Bom, vamos lá, boa noite a todos, serão bem-vindos. Conforme eu não sei hoje, não tento explicar porque a literatura é a base de toda a educação que pegou. Bom, em primeiro lugar, nós temos que lembrar duas contribuições da filosofia antiga, e essa discussão, as contribuições se tornaram clássicas, que são lembradas quase sempre. Uma delas é do Platão, que na República expulsa o Poetas, o escritor de ficção da sua República Ideal, sob o argumento de que tudo da arte é uma imitação, e de que como este mundo, ele é, por si mesmo, uma imitação do mundo dos arquéticos, ou do mundo das formas puras, então o que eles produzem é uma imitação de uma imitação, e portanto algo que só pode servir para desorientar a pessoa. Esse argumento é mil vezes levantado e comentado, em geral, com uma certa indignação, mas isso mostra justamente a falta de cultura literária de pessoas, porque a República, ou da República, é inteirinho uma paródia, inteirinho uma sátira. E esse pessoal não percebe isso, leva os argumentos literalmente a sério e começa a discutir-los como se eles estivessem pressando o problema, literalmente. E em segundo lugar, nós temos também duas contribuições de Aristóteles. Por um lado ele diz que toda a arte é uma imitação, imitação da natureza, mas na poética, ele diz que a tragédia e a comédia não imitam a realidade, mas imitam o possível, e não as coisas que aconteceram, mas assim poderiam ter acontecido. Acho que o volume está melhorando o volume agora. Alô, melhorou. Alô, estou ouvindo direitinho. O volume estava muito baixo, estava muito baixo mesmo. Alô, estou ouvindo agora. Alô, melhorou a audição? Mas isso não dá, mas não. Cheguei no limite. Alô, estão ouvindo perfeitamente agora ou não? Então vamos continuar. Então em tudo isso, é o regimento da unidade. Por um lado, você não pode esquecer que Platão constrói toda aquela sua maravilhosa república só para no fim provar que não vai dar certo em jeito nenhum e que se você montar o estado ideal, tudo perfeito e tudo armadinho, no fim, ele vai se corromper do mesmo modo. E Platão inclusive dá o ciclo das etapas da corrupção, que é uma coisa que nós podemos confirmar abundantemente pela experiência histórica. Isso quer dizer que a única parte da reculida que você pode levar integralmente a sério é a conclusão, o resto não, o resto é uma invenção irônica. Quanto a Aristóteles, o que ele diz está parecendo um atletor, porque é por um lado a imitação da natureza, a natureza é um fato real e por outro lado, ele vai dizer que a arte narrativa não imita os fatos acontecidos, mas os fatos que poderiam ter acontecido, portanto, não é uma imitação da realidade, mas é uma imitação do imaginário. Ora, se é assim e todos nós sabendo que a literatura de ficção é chamada de ficção, justamente por ser ficcional, por ser tudo inventado, que importância pode ter isso. É certo? Por que que eu devo recomendar tanto isso para as pessoas e fazer mesmo disso a base da educação superior? Bem, nós temos aí duas ordens de motivos. A primeira de respeito à percepção e a segunda de respeito à linguagem. A segunda é uma decorrência da primeira, mas ao mesmo tempo é a mais decisiva. Então, a primeira é a seguinte, a nossa toda experiência que nós temos da realidade se dá dentro de um contínuo ilimitado. É absolutamente impossível você traçar materialmente todas as conexões de causa, de ocasião, de similaridade, que existem qualquer fato por insignificante que seja e todos os outros. Quer dizer, não há limite para o cenário onde as coisas acontecem. Se você ver, por exemplo, um futebol que cai da árvore, qual é o âmbito, qual é o limite da perspectiva na qual isso acontece? Isso acontece na escala de uma árvore, na escala de um jardim, na escala da cidade inteira, na escala do mundo inteiro. É o processo que o Ortega tem que deluminar isso, isso de pensamento dialético, de ter que conceder um pouco mais da terra do que você faz. Você o concebe como uma bola que está virando um espaço, de bom, mas ela não está virando um espaço vazio, ela está num lugar determinado dentro desses espaços, num lugar determinado dentro do sistema solar, e o sistema solar não está. E assim por exemplo, ampliando o plento, isso não termina nunca mais. E todas as nossas recepções são assim. Ora, em contrapartida, a nossa memória funciona isolando, fazendo abstração de determinados aspectos e guardando este para que você possa referir a ele novamente. E se não fosse isso, nós não conseguimos pensar em absolutamente nada, nem nos recordar de absolutamente nada, porque para recordar qualquer detalhe, nós teríamos que pensar em tudo ao mesmo tempo e teríamos invadido por uma infinidade de informações que paralisaria na nossa pensamento. Então, eu dei feliz da filosofia, se percebeu isso que esse mecanismo de abstração é essencial para o ser humano. Mas, ao mesmo tempo, a abstração não isola só um objeto determinado, e isso é a coisa importante, ou até o mais importante da coisa. Ela não isola só o esquema de uma coisa, de um fato, de um ser, mas ela aprende a forma essencial desse ser. Quer dizer, aquilo que quando aparecer outro ser, é da mesma espécie, que era de ser repetido de mesmo modo. Então, através de abstração, é uma limitação, mas ao mesmo tempo é uma ampliação. Ela recorta um fato, um ser e recorta o seu objeto do cenário horizontal, onde ela está, e amplia a sua dimensão vertical, a dimensão da sua universalidade. Então, tudo que o ser humano faz e pensa e concreve, é através desses dois mecanismos. Você isola um ser dos outros que o cercam, do seu cenário, da sua atmosfera, do seu meio, pensa nele e isolada-mento, mas ao mesmo tempo você pensa nele e isolada-mento. Você aprende nele a forma essencial que o conecta a todos os entes da mesma espécie, portanto, você aprende ali o conceito