Então, vamos lá, boa noite a todos, sejam bem-vindos. Eu queria repassar um tema que foi um dos primeiros do nosso curso, que é o seguinte, quando você observa o desenvolvimento da ideia de filosofia ao longo dos tempos, você vê que existe uma alternância entre o que nós poderíamos chamar filosofias do objeto e filosofias do sujeito. Você pega os pedaços presocráticos, você vê que o interesse principal deles é o universo físico, eles querem olhar aquilo e saber qual são os mecanismos fundamentais que governam esse sistema de fenômenos. Sobretudo querem descobrir qual é a matéria prima, qual é a matéria fundamental da qual tudo se compõe. Na etapa seguinte você vê duas filosofias do sujeito, que são os sofistas e os socráticos. Os sofistas têm pouco, nenhuma doutrina sobre o universo objetivo, mas eles têm técnicas de desenvolvimento do ser humano, sobretudo técnicas para a formação do homem político. Então são filosofias, para ser voltadas para o sujeito, são menos filosofias do que pedagogias. E Sócrates, embora se oponha aos sofistas, em quase tudo, e os critique muito severamente, o interesse dele também é a formação da personalidade. Portanto, trata-se de equipar o ser humano, de equipar o estudante, o futuro filósofo, para tratar de questões graves, de uma maneira mais responsável e séria. Você vê que em parte alguma você nota Sócrates chegando a alguma conclusão sobre alguma coisa. Ele simplesmente monta a estratégia de ataque dos problemas e deixa tudo em aberto. Tanto que se você tomar a palavra filosofia no sentido de uma concepção do mundo, como a dos preçosocráticos, Sócrates não tem filosofia algum. O que ele faz com o nome filosofia é uma outra coisa totalmente diferente do que eles faziam. Na etapa seguinte você vê duas tentativas de articulação dessas duas perspectivas. Platão ainda é tão inconclusivo quanto Sócrates, ele deixa tudo em aberto. Ele vai encaminhando as questões e quando chega, qual é a conclusão? O que ele faz? Ele anuncia um mito. O mito, evidentemente, tem vários sentidos possíveis. Pode ser interpretado de uma maneira ou de outra maneira. E até hoje se discute o sentido, por exemplo, do mito do amor, como ele expõe no banquete, ou do mito de her, ou o sujeito que volta do mundo dos mortos, ou o mito da caverna. É assim por diante. Esses mitos são obras de arte, são obras de arte poética e não há como você traduzi-los em termos doutrinais. Quer dizer o que ele quer dizer? Isso, mais isso, mais isso. Pode querer dizer várias coisas ao mesmo tempo e ele, ao enunciar o mito, ele está dizendo que estas coisas são muito difíceis para que você possa fechar uma conclusão em torno delas. O que podemos fazer é abrir o espírito humano para que ele seja sensível, por assim dizer, humilde dentro dos grandes problemas, e se deixe inspirar por eles, em vez de fechá-los dentro de uma conclusão. A filosofia toda de Aristóteles, embora ele desenvolva a filosofia no sentido de uma ciência, se é de um saber organizado e definitivo, ela também termina em aberto. O principal problema da filosofia de Aristóteles é que ele diz que só existe ciência do geral e que a realidade se compõe apenas de seres singulares. Então, tudo que existe existe a forma de um ser singular e tudo que nós podemos saber são generalidades. Então, você vê que tem um hiato entre as duas coisas. Isso é evidentemente um problema e a filosofia de Aristóteles termina nesse problema. Por outro lado, ele também distinguiu várias gradações de conhecimento possível e, em geral, ele se contenta com uma filosofia problemática em vez de dogmática. Ele não descreta totalmente na possibilidade de uma filosofia dogmática, isso é uma sequência de afirmações sobre a realidade. Ele não descreta a possibilidade de fazer isso, mas ele nunca faz. Você vê que, embora seja o inventor da lógica, ele, nos seus ensinamentos, usa somente a técnica dialética, sempre. É a confrontação de hipóteses que, segundo ele, não permite chegar a uma certeza definitiva, apenas a uma certeza provável. Você vê que o probabilismo que a ciência do século XX chegaria, o Werner Heisenberg e o outro já estavam a dar a la na Aristótela. Era, sem dúvida, um probabilista. Durante a idade média, com o aprimoramento