Remédio 2 Então vamos lá, boa noite a todos, sejam bem-vindos. Entre o fim do século 19, as primeiras décadas do século 20, houve um filósofo de grande sucesso na época, mas hoje totalmente esquecido, chamado Leon Bourruchvik, filósofe francês, criador de uma escola que ele mesmo chamou de positivismo espiritualista. O que ele queria dizer com isto? Ele era um homem que confiava acima de tudo no pensamento matemático e na física matemática. Ele acreditava que os problemas essenciais seriam resolvidos mediante a abordagem científica matematizada. E que isso teria o valor de uma espécie de idioma universal, no qual todos os homens poderiam se entender no fim das contas sobre todas as questões. De modo que a física matemática seria uma espécie de nova linguagem revelada, linguagem divina. Então hoje ninguém mais liga para Leon-Brunschwig, embora ele tenha escrito livros realmente importantes sobre a evolução do pensamento matemático, mas algo do pensamento dele se impregnou na mentalidade do século XX. Evidentemente, separado da pretensão teológico e espiritual, mas com um valor subentendido que ainda é de certo modo místico. Eu vejo dia após dia nas pessoas que são de formação física matemática, essa mentalidade mística, essa valoração absurda do pensamento matemático, como se fosse a chave de todas as soluções, uma espécie de pittagorismo atrasado. Ao ponto de que acontecia o que o Nicola Tesla dizia aqui, a ciência moderna trocou a realidade pela matemática. Isso tem uma coisa cada vez mais evidente, só que em vez disso gerar uma linguagem universal, no qual todos podem se entender, a coisa foi complicando e complicando ao ponto de que muitos físicos hoje declaram que a física quante é incompreensível, eles não sabem o que é a física quante, eles não entendem aquilo, eles são capazes de observar certos fenômenos, observar e medir, mas eles não sabem do que eles estão falando. A rigor, isso já acontecia muito anos, o próprio Newton reconhecia que ele não tinha menor ideia do que fosse a gravidade, quer dizer, a gravidade foi apenas um fenômeno que ele observou, mediu e disse, mas do que se trata? E como não sabemos do que se trata, nós não sabemos se que é se esse fenômeno é uma causa, ou é apenas uma aparência, ou é um efeito de uma outra coisa. Newton sugeria que fosse efeito de outra coisa, porque ele afirmou que aquele que afirmasse que a causa da queda dos corpos fosse a gravidade sem a interferência de uma outra força qualquer, não poderia atribuir essa ideia a ele jamais, que se atribuísse a ele seria um mentiroso, portanto, eu não fui alguém que disse isso, foram outros que inventaram e que usaram na minha boca. Isso viva acontecendo na história da ciência, o melhor remédio contra o autoritarismo, a pretensão científica abusiva é a história da ciência, é verdade que a formação em qualquer ciência não inclui a história dessa ciência, então, em geral, o surdo que não sabe a história da atividade em que ele se meteu, ele literalmente sabe fazer algo, mas não sabe o que ele está fazendo, então, é mais ou menos como o macaco que a aprendência é dirigir um automóvel, aprenda a fazer certas operações, mas não tem uma consciência intelectual clara. É claro que a certeza matemática continua válida, mas se não a perguntar, mas ela é a respeito do que? É claro que isso envolve questões filosóficas complicadíssimas, que a formação matemática jamais lidará os meios de resolver, mas qualquer que seja o caso, o valor místico da matemática e da física matemática, tal como o sugerido pelo Boron Shvig, sobreviveu ao próprio Boron Shvig, ninguém mais o lê, mas essa ideia de certo modo ainda está aí. Não nos termos em que ele declarava, ninguém mais declara, não, isso aqui é a verdade revelada por Deus, ninguém diria isso hoje, mas sem afirmar isso, eles dão a esta ciência, um valor de realidade divina, sem declarar. Quer dizer, uma coisa é você dizer assim, explicitamente, a ciência física, a matemática, uma revelação divina. Outra