ou essência daquele ser. Então, você aprofundou tremendamente a compreensão. Você vê, não tem nenhum animal que faça isso. Alguma, vamos dizer, abstração fática, os animais fazem evidentemente, eles conseguem separar uma coisa da outra, senão conseguiriam se orientar no mundo físico. Mas essa abstração conceptual, chegar a um conceito que possa, inclusive, ser verbalizado, isso aí nenhum animal faz. Ao definir qualquer coisa que você tenha visto, você está por um lado recortando, você está separando, mas por outro lado do seu está inserindo dentro da ordem dos conceitos. Você está, certamente, tornando, portanto, pensável e cognosivo numa escala de universalidade. Qualquer obra de arte narrativa ou poética, ela vai fazer exatamente isso. Ela vai isolar determinados fatos que não sucederam, mas poderiam ter sucedido. E vai mostrar-los independentemente de outros fatos. Quer dizer, o limite do enredo de uma história são os limites do próprio livro, o limite do texto. Quer dizer, o termino do texto terminou os fatos. Não há mais nada ali. Se você pensar, por exemplo, pega a história Raskolnikov, o que você sabe Raskolnikov? Solke está escrito no livro, não tem mais nenhuma informação externa. Mesmo que o personagem referido seja um personagem real, que você conhece por outros meios pela história, Solke está contado dele, é o que está ali no livro, o que não está é outro livro, outra coisa que você não tem muito como relacionar com aquilo. Se você pegar, por exemplo, a biografia de Napoleão por Dmitry Merejkovski, que é uma coisa absolutamente notável, você pode distinguir entre o Napoleão histórico e o Napoleão do Dmitry Merejkovski, que é diferente de outros Napoleões, por exemplo, do Leon Blas, ou o Napoleão dessa biografia monumental que saiu agora do Andrew Roberts. Quer dizer, cada um tem o seu Napoleão. E esse Napoleão de cada um é composto somente do que está escrito, não tem mais nada. Se você acrescentar alguma coisa é outro Napoleão. Então, é isso que nos permite pensar o Napoleão, porque se você for pensar o Napoleão real, o seu Napoleão só se compõe daquilo que você sabe dele, não se compõe do que eu sei dele, embora você possa assimilar o meu também. Então, você pode enriquecer a sua imar Napoleão usando o que você lêu aqui, lêu ali, ou o que você me ouviu falar. Mas, este sentido que dá uma forma ao que na realidade não teve forma nenhuma, é que permite pensar e aprofundar o seu conhecimento a respeito. Se não fosse isso, para você lembrar qualquer coisa, você teria que lembrar de todas as outras. Então, em tudo tudo você vê a operação deste mecanismo, dessa capacidade de abstração que nós temos. E a obra de arte narrativa tem uma característica que, por um lado, ela isola alguns elementos, e, portanto, dá um sentido de forma repetível e forma... para toda vez que você lê o livro, é o mesmo livro, deve ser ver a história, é a mesma história. Então, dá uma forma repetível e, portanto, memorizável. Há coisas que, se se passassem na realidade, seriam muito mais difusas e muito menos definidas do que estão na história. Até que ponto é possível você fazer isso com fatos reais? A resposta é, não é possível, porque quaisquer fatos reais têm conexões internas e externas, sem as quais ele não poderia ter acontecido, e que, por sua vez, também não tem limites. Isso quer dizer que se você impõe uma forma a um fato, você pode deformá-lo completamente. Então, vai predominar ali o trabalho da sua imaginação e a realidade do fato desaparece. Mas, em toda a literatura de ficção, você vê uma tensão, ou até certo ponto, um equilíbrio, entre a complexidade real e a forma que aquilo vai adquirir. E é isso que vai distinguir, é o principal critério distintivo da boa, ou grande ficção, da ficção vulgar. Se você pegar um mau escritor de ficção, uma das duas coisas vai predominar. Ou a forma está a capenga, ou a forma engole o fato e mata a sua complexidade, a sua requeza e a simpregência. Todo personagem humano, ele tem, evidentemente, dentro da sua alma e da sua conduta, mil componentes diversos, autocontraditórios, e que são irredutíveis, a uma forma simples. Você pode tentar, às vezes, na conversação diária, nós às vezes resumimos o que nós sabemos de uma pessoa com uma palavra, fulanaís, fulanaquilo, mas nós sabemos que estamos mentindo, porque ele só é aquilo desde o seu ponto de vista e desde o ponto de vista daquele momento, e não na sua realidade efetiva. No entanto, o esforço da ficção é por abarcar o máximo da complexidade real dentro de uma forma identificável. Não há nenhuma outra operação no mundo que possa fazer isso, nem mesmo a arte da história, nem mesmo a ciência histórica ou a ciência das biografias, nada disso pode fazer, mesmo porque, ao escrever uma biografia, você só sabe aquilo que está de algum modo documentado, ou que foi narrado por testimonias, e isso não completa os fatos. Por exemplo, as conjeturas que um personagem fez e que o levaram a decidir tal, qual coisa e agir de tal, qual maneira. Nós só conhecemos o produto final do ato, ou aquilo que o próprio personagem tiver contado, sobre os pensamentos que o levaram a agir de tal, qual forma. Você sempre fica faltando, e é por isso mesmo que os historiadores são sempre obrigados a usar recursos da literatura de ficção, ou seja, sou obrigado a imaginar. Então, até se você constrói a sua história com base em fatos, documentos e testimonhos reais, até aí você vai proceder como um escritor de ficção, porque não há outro jeito de fazer essas coisas. Mesmo que seja uma autobiografia. Mesmo numa autobiografia, ao escrever só autobiografia, você tem que imaginar muita coisa, porque você não lembra. Então, você esquematiza de uma maneira que não corresponde exatamente aos fatos como se passaram, mas ao que se parece ao máximo com