da técnica lógica, a ideia de uma grande filosofia dogmática, que é a filosofia que expressasse o sistema do mundo, tomando corpo, também pelo fato de que a filosofia atuava ali como uma espécie de um suporte pedagógico da teologia da Doutrina Cristã, a qual essa, em dúvida, uma doutrina positiva, é uma doutrina dogmática, expressa algo sobre a natureza da realidade, tá certo? E a filosofia contribuía para a exporta, para ela fazer parte da grande construção dogmática, que, no entanto, nunca se fechou, nunca terminou. A etapa seguinte, que vem com o renascimento da filosofia clássica, com Newton, de Cartes, Bacon, etc., etc., ela toma decisivamente o aspecto de uma ciência dogmática. Quer dizer, a filosofia se identifica com o que hoje nós chamaríamos ciência, e ela procura, então, nos descrever o sistema do mundo, tal como ele é realmente. Sorge, por exemplo, as filosofias mecanismas, que explicam o universo inteiro e também o ser humano, como se fosse um sistema de máquinas, com as qual as dadas, os princípios elementares, o resto pode ser deduzido loricamente, por assim dizer. Você vê que, em Descartes, por exemplo, você tem os princípios da teoria do conhecimento, que ele expressa ali, na meditações de filosofia primeira, e depois você tem uma série de tratados sobre a estrutura do mundo, incluindo o homem dentro do sistema. Vamos ver no Tratado das Fáfres, que é um livro de psicologia, por assim dizer, e a psicologia de Descartes, toda ela se deduz dos princípios mecanismas colocados no início. Como o Newton, você vê uma coisa um pouco diferente, porque Newton, ele dá pela primeira vez um sentido realmente científico ao mecanismo, no livro, no princípio Matemárcio da Filosofia Natural, mas ele não chega a tirar conclusões, você não pode dizer que ele criou um sistema de filosofia mecanista, ele não criou, ele deixou aí aberto, porque os grandes problemas que ele se colocou eram de natureza teológica, e ele não conseguiu resolver nenhum. A grande esperança dele é criar uma teologia unitária, que é a teologia que eliminasse a noção da trindade, e se girasse em torno da ideia da unidade absoluta de Deus, o que eu aproximo sem dúvida da teologia islâmica, que é a unidade absoluta. Você procura nas ovas de Ibn Arabi, ou Abdu Raza Kalkashani, são as teologias da unidade absoluta, não há trindade. E o Newton queria chegar nisso. Até hoje não sabemos exatamente o resultado que ele chegou, porque a maior parte do que ele escreveu a respeito não foi publicada até hoje. Eu sei que talvez um abacaxi, um enigma, durante pelo menos dois séculos, a existência do Newton teólogo foi ignorada no Ocidente, e se criou a imagem como se Newton fosse um cientista moderno, um professor universitário moderno, era eminentemente um teólogo, do entender dele. Inclusive a parte da lei da gravitação, era um capítulo de uma longa argumentação teológica que ele pretendia fazer. Isso ficou desaparecido, e foi o economista John Major Kent, que num leilão de manuscritos antigos, comprou lá um lote de papéis, foi ver, eram escritos teológicos de Newton, era uma monstruosidade, um negócio de milhares e milhares de págras. Até hoje isso não foi estudado direito. Então o que era realmente a filosofia de Newton, ninguém sabe. Anuncia evidentemente aos jornalistas brasileiros, ele sabe tudo o que Newton disse, e tem certeza absoluta a respeito fora, o resto do mundo continua ignorando isso aí, e confessa a ignorância. A ideia da filosofia como sistema do mundo, como ciência objetiva do mundo, ela continua em vigor ao longo de todo o século XVIII, e chega no fim a certas dificuldades, porque se a filosofia é uma ciência objetiva que nos diz o que é a realidade do mundo, por que existem tantas filosofias diferentes, por que elas estão em desacordo? O desacordo universal das filosofias provoca o nascimento do ceticismo, em parte com o bispo Berkeley, George Berkeley, e em parte com o dedo Hume. Hume é um escritor maravilhoso, e os ensaios dele destruindo todos os tipos de conhecimento possíveis, são uma delícia para você ler até hoje, e são uma vacina contra qualquer pretensão dogmática que um filósofo possa ter. Ele questiona, por exemplo, toda explicação científica se baseia