coisa é você sem dizer isto, você continuar tratando como se ela fosse uma revelação divina. É claro que a hipótese do Boron Shvig é muito mais clara e ela pode ser discutida, mas esta não pode ser discutida porque ela não é declarada, ela é de certo modo uma crença implícita, um espécie de sentimento difuso, que se nota sobretudo na reação furiosa, que alguns estudiosos da área têm, em consideração, lembra a eles alguns dados da história destas ciências. Então, por exemplo, quando eu disse que, aliás, eu coloquei no Facebook um vídeo onde eu menciono esse fato, quando eu disse que o Einstein desenvolveu a teoria dele sobretudo para evitar as consequências geocentristas do experimento de Mitchelson e Morley, nossa, o que eu recebi de xingamento quando esse é um dado óbvio e banal da história da ciência, todo em qualquer biografia do Einstein reconhece isso, mas ele nunca lê nenhuma, inclusive os grandes textos da história da ciência não são lidos pelos estudiosos destas áreas, eles lem livros de dátricas, lem manuais universitários, não lem os clássicos diretamente, isso é a mesma coisa que acontece também no estudo das letras, onde se não lê mais as obras de literatura, ele só lê análises estruturais e coisas assim, então, se você perguntasse em quanto das pessoas que defende a física do Newton, leram o livro do Newton, princípios, bater mais da filosofia natural, quase ninguém, esse é o único cara que eu conheço, que teve interesse pelo texto do próprio Newton, foi eu, nunca encontrei nenhum estudioso da área que se interessasse por isso, por quê? Porque ele aprendeu isso na universidade, numa versão já modernizada, já atualizada, e já isenta de todos os problemas que o próprio Newton via na sua teoria, afasta os problemas, dá uma versão limpinha, pronto, a Câmara da Credição é que lá é verdade, definitiva, e dá, é de fato, um valor equivalente a uma verdade revelada, ou seja, não tem sequer a consciência de quanto a coisa pode ser problemática, não é isso? Outro dia eu comprei um livro que era assim, 100 contestadores de Newton, uma centena de contestadores, de Newton, uma centena de contestadores da teoria da relatividade do Einstein, o livro tem só a bibliografia, claro que o texto do César Láctea Respeito também está lá, é um dos 100, mas isso é ensinado por as pessoas, não com uma teoria científica que ainda é debatível, é ensinado com uma realidade final, portanto tem o valor, por assim dizer, psíquico de uma realidade divina, só que não dizem que é divina, entende? Então, se você fosse declarar, ah, isso aqui é uma verdade revelada, então você está legitimando a perspectiva teológica, a perspectiva revelada, isso não pode, então você trata como se fosse uma verdade revelada sem usar esse termo, porque o termo faria você parecer religioso, então tudo isso aí é claro que nessa coisa, uma rede de mentiras, de fingimentos, de picaretário, que é uma coisa horrorosa, entende? Quando você começa a estudar mesmo a história da ciência, eu já sei que é a conclusão que entre os cientistas estimar picaretário que entre os políticos, os políticos são, vocês são limitados, mas os cientistas não, eu também acabei de ler a peça do Frider, de Runmat, os físicos, que são três físicos que estão internados num hospício, e os três matam enfermeiras, então começa a investigação sobre este caso no meio, no fim, depois de uma série de peripécias, um deles, e eles se chamam Einstein, Newton e Möbius, Möbius é o nome do matemático, inventou a fita de Möbius, essa coisa toda, então chegou uma hora que o Newton diz, olha, eu não sou louco como você pensa, eu sei que eu não sou o Newton, e o carpão em quem você é? Eu sou o Einstein, ele é um outro jeito que pensa que é o Einstein, e assim o negócio é complicado e no fim, esse mesmo sujeito diz, olha, é claro que eu não sou nem o Newton, eu não sou nem o Newton, eu sou o Flan de Thal, trabalho para a agência de inteligência, estou aqui para investigar se esses camaradas são loucos