aquilo. Quer dizer, você tenta, ao mesmo tempo, ser fiel aos fatos, mas tenta simplificá-los de modo que eles se tornem narráveis? Se você imaginar, por exemplo, você saiu de casa para ele falar com a namorada, de uma quanta coisa passou no caminho, quantas coisas ele viu, tudo isso faz parte do acontecimento concreto. Mas ele não pode contar tudo isso, em parte porque ele não lembra, porque do ponto de vista dele não corresponde ao objetivo do que ele está querendo contar. Ora, este objetivo, ele não é determinado pelos fatos, é determinado pela decisão do narrador, na hora que ele está narrando, mesmo que seja a sua própria história. Eu vejo, por exemplo, eu tenho tendência natural ao contar minha história, reforçar os aspectos cômicos ou absurdos da coisa. É uma tendência que eu tenho agora, não que eu tenho na época dos fatos, inclusive fatos que podem ser muito tristes, deprimentes. Eu tendo a ver a coisa pelo lado cômico, mas é uma tendência do narrador e não do person... É o mesmo Olavo que está lá, mas é um Olavo como narrador e não um Olavo como personagem. Então, o narrador toma várias decisões seletivas, ele vai selecionar determinado aspecto e o outro ele vai ter que inventar para colar as partes que estão faltantes, que podem ser sumidas à sua memória, não deixam registro. Então, isso quer dizer que a ficção é uma atividade que acompanha o ser humano em toda a sua compreensão de si mesmo, em toda a sua orientação no mundo, não há outra maneira de fazer, só que, seguindo, tem algumas pessoas que se especializaram nisso. E é com elas que nós aprendemos esta arte. Você vê aqui, na arte do romance, por exemplo, que é a forma de ficção mais próxima de nós ainda, o romance, ele aparece a partir do século XVII, XVIII e... mas só alcança uma perfeição no século XIX, e a sete prossegue dentro do século XX, então ele está mais próximo de nós do que o gênero trágico, por exemplo, do qual a aristóteles se refere mais frequentemente. Então, na arte do romance, é absolutamente essencial que tudo se passe de maneira que poderia ter acontecido. As coisas não podem ser absurdas, quando eu digo absurdas, e bom, isso foi uma história fantástica, uma história totalmente imaginária que não pretende ser verdadeira, assim ela tem de ser coerente com os próprios princípios que ela lançou. Neste, então, por exemplo, se o personagem vira no bisómetro e diz, bom, ele está vira no bisómetro e não vai virar um papagaio, uma miócaga, ele tem que ter uma consistência que convença o leitor o ouvinte de que vale a pena continuar ouvindo aquela história por algum motivo, está certo? Mesmo que a história em si seja absurda, ela não pode ser absurda interiormente, ela só pode ser absurda em face do mundo externo. Pode ser coisa que no mundo real não acontece, mas que são coerentes com a própria proposta ficcional inicial. Já certamente, então, existe um jogo muito complexo entre a coesão da narrativa e a verocimilhança dos fatos. Os fatos para a ciência e verocimis, ele precisa levar em contas ambiguidades, contradições, não pode ser um tratado ilógico, nem um personagem de história, foi jamais um tipo cuja conduta você possa deduzir a partir de certos princípios. Se você ler Don Quichote, por exemplo, você diz, bom, Don Quichote é louco, mas frequentemente ele percebe as coisas com uma cuidada muito maior do que a nossa. Então, ele é meio louco, meio sábio, um termino, uma coisa, um termino, outra, você não sabe. E é isso que dá realmente o interesse do personagem. Se você traça um personagem mal, por exemplo, quando você lê ali o Dr. Givago, existe aquele personagem, o Komarowski, que ele é um sujeito mal, um carreirista, ele está bem na época do Tsarismo e ele se dá igualmente bem no comunismo, porque ele sabe manejar as pessoas. E o Komarowski está muito interessado, tomar a personagem Lara como sua amante. Eu digo, o Komarowski é mal, às vezes é mal, mas às vezes é bom, ele tem algo de bom no amor que ele tem por aquela moça. Ele protege algum modo e no fim é ele que salva Lara e o Dr. Givago. Então, ele tem uma ambiguidade, tem uma tensão. O Kyo torna realmente interessante. Ele não é uma caricatura. Quando ao contrário, você quer fazer uma sátira, você vai exagerar na simplificação do personagem. Se você pegar o personagem de mulher, o avarento, ou pegar ele no Bom Marché, o Barbeiro de Sevilla, eles são reduzidos aos seus aspectos essenciais justamente para dar um efeito caricatural. O efeito caricatural é obtido por um distanciamento que você tem o personagem, que é um personagem que você não se identifica, você é o contrário dele. Se o personagem é ridículo, você acha ridículo porque você não se acha ridículo. Embora você possa às vezes usá-lo como um corretivo da sua própria conduta, mas no personagem cômico você tem uma inversão da sua ligação afetiva com o personagem. Você se distancia dele e justamente por isso ele parece cômico. Se você introduzisse os outros elementos conflitantes, ele deixaria de ser ridículo, passaria talvez a ser um personagem com o movimento. Isso aqui não é o que você quer. Então, também aí você, esse jogo da simplificação cômica, também tem o seu limite. Você vê aqui no próprio Don Quixote, existe por um lado uma simplificação, quer dizer, o Don Quixote, no início, ele é reduzido ao sujeito, que leu livros de cavalaria, note bem, numa épting que já não havia a instituição da cavalaria. Você pode lembrar que a cavalaria foi, essa é a ética de cavalaria, foi criada pela igreja para disciplinar moralmente a casta aristocrática guerreira, que era um bando de bárbaros brutais, etc. Então, a igreja inventa o personagem da dama, a qual ele vai dedicar todos os seus gestos, seus sacrifícios, e ele vai melhorar moralmente no curso da experiência. Você assiste o filme Excalibur, você vai ver o