na ideia de causa, mas nós não sabemos o que é exatamente uma causa, e nem sabemos se isso existe. Ele dá o famoso exemplo que ele dá, é que vem aqui rolando uma bola de bilhá, ela bate na outra, e a outra sai rolando também, e nós dizemos que uma causou o movimento da outra, mas o seguinte, nós só vimos uma bola rolando, e depois vimos outra bola rolando, nós vimos causa nenhuma. É verdadeira a sua observação, a causa enquanto tal não é visível, a causa seria um elo invisível entre acontecimentos visíveis, e isso não é uma noção tão óbvia em si mesmo, quanto nós desejaremos, é uma coisa complicada. Dessa... do sete-cimo de Hume, surge, então, a filosofia de Kant. Kant está profundamente impressionado com duas coisas, de um lado a filosofia de Hume, e do outro lado a física de Newton. Ele percebe que a física de Newton tem comprovação experimental, quer dizer, um conjunto de cálculos, é uma demonstração canônica, por assim dizer, e é repetidamente comprovada pela observação e medição dos fatos. Ele diz, então, quer dizer que nós temos um conhecimento objetivo, um conhecimento sobre a realidade e o objetivo do mundo, e, por outro lado, nós entendemos que a filosofia está toda cheia de contradições internas, e que o conjunto disso é totalmente inlógico. Então, temos aqui um problema, porque temos um conhecimento certo, e sabemos que só podemos obter conhecimentos incertos. Então, temos que resolver isso de algum modo, e ele resolve de uma maneira que é até ingênuosa, quando ele diz que a verdadeira ciência não deve ser buscada na realidade do mundo material externo, mas nas estruturas da razão humana. Ou seja, um conhecimento é verdadeiro, não porque ele coincide com os fatos, mas porque ele coincide com as estruturas da razão humana. Nesse sentido, você não pode dizer que há um conhecimento verdadeiro, apenas há um conhecimento adequado às exigências da razão humana. Isso tem uma influência avassaladora em toda a filosofia, e nas ciências, especialmente nas ciências humanas. Então, antes de dizer que nós só podemos conhecer aquilo que está adequado, que é comproporcional à nossa estrutura de percepção e às categoria da nossa razão. Portanto, nós não sabemos o que é o mundo, o que não sabemos o que é a realidade, nós sabemos que são aquelas partes da realidade que estão adequadas ao nosso formato. Então, é por isso que nós só conhecemos os fenômenos, que é o fenômeno, o fenômeno é aquele que aparece, e aquilo que aparece, aparece porque é comproporcional ao nosso aparato de percepção e às estruturas da nossa razão. Nós conhecemos os fenômenos e não as coisas em si, ou seja, não o mundo como é em si mesmo. Então, entre esses dois aspectos da filosofia, que é a filosofia da realidade e a filosofia do ser humano, Kant faz um arranjo para dar a filosofia do ser humano a áreas de uma ciência racionalmente estabelecida como se fosse a filosofia do mundo. Durante o século XIX, com ou sem a influência de Kant, predomina toda parte a ideia da filosofia do mundo, que é a filosofia se aproximando do que seria uma ciência. Você tem a avoga do materialismo, sobretudo, em inglês, e, por outro lado, os descendentes de Kant acabam, por assim dizer, matando o pai e criam imensas filosofias sistemáticas da raquete do mundo, quer dizer, feats de Schelling e rei, que realmente são filósofos do mundo. Mas, que barulhês, essa porcaria aqui, olha. Como é que desliga isso? Então, se você dá uma olhada na filosofia do Fist, ela é toda sobretivista, por um lado, porque ele acredita que a única realidade que nós conhecemos verdadeiramente é o eu, mas a partir do eu, ele descreve o mundo inteiro. Então, tentando resolver o conflito do mundo e filosofia do homem, Hegel faz a mesma coisa, e Schelling também. Então, são grandes sistemas que, partindo do idealismo, do subjetivo, tentam alcançar o máximo de objetividade possível. Você vê com calma a que acontece. Ele também dá uma solução na medida em que ele diz que a verdadeira realidade não é propamente a natureza em si e também não é a parte subjetiva do homem, mas é a história dialética das tentativas do homem para transformar a natureza segundo os seus interesses e necessidades. Essa é a verdadeira realidade, a verdadeira