mesmo, se eles estão fingindo, por quê? Porque os governos e certas empresas queriam que eles trabalhassem em certos projetos, que são perigosos para a humanidade, e eles então fugiram e se fizeram de loucos para poder escapar disso aí, e daí tem uma conversa, os três confesam que exatamente isso, nenhum dos três é louco, nós os três somos físicos, nós estamos horrorizados com as coisas que nos obrigavam a fazer, estamos horrorizados com a confusão da nossa agência, e decidimos internar no hospício, porque aqui nós somos livros, aqui nós podemos dizer o que queremos, podemos raciocinar livremente, não precisamos trabalhar para esses bandidos, e eles estão conversando disso, e aparece a diretora do hospício, que é uma velha corcunda, uma doutora médica corcunda, e ela disse, olha aqui, vocês fingem sabendo que nós gravamos tudo que vocês acabam de dizer, isso aqui não é um hospício de maneira alguma, nós montamos este cenário para enganar vocês, nós trabalhando por uma firma internacional que produz armas atômicas, e agora vocês não têm que trabalhar para nós, essa é a peça, eu acho que ela tem uma rede da profunda, claro que um cientista atômico não tem a menor liberdade, ele vai ter que fazer o que mandam os retos fazer, e a vida, você vê a história do Júlio Robert Oppenheimer, que quando explodir a bomba atômica ele ficou louco de sofrimento, ele disse, eles me transformaram num monstro, ele disse, mas pera aí, como que eles transformaram você num monstro? Foi você que fez a bomba, não foram eles, então o drama do cara é o seguinte, a responsabilidade dele era muito superior à capacidade dele suportar a situação, então a ciência que seria, não entender, essa tradição bruxo-vicanana e seus descendentes, ou seja, o ápice da racionalidade humana tinha botado-se de uma situação totalmente irracional, onde ele não podia nem se culpar, nem se desculpar pelo que ele havia feito, e assim também existem muitos outros dramas similares até hoje, então tudo isso coloca em questão o seguinte problema, qual é a função da razão na sociedade moderna? Nós todos sabíamos que a tradição moderna, a tradição democrática moderna surge da apologia da razão entre o século XVIII e XIX, mas se a razão é essa linguagem suprema na qual podemos alcançar as verdades últimas, então ela é aquilo que diz o Brunsvig, se ela não é isso o que é ela então? Nós vemos que entre os cultores da razão, sobretudo da razão matemática, a coisa foi tomando uma direção muito diferente daquela que esperava o Brunsvig, na medida em que essa tradição se associa, vamos dizer, com o empirismo em inglês, com a filosofia analítica, essa coisa toda, ela vai ficando cada vez mais limitada às jogos formais, que em vez de oferecer solução para qualquer problema, se fecha apenas no seu círculo interno de interesses meramente formais. Quando você pega o príncipe dos filósofos analíticos, o Bertrand Rochelle, por um lado ele seria o representante supremo da razão matemática científica, por outro lado, ele é o sujeito que passou da proposta de lançar uma bomba atômica preventiva na onde é o soviético, matar todo mundo para depois fazer o mais tarde, fazer aquele jure condenando os Estados Unidos pela intervenção na guerra do Vietnã, as opiniões de vocês são totalmente malucas, quer dizer, qual é o efeito, vamos dizer, que o exercício da razão científica tem sobre a mente dessas pessoas. Será que nós estamos simplesmente enlouquecendo como os físicos da peça do Dioronat? Isso é uma coisa para pensar, você vê, no começo do século o Gaston Bachlar podia dizer o seguinte, eu não vou mais em Congresso de Filosofia porque lá cada um tem os ouvidos ao que eu estou falando, ele fala a ideia dele e não quer saber dos outros, mas eu vou no Congresso matemático e lá ele se entende perfeitamente. E será que ainda é assim hoje? Se você viu o livro do Brian Radler, On Size, Brian Radler talvez o maior físico inglês, onde ele confessa que não está entendendo nada da física contemporânea, ele