, usava o termo de diversão, e de diversão significa fugir da realidade, ele sentiu uma cultura da fuga da realidade, havia um desprezo tássico, um desprezo não declarado pela experiência da realidade, então isso, claro, constituiu um obstáculo tenivo, a busca da realidade, mas havia obstáculos de ordem interno, que nós podíamos dizer, saco de ordem cognitivo, ou se quiserem psicológica. A experiência da psicoterapia, eu fiz algumas muito boas, outras foram, não disseram nada, a experiência da psicoterapia, eu também estudei muito, eu não tinha psicologia, psicologia profunda de um, no Victor Franco, eu era ali um monte de coisa de psicologia, nem qualquer nessa época conhecia o Dr. Miller, ele praticamente deu todo o caminho das pedras, ele ficou tudo que precisava ler para entender aqui o negócio. Então essa experiência me mostrou que, de fato, o nosso próprio modo de ser, o nosso próprio estrutura pessoal, uma série de obstáculos ao conhecimento da realidade, quer dizer, o primeiro é o seguinte, é que sendo naturalmente você, o centro da sua própria experiência, você tem que contar com a sua própria memória para você conhecer a realidade, mas acontece que o seu único interesse não é conhecer a realidade, você tem interesse de ordem social, econômico, financeira, psicológica, sexual, etc., etc., você tem tudo isso, e cada um desses interesses forma, vamos dizer, um novo centro articulador, quer dizer, você cria uma nova hierarquia, de dados, uma nova hierarquia de informações, em função desses seus interesses, que então vão rearticulando a experiência da realidade, em função dos seus próprios critérios. E é claro que aí me aparece aquela verificação terrível, que um único neio que eu tenho de acesso à realidade é a própria percepção que eu tenho das coisas, se eu conseguir articular-la com a minha própria memória. Então a memória é absolutamente preciosa, porque se eu falseio a minha memória, eu estou liquidado, eu escapei da realidade e não tenho mais como voltar. Está certo então? A necessidade de você estar continuamente contando para você, a sua própria história, e respondendo de onde eu vim, onde que eu estou, para onde que eu estava indo, está certo? Isso era absolutamente necessário, você dê quase todo dia, absolutamente todo dia, você não podia perder o fio da meada da sua história. Está certo? Porque isso equivaleia, vamos dizer, como que você romper a lente pela qual você estava olhando a realidade externa. Uma segunda dificuldade do mesmo tipo era o que na psicologia se chamava defesa ou racionalização, quer dizer, aspectos da realidade que você teria, o que você odiava e que por isso não você teria a apagar. Quando eu percebi como isso era atuante dentro de mim, eu fiquei apavorado, falei mas eu sou, então eu sou um equipamento muito mal dotado com a conhecimento da realidade, porque eu fico medo de qualquer coisa, eu crio ilusões de qualquer coisa, eu crio desejos idiotas e com isso eu já falciei todo o código daquilo mesmo que eu estava querendo contar para mim mesmo. O que me ajudou a sair disso foi, de novo, aquelas imagens primordiais da experiência da realidade. O rapaz sendo jogado de uma onda para outra, os dois garotos boiando na escuridão, os dois garotos luminosos boiando na escuridão e aquela voz solitária falando com você, não é também no meio da escuridão. Realmente são imagens primordiais, imagens primordiais básicas que estruturaram tudo que eu via entender depois. Então, como é que eu iria me defender contra minhas próprias defesas? Como é que eu iria vencer o meu própria resistência de conhecer a realidade, o meu próprio temor de conhecer a realidade? Eu sei, vencei, se eu me entregasse à realidade com aquela mesma rendição total com que o meu amigo se deixava jogar de uma onda para outra. Então, esta imagem, me inscriá-la continuamente. Não importa qual seja a realidade, eu estaria aberto para ela. E se eu deixar de fazer isso, que eu vou voltar lá de novo, de novo, de novo, e eu vou confiar. Na hora que eu disse, eu vou confiar. Eu entendi que eu estava subentendendo que o conjunto da realidade era benevolente comigo e não me queria mal. A minha própria existência de certo modo era a prova disso, porque eu já tinha tido mil e um exemplos da fragilidade da existência humana. Logo que eu nasci, a primeira coisa que eu fiz no mundo foi ficar doente por sete anos, mora ou demora. Ficar meses tendo febre e delirando, passar tanto tempo doente para eu esquecer como é que ficar tanto na cama, que esquecer como é que você andava. Para ter uma pergunta local aqui, eu digo para você que olha para a mão. Sim, sim, sim. A Isabela está aqui lembrando uma outra imagem, que essa é a anterior, essa é a minha infância, que é o fato de que eu vou passar muito tempo deitado. Eu adquiri uma perspectiva vertical, que é dizer, eu estava sempre consciente da altitude das coisas. Normalmente nós nos ocupamos aqui da horizontalidade e não lembramos, a infinitude do céu sobre a nossa cabeça é um dado que está permanente presente para que nós não levamos nem conta. Isso quer dizer que nós normalmente vivemos num ambiente espacial que é apenas operacional, não é real. Quer dizer, um ambiente da verticalidade social, um ambiente da relação social. Eu me lembro que para mim um ambiente da relação social foi tardivo, eu comecei a sair para o mundo, eu vou dizer, com 7 anos. Quer dizer, até lá estava delirando. Então eu entrei no mundo horizontal um pouco tarde. Antes a verticalidade era muito mais importante para mim. Então essas várias imagens, elas de certo modo foram me orientando. Eu fui ter uma coleção delas, estou aqui explorando essas três ou quatro que são pertinentes mais à exposição que eu quero fazer, mas tenho muitas outras que foram constituindo a minha coleção particular de símbolos. Cada um de nós tem uma coleção dessas. Quer dizer, estas experiências estão na sua memória. Você passou por isso e elas articularam a visão que você tem da realidade, a visão que você tem de si mesmo, etc. Não se trata de experiências traumáticas, não é disso que eu estou falando, eu estou falando de experiências de ordem cognitiva. As experiências traumáticas podem marcar a sua estrutura emocional ou podem, não dizer, falsiar a sua visão de conjunto. Mas essas experiências de ordem turamente cognitivas que não estão associadas a emoções ruins, mas estão associadas à própria descoberta, elas são, vou dizer, o seu tesouro cognitivo mais precioso. Existe, nas obras de Érico Fregre, ele fez isso, ele fez uma coleção dessas imagens também. Todas das infâncias é muito remota. Totalmente diferente, cada um tem as suas. Mas a exploração disso leva muito tempo. Para você mesmo perceber como é que você foi se estruturando o seu universo cognitivo, leva algum tempo. Mas ele estava falando dos obstáculos. Então, o primeiro dos obstáculos era, evidentemente, de ordem externo. Havia essa quantidade inumerável de foco de atenção que nos retiraram da realidade e nos punham em vários teatrinhos. Teatrinho matemático, teatrinho sociológico, teatrinho, vários teatrinhos, quer dizer, aqueles