realidade não é nem a natureza e nem o subjetivo, nem o objeto, nem o sujeito, mas é a transformação da natureza pelo homem. Deixe-me dizer, é uma solução também engenhosa até certo ponto. Mas, ela é engenhosa enquanto proposta, mas se você perguntar qual é o resultado final obtido pela ciência marquista, ele é muito pobre, na verdade. Logo surgem contestações devastadoras da filosofia de Karl Marx e em seguida nós mergulhamos no mundo da subjetividade total com Nietzsche, onde ele diz que a filosofia é uma expressão da fisiologia de cada filósofo. Filosofia nasce com certa predisposição, caracterológica, psicológica, e a filosofia dele não é, se não, a expressão do seu modo de ser particular, o que, sem dúvida, é válido para a própria filosofia do Nietzsche. Não adianta você querer reduzir a filosofia do Nietzsche. Há um sistema do mundo, vamos chamar de Eugen Fink, que era secretário do mundo rússil, e que ele estudou muita filosofia do Nietzsche e tentando descobrir ali um sistema filosófico sobre o mundo, e descobrir o 5 dentro da filosofia. Então, evidentemente, se tinha 5, quer dizer, não tinha nenhum, e o que sobrava era a personalidade do Nietzsche. Então, quando você lê Nietzsche, evidentemente, você está lidando com um poeta que expressa, após a famosa definição do Renato Croche, expressão de impressões. Então, a impressão é sempre válida e sempre verdadeira, porque é o que o sujeito percebeu naquele momento. Ela só não é generalizável. Não é porque o sujeito percebeu algo assim, que eu também tenho de perceber, mas eu não posso negar que ele percebeu assim, e que a expressão que ele está dando é perfeitamente adequada ao que ele percebeu. Então, a filosofia do Nietzsche é toda uma coleção, uma de percepções de relância. Todas elas, muito brilhante, muito geniais, mas que não constituem propriamente uma filosofia. Você pode reconstruir os germes de várias filosofias possíveis, mas aí vamos cair na definição da Suzane, que é ilangar, que define o símbolo como uma matriz de intelectões possíveis. Então, o que é a obra de Nietzsche? É uma coleção de símbolos que são matrizes de intelectões possíveis. O Selenitzsche sempre tem algum insight, um não, tem vários insights, são muitas coisas, porque a natureza simbólica do estilo dele estimula você, tem um efeito hormonal sobre a sua inteligência. Muitas pessoas, quando têm esses insights, elas acreditam que estão concordando com Nietzsche, mas isso é errado, o Nietzsche não disse o que elas estão pensando. Ele simplesmente soltou o símbolo e deixou o símbolo exercer a sua influência hormonal em cima da cabeça de cada um. Eu ver os grandes admiradores de Nietzsche jamais conseguem nos explicar o que Nietzsche disse, incluindo o Jordan Peters, admirador de Nietzsche. Mas qual é a raiva da filosofia de Nietzsche? Ninguém sabe. Martin Heidegger também era um grande admirador, e Nietzsche escreveu um livro em quatro volumes, no qual ele expõe a filosofia de Martin Heidegger e diz que é a filosofia de Nietzsche. Mas não é, evidentemente. Então, quem está certo é o Finch. O Nietzsche é irredutível a uma filosofia. Ele é, iminentemente, um escritor poético, com uma potência de sugestão imensa. O estudo ainda foi agravado pelo fato de que na idade de Maduro, ele tinha sífiles terciários, e tinha dores de cabeça horríveis na maior parte do tempo, e só conseguia trabalhar em intervalos de tempo muito curtos. Então, ele desenvolve a técnica do aforismo, que é uma frase solta. Não tem uma exposição continuada. Esse aforismo também, por isso mesmo, tem, eles condensam uma multiplicidade significada com o negócio tremendo. Eu acho que as obras de Nietzsche são tão ricas de simbolismo quanto a de Benekomeda, ou as obras de Shakespeare. Mas não podemos condenar com um filósofo sistemático, no sentido que seria canto, ou Platão, ou Aristótia. Dê uma outra coisa. Então, não podemos dizer que no ponto em que Nietzsche deixou as coisas, é o ponto em que nós estamos hoje. Quando surge mais tarde, em parte, inspirada em Nietzsche, escolas como o desconstrucionismo, que vão eliminar qualquer possibilidade do discurso sobre qualquer coisa, dizendo que o discurso só tem sentido dentro do próprio discurso, isso ainda