que era tal da ética de cavalaria. Num fã de esquecer que a cavalaria, porque a arma principal era evidentemente a cavalaria armada, porque os homens com armaduras, espada, lança, machado, porrete, etc. não havia armas de fogo. Então, o poder do Estado se media por um lado pela sua armada, pela sua marinha e por outro lado pela sua cavalaria. E essa casta se forma durante as invasões bárbaras, onde no curso da resistência às invasões bárbaras, algumas pessoas se destacavam e depois a comunidade, em gratidão, lhe dava terras, dinheiro, etc. E acabam formando uma casta governante. Só que isso dura algum tempo, onde surgem primeiros novas armas, que eliminam a necessidade dessa casta, quando surgem as armas de fogo. Então, o treinamento que o soldado ia ter é completamente diferente desse. E por outro lado, o progresso da arte da navegação, criaste-me, essas grandes viagens descobertas, etc. onde você estava em país longínquo, onde não fazia o menor sentido, você tentava manter a mesma ética que fundava o equilíbrio das sociedades europeias. Então, tudo isso vai corroindo a ética de cavalaria e chega a uma época em que aquilo tudo que era belo, inspirador, na época anterior, se torna ridículo. Se você começa a rir daquilo. E justamente nesse momento tem lá esse aristocrata falido, que é o Don Quichote, que começa a ler essas coisas, e ele decide ser um cavaleiro andante numa época que já não existia um cavaleiro andante. E tudo decorre disso. Então, você tem uma simplificação inicial. Ele é reduzido inicialmente à sua loucura. Isso torna cômico. Porém, ao longo da história, ele tem vários lances de uma percepção tão profunda das coisas que você vê que tem razão a ele. O louco tem mais razão do que os outros. Tanto que ele mesmo diz. O lema dele é louco ou sípero, não tonto. Então, eu sou louco, mas não sou idiota. Então, mais ou menos nos termos do Aaron Jennings, eu sempre fui louco, mas foi isso que me preservou da insanidade. Então, nós fazemos aqui o Don Quichote, ele começa com a proposta cômica, mas ele é a profunda no sentido dramático. Então, sem essa capacidade de manejar os dados dessa maneira, nós não poderíamos pensar sobre nada. Aí você vê que o elemento principal da arte e da ficção, seja na comédia, seja na tragédia, seja no romance, é sempre este jogo entre a coerência da forma e a fidelidade, a realidade dos fatos. Sempre tem isso, está certo? E isso tem várias maneiras de você lidar com isso, privilegiando um, privilegiando outro. Mas nós precisamos disso para pensar os historiadores, os sociólogos, os economistas têm que raciocinar exatamente dessa mesma forma. Se você vê toda a sociologia do Max Weber, baseado no método que ele chamava, o tipo ideal, o que é o tipo ideal? Você pega uma determinada conduta humana e você a separa de todas as outras, sobrando nela só o que é estritamente coerente com os seus princípios. Por isso que chama um tipo ideal ou não um tipo real. Por exemplo, o tipo ideal do burguês que é o sujeito que vive para o lucro. Ninguém vive só para o lucro, se ele tem mil interesses, inclusive na relação com a sua família, com a sua amante, ele não vai ver o lucro, ele está visando uma coisa completamente diferente. Mas se não fizer esse isolamento dos tipos ideais, então significa que a variedade humana se torna tão ilimitada que você não tem como pensá-la. Então você traça vários tipos ideais sabendo que eles, quando eles se encarnarem na realidade, serão muito mais complexos e muito mais ricos do que você está fazendo isso. Isso é todo um método. Quando Karl Marx, no início do capital, vai tentar descrever a estrutura do sistema econômico, ele reconhece que a coisa de uma riqueza e complexidade inabarcável, e tem o que nós temos que usar, o que é a força da abstração, então o capitalismo que Karl Marx descreve é constituído só de alguns mecanismos do capitalismo. Ele está pegando apenas o mecânico da produção e comércio em mercadorias, é só isso que ele está pegando. Agora, é possível você fazer uma sociedade só com isso? A sociedade não tem linguagem, não tem religião, não tem hábitos, não tem valores, não tem criminalidade, não tem milhões de fatores que não tem nada a ver com isso. Então quer dizer, o capitalismo de Karl Marx é um tipo ideal. É isso? Ora, eu soube não saber usar o tipo ideal se ele não estivesse consciente do contraste entre o tipo ideal e a realidade. O tipo ideal, por um lado, copia certos traços da realidade, mas os exagera. Karl Marx, vergonha, exagerar é a minha profissão. E os exagera para torná-los mais nítidos e pensáveis, mas ao aplicar a análise da realidade, ele vai ter que introduzir outros elementos que não estavam no tipo ideal, ou próprio Karl Marx faz isso. Então, por exemplo, quando Karl Marx diz que todo o universo da cultura, do pensamento e das artes é uma superestrutura, da atividade econômica, o essencial é a atividade econômica, ele mesmo reconhece que não, o peso da atividade econômica predominará em última instância, mas quando é essa última instância, ele não diz em parte algum. Então ele está reconhecendo que existem outros elementos que interferem. Mais tarde, o historiador marxista, inglês, e P. Thompson tentando dizer o que era um proletário, ele chega à conclusão de que é impossível você distinguir um proletário só por traços econômicos. Sempre estaria introduzindo hábitos, valores, linguagem, etc. para você saber se o feito é um proletário ou um classe média, um burgueso. Então, e de certo modo, o próprio Karl Marx estava consciente disso, porque ele diz, é verdade, toda a cultura e tantas artes são superestruturas, uma infraestrutura que em última nada é determinada na tudo, mas isso não explica, e ele reconhece que não explica, o fato de que, por que você ler obras produzidas numa sociedade extinta, numa