universos verbais que só valem dentro daquela circunstância de discurso específica. E que valem parcialmente para a etnia da realidade, mas que não tem tanta importância lá. O segundo obstáculo que eu disse é a fragilidade da nossa memória e a necessidade de você estar continuamente recompondo as coisas. Existe uma espécie de seletilidade inata, que é da sua própria estrutura. Eu não creio que essa seja tão prejudicial, que as pessoas têm a tendência de lembrar mais certo tipo de coisas. Por exemplo, você pode ser um... É aquele negócio da programação negril, que você ser um negro mais visual, mais auditivo. Como isso faz parte da estrutura humana, eu não creio que isso possa prejudicar. Essa diferença pessoal possa prejudicar a séria muito para isso na realidade. Mas existe outra seletilidade, que é determinada por acontecimentos traumáticos que te fizeram prestar atenção, obsessiva, e certas coisas que esqueci outras. Ou é a seletilidade determinada, onde pelo desejo e temor, que também pode deformar muito, mas que também pode ajudar em uma de suas necessidades, se você souber rearticular. Existe a outra dificuldade, especialmente essas defesas, quer dizer, aquelas coisas que você não quer saber. Existe uma resistência, porque você tem que, a realidade que se mostrará para você, caso você se abra para vê-la, é o demasiado ruim, o demasiado deprimente, etc. É uma coisa que você não sabe, mas que saber não será bom. Então você desliga a sua própria mente. Este desligar a sua própria mente, este recusar-se a saber, é um dos elementos mais constantes da experiência humana. Todo mundo tem isso, isso é um dos demônios onde nos acossam permanentemente. E a recusa de saber, ela pode se transformar, que um historicamente defato, pode se transformar numa disciplina científica. Tudo o que nós chamamos de sete cílogos, relativismo, etc., é essa a recusa de saber. Ou seja, o indivíduo sabe alguma coisa, e ele sabe porque ele tem a experiência daqui. Mas aquilo que ele sabe não corresponde às estruturas daquilo que ele pode montar de acordo com as regras da disciplina científico, filosófica, tal ou tal. Então o que ele faz? Ele impunga a experiência em nome da disciplina, sendo que a disciplina, na verdade, não é, se não, um aspecto determinado da experiência. Então ele nega a realidade toda existencial no qual ele está, em nome das regrinhas de uma disciplina que, no fundo, não é, se não, um aspecto decidendo todo. Então existe uma referência aqui, neste livro, um romance maravilhoso de Hermann Roth. Ele diz que o personagem está conversando com... o personagem é um físico, é um cientista e está estudando com o outro. Ele está discutindo com um colega. Eu vou ver se eu acho aqui o mínimo que ele tem no céu. Aqui. E ele diz ao outro que aquilo tudo que ele está estudando tem que ser aplicado de algum modo à realidade, e o outro responde para ele. Eu tenho certeza de que eu sei do que você está falando. Então o personagem que tinha falado, que chama Richard Hick, ele diz, Richard Hick estava agora experimentado em relação à Capra Brown, que é o colega dele, o sentimento que ele sempre tinha tido para com sua mãe e com os outros membros da família e de fato com a maior parte das pessoas que ele encontrá-la. Era uma espécie de espanto temperado com ódio diante da volubilidade da raça humana. A infame de exposição que as pessoas têm para juntar palavras num discurso semi-arquiculado sem ter o menor vislumbre do significado essencial das coisas, que é o único que é de alguma importância que tornava o discurso justificável, o pecado do não saber, a estupidez do não querer saber. Então, Herman Broch, um dos autores... O livro chama-se a quantidade desconhecida. O livro é um livro muito sério, um homem realmente interessado em compreender a experiência humana. E quando eu li isto aqui, eu fiquei... eu me reconhecia aí porque essa experiência de me defrontar com aquele desejo de não saber, com aquele fingimento de ignorância transfigurado e de discussão filosófica. Essa foi a experiência que me ocorreu muitas vezes. As pessoas fingem que não sabe do que vocês estão falando, ou pedem que você defina todos os termos como se fosse possível. Quando você tem graça e definiu o último termo, você precisaria definir os termos nos quais foi formulado a própria pergunta e assim por diante, e você entraia numa circularidade verbal sem fim. Além disso, se fosse possível você ter um discurso perfeitamente claro, coerente e definido, e esse discurso se substituiria à realidade. Na verdade, o discurso é apenas uma experiência que você tem, é uma sequência de atos que você faz dentro da realidade que você está vivendo. E o que quer que você diga, você está sempre contando com essa realidade em torno. E justamente porque você conta com ela, você não precisa definir todos os seus termos. Porque sempre, se você tiver todo definição de todos os termos, a cada palavra corresponderá um conjunto de palavras que a definem. Se todas as palavras estiverem definidas, todas elas corresponderão somente a outras palavras. E não haverá referência à realidade. Então, por exemplo, então, é perfeitamente possível você compreender uma palavra de definição que você desconhece por completo. Basta que o indivíduo aponte para o objeto do qual ele está falando. O sujeito diz uma palavra numa língua estrangeira. E você pergunta o que é isso? O sujeito diz elefante em língua urdo. Você é certo? Você pergunta o que é isso? Você não sabe definir, mas ele te mostra um elefante. Quer dizer, nós estamos continuamente falando, com a palavra que uma parte dela não é tendo definição, nós temos estruturas verbais que explicam, entre aspas. E outra você não tem a definição, você tem uma coisa melhor que até o próprio objeto. Então, esta mania de fazer de conta que não sabe o que você está falando, de ficar exigindo definições e explicações de provas, é evidentemente uma fuga à realidade. Quer dizer, e há uma tentativa de fazer você crer que apontar um objeto como significado da palavra é menos válido ou menos lícito do que lidar com a definição. O que está subentendido nisso, o que está pressuposto nisso é que uma palavra só é válida quando o significado dela são outras palavras, quando for realidade não vale. Ou seja, exatamente só o discurso só vale quando é vazio. Isso é uma das monstruosidades da cultura contemporânea, evidentemente. É uma linguagem viva, uma linguagem eficaz ao contrato. Você não precisa saber a definição de quase nada, basta você sair dos objetos. É onde eles estão e onde você os encontra. Deve ser, fala de vaca, você pode mostrar uma vaca, fala de elefante, fala de elefante, fala de mesa, você pode mostrar uma mesa. Fala da pessoa, você mostra que é a pessoa e é assim por diante. Ou seja, é só o fato de não podermos definir todas as palavras que nos garantem que o nosso discurso tem algo a ver com a realidade. Se todas fossem definidas, o único significado de um discurso seria um dicionário. É certe o dicionário se substituiria à realidade. Note bem que entre os anos 60 e 70, graças ao impacto de escolas