é um pouco o resultado da filosofia do Nietzsche. Ele tornou impossível dizer qualquer coisa objetiva sobre qualquer fenômeno real. Então, o discurso tem como significado um outro discurso que leva a outro discurso e outro discurso assim por diante. É como se todas as palavras que nós conhecemos, às vezes estão todas no dicionar, então dizer qualquer coisa não é se não transitar entre várias palavras no dicionar, combinando as palavras no sentido que bem lhe pareça, mas dentro do dicionar não há coisa nenhuma, só há palavras. E o sentido de uma palavra é que são outras palavras que explicam o detalhe ao seu significado, ou é, como o Fernando de Sosfio, a diferença entre ela e todas as outras palavras. Isso quer dizer que entre o mundo das palavras e o mundo das coisas não há conexão. Este é mais ou menos o ponto em que nós estamos. Eu acredito que em grande parte o sucesso dessa escola foi devido a um fenômeno interno do mundo esquerdista. Porque o marxismo começa como uma tentativa de criar um macro sistema de conhecimento objetivo, ele se pretende totalmente científico, nós temos finalmente aqui a expressão científica do mundo humano e histórico. E ao longo do tempo vão surgindo tantos problemas internos no marxismo e ao mesmo tempo o movimento comunista inspirado nele espalha tantas mentiras, tantas loucuras no mundo que os seus adeptos e admiradores de mais alto que i chegaram à conclusão. A única maneira de nós limparmos a nossa barra é negarmos a existência da verdade. Nós já mentimos tanto que se a verdade existe nós estamos lascados. Eu estou resumindo grosseiramente, mas eu acho que no fundo foi isso. Então negar a verdade e nós fazemos da mentira a única possibilidade da linguagem não nossa. Então nós mentimos porque a linguagem é mentira sempre. Então nós não temos culpa por assim dizer. E note bem, e esta filosofia tem uma influência imensa no mundo universitário. Então você vê essa coisa incrível que por um lado as pessoas professam uma filosofia que nega a existência de qualquer verdade e na medida que elas professam a filosofia elas se apão cada vez mais as verdades das coisas que elas acreditam. Verdades ou mentiras. Então é claro que a possibilidade de uma discussão qualquer discussão racional e foi absolutamente eliminada. E o que nós vemos é a convivência pacífica entre o ceticismo total e o dogmatismo total. É claro que aí nós estamos em pleno hospício, a coisa não pode continuar assim. É impossível continuar assim. Nós vemos que no mesmo período você tem o desmantelamento dos regimes comunistas na Néu Soviética, no leste europeu e o crescimento de um movimento comunista não dogmático no ocidente. Não dogmático por que? Porque a partir dos anos 90 surge o que é o Netwar, a guerra internetica. Foi usada ali, começa a ser usada na guerrilha de Chiapas no México, onde o partido desiste da sua estrutura hierárquica, linha de comando, e em vez disso um sistema de redes que se intercomunicam, onde as palavras de ordem partem de vários centros simultâneos unidos, apenas por um, não por uma doutrina dogmática, mas por um estado de espírito, por exemplo, um ódio, um inimigo comum, o cilio ocidente, o grande satana, qualquer coisa desse tipo. Então não é preciso haver um comando unificado, isso é que é importantíssimo, desde os décadas 90 as coisas são assim no movimento comunista. Então você apela a um estado de espírito que está vagamente disseminado em todo o público que está ao canso do movimento. Não há mais uma doutrina dogmática como no tempo do antigo partido comunista. Não há sequer uma doutrina marxista, fala em doutrina marxista, o ajeito é absurdo. Não há, existem, ou inúmeras doutrinas que se pretendem marxistas, mas existe uma espécie de estado de espírito marxista, seria antes uma unidade emocional, uma unidade da comunidade, e é claro que a unidade do movimento hoje não depende mais da adesão a um corpo de doutrina, depende da participação emocional, não é um conjunto de pessoas, assim, a patota, os amigos, assim, é nós contra eles, o sentimento de pertinência do nosso grupo, é uma coisa importantíssima e evidentemente nós chegamos aí ao auge da politização no sentido do Carl Schmitt. A política é um setor onde não