falou, será que ainda é como no tempo do Bachlar? Eu nunca fui muito simpático ao Bachlar porque era um espécie de dualismo, por um lado você tem a ciência físico-matemática, por outro lado você tem interpretações poéticas das obras de arte, então é um dualismo irrecorrível, não tem ligação entre uma coisa e outra. A grande preocupação da minha vida foi justamente o fio condutor que leva da linguagem poética a linguagem matemática, eu creio ter encontrado esse fio condutor na teoria aristotérica dos quatro discursos, ali está muito claro, isso aí não há um dualismo no caso, são as duas culturas que falava, aliás, o alias físico, se Pei Snow, Charles Persie Snow, que falava que existia os dois mundos, duas culturas, o mundo da poética, o mundo da ciência, porque ele está completamente enganado, há uma continuidade, entre a poética e a matemática, a relação como de uma raiz para o tronco, para os galhos e para as folhas, e não um dualismo, então me parece que eu deixei isso muito claro no livro, eu deixei não, a aristótese já tinha deixado implicitamente, claro, tudo que eu fiz foi explícito, então o negócio já estava contido lá dentro, e eu observei que eu tinha encontrado essa ideia, essa ideia não foi minha, eu tinha visto essa ideia sugerida pelo santo Tomás Aquino e pelo Aviceno, mas eles só sugerem, assim, eles dizem, 10 linhas cada um, falou, opa, aí não pode ficar assim, se eles dizem isso, alguma razão tem que ter, tem que investigar que razão poderia haver por trás disso aí, e daí encontrei o que eu chamei, a teoria dos quatro discursos, então, sem erros no cafezinho, mas a mim me parece óbvio que toda a cultura moderna tem a pretensão de se basear na ciência e na razão, o que que é, por exemplo, todo o direito moderno, é claro, pretende ser uma ciência e tudo no direito tem que ser resolvido mediante a argumentação racional, mas, como dizia Ingels, o que que é a razão, se não o sonho da burguesia? Você pode pegar todo o universo racional e encará-lo como ideologia, quer dizer, como representação do interesse de uma classe, é claro, eu acho que isso é um engano epistemológico monstruoso, porque evidentemente os interesses envolvidos numa determinada pesquisa, numa determinada raciocínica, não tem nada a ver com a estrutura lógica dessa investigação, as duas coisas são completamente independentes, assim como, por exemplo, os interesses envolvidos no uso de uma determinada e de uma, não tem nada a ver com as regras de gramática que formalizam esse idioma, isso é uma confusão que se você estudar direitinho as investigações lógicas do Edmondo Russel, para pausar para os comerciais, vai sair logo logo o meu livro Edmondo Russel contra o psicologismo que explica exatamente esta coisa, foi feito aí, o nosso amigo Ronald Robson teve a gentileza de fazer a correção das transcrições que nós tínhamos e logo esse livro vai aparecer por aí, então se você estuda direitinho a análise que o Edmondo Russel faz desse assunto, você vai ver que a frase do Engels é apenas uma confusão de tipo psicologista, ele está confundindo as regras do pensamento lógico, a estrutura do pensamento lógico com as leis da psíquia humana, as leis do funcionamento da psíquia humana, leis entre as cais, o elemento sociológico está presente, é uma confusão feita por exemplo na lógica do John Stuart Mill, um dos mestres do psicologismo, ele acredita que as leis da lógica são regras reais do funcionamento da mente humana, da psíquia humana, da psíquia humana, o regra do funcionamento do cérebro, e essa ali eu considero as investigações lógicas do mundo, o Russel é a melhor contestação que alguém já fez de alguma coisa no mundo, ele pega o psicologismo e reduz a menos que pouco, mostrando que a lógica é um conjunto de regras puramente formais que não tem nada a ver com a realidade do exercício do pensamento humano, o mecanismo cerebrais que você usa para pensar não tem absolutamente nada a ver com as regras da lógica, por exemplo, a lei da identidade, terceira