estruturalistas, desconstrucionistas, etc., etc., muita gente se deixou cair nessa impressão de que tudo são apenas palavras. Você vê que o Carlos Romão de Andrade, e a Cedulio, um poetas mais talentosa que o Brasil já teve, ele na velhice, ele começou a fazer poemas de escritura, porque ele foi um idioma de puramente formalístico, porque uma palavra já significa outra palavra, outra palavra, outra palavra. Ele era um homem que tinha conseguido registrar momentos importantes da experiência humana, de repente ele não registrar a experiência humana, mas eram só palavras. E até tem um poema dele que chama arte poética, na qual ele diz que os poemas se fazem com palavras e você tem que catar as palavras que estão adornecidas, diz ele em estado de dicionário, que com ela eles fazem os poemas. Então, arte poética não faça versos sobre acontecimentos, quer dizer, os versos são palavras sobre palavras. É claro que não são, é claro que esta arte poética, que ele escreve, não expressa o procedimento real que ele tinha usado como coeta até aquele momento, mas expressa porque ele passou usar o que usou durante um certo período, no qual teve até uma vaga tentação concretista. Mas eu estava falando das defesas do seu amor, quer dizer, este formalismo em inglês que exagerava, que exia a definição de tudo, que é transformar sempre as palavras em outras palavras, quer dizer, amputando a referência à experiência, quer dizer, faz parte, é um tipo de defesa, quase uma defesa neurótica, quer dizer, mas esta defesa que é uma, em parte, é uma vacina contra a doença, em parte é uma doença ela mesmo, ela pode se transformar em toda uma disciplina cultural existente. Por fim, havia um outro dificuldade no que eu estava tentando fazer, que é o que eu chamava a projetividade. A projetividade é uma tendência que o ser humano tem, quer dizer, de projetar os seus próprios estados e entreinores sobre as outras pessoas e interpretar essas pessoas como se fossem apenas personagens do seu mundo psíquico interior e não entidades independentes dotadas de consciência, vontade, própria, como elas de fato são. Ou seja, se eu sou o centro da minha experiência, cada um de vocês também é o centro da sua experiência, a qual, certamente, não é estruturado desde o lugar onde eu estou e sim desde aquele onde você está, cada um de vocês está. Então, quando você repara o número de pessoas que existem e você se lembra que cada uma delas é um centro de consciência, de cada uma delas parte, uma série infinita de círculos, uma série limitada, um livro infinito, mas limitada, de círculos, concentro, que estrutura o mundo desde o seu ponto de vista, você fica assustado, você precisa de isso, é absolutamente inabarcavel. E isso, de fato, o conjunto, o entralassamento desses círculos de consciência seria, de fato, o conjunto do conhecimento humano. Como o conjunto do conhecimento humano é infinitamente menor do que o conjunto da realidade existente, você vê que você já está dentro ali de dois conjuntos, um imensurável e o outro realmente infinito. E isso é o suficiente para você ficar assustado. Mas aí, de novo, vigorava o princípio do garoto boiando na onda. Nós temos que dissolver as estruturas internas do nosso medo, da nossa resistência, da nossa vontade de não saber e temos que nos abrir a essa realidade sem medo, como ele se deixava no lugar nas ondas. E aí que eu me toquei, que se eu era capaz de fazer isso, eu estava pressupondo, estava antecipando que o conjunto da realidade era benevolente. E quando eu pensei nisso, eu percebi que eu sempre tinha confiado nisso. Por que? A experiência da fragilidade humana já tinha mostrado que o número de maneiras de liquidar comigo era praticamente infinito. E que, no entanto, eu continuava vivo. Se continuávamos vivos, se acerte até havia um número presente de pessoas, é porque não havia dentro da estrutura geral da realidade nada que se opusesse seriamente à nossa existência. Ou seja, eu percebi com uma confiança na benevolência do real. É certo? É não só a base do conhecimento, mas a base de toda a nossa vida. Nós sempre confiamos. O que que garante para você que neste mesmo momento o chão não vai se abrir aberto dos seus pés, não vai haver aí um terremote, e todos vocês serão engolidos pela terra? Nada garante. E, no entanto, cada um de vocês continua sentado como se houvesse apenas garantias de que isso não vai acontecer. Então, esta expectativa da benevolência do real, ela evidentemente às vezes falha, mas não logo do século que ela tem funcionado, e ela é uma das bases da existência humana. Bom, quando eu falo dessa benevolência do real, você sabe que existe uma série de fatores dentro da verdade que são extremamente malevolos e profediciais e destrutivos que podem acabar com você em qualquer momento. Podem ter louquecer, podem deixar doente, podem deixar no misé, podem matar. E depois de matar, podem fazer que todos te esqueçam. E podem fazer até que a pessoa fiquem contentes com a sua amor. Isso pode acontecer. E, no entanto, nem sempre acontece. Acontece de vez em quando. Até quando acontece, até quando pessoas são liquidadas em massa por um desses fatores malevolas, notem que as gerações seguintes desenvolvem por essas pessoas um carinho e um respeito fora do comum. Por que nós fazemos isso? Porque nós queremos ainda que este Império, ou seja, a benevolência do real continue vigorando, mesmo post-morte. Quando nós fazemos homenais às vítimas do local, às vítimas do comunismo, etc., etc., é porque nós estamos fazendo? Nós estamos tomando sobre o nosso encargo o de representar para essas pessoas post-morte a benevolência geral da realidade que acidentalmente lhes foi negada por estar num lugar no momento que não lhes convinha. Aqueles que judiou todo o campo de concentração, se tivesse mal maior, não iria para o campo de concentração nenhum. Então, infelizmente, não deu tempo de sair da Alemanha, não se tocaram, que era para sair da Alemanha e entraram bem. Mas note bem, aquela extrema concentração de malevolência era num ponto do planeta Terra. Qualquer outro ponto que elas tivessem, se tivesse na Zambia, não aconteceria nada. Se tivesse no deserto Sara, não aconteceria nada. Se tivesse na favela, não ia acontecer nada. Aconteceu que estava na Alemanha na hora que não era para estar na Alemanha. Então, essa malevolência era pontual, ela aconteceu em determinados pontos e em determinados momentos. Mas tudo isso se dava dentro, na confiança geral do ser humano na benevolência do real. Essa benevolência, por ela ser geral e constante, ela chamava menos a atenção do que aqueles fatores malevolos cuja atuação destrutiva você reparava em certos momentos. Mas ainda, se essa benevolência era tão constante, se nós sempre tínhamos contado com ela ao longo de bilênios, ela ainda continuava funcionando. Mas se ela era geral, se ela estava em toda parte, não podia localizá-la em parte alguma. E se não pudiam localizá-la em parte alguma, é evidente que ela era um daqueles elementos invisíveis e não localizáveis da estrutura da realidade. Então, compreendente? Que é isso que as religiões são de fé em