situação econômica totalmente diferente da sua, e elas ainda mexem contigo? Ele diz, por que nós nos interessa, por escuelos, sófocles, ou até por Shakespeare, se a nossa situação não tem nada a ver com a delas, ele reconhece que existe uma tensão ou uma contradição ali. Então, o raciocínio dele é exatamente o raciocínio do escritório de ficção, o mesmo. Então, tanto faz você fazer ficção com uma história que você inventou completamente, quanto você fazê-la com dados da realidade, você pensar bem toda a nossa narrativa dos fatos, é sempre, tem sempre um elemento ficcional, porque sem ele não podemos pensar, e os procedimentos que nós usamos são os mesmos do romancista, do contista, do dramaturgo, etc. É sempre assim. Também, eu acabei de usar uma frase, mesmo que você cria uma história totalmente imaginária, existe uma história totalmente imaginária? Não, não existe, porque ele já dizia a Histórica que tudo que está na nossa memória, um dia entrou pelos nossos sentidos de alguma maneira. Então, sempre você vai pegar elementos da realidade do ficcionalista, vai pegar tanto quanto o historiador. Existem casos extremos, como por exemplo, Thomas Mann, Thomas Mann era um homem notavelmente destituído de imaginação, então, tudo que você lê nos livros dele, ele lê em algum lugar, pegou daqui, pegou do jornal, pegou de uma coisa que ele ouviu no rádio, pegou de uma coisa que alguém falou para ele e vai juntando aqueles pedaços e cria a história. E se você lê ali por Budenburg, Budenburg é a história de uma família, e a história é sua, tão maravilhosamente natural, que parece que você está vendo aquelas, parece que você conhece aquelas pessoas, né? Mesmo na montanha mágica, onde ele cria aqueles dois tipos extremos, são tipos ideais, né? É o Nafta e o Setembrine, o Nafta é um jesuita comunista, e o Setembrine é um mação liberal, ele fez questão de colocar em cada um o que, cada um é definido pelo o que? Por uma contradição, e não por um traço linear coerente. Os dois, quer dizer, se o Negamação, então ele está dentro da tradição revolucionária, e ele vai terminar no comunismo de algum modo, mas o cara não, ele é contra o comunismo, ele é liberal, e o jesuita, você vê, esse româncio foi escrito no começo do século, quando você vê depois os jesuitas inventarem a teologia da libertação e corromperem a igreja todo com o negócio comunismo, porque treco mais profético, mas é que ele pegou essa contradição, ele viu que essa contradição estava dentro da vida da igreja naquele momento, e que ela cresceria, então isso quer dizer que o personário do padre Nafta tem um valor científico fora do comun, porque ele pegou exatamente a contradição que ainda não tinha se manifestado, mas que era o que? Como dizia Aristóteles, algo que poderia acontecer, e de fato aconteceu. Então, então esse é o primeiro motivo para você, pelo qual nós precisamos da literatura de ficção, porque se nós nos habituamos a ler somente livros de filosofia, sem socias, etc., nós não estamos conscientes do elemento ficcional ali dentro, o que significa que nós tomaremos tudo num sentido literal, plano e raso, e acreditaremos que o capitalismo de Karl Marx realmente existe, que a tal da ética protestante realmente existe, e vamos tratar como coisas, essas criações da imaginação humana, e perderemos justamente a tensão entre essas formas e a realidade, mas na análise da realidade, tudo está nessa tensão, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo. É por isso mesmo que nenhuma fórmula tomada linearmente jamais funciona, entende? É uma arte sutil, em parte você vê este mesmo problema na pintura, você vai pintar um retrato, por exemplo, de, bom, você tem que dar ao personagem a retratar de uma forma, essa forma certamente não é a dele na realidade, mesmo porque o personagem é tridimensional, e você vai passá-lo para o plano, então, mas tem que ser uma forma que ser fiel à realidade, mas que ao mesmo tempo não dependa dela, tenha sido criada inteiramente pelo artista, com linhas e cores e tintas, você vê, é um negócio químico que você vai usar, então o retrato evidentemente, ele não é a pessoa, ele tem algo da pessoa, mas ele tem algo dele próprio, então você tem a técnica da pintura para um lado e você tem a capacidade visual do pintor por outro, e essas duas estão numa tensão permanente, se você fosse a ter a realidade, então em primeiro lugar você não poderia pintar coisas que se movem, você só poderia pintar naturezas mortas ou modelos que ficam paradas, mesmo as modelos que ficam paradas não ficam muito paradas, eu já desenho com o modelo, quando eu estudava desenho tinha isso, tinha a minha pelasa, você dava em cima da mesa e ficava lá, mas ela mexia um pouquinho e atrapalhava tudo, então esse meu problema existe também na arte da pintura, ou se você tentar imitar qualquer pessoa, se pega um cômico que está tentando imitar, sei lá, um candidato presidencial, um personagem famoso, etc. Ora, a imitação tem uma forma e essa forma não é a do personagem imitado, mas ela tem que conservar algo do personagem imitado, do mesmo modo em qualquer raciocínio científico que você faça, se você vai delimitar um campo para estudo, de muito bem, eu vou ter que distinguir entre o campo do meu estudo e um outro campo, então por exemplo, eu estou estudando a coisa do ponto de vista físico-químico, por exemplo, de muito bem, essa diferença existe na realidade, existe em parte, mas em parte o elemento físico, o elemento químico se mescla de maneira indisserniva, o meu motivo pelo qual existe um tranco chamado físico-química, então a ciência impõe a realidade os limites da sua abordagem, aquilo que o Zicola chamava seu objeto formal, então se tem o objeto material, que é aquele objeto que você encontrou na realidade, e você tem o objeto formal, que é o que