excluza, etc, etc, existe um mundo de realidades puramente formais que são independentes do modo como você as pensa, então por exemplo, um quadrado ele tem quatro lados e quatro ângulos iguais, independentemente de você pensar o quadro como uma figura desenhada, como um pedaço de madeira recortado, você pensar um quadrado cor-de-rosa verde ou sem cor, não terá absolutamente nada a ver com outra, se você está pensando o quadrado no momento que você está no banheiro, no momento que você está na cama, tanto faz, o modo real do funcionamento do cérebro humano não tem nada a ver com as regras da lógica, isso está demonstrado de uma vez para sempre pelo mundo russo, e o marxismo ele cai no erro psicologista, quer dizer que só que não é uma versão psicologista, uma versão sociologista do psicologismo, ele acredita que as leis da lógica, as leis da razão podem ser explicadas pelos interesses sociais, sociológicos reais envolvidos no seu exercício, quem quer isso aí? Psicologismo, psicologismo grosso, mas até hoje eu acho às vezes espantoso que ainda existe marxista no mundo, então, bom, na verdade o marxismo é um conjunto de erros filosóficos, quando você os capta, você vê que são muito grosseiros, mas a complexidade do edifício dirigido em cima é uma coisa monstruosa, inclusive só bobocas, pensa que o marxismo não é um treco simplório e dogmático, não tem nada simplório do dogmático, o marxismo é um negócio tão flexível que ele é capaz de assimilar qualquer coisa, outro dia mesmo alguém botou no Facebook lembrando um posto de que o marxismo absorveu até seus inimigos, Nietzsche era um inimigo total do socialismo, o de Albus, o desprezável socialismo, Nietzsche, Freud, Nietzsche e Heidegger, o marxismo absorveu tudo isso aí, como é que você vai dizer que é um negócio simplório e dogmático, uma coisa que é capaz de absorver o discurso dos seus piores inimigos daqueles que odeiam, o marxismo tem essa flexibilidade, não é isso? Tem essa flexibilidade, não em si mesmo, mas por causa do talento enorme dos caras que foram aderindo ele, como George Lucas, o Max Orkheimer e tantos outros, então o marxismo não é um discursinho dogmático, propaganda dogmática, não é, o marxismo é uma tradição, uma tradição intelectual, enormemente rica e complexa, baseada em erros fundamentais, erros na verdade demoníacos, se você pensar bem, então o efeito que o psicologismo teve no mundo foi desastroso, mas foi muito maior dentro do marxismo do que fora dele, como é que você vai comparar a influência do George Stuart Milgo e de Karl Marx? Ninguém fez uma revolução, matou 100 milhões de pessoas porque ele leu George Stuart Milgo, ninguém fez isso, mas Leandro Karl Marx foi isso que ele fez, e também muitas análises, pretensas mes sociológicas, feitas por marxismo, marxistas são desse tipo, porque eles pulam do problema formal, lógico, envolvido numa discussão para a composição sociológica dos participantes dessa discussão, como se não fosse possível um sujeito que emergiu de qualquer classe, pensar logicamente igual ao outro, quer dizer, por que tem que ser um burguês para pensar assim? É claro que não, então não há conexão entre, em outras aulas eu já abordei essa questão de ideologia de classe, ideologia de classe não existe, não existe, ou seja, você pode inventar um discurso pretençamente científico, pretençamento filosófico, que justifica os interesses de determinada classe, só que para isso você não precisa pretencer essa classe, eu que estou aqui não sou proleta, mas se eu quiser inventar um discurso defendendo os interesses do proletário, o que me impede? Também não sou um burguês, não sou um capitalista, mas se eu quiser escrever um discurso pro capitalista, eu posso fazer isso, nada impede, quer dizer, que a relação entre ideologia e classe social é uma relação que está só na cabeça da imaginação dos interessados, que ela não existe em si mesmo, se existisse uma relação objetiva entre classe e ideologia de classe, cada um teria que seguir