pode haver arbitragem racional das divergências, portanto só resta contar os votos ou as armas. Então o senso de participação se torna tudo. É claro que o pessoal que é contra isso, os liberais, conservadores, etc., estão muito atrasados nesse negócio, ainda estão discutindo com a doutrina marxista, imaginando que estão lidando com o velho partido comunista e Heráquico, com aquelas linhas de comando vertical, estão no outro mundo. Nada disso existe mais. Por isso, quando as pessoas têm uma dificuldade imensa de identificar-se determinado agente, não é comunista, porque eles ainda pensam em termos de uma doutrina ideológica uniforme. E se o senhor não tem doutrina ideológica uniforme, ele fala que ele não é comunista. Aquilo Marco Antonio Vio, o da besta quadrada, dizia, ah, o Lula não pode ser comunista, porque jamais nem leu o Marcos. Eu disse, ele precisa ler o Marcos, não é isso? Todo o tempo que eu frequentei essa gente, o único jeito que eu conheci que leu o Marcos foi três pessoas. Aí eu, o Nabocais de Brito, que era o guerreiro, e o Robert Negro de Lima, que era o estudante. O resto não lia. Pelo menos, o Rui Falcão foi preso de penteio algum dia a ler o Marcos, ele leu o Manifesto Comunista, que é 40 págras. E isso foi realmente tudo. No Brasil, a única pessoa que leram o capital foi um grupo de professores da USP, leram em grupo, porque não aguentavam ler sozinho. Agora você imagina comparar isso aí com a formação europeia, onde o Negro lia com o Marcos durante as férias. O Eric, ele dizia, ah, durante as férias eu lio o capital. Depois eu vou fazer um curso de economia política e chegar com o Pedro Caquilo, tudo é uma bestia. Então, é claro que a confusão ideológica no meio esquerdista é essencial para a manutenção do próprio movimento. Pode caber qualquer coisa ali, dependendo de não dar adesão a uma doutrina, uma ideologia, entre aspas, mas da participação num sentimento comum, que geralmente é definido pelo ódio um inimigo estereotipado. E você pode chamar de capitalismo, éguia católica, o reacionarismo, o fascismo, qualquer coisa desse tipo. Então, na mesma medida, a imensa confusão do doutrinal, ela cria um tipo de unidade que o movimento não tinha antes. Uma unidade absolutamente irracional e, por assim dizer, quase indestrutível. Porque não é dame ser discutido com ninguém, porque a sua discussão não vai mudar sentimento e, sobretudo, se o camarada vê, ele enxerga você como um inimigo, um adversário, é claro que ele está muito mais apegado aos seus amigos do que um inimigo. Então, esse senso de participação é reforçado por um senso de rejeição, de ódio, de medo, etc. Isso aí cria uma barreira intransponível. A discussão racional ainda podia ser possível com marxistas de tipo antigo, que acreditavam na realidade objetiva da descrição com marxismo fazendo a sociedade, mas realmente não é possível. Quando você vê fenômenos assim como a esquerda, a esquerda juntando, num só bloco, as feministas mais radicais e os machistas islâmicos. Então, tudo é possível. Você junta os gays de Londres, com os assassinos de gays que estão lá no Irã, eles cargue jogam gays do alto-prédio e nas passeadas estão tudo imunziadadas. Então, é claro que é uma coisa absurda, mas ela funciona porque é absurda, porque não tem compromisso com a razão e porque é inteiramente baseado no sistema de interproteção psíquica. Se se entrega no grupo para se sentir protegido, compreendido, aceito, etc. Ainda que na realidade os seus companheiros não aceitem, mas, você pensaram, será que o terrorista islâmico aceita realmente as feministas? Eles aceitam como o cardecaíão, mas na atividade pública eles estão juntos. Então, eles se aceitam ali e isso cria um senso de participação numa verdade universal. Todas as pessoas certas estão do nosso lado. As mais diversas, temos a diversidade, pessoas de todas as raças, ideologias, religiões, etc. Estão todos do nosso lado e nós estamos todos contra os nossos malditos inimigos. Você vê que é difícil você tirar o sujeito de uma coisa dessa. Só vai sair evidentemente, por uma sequência de choques e de humilhações. Talvez isso resulte numa crise existencial, numa revisão do caminho percorrido. Mas o caminho é difícil de percorrer