você vai estudar dele, se você fosse ser fiel ao objeto material, 100%, todas as abordagens do mundo não seriam suficientes, você vai estudar uma vaca de muito bem, você vai estudar a vaca do ponto de vista, vamos dizer, biológico, zoológico, físico-químico, econômico, estético, não termina mais, então você tem que fixar um ponto de vista, esse ponto de vista está na vaca, não está em você meu Deus do céu, então é um negócio totalmente subjetivo para você estar impondo a vaca, está certo? Mas você vai impor essa perspectiva sem deformar o objeto, então você tem também a tensão entre o elemento ficcional e o elemento real, isso existe em todas as ciências, se o sujeito não tem prática de literatura, é sempre que ele não sabe fazer isso, porque ele vai acreditar apiamente que o ponto de vista da ciência dele é a realidade, mas o ponto de vista da sua ciência fosse a realidade, não existiria outra ciência, meu Deus do céu, sobretudo não haveria conhecimentos científicos irredutíveis uns aos outros, isto é uma das coisas mais lindas que tem ali nas investigações lógicas de Edmond Russo, ele dizia que os objetos reais se compõem de aspectos que são irredutíveis a princípios comuns, ele diz, ele usa até a frase, ele diz, não existe uma imbriologia dos triângulos nem uma trigonometria dos leões, ou seja, não tem jeito de você reduzir o leão a princípios trigonométricos, está certo? Nem de você pesquisar a gestação de um triângulo no ventre da mãe dele, então o que significa que essas duas dimensões, esses dois aspectos ontológicos estão, definitivamente, totalmente separados, não são fungíveis, então se você falar, e hoje em dia você fala muito de interdisciplina, de uma, tudo isso, aí é um idealismo, interdisciplina, significa que você vai juntar vários pontos de vista, e vai filosofar em cima, é só o que você vai fazer, não é possível você reduzir todos os conhecimentos científicos a princípios comuns, a famosa teoria geral da física, ela não existe, e na verdade ela nunca vai existir, e se ela existe, ela não vai explicar absolutamente nada, então a tendência unificante do ser humano, ela nasce pelo fato de que nós estamos num universo ilimitado, onde os processos todos sucederam ao mesmo tempo, e fora do nosso controle, e para podermos ter algum controle sobre o curso das coisas, bom, precisamos isolar, porque nossa ação é limitada, portanto, a esfera de ação, onde você vai atuar, também tem de ser limitada, então isso quer dizer que em todas as ciências, em todas as artes, em todas as técnicas, em todas as ações humanas, você tem exatamente o mesmo problema do ficcionista, você tem que criar uma forma para isolar o objeto e torná-lo pensável, e torná-lo dominável de algum modo, mas por outro lado você não pode violar a complexidade da coisa impondo sobre ele a forma inventada, então existe alguma outra atividade humana na qual você possa treinar isso aqui, de bom, existem as artes, por exemplo, você pode treinar pela pintura, mas você sabe, a pintura só vai pegar o lado estático das coisas, ela não vai pegar o movimento, então eu vou fazer esse lembro, digo bom, mas o sininho você está limitado às possibilidades técnicas da câmera que você vai usar, ela vai indeterminar em grande parte o que você vai filmar e o que não vai, então na verdade a única atividade humana que ao longo dos tempos desenvolveu essa tecnologia, esse equilíbrio entre forma e matéria, entre objeto formal e objeto material, é só literatura, não há outra que tenha levado isso a tal ponto, portanto se o sujeito não tem este treino, o que ele vai fazer é coisificar todos os conceitos da sua ciência, da sua área de atuação, então significa que ele está prostrado dentro desses conceitos como se eles fossem realidades, meu Deus do céu, é uma crença ingênua, o indivíduo não sabe a ambiguidade, os limites do seu aparato conceitual, então ele usa de uma maneira idolántrica, na verdade, isso no Brasil isso é endêmico, o nego estudo do economia, é feito com que os conceitos da economia são coisas, estudou física, que os conceitos da física são coisas, se você pegar todo o grande físico ele sabe que não é assim, ele sabe que há esses outros problemas, está cheio de ambiguidade, de problema, mas você verá, porque os grandes físicos eram todos camaradas de grande cultura, filosófico, artística, etc, etc, com Werder Heiseberg, Richard Feynman e outros, se você pegar para as conferências do Richard Feynman, que foi um dos grandes físicos das últimas décadas, tudo que ele escreve está tão cheio de ambiguidades humorísticas, que você vê, não foi estudado física que esse cara aprendeu isso. Então, este é o primeiro motivo, só existe uma atividade humana que dá a você o correto treinamento na tensão entre forma e matéria, entre objeto, material e objeto formal, só a literatura faz isso. Mas existe um segundo motivo, está ligado ao primeiro e é o seguinte, uma criança pequena aprende em média de 800 a 1000 palavras por ano, então você imagina a ampliação do mundo que vai acontecendo na mente dela, a medida que ela absorve mais palavras e consegue se referir a coisas que antes lhe apareciam como puros mistérios inexplicáveis, e vai passando de uma mera absorção passiva das sensações para uma manipulação inteligente, ativa e criativa, está certo, do seu ambiente. Então, vamos dizer que uma criança, em seus 3 ou 4 anos ela sabe mais 3 ou 4 mil palavras, você imagina o salto que isto é, primeiro você pega aquele bichinho, nudo, cego, burro, que não sabe nada, e que não está entendendo absolutamente nada, e apenas 3 anos ele já consegue manipular as pessoas, as agências, as coisas, é um negócio monstruoso, quer dizer, uma ampliação do horizonte absolutamente formidável. Ora, ainda que você aprenda muitas palavras, você pode passar a vida agindo como se