Deus. Você tem a fé no meu benefolo, que você não enxerga, mas que você sabe estar em toda a parte, e sei o qual você não estaria ali. O sujeito mais cético, mais materialista, mais ateu do mundo acredita nisso. Portanto, não é preciso discutir absolutamente nada com ateus, etc. Isso é tudo besteira, tá certo? Ateismo é uma estupidez, vamos parar com isso. Ateismo é uma brincadeira, ateismo é uma disciplina que você exercita em certos momentos, tá certo? E na qual você finge que acredita nesses momentos. Na qual você não toma uma única decisão baseada no mesmo. É isso que eu tenho que dizer. Ou seja, essa benevolência, o real não é uma presença que manifesta através de fatores materiais, mas ela não pode ser reduzida, porque ela não está em parte alguma e está em toda parte. Tá certo? Ela é permanente no tempo. Tá certo? E ela pode se manifestar de maneira mais ou menos intensa em determinados momentos, mas ela nunca acessa o completo. Mesmo no pior momento da sua vida, você está ainda esperando que essa benevolência apareça no momento seguinte e geralmente ela aparece porque se ela não aparecia, você morre e daí você não vai contar a história. Então, vamos dizer, a ideia da benevolência do real era então a minha vacina contra a seletividade da memória, a defesa e a projetividade. Entendeu? Ou seja, eu posso estar aberto a todos os capítulos da minha memória, mesmo aqueles que me parecem desagradáveis ou peníveis, porque no fundo não há perigo algum. Eu não preciso das minhas defesas, porque a realidade no seu conjunto não é malebola, embora existam elementos malebros dentro dela. Quanto mais aberto você estiver, menos medo você vai ter, porque aqueles fatores malevolos não vão concentrar sua atenção hipnoticamente, mas eles serão dissolvidos dentro da contemplação do todo. E você também não precisará mais da projetividade, porque você sabe que você é apenas mais um átomo humano dentro daquele conjunto, e que ao mesmo tempo você está se projetando em cima dos outros, e também estão se projetando em cima de você. Isso é como o negro tímido, que entra numa festa, e ele está tímido porque pensa que todo mundo está prestando atenção nele, mas justamente o contrário, ninguém está prestando atenção nele. Cada um está prestando atenção em si mesmo, que é exatamente o que ele está fazendo naquele mesmo momento. Quando ele percebe que está prestando atenção em si mesmo, vai ver que os outros estão fazendo a mesma coisa, e que se ele cometer algum único, será passageiro, quer dizer, ele não pode ser objeto ridículo o tempo todo. Por mais que ele tema isso, isso não vai lhe acontecer o tempo todo. Então não há tanto para temer assim. Muito bem. Se estão acompanhando isso até aqui, podemos dar um salto, podemos passar desta exploração da estrutura de uma experiência, humana para, vamos dizer, um foco um pouco mais generalizado disso aí. Como conclusão filosófica já de tudo isso que eu tinha contado para vocês, foi se consolidando e meia essa ideia de que, vamos dizer, esses dois alimentos, a abertura da consciência e a integridade da consciência, tinham que se articular de alguma maneira, está certo, para produzir o efeito desejado, que era a intensificação da consciência da realidade, tanto em mim próprio, quanto naqueles que, através do processo de extrusão e expressão, eu pudesse atingir verbalmente. Parênteses. Durante todo esse tempo, ao mesmo tempo que havia a permanente busca da apreensão da realidade, havia esta preocupação com esses dois elementos, extrusão, o que é extrusão? É você puxar uma coisa dentro da outra. A extrusão consistia em transformar, vamos dizer, aquela realidade tinha sido vivida, numa coisa revivida, através da memória, de maneira mais clara do que tinha sido vivida, no seu momento próprio, mas sem se transformar em obra. O fantasma da obra começou a me perseguir, obra é aquilo que você fazia aquele, o texto é perfeito e acabado, o soneto é perfeito e acabado, não é isso. A revivecência iluminada da experiência da realidade é uma outra experiência que você vive em seguida, a coisa não termina aí, uma obra termina, obra tem um ponto final. Mas esta experiência é continua, ela não termina quando você para de falar. Entendeu? E, existe um texto meu, que isso é um após um filosofio, que talvez alguns tenham lido, uma velha apostila, na qual explica exatamente isto, quer dizer que, claro que há ele nantes filosóficos na poesia, ele nantes poéticos na filosofia, mas tem essa diferença fundamental, pelo menos se mais tomando a filosofia no sentido socrático. O poeta também faz a extrusão, a expressão, mas a ideia é fechá-la numa obra, marcar um momento, esse momento, vamos dizer, fica registrado, como em qualquer obra de arte, não só a poeta, toda expressão poética, pode ser musical, pode ser estatuária, etc. Esse momento fica registrado, que eu registro, esse registro, por isso a gente precisará ser reinterpretado. Quer dizer, a experiência interior que produziu aquilo, ela terá que ser revivida, mas acontece que a obra poética, a obra estatuária, a obra musical, é o que eu consigo, o manual da sua própria revivecência. Então, se você está interessado no registro, você é um artista. Se você está interessado na própria revivecência, em quantos processos, você é um filósofo. Isso quer dizer claramente, que escrever livros de filosofia, não pode ser a ocupação central do filósofo. A ocupação central dele é a própria atividade filosófica, que eu vou fazer daqui nesse momento. É a própria extrusão e expressão de novo e de novo e de novo. E é por isso mesmo que só que você escreveu nenhum livro. Entendem? Quando você chega ao ponto de poder escrever, é porque existem alguns processos, alguns elementos dessa extrusão, que correm mesmo a extrusão e a expressão, que por si mesmo se consolidaram, e já podem ser de algum modo repetidos, de maneira padronizada. Então aí viram o que? Um texto. Mas o texto filosófico, ele só vale se ele for entendido apenas como uma pauta de música que para ser executada. Não uma obra que é para ser contemplado em si mesmo. Então aí você vê que Sócrates tinha motivo quando eu escrevi nenhum livro, e Platão estava montado na razão quando ele privilegiou em filosofia, em si, no oral, em cima do escrito. Você vê que quando o doutor José Artur Jannot define a filosofia, alguma atividade lida com textos, isso reflete 2400 anos de afastamento da inspiração original que deu nascimento à filosofia. Só que se não faz outra coisa, se não isso o que eu chamo de vivência, extrusão e expressão. Viver a experiência, fazer a extrusão, quer dizer, puxar as estruturas internas dela, revive-las de maneira mais iluminada, mais consciente, e fazer desta própria revivecência uma nova experiência que por sua vez poderá ser revivida e assim por dentro. Então os dois elementos necessários aí eram por um lado a abertura, então, em certo modo, aquela entrega da alma, a entrega da consciência cometida, a imensidão do mundo da experiência, sem nenhum limite, sem nenhum temor, sem nenhuma desconfiança. E por outro lado, era a integridade, ou seja, o retorno da consciência