a ideologia da sua própria classe e não poderia aderir a do outro, portanto, Karl Marx, que era um burguês e não podia jamais ter aderido a ideologia proletária, vai me para coisas suficientemente óbvias, então o próprio Karl Marx é a prova de que a ideologia de classe não existe, o que existe é ideologia atribuída a uma classe por um sujeito que não precisa pretencer a ela, existe analogia entre os interesses objetivos de uma classe e o discurso que os defende, claro que existe, alguma relação lógica existe, mas é uma relação lógica e não sociológica, isso é importante, quer dizer, o sujeito que defende os interesses da burguesia, ele tem que saber quais são esses interesses efetivos e tem que defender logicamente, tá certo, então a conexão lógica existe, claro, se não existisse, fosse só uma besteira, ninguém leva a coisa a sério, mas não há uma ligação sociológica, isso é, o sujeito não precisa pretencer a burguesia para fazer isso, quer dizer, a ideologia de nenhuma criatura é determinada pela classe social onde ela nasce, mas pelo discurso que ela ouviu, em geral, por exemplo, o burguesinho não vai para a universidade, vai, então ele vai ouvir o que? O discurso marxista, ele vai aderir o discurso marxista, né, uma vez lá no órgão do sul, no Fórum da Liberdade, no Fórum da Liberdade, o pessoal está discutindo que é a função da universidade, tá, apareceu o marxista, a função da universidade é treinar a classe dominante, né, isso, daí apareceu um outro sujeito com a pesquisa feita pela Fundação de Arturo Vargas, onde apenas 3% dos universitários queriam ser empresários, ele falou como é que é, que raio de classe dominante é essa, que raio de preparação da classe dominante é essa, quando todo mundo quer fugir da classe dominante e ser o quê? Fusar no público, meu Deus do céu, muito bem, então, no Brasil esse negócio de consciência de classe não existe, as pessoas não sabem que classe ela pertence, pega o discurso da outra classe e repete como se fosse dela, uma vez o, o, o, meira a pena testões entre os seus alunos na universidade do Brasil, que classe social vocês pertencem, eles não sabiam, muito bem, então, isso quer dizer que, a, a, todos os regimes políticos modernos, todos eles se dizem baseados na razão, Marx também diz que ele está se baseando na razão, não na fé, não na revelação, e a democracia também, mas quando você vai ver como funciona a democracia, você vai ver, por exemplo, que no mundo existem centenas de regimes ditatorais sangrentos, esses regimes assassinos, enocidas, centenas deles, mas só uns poucos são condenados pelas democracias, especialmente a África do Sul e Israel, não é isso? Ora, são os dois onde a classe supostamente oprimida tem mais, tem melhor padrão de vida e mais assistência legal, que assistência legal tem no Sudão, por exemplo, nenhuma, o Sudão pode matar quem quiser, na China, nenhuma, e você vê o pessoal denunciando essas coisas, não, denunciando só Israel, e a África do Sul perdeu a moda, a África do Sul já virou outra coisa, agora virou uma ditadura comunista feroz que quer matar todos os fazendeiros, mas ninguém reclama, o número de pessoas, apelos dramáticos lançados por fazendeiros na África do Sul, que dizem, estão matando todo mundo aqui, o pessoal não liga, a democracia moderna, ela é racional, mas ela é racional, base, não é quanto o Bruce Vigger, racionalidade puramente lógica ou matemática, inaplicável às realidades do planeta Terra. Então, entende? Isso quer dizer, são todos pragmáticos no sentido brasileiro, são todos ideologicamente isentos, nós não podemos entrar nessas brigas ideológicas, então, nós só podemos condenar aquilo que ofende os direitos humanos, tal como nós os entendemos dentro da nossa racionalidade jurídica, o resto não podemos mexer. Então isso quer dizer, o seguinte, no conceito ocidental dos direitos humanos, só os comunistas tem o direito de matar pessoas, matar quanto eles quiserem, agora, se algum regime associado de algum modo ao ocidente