as palavras correspondessem realmente às coisas. Então, a maior parte das pessoas hoje, no Brasil, usa a linguagem como se entre as palavras, as coisas, as situações, existir uma correspondência biounívoca. Cada palavra só significa uma coisa e significa sempre a mesma coisa. Então, isso aí não é uma linguagem, isso é um vocabulário técnico convencional. O que sai da convenção os retos entendem e para ele não existe. Como você vencer esta limitação? Só tem uma, só tem a literatura de ficção, por que? A literatura de ficção é a atividade que melhor dá ao indivíduo a noção da complexidade e riqueza da linguagem, justamente porque ela se compõe de histórias imaginárias. Se nós pudéssemos, vamos dizer, narrar apenas fatos acontecidos, tudo que nós narramos está ali limitado à nossa experiência pessoal. Não podíamos ir além dela de jeito nenhum e, portanto, não podíamos nos comunicar com outras pessoas. É só através do imaginário que nós podemos sondar outras situações, outras possibilidades, outros estados de coisas, outros dramas. E justamente ao sondar isso, o escritor vai usar uma linguagem no qual cada palavra vai se carregar de novos sentidos que existem somente naquele contexto que ele está dando. Isso quer dizer, para cada obra de ficção, cada palavra usada tem um novo sentido que não está adicionalizado e que só pode ser aprendido naquele contexto. Se você pegava, um exemplo extremo disso, os poemas de Stefan Malameck, que são uma verdadeira maravilha, aqueles poemas não querem dizer nada. Você não sabe daqueles que se referem, aqueles objetos que se referem, quando ele fala de cisnes, você não sabe se é um cisne, fala de nuvem, você não sabe se é a nuvem, e no entanto, eles produzem uma emoção profunda. Isso quer dizer que todas aquelas palavras adquiriram para você, naquele momento, um significado emocional e afetivo que só existe naquela leitura, mas que graças ao Malameck se incorporam na linguagem geral. Entendeu? Se você pega uma palavra simples para não achar, você vê que nos romances do Ostoé, as pessoas ficam discutindo no ententeiro, tomando ovo a de Uxá, e em quantidades absurdas. Então, Uxá está ligado de algum modo àquela atividade verbal e debatedora deles, está ligado à sua imaginação. Então, Uxá passa a significar algo que não pode significar, é dizer, só enquanto vegetal, é um algo mais. É por isso que uma vez que eu escrevi, eu digo só aqui nos Estados Unidos as pessoas bebem cafeína, porque eu bebo café, e o café está ligado para mim, aquelas longas noites no interior, que as pessoas ficam contando a história de fantasma, que o Caipira Paulista adora, não sei se outros Estados também, que o Caipira Paulista adora a história de fantasma, que passa a noite inteira bebendo café e contando histórias fantasma. Então, o café está ligado a isso para mim, está ligado a toda uma cultura paulista, está ligado a um determinado aroma do café, que o café não tem no café, que é feito na máquina do bar, está ligado a tudo isso, tudo isso é o café, meu Deus do céu. Agora, o americano só bebe a cafeína, ele tanto faz beber café, cháu, qualquer outra coisa que tenha cafeína, ele está bebendo uma abstração, o que é materialmente impossível. No entanto, parece muito científico isso aí. Então, você vai dizer que aquela bebida ela tem um efeito só pelos seus poderes químicos? Não, tem muitas outras coisas que estão ali juntos. Se você ver, há maneiras diferentes que as várias culturas manipulam o cháu, o café, você vai ver que significa coisas muito diferentes para eles. Por exemplo, o café árabe tem de ser, como dizia o Mamamé, tem que ser negro como a noite e amargo como a morte. Não é esse café que eu tomo, é? O nosso café é doce, é outra coisa completamente diferente. Então, eles estão tomando café por um motivo, ou por outro motivo, certamente o café vai ter um efeito nele e outro efeito em mim. E assim por diante. Então, quer dizer que todos os objetos designados pelas palavras, eles podem ter diferentes valores, diferentes pesos semânticos, está certo? É inúmero, na verdade, ilimitado. Então, se a criança que aprendeu aquelas poucos milhares de palavras no início, não desenvolve esta capacidade em enriquecer esse significado pela experiência imaginária, ele nunca vai entender o que eu estou falando. Ele vai tratar sempre tudo no plano e no raso, na base da correspondência bilnívoca. E isto fará dele um idiota perfeito. Não há maneira de sair disso exceto a literatura de ficção, poesia, teatro, romance, conto, etc. Justamente porque ali, se tratando de uma exploração linguística do imaginário, o escritor não está travado pelas denotações dicionalizadas das palavras. Ele pode usar quantas denotações ele queira. E para ler aquilo, você vai ter que adquirir essas novas denotações, que só existem naquele livro, naquele texto que você está lendo, e não existem em outro, e que não é dicionalizável de maneira alguma. Quando você pega, na verdade, você pega um dicionário, eu uso muito o dicionário grego do Bahia, e ele dá uma palavra e coloca ali diferentes sentidos, que a coisa teve em vários textos literários. Mas ele pega só algumas amostras, ele não pega todos os textos. E para cada uma ele vai assinar lá somente um sentido, e não dois ou três, que o escritor, mesmo o escritor, pode ter dado outro sentido em outro inscrito. Então, isso significa que, se não temos experiência da literatura de ficção, nós estamos presos a uma noção rasa, plana e chata da linguagem. E somos os escravos da linguagem. É isso que vai tornar as pessoas imensamente crédulas, porque elas permitem que as palavras tenham um efeito direto sobre elas, sem passar pela representação do objeto, não precisa passar pela representação do objeto, porque o significado já está fixado na mente delas de uma vez para todos, por