sobre si mesmo, após que ela tenha os elementos da sua própria, a sua própria, se possa permanente e continuamente renovada, que tem os elementos da sua própria memória, e neste sentido, isso me faz de alto domínio cognitivo, quer dizer, você poder dizer como o Don Quixote eu sei quem sou, eu sei quem sou, eu sei o que eu fiz. Eu conheço tudo meu respeito, eu sei o que eu fiz de bom, eu fiz de mal, eu sei o que eu pensei ontem, e não tenho medo de nada, entende? E você desenvolver, no fim, vamos dizer, por um lado, este amor à realidade, como tal, sabendo que ela é infinita e benevolente em última instância, e ao mesmo tempo, esta centralidade e este amor que você tem, a sua própria história, a integridade da sua memória, e a este prazer enorme de você poder dizer que você sabe quem você é, você pode contar sua própria história, é claro que a história de qualquer um de nós é tão cheia de coisas que jamais dá para contá-lo no todo, e claro também que nem sempre convém que você não precisa contar todos os elementos da sua história, se você comer uma mulher do vizinho, você não vai contar para ele, e assim por dentro, você pode confessar a poupado, você não vai dar um roco, e assim por exemplo, se existe o elemento, vamos dizer, da inabarcabilidade da experiência, existe o elemento da conveniência, mas tudo isso existe, mas você mesmo, você com você mesmo, não na sua solidão, porque isso não é solidão, você está aberto para infinitudo a experiência e para a sua benevolência, então é você diante de Deus, você pode contar sua história e a articulação entre a confissão e o perdão, aquele que está continuamente confessando a para si mesmo diante de Deus, ele vive no mundo do perdão, ele não vai ficar se atormentando porque ele fez isto aqui, não vai ficar se acusando, não vai ficar matando o peito, não, porque está continuamente no sacramento da confissão, e isto é o que a Viva chama do caminhar diante de Deus, quer dizer, você sabe que Deus está olhando, quer saber que Deus está olhando? Quer saber, vamos dizer que você está dentro da infinitude da realidade, que a infinitude da realidade te contém, que a barca é benevolente com ele, e ela te conhece, porque basta que você se conheça, e você sabe algo sobre você, onde está este conhecimento que você tem de você, e não dentro da própria realidade, você não pode se conhecer sem que a realidade que conheça instantaneamente, então compreendam? Então, esta aqui é, eu não me entendi, a verdadeira disciplina da filosofia, ela não é um conhecimento especializado, ela não é uma disciplina escolar, ela é a viveza consciente intensificada, permanentemente intensificada da realidade. Aqueles que não praticam esta disciplina, não adiantam estudar o resto, porque vão estar sempre fora do mundo, e infelizmente esta disciplina parece que não existe em termos escolares, e se vocês querem saber, tudo mais que não seja isso, não parece de uma chatice inensurada. A música é uma chatice, a ciência é uma chatice, a história é uma chatice, as línguas são uma chatice, tudo isso porque são apenas teatrinhos, que só valem quando reintegrados dentro desse senso total, vamos dizer, da realidade. Muito bem, terminado esta exposição, eu poderia aplicar tudo isso, mostrar para vocês como este é o fundo, desde o qual eu procuro observar, estudar e explicar aqueles fenômenos que eu tenho chamado de Paralaxes Cognitivos. A Paralaxes Cognitivos não é nada mais, é do que um fenômeno histórico cultural que dificulta ao longo dos séculos o exercício da filosofia neste sentido, só crave, e que ao dificultar ela mutila o ser humano, porque a capacidade para isso, ela dizer, é uma coisa maravilhosa que o ser humano tem, e de certo modo é um direito elementário, tenho direito de me conhecer, tenho direito de saber quem eu sou, tenho direito de falar comigo mesmo se eu precisar ficar me escondendo como um rato, ou seja, tenho direito de comparecer você está entendendo? Claro que existe o chamão temor a Deus, o que é o temor a Deus? Se você tiver temor a Deus, se você tem temor da polícia, você esconderia dele, mas não há onde esconder dele, então você se abre como o rapaz em cima da onda, dá para me dar? Se abre você não tem mais sentido este, o verdadeiro temor a Deus consiste em você se abrir a ele, sem medo, então este aqui é o verdadeiro sentido do temor a Deus, você sabe que não há onde se esconder, e que é melhor você se entregar como aquele rapaz se entregar quando se jogava em ondas de 40 metros. Confrontando, onde esta experiência foi morguear, e tudo aquilo que eu fui meditando delas ao longo dos anos, eu posso usar isso como um instrumento, como se dentro do exame clínico você usa uma substância para fazer contraste, então essa espécie de auto-ponhecimento intensificado, ele é, vamos dizer, o reagente que confrontado com as filosofias historicamente existentes, com as correntes pensamentos existentes, com os fatos culturais históricamente existentes, permite medir o quanto essas correntes, essas ideias, os fenômenos, etc. e o mundo que está fazendo isso, ilumina a nossa consciência, o adeprime e algo escurece. Entendeu? Então, não vai dar agora para voltar a análise histórica, que nós vamos retomar na aula seguinte, mas eu tenho a impressão que esta, que esta exposição vai ajudar muito vocês a compreender o sentido da investigação que eu estou fazendo. Eu quero saber por que que a filosofia, nesse sentido socrático, original, que é uma coisa tão boa para o ser humano, por que ela se tornou tão difícil de praticar? Por que ela foi banida da cultura e substituída por milhões de tentativas de reconstruir a realidade desde a ignorância? O que que nós chamamos de ciência no mundo moderno? Não chamamos de ciência assim, uma tentativa de você ignorar o sentido, exceto aquilo que você possa observar sob determinados critérios e comprovar publicamente. E daí você pega o conjunto dessas seleções e você junta um com o outro e você pretende recompor a realidade. E isso é absolutamente estúpido, impossível e inútil. As ciências não têm nada a ver com a realidade. Ao contrário, elas são montagens seletivas que só adquirem algum sentido quando reencaixadas dentro do senso da realidade. É o senso da realidade que tem que julgá-las e não é o senso da realidade. Já certo? Então o processo de constituição da ciência no mundo moderno sobre esse aspecto é um crime. Porque ele anula a abertura do mundo, faz um fechamento. Anula a integridade da consciência e quando é uma consciência recortada, a consciência de cada um é recortada e só vale naquilo que ela conhece exatamente com a consciência de todos os outros. É a consciência pública, que não existe. A consciência pública é o lugar de interseção entre as visões que várias pessoas tiveram do meu fenômeno. Você pega só aquela interseção e diz só isso é realidade. Mas isso não pode ser realidade. Para isso que isso existisse, foi preciso que existisse as várias pessoas que estão observando aquilo. Então, aquele que o nome de uma ciência nega a experiência da realidade é um criminoso. Porque está usando o mais não, o tremendo autoridade