comete alguma violência, ele é universalmente condenado e os outros não. Então, nós temos que entender o seguinte, gente, vamos falar o português sério, toda a conversa de direitos humanos foi programada e imposta ao mundo inteiro, pelo meu soviético, porra, o nosso homem dirige isso, dirigiu isso e pior, dirige ainda. Então, só existe a imposição de direitos humanos, só existe para quem não é comunista, os outros não, os comunistas estão liberados. E hoje o que que nós vemos no Brasil? O pessoal pregando aí este pragmatismo, o que é pragmatismo? Isenção ideológica, mas eles impõem a isenção ideológica aos esquerdistas, não só os direitistas. Então, olha, vamos falar o português claro, todos esses caras, pragmatistas, inclusive os generais, o mundo de generais, porque são todos traidores, gente, são todos criminosos, estão trabalhando para a dominação comunista do mundo, saibam ou não saibam? Quer dizer, o traidor inconsciente é pior do que o conceito, porque o conceito, você pode pegar o sonho e conversar com ele, olha o que você está fazendo, mas o inconsciente não, ele se acredita que está inocente, que está limpo. Então, você tem que parar com essa pocaria já, porque isso aí é o superassumo da irracionalidade, fundada em argumentos irracionais. E você está usando a razão como o negócio para prostituir a razão completamente e justificar uma conduta irracional e moral, autocontraitor e suicida. Então, nesse sentido, você vê que os comunistas, comunista explícito, é mais honesto do que o pragmático, que trabalha para ele, evidentemente. Mas o comunista sabe o que está fazendo e declara o que está fazendo, não querendo fazer uma revolução, matar todo mundo. E daí, vê o pragmático, ele finge que ele está acima do conflito de ideologias, no qual ele favorece o comunista. Você já viu algum pragmatista, algum general pragmático, dizer que a esquerda tem que parar com o discurso ideológico? Não, porque se fosse o puro discurso ideológico da esquerda, você seria ideológico também. Aí, não pode. Então, o resultado, só a esquerda tem direito a um discurso ideológico, a direita não tem. Então, você, o que é? A esquerda bate no sujeito e vê o pragmático, o general pragmático, amarrar a mão dele. Você está entendendo? Quanto vale esse generalismo? Não vale nada! Eu desafio em público a discutir com ele. Não virão discutir, porque são todos covarros, são todos cagões. Tá certo? Só a hora de escondidinho, tá certo? Ficam lá fazendo fofoca no seu meio, esse, aliás, é um problema sério da classe militar no Brasil, porque ela não tem traquejo social, no estado do mil você vê, todo lugar que você vai, clube de futebol, bailinho, restaurante, tudo tá cheio de milicos, milico vive no meio da sociedade, e a sociedade, os respeita e gosta deles e confia neles. No Brasil, milico só vive no meio de milico, porra, não se mete em nada. E se consideram superiores ou civis, consideram mesmo, isso eu sei porque eu convivi com eles. O que eles fizeram quando tomaram o poder no 74? Eliminaram todas as lideranças civis de direita e chamaram-me a dos engenheiros para governar com eles, tecnocrático, pragmático. E é foi isso que eles fizeram. Resultado que eu falo, resultado, a única força política que sobrou foi o quê? Os comunistas. Então os comunistas tomaram o poder e ainda cuspiram na cara deles. Merecidamente. De novo, esses generalistas tão querendo cometer o mesmo erro que cometer no 64, de novo, não aprenderam nada. Ora, não aprender com a experiência, é sinal de demência, ou então de picaretar, mentalidade de picarete, que o cara tá fingindo que não tem no ver experiência. Então gente, nós temos que denunciar isso aí insistentemente. Esse pragmatismo é que traiçoeiro é criminoso. Se um lado tem o seu discurso ideologico, o outro também tem que ter. E se aparecer vinte lados, cada um deles tem que ter o seu próprio discurso ideologico. Deu pra entender? Então é isso aí. Hoje eu não vou responder pergunta. Até a semana que vem, muito obrigado.