porque ele tem tantos elementos e ele é tão confuso que ele escapa da própria memória. Ele não sabe quais as etapas que ele percorreu para chegar aí, não sabe quais são os componentes da sua consciência e não é capaz de fazer o exame de consciência em hipótese algum. Portanto, se não dá fazer o exame de consciência, então você tem o preceito da inocência incondicional. Então, com isso, nós voltamos a um fenômeno que aconteceu entre os séculos 15 e 16, o surgimento de seitas. Esse surgiu especialmente no meio protestante, quando aparece a reforma protestante, imediatamente aparece várias seitas que o humano tem nada que ver com a outra. É que você não sabe dizer se elas são protestantes ou não, porque elas às vezes se diziam o selo, mas os líderes protestantes não aceitavam, então é uma confusão. E muitas dessas seitas acreditavam que era a Assembleia dos Santos, eles já eram a comunhão dos Santos. Então, você aderiu aquilo, você já está santificado pelo preceito também da predestinação. Se você entrou na nossa igreja, você estava predestinado para entrar, você está predestinado porque você é santo. Se você já é santo, o pecado não está ao seu alcance, faça o que fizer, não é pecado. Então, você pode roubar, matar, comer a mulher do próximo, fazer o que você quiser, você está limpo. Essas seitas não cansaram imenso o sucesso na época e foram elas que se transformaram mais tarde em movimento de massa. E esse estado de espírito da inocência incondicional está no fundo de toda essa confusão. Então, o que importa não é a autodefinição ideológica do sujeito, mas a comunhão dos Santos. Ele está em comunhão com os outros Santos. Então, ele nunca está errado. Esta hipóstia está errada completamente fora, tanto que se aparece alguém que nitidamente pecou e você não tem mais como desculpar o sujeito como acontece agora com o Lula. Alguns ficam loucos e continuam insistindo que o Lula é santo, ele não fez nada. E outros ficam loucos também dizendo que o Lula nos traiu, ele nunca foi um dos nossos, ele era um infiltrado. É a maneira de você conservar o senso da unidade, do movimento. Então, esta é a situação na qual nós nos encontramos hoje. Você já ouvir algum direitista explicar isso para você? Não. O que acontece se eu sequer ter os moleques, inclusive alguns alunos meus, que entram ouvem um pouco da minha conversa, que tem três págras do Eric Feiglin e já saem cagando regra, ocupando o posto do governo, ganhando dinheiro, fazendo movimentos e etc. E isso aí só contribui mais para confusão. Então, eu sempre achei que a concorrência eleitoral, antes de ter, a ver, que os conservadores alcançaram um pouco de hegemonia cultural, era uma ejaculação precoce e provavelmente um suicídio. Mas de qualquer modo, não era possível negar apoio à candidatura, porque a candidatura é moralmente correta. Então, esta é a situação. Nós realmente estamos com a razão, a razão do ponto de vista moral. E nós realmente temos apoio popular. Mas no meio dinógrafo dos conservadores liberais, o número de pessoas que estão realmente entendendo esse processo é ínfimo. E portanto, a possibilidade de ações efetivas também é ínfima. Nessa altura é grande a tentação de apelar algum tipo de mágica. O que é mais importante, mais importante, é que você achar que a solução dos problemas econômicos resolverá tudo. Claro, se resolvesse, então, a liberização da economia chinesa teria dissolvido a ditadura chinesa quando não dissolveu antes a fortaleceu. E também me deonde que o sucesso do capitalismo diminuiu o prestígio do socialismo. O sucesso do capitalismo se mede pelo número de pessoas ociosas que ele pode sustentar, sobretudo nas universidades. O capitalismo progrede, você abre mais universidades, tem mais gente que vai lá para dentro e sai com diploma e não tem função na sociedade. E ele vai engrossar o que? Os movimentos socialistas, etc. Então, é uma estupidez achar que o progresso do capitalismo sufoca o socialismo. Ao contrário, o socialismo é filho do sucesso capitalista e não do fracasso capitalista, como dizia Karl Marx. Karl Marx estava 100% errado, ele viu a coisa invertida. Ele achava que no capitalismo os ricos iriam ficar cada vez mais ricos e os pobres iriam ficar cada vez mais