que as pessoas conseguiram nos últimos quatro séculos. Se ela usa esta autoridade para negar a realidade existencial, ela está condenando a pessoa a uma infelicidade, uma burrice fórdica comum. Ninguém tem o direito de fazer isso. Sondar como é que a ciência que entraram numa dessa, que a ciência sem dúvida, uma boa ideia. Claro que é uma boa ideia, mas ele é uma boa ideia e foi usado dentro da estrutura da realidade. Ele, por si mesmo, como substituto da ciência da realidade, seria mais ou menos a mesma coisa que a ciência da realidade. Vou dizer, você, por exemplo, você vai transar com a sua mulher ou até com a mulher do vizinho, com o feúdo. É certo? E você só vai admitir como realidade aquelas sensações que puderem ser confirmadas por eletrodos manipulados como sexologistos. O resto não existe, o resto é tudo fantasia subjetiva. Isso elimina a existência do século. Então, se você tem uma experiência sexual, daí você cria uma ciência, chamada sexologia, que vai estudar exatamente aquilo que ela mesmo impidiu de existir. Quer fazer isso? Topo essa brincadeira? É claro que não. Tá certo? Mas entra muita conversa de sexologista e você acaba elegendo a Marta a suprícia e prefeita. É assim que termina. É terrível. É certo? E muitas pessoas, não só sexologistas como sociólogos e psicólogos, pedagogos etc etc, vivem em pão dessas mutilações das pessoas. Ora, a integridade da consciência supõe também, vamos dizer, a abertura da própria cultura. É claro que todas as disciplinas, todos os produtos que o traio têm direito à sua existência. Mas não tem o direito de sobrepor essa existência, a existência da realidade. Mas se é que todos eles têm que ser de alguma maneira dissolvidos e rearticulados dentro conjunto da experiência da realidade. Isso aí que vale alguma coisa. Quando eles se tornam obstáculos à experiência da realidade, eles têm que ser demolidos, tem que ser jogados fora, tem que ser esquecidos. Então, restaurar a filosofia na sua função de serva e a realidade, em esse sentido, devolver a ela uma autoridade que ela foi perdendo, porque ela foi perdendo na vida de aqui, se torna um fiel a realidade e se torna fiel a ciências, a... a qualquer outro produto cultural. Não tem satisfação para estar nenhum produto cultural. O diálogo da filosofia é diretamente com a experiência da realidade. Espere da realidade, tal como foi vivido concretamente e que era muito importante. E, na troca dessa experiência, a troca dessa experiência é também a experiência. Eu estou expondo para vocês o que foi o meu processo de... para alguns capítulos do meu processo, vocês continuam escondendo o seu e nós articularíamos, e veríamos se melhor se diferencia e isso seria uma nova experiência da realidade que estaria sendo vivido aqui mesmo e que seria muito benéfico para todos nós. Essa cultura chegou a criar tantas estruturas monstruosas que bloqueiam essa experiência, que é a experiência básica do ser humano. É certo? E que é, vamos dizer, uma das alegrias maiores da vida é você poder fazer isso. E você poder ter, vamos dizer, essa vivência consciente, vamos dizer, da abertura na realidade e da integridade da sua consciência, da sua memória, etc. Vamos dizer, de todos os direitos humanos, esse é o fundamental. Todo mundo tem o direito de conhecer a realidade e conhecer-se próprio. Se não puder nem isso, então não pode mais nada. Como é que esse direito foi abandonado? Como é que sacrificaram isso tão facilmente? É esta pergunta que está no fundo de toda a investigação sobre o problema da paraláxia no qual eu não vou insistir hoje porque esta é uma pergunta bastante comprida e bastante complexa. Então, eu vou interromper por aqui e se tiver perguntas, eu estou a sua disposição. As perguntas terão se tranhecido por escrito porque nós estamos sem um áudio para aqui. Mas você passa e acho que é o Evandro que está perdendo isso, não sei se é o Evandro, se é o Tobri que enfrenta, ou o próprio Edson, não sei. Alguém que recula as perguntas e as digite e se eu souber a resposta para responder isso, se não, é direito, não sei. Aqui, uma pergunta local, a pergunta da Isabel, se todo este afastamento da Filosofia era resultado para a Láxia do Sim, não foi de são, mas de são, de são, de são. E o que é que a gente tem que fazer? É, é uma coisa que a gente tem que fazer. É, é um momento em que a pessoa não está mais falando da realidade, está falando de outra coisa. E esta coisa pode parecer enigmática, misteriosa, atraente, hipnótica e ela puxa o indivíduo para um teatrinho desse e mete-lo lá dentro e nunca mais sai. E eu acho que um dos primeiros teatrinhos, foi o empirismo. Mas o empirismo, ele começa com apelo à experiência. A certeza de apelo é assim, se perfeitamente legítima, uma experiência que será o juiz, o conhecimento mais qual experiência. Se tem que ser uma experiência seletiva, aquela experiência que todos possam repetir exatamente do mesmo jeito, então você certamente já reduziu a abertura do mundo da experiência. Há uma parcela ínfima, que não será a realidade mas será apelo a um ponto de vista. O empirismo começa com o dilema de Ocamo de século 14, o primeiro empirismo explícito. E quando começa, já começa então dando um sentido restritivo a palavra experiência. E se tem um sentido restritivo, já não é experiência, é um recorte que você fez. Se for só a experiência constituí-se dos elementos matematizáveis da realidade. Eu digo que experiência não é isso. Isso é um recorte, é uma elaboração conceitual que você fez da experiência e não a própria experiência. Como esse recorte conceitual se dá por sua vez dentro de um universo de experiência, ele tem que ser reinserido dentro desse universo para fazer sentido, se não ele vira um fetiche. O segundo fetiche que sai automaticamente desse é a lógica, a chamada nessa época surga, eles tinham a lógica antiga. Vamos dizer que é uma lógica de conceitos que corresponde onde idealmente pelo menos é a estrutura da realidade. Quer dizer, a lógica então tinha sido um processo de extrusão e expressão e ela começa a ser a partir de um processo de construção com meros conceitos com meros palavras. É certo? Claro que uma lógica de meros palavras uma lógica formal, puramente formal é muito mais fácil de você operar do que uma lógica que tenha um compromisso com a experiência da realidade. A lógica que tem compromisso com a realidade sempre será falha mas a lógica puramente formalizada sem referência à realidade é a lógica perfeitinha e acabada e ela é muito mais fácil de construir porque o procedimento dela é mais ou menos automático. E, por outro lado ela é muito mais completa e muito mais perfeita. Então, por incrível, o que era isso? Usar perfeiçoamentos da ciência da lógica desde o vilão de òcam até hoje corresponde a progresso da estupidez humana. Não que esse progresso fosse inúteis. Mas quanto mais essas descobertas criam fontes de autoridade autônomas são autônomas em relação a abertura da realidade tanto mais você está retirando as pessoas da experiência real e fechando dentro de essas teatrinhas. Mas assim como houve essa origem com houve várias origens independentes desse processo e para lá que você não tem paz, você entende? Isso foi acontecendo, acontecendo acontecendo com um, com outro, com outro, com outro e com o solidor. Então, compreendendo? Bom, eu vou aguardar aqui dois minutos para ver se tem perguntas. De òcam, ou você não tem perguntas, você não tem perguntas, você não tem perguntas, você entende? DeNico Nã. weil. exploradores. Amor. Não é da definição, né? Então aqui houve uma outra pergunta da Isabela, que se esse processo de dar definições, ele é válido quando vincular definições da realidade, certamente. A ideia mesmo de definição, tal como a Aristóteles a compreendeu, é situar um mente dentro da escala geral do ser, tal como ela se apresenta a você. Então quando você classifica por gênero próximo em diferentes específicos, você está situando dentro da realidade, sabendo que você pode errar nesse aí, sabendo que você pode definir o entro na categoria errada e que essa definição terá que ser provisória, você pode definir de outra maneira. Mas, quando a definição é puramente formal, você não está definindo uma coisa, mais uma palavra, então o que acontece? Você com várias palavras definidas, você pode criar uma construção conceptual. Essa construção não tem satisfações da pessoa definida da realidade, mas ela se torna um elemento da experiência da realidade para aqueles que ouvem você falar. Ela se torna um fator atuante culturalmente. Tá a compreender? Então o que é que é? É a fabricação de polos de atração hipnotica. Aqui para ter mais uma pergunta. A pergunta do Eu Pídeo. A tese sobre a paralaxe sublimitiva. Teria uma ligação direta com o que o Fergling disse acerca do viver na presença de Deus, em contraposição à segunda realidade. Mas, certamente, é exatamente disso que nós estamos falando o tempo todo. Eu acredito que esse meu estudo sobre a paralaxe, se o Fergling estivesse vivo, ele o absorveria inteiramente dentro da sua visão da história ocidental. Agora, o Fergling se interessou, pelo instrução geral, a mais ampla da história, com essa visão que ele tem das várias ordens, a sucessão das ordens. Mas o objetivo dele era em ultimanalhe, o objetivo dele saiu também direto da experiência. Ele não disse que tudo que ele fez na vida saiu, nasceu, da experiência, do impacto da violência das ideologias revolucionárias, como o Rio do Brasil, quando ele viu isso na juventude, ele falou que eu vou ter que achar uma explicação desse negócio. E daí ele vai partindo, vamos dizer, para essa sucessão de investigações históricas, cada vez mais aprofundadas, até chegar nessa ideia maravilhosa da sucessão das ordens. Mas é claro que esse estudo deixa um monte de buracos a serem preenchidos. Quer dizer, esse projeto do Ergling vai prosseguir ainda por muito tempo. Tem um monte de assuntos que tem que ser esclarecidos, de enigmas que tem que ser esclarecidos. Um deles é este. Quer dizer, quando o outro, por coincidência, ou outra investigação profísica, que foi dos quatro discursos, alguma pessoa do Circo Verlin, como o Fidelic Wagner e o Tudo Monteiro, eles disseram, isso aqui que você fez, o Verlin absorveria isso inteiramente, cada palavra que você diz, ele imboca dentro do que ele está fazendo, porque combina. Quer dizer, tinha a construção dele, estava fraca num ponto, você vai lá e você coloca o tijô, está faltando para ele, mas exatamente isso. Mas eu acho que com essa investigação da Pala Lá, que você pode fazer isso também. Você não pode esquecer, não tem muito sentido você falar só de obra de Verlin. Há uma tradição disso aí. Muitas pessoas estão investigando isso. Quer dizer, começa, vamos dizer, você pode dizer, primeiro que tem que estar... o Herman Brock, Robert Muzio, Norman Corwin. Então, tudo atrás, como dizer, dessa solução por unigma, desse sofrimento horrível que as ideologias repulsionais têm causado ao mundo. Todo mundo quer saber como é que isso funciona. E esses vários estudos, em províncio com várias pessoas, se articulam de uma maneira ou de outra. Ransom, Baltas, artes de dificuldade importantes. Então, o que a gente quer é encaixar mais alguma coisa de maneiras tornais, cada vez mais claras, mais claras, mais claras. Agora, se a evolução da cultura dos últimos quatro, cinco séculos, levou a esse resultado desastroso que se viu no século XX, então nós temos que começar outra cultura já. Porque é exatamente nisso que todos os pessoal estão interessados. Que era o que, o antepassado em todos nós, que foi Hugo von Hofmann, ele chamou isso de a Revolução Cultural Conservadora. Ele dizia que estava começando naquela época um movimento. Contrário àqueles que tinha sido iniciados os raciocínios, que iam ser movimentos, que iriam prosseguir por muitos séculos. Naquele momento que ele disse isso, que era o Degade 30, parecia impossível, mas é exatamente o que já está acontecendo. Se você pega a evolução dos estudos históricos e culturais filosóficos, desde então, com o próprio Vegnen, com o Leo Strauss, com a Xavier Zubiri, o Hagen Rosenstorff, ele está tudo indo nessa direção. Claro, os efeitos sociais, culturais mais visibles, culturais sociais mais visibles, levarão tanto tempo quanto a cultura filosófica do Renascimento levou para criar as ideologias modernas e produzir as revoluções. Isso é um problema para séculos. Mas isso só torna a coisa ainda mais urgente. Quer dizer, tudo isso que o mundo moderno se ocupa, e obscurecer, tampar e tornar indisível, não só através desse processo de engurecimento, mas muitas vezes através da mentira intencional, porque esse é outro assunto que está ligado na paralaxia, porque você distinguiu o que é paralaxia do que é mentira intencional, e houve muita mentira intencional pelo caminho. Tudo isso que foi obscurecido tem que ser esclarecido agora, tem que ser contado. Exatamente como uma psicoterapia, o que você faz quando faz uma psicanásia? Você vai contar a sua própria história e juntar os pontos, saber como é que... do covinho um cotou para o covô. É isso que nós temos que fazer agora. E não adianta, não é a questão de... Ah, a filosofia do Erick Feigen... Eu não estou interessado em filosofia de Erick Feigen, como o Veiglen está desinteressado em filosofia do Erick Feigen. Nós estamos interessados em oferecer a experiência da realidade e como é que nós entramos nessa encrenca. Estudar a filosofia do Erick Feigen aconteceu com a sua eramente acadêmica. Você está entendendo? Ele mesmo se rejeitaria a isso com uma óbiga ouro. E acerta assim como não tem... Veiglen é mais um que dá um exemplo de como a filosofia investida de todos os instrumentos criados pela sua evolução acadêmica pode vencer esse teatrinho acadêmico e se tornar novamente um meio de acesso à realidade. Ele deu um exemplo maravilhoso disso. Então, se eu agora virasse um cultor da filosofia de Erick Feigen, eu ia estar fazendo a mesma coisa, assim como se você virasse um cultor da filosofia do Olavio Cargato. Está fazendo a mesmíssima coisa, porque não é estudar a gente. Não é isso da nossa pensamento. É usá-lo como um instrumento para a sua experiência da realidade. Não pode deixar a