pobres. Os ricos, de fato, ficaram mais ricos e os pobres ficaram proporcionalmente mais ricos ainda. Se você ver, assim, o que é o sucesso de ser pobre nos Estados Unidos? Ser pobre quer dizer o seguinte, você mora num trailer, um carro, dois carros, três carros, uma hora num trailer. Isso é ser o máximo de pobreza que tem nos Estados Unidos. Quando você vê o negro pedindo, esmora na rua, certamente é louco. Então, ele não é um pobre, ele é um incapaz mesmo. Então, o capitalismo elevou o nível de riqueza das multidões de uma maneira que nem se podia imaginar. E isto fomentou o crescimento dos movimentos socialistas e anticapitalistas. Então, como lidar com isso? Arrumando mais dinheiro, certamente não é. Melhorar na economia, certamente não é. Embora, em certos casos, seja preciso realmente melhorar a economia. Então, no Brasil precisa corrigir a economia, não porque isto vai eliminar a oposição socialista. Mas para que as pessoas não morrem de fome, só que uma coisa tem nada a ver com a outra. Mas muita gente acredita nisto. Acredita por quê? Porque são pessoas que naturalmente têm uma propensão para atividade capitalista. São empresários e raciocinam a partir da sua posição de classe. Eu não acredito que a posição de classe do indivíduo determina a sua ideologia. Mas ela o faz quando o indivíduo é uma besta quadrada. Isso é feito muito burro. Então, as ideias deles são apenas o interesse de classe dele transposto, verbalmente. Se é o cara inteligente, então o contrário pode pensar até contra os interesses da sua classe. Ou pode pensar em se identificar alternadamente com os vários grupos sociais como eu faço. Eu olho a coisa do ponto de vista, simpatizo igualmente com todas as classes, e procuro raciocinar com base do interesse todas elas. Isso é perfeitamente possível. O Marx diz que não é, mas ele mesmo é a prova de que é possível. Então, nós vemos o seguinte aqui. O grande problema no Brasil é o seguinte, as nossas classes superiores sempre foram muito negligentes em matéria de cultura e de aprendizado. A cultura no Brasil é uma coisa apenas instrumental. Que serve para você brilhar em sociedade ou para você arrumar emprego. E, da partida, da década e quarenta, o crescimento das universidades, as universidades assambar com toda a atividade cultural e amburocratiza. Então, significa o seguinte, ninguém mais que era de cultura, desenvolver uma capacidade artística porque ele ama aquilo. É porque ele vai arrumar emprego, ele vai ter uma carreira universitária e assim por dia. Isso é evidentemente corrompe a alta cultura até o fim. Quando você estuda a história, vamos dizer, do Machado de Assiso ou Lion Barretto, o que é o Machado de Assiso? O seguinte, era um emprego muito humilde, viveu naquilo a sua vida inteira e nunca esperou que com a sua produção literária ele fosse subir na vida. Uma coisa é diferente à outra. Então, ele se dedicava inteiramente à literatura, nas horas que ele não estava trabalhando. Em seguida você vê o Lion Barretto, que não tinha nem um emprego público, era um subjornalista, e se dava inteiramente de coração com a atividade literária, que era a vida dele. Nunca esperou que ele obteu emprego com aquilo, nem pediu. E muitos eram assim. Se estuda a história, Cruz e Souza, um tremendo poeta, filho de escravo, ele adquiriu algum prestígio, sem dúvida, mas não virou governador está, não virou senador, nem professor de universidade. Havia muitas pessoas assim, ela se dedicava realmente à alta cultura, à arte, à ciência, porque aquilo era a sua vida. Hoje em dia praticamente não existe mais. Isso não existe mais, se tiver tem um ou dois. Então, a nossa classe letrada, ela se corrompeu 100%. Então, não tem desejo de conhecimento mesmo. E a expectativa de subir na vida adquirindo um pouquinho de conhecimento, se tornou muito intensa. E evidentemente a ascensão dos conservadores ao poder de estado é uma tentação para muitos. Então, eu estou avisando aqueles que entraram, pegaram postos no governo, vocês têm que tomar muito cuidado para vocês não se estragarem completamente. Então, é isso aí. Hoje eu não vou responder perguntas, porque eu tenho umas visitas aqui, quero conversar com elas. Até a semana que vem, muito obrigado.