bola cair, entendeu? Tem que pegar o faixa e tocar para frente. Deixa eu ver este outro pergunta. Onde está isso? Não. Não há novas perguntas? Ah, peraí, peraí. Ah, peraí, tem mais aqui. Olá, por gostar de saber se essa possibilidade não se enganculei, quepaceou um resumo escrito desta aula que game da maior importância de Filosofia. A possibilidade do resumo escrito é nula. Eu não 쉽qa Relaxar algo, não há nada eu não tenho falado antes. bullshit Faça um resumo rural para bisa escrever. Quando eu for escrever, vai ficar muito mais extensuto que esta aula. Então, o que nós precisamos é realmente os que assistiram a aula, que se interessaram por ela, que façam uma transcrição. Sabendo que essa transcrição, vamos dizer, é só para servir de base com uma outra aula, para outra, para outra, para outra aula, para outra aula. Então, eu poderia escrever alguma coisa aqui, mas sem cometer que será um resumo desta aula. Eu posso escrever algo a respeito de isso. Aliás, estava até escrevendo. Eu queria até escrever, por diário do comércio, alguma coisa sobre o senso da realidade, e mostrar como isto é um elemento faltante na cultura brasileira, assim, mais radicalmente do que qualquer outra cultura. Mas eu simplesmente não se interessa por realidade há muito tempo. Ele se interessa ou por disciplinas acadêmicas ou pela transformação da realidade. Quer dizer, como se a realidade não tivesse suficientemente enfrencado? Outra pergunta. Qual a relação da sociedade secreta ocusando a realidade? Nossa, essa relação é monstruosa, e isso é um dos das coisas que eu fui, a medida que eu fui fazendo a investigação, eu fui descobrido, que tem mais coisa escondida e do que eu jamais poderia imaginar. Quer dizer, quando na renaissance aparece esses montes de gente filhada, sociedade secreta, e falando de certo modo encode, um com o outro, é claro que ele está ocultando uma boa parte da realidade, e se você não souber a parte que ele está ocultando, você não entende o que eles disseram também. Quer dizer, você vai produzir mais um teatrinho. Note bem que num teatro você não consegue acompanhar a festa de teatro se você não ignorar a realidade em torno de se concentrar no que está acontecendo no palco. E se você começa a se lembrar, ao mesmo tempo, de toda a situação real em que você está, dos colunios que você tinha em casa, dos colunios que cada um tinha ali em casa, da situação política em torno, etc., você não presta atenção na festa, então você faz um tal de suspension of disbelief. Você desliga da realidade e faz de conta que aquilo que você está vivendo ali no palco é realidade, que você está vendo no palco é realidade. Então todas estas escolas de conhecimento moderno, na qual existe a presença de um elemento esotérico, oculta, etc., etc., elas são também ocultações teatrais, elas fazem de conta que a realidade é constituída daquele recorte que elas estão apresentando, mas elas sabem perfeitamente que por trás existe muita outra coisa e que fora dessa outra coisa, o que eles estão dizendo não tem nenhum sentido. Então aí já não é nem para lá que se convertiu, aí é sacanagem mesmo, etc., etc. Aí não veio me justificar essa coisa, que dizeram que não, e disseram isso porque eram perseguidos pela igreja, não podiam falar a verdade. Então quando o que Decado foi perseguido pela igreja, meu Deus do céu, isso é uma bobagem, é certo? Além do mais, muitos desses caras eram eles mesmo, cristão, até carola, talvez não é disso que eu estou falando, quer dizer, o que acontece mesmo, não dizer, é esta pretensão, onde há um conhecimento secreto que é compartilhado com dois ou três sábios, ele que o resto da autoridade não pode saber, é certo? Se ele meteu esta ideia na cabeça, ele já começa a mentir num instante seguinte, essa experiência é fundamentalmente mentirosa, é certo? E é da natureza da consciência, mas esse processo que eu falei da vivência, extrusão e expressão, essa é a estrutura consciência. Nós vivemos disso, quer dizer, só se você entender a própria ocultação como uma forma de expressão irônica, ao contrário, agora, quando que esses camarotões estão falando ironicamente e quando que estão falando de maneira direta, você precisa investigar isso cuidadosamente em cada caso. A questão da ocultação foi muito investigada pelo Leo Strauss. Eu não sei se o que ele fez está certo ou está errado ainda, não tem um conhecimento suficiente do Leo Strauss para isso, mas que é uma pista é, quer dizer, existe muita ocultação premeditada, existe muita mentira na história da filosofia. Na obra de Maquiavel, a mentira é constante, ele mete o tempo todo. Então, enquanto não reconstituímos a verdade sobre cada uma das mentiras de Maquiavel, não entenderemos o que se passou com o Maquiavel e estaremos cultuando o Maquiavel, imaginar com o que ele mesmo projetou. Ou seja, estaremos caindo na conversa de Maquiavel e ver de entender o que ele disse. Mas não é só uma das inumeradas sociedades secreto que apareceu? Ela tem que ser estudada também, tem que saber qual é a função dela misto. Mas eu não acredito que seja através do estudo das sociedades secreto que nós vamos chegar a uma solução disso aí. Não, não, não, você tem que ver os casos de ocultação concretos. Não interessa se o nego era maçom, era rosa cruz, etc. Eu quero saber o que ele está escondendo naquilo que ele está dizendo e como foi, vamos dizer, que uma ideia que não era válida em si, mas que era apenas um símbolo, uma expressão parcial de outra ideia que está escondida, entra no domínio público e passa a ser estudada em si mesmo. Isso é um fetiche, evidentemente, e esse fetiche cria uma neurose. É neuróico, mas mentira e esquecida, não é como você acredita. Então por exemplo, a famosa ideia da dúvida sistemática de Dekard, da dúvida geral, da dúvida radical, ele nunca teve dúvida radical, ele não sabe mentira, isso é uma insenação, mas essa insenação, por exemplo, ele não se apresenta como insenação, ele não diz que eu vou brincar de dúvida radical, eu vou brincar de dúvida radical, só vou provar que ela não existe, ele diz que não, eu vou fazer a dúvida radical, mas você tem que fazer também. Como você não sabe que a finalidade da brincadeira é simplesmente provar que aquilo não existe, e ele não te avisou, você se entrega seriamente aquilo que você cria, três ou quatro séculos de controver-se idiota. A ideia de que você só pode acreditar naquilo que está provado, isso é tão impossível, tão absurdo, quer dizer, se você precisar provar tudo, você tem que transformar toda a experiência da realidade em tese filosóficas e suas respetivas demonstrações, ou seja, você vai ter um discurso provado que abrange tudo, mas se um discurso abrange tudo, ele substitui a realidade, ele não tem mais, ele não tem aquela abertura para a realidade, ele não dependa a realidade, ele não é apenas uma fala fragmentária que está se desenvolvendo dentro da realidade, ele é um novo universo que se substitui a realidade. Vamos ver. Bom, excelente aula, obrigado, obrigado, e obrigado pela sua atenção. Então, olha, vamos encerrar por aqui, muito obrigado a todos e até a próxima.