todos. Então, entenderam? O escritor sem prática literária, sem experiência literária, ele simplesmente não sabe falar nem ouvir. Não adianta ele, ele não pode adquirir isso, se ele vai ler, por exemplo, o Max Weber, vai estudar Max Weber, não adianta, porque o Max Weber está buscando justamente sentidos fixos para determinadas palavras. Esses sentidos podem ser convencionais, mais ou menos baseados na experiência real, mas convencionais para os fins daquela ciência em particular, que não são de uma ou outra ciência. E assim por dentro. Portanto, se você for adquirir o seu treinamento, e tão lendo livros de direito, é que você vai ficar maluco e burro pelo resto da sua vida. Então, nós sabemos, por exemplo, a importância que na argumentação jurídica tem o significado dicionalizado das palavras. Então, sem experiência literária, você é um escravo do dicional. Não tem saída, gente. Então, por isso que a formação de qualquer inteligência começa com uma vasta e contínua e, na verdade, interminável experiência literária. E ela é importante justamente porque é literatura de ficção. Se nós fossemos nos a ter a narrativa de objetos reais, por que, a lugar que temos que utilizar recursos técnicos da ficção? E, em segundo lugar, nós jamais poderíamos explorar esse potencial de novos significados que as palavras podem adquirir ao longo do tempo. Então, você vê que o fenômeno do analfabetismo funcional se tornou endêmico por causa disso. As pessoas lêem jornal e lêem os livros da escola e não acabou. Mesmo que o método usado e a alfabetização não fosse o maldito só se construtivismo, ia ter o mesmo resultado. Dê para entender? Então é isso. Vamos fazer um intervalo e depois voltamos com as perguntas. Então, vamos lá. As perguntas hoje estão muito interessantes. Primeiro lugar que é de Garcia pergunta. Uma vez o senhor mencionou a publicação da enciclopédia britânica de Trabalho de Científicos do Mema... Não, não é uma enciclopédia... publicação de Trabalho de Científicos. É o Anoário da Eniciclopédia Britânica. E lá no meio tem a lista dos prêmios científicos. É só procurar anoário da enciclopédia britânica. Você vai achar isso aí. Se não achar, minha vida de novo, não é coisa que eu ponho o link para você. Marcos Braulio de Souza pergunta. Estou assistindo a aula 410 minutos e 18, mais ou menos. Existe alguma relação entre isso que eu estou falando, o conhecimento que todos temos e nem sabemos, o inconsciente coletivo de Jung... Bom, o inconsciente coletivo é uma das milhares de tentativas de descrever por alto esse fenômeno. Se chega ou não a obter sucesso nisso, eu não sei, acho muito cedo para julgar. Mas muita dessas coisas não vêm do inconsciente coletivo, vêm do Espírito Santo, então não tem uma explicação humana. Adelas Bitancur pergunta. Estia a segunda aula do COFFE e tem algumas dúvidas. Perceba talvez, imagina, que as pessoas já têm grande dificuldade de perceber o que está na presença de um gênio. No Brasil, isso é quase impossível. Se aparece um homogêneo da paróquia, o que a idiota tenta se mostrar superior a ele, é uma coisa incrível. Isso eu vi com esses dois olhos, quando foi o centenário de Roberto Freire, que foi quase com certeza uma ao sociólogo do século 20, em todo o mundo. A USP sempre ignorou não falar de Roberto Freire. Quando deu um centenário, falava, agora não tenho que fazer alguma com uma seçãozinha, pelo menos para disfarçar, e fizer uma seção e me convidar. E eu cheguei lá, a pessoa estava dizendo assim, o Roberto Freire foi um social quase tão bom quanto o Florestan Fernandes. O Florestan Fernandes foi resumido pelo Guerreiro Ramos, Alberto Guerreiro Ramos dizia o seguinte, o Florestan é simples, ele é burro. Então justamente porque é burro, tem que ser insensado pelos seus colegas. Então, esta coisa de interproteção mafiosa, badalação, confete, no Brasil isso está infinitamente acima de qualquer outra consideração. Você viu que fizeram com o Márvio Ferreiro dos Santos, enterraram, viva o porra, viva o não, só depois de morto. O outro moria a Carpo, o pessoal da esquerda que puxava o saco do Carpo, precisava dele. Do amor, deu, jogava no lixo, se não fosse eu, desenterrado, ninguém mais ouviria falar de outro Mané Carpo. É assim mesmo. Os brasileiros aqui, me parece, não gostam de pessoa realmente inteligente. Eles odeiam, odeiam porque é a prova viva da mediocridade e da inépcia delas. Você leia os livros e sobretudo os diários do Lima Barreto. Se você ver uma escritora de primeiríssima ordem perdida ali no começo da República, e vê tudo quanto tem mediocridade subida, a olha a mediocridade da presidência da República, que era um fleurinho peixoto, uma besta quadrada, ele tem rodeado de bestas quadradas, todas purpuradas, todas feias de condecorações e cargos, etc. É assim, o Brasil tem essa idolatria do Estado, do cargo público, e isso foi assim pelo simples fato de que a civilização no Brasil, ela se concentrou no litoral e sobretudo no Rio de Janeiro. E nada tinha importância no Brasil se não fosse parar no Rio de Janeiro. Isso foi assim e, na verdade, é assim até hoje. Só que agora está um pouco mais diversificada. Rio de Janeiro, Brasil e São Paulo, sobretudo, a maior velocidade de São Paulo, que é a mais rica, e se acha por isso a mais importante. Nos Estados Unidos, você está cheio de escritores de importância regional, que estão pouco se lixando para Nova York, ou para Washington, pega William Faulkner, o outro viveu no exterior como Henry Miller, você não tem um centro dessa coisa, quer dizer, a cultura está espalhada, disseminada pelo país inteiro, e você não tem um centro doador de prestígio, você tem mil centros. Faneiro Conno. Faneiro Conno, sempre uma pessoa regional, nunca ligou para ir e brilhar em Nova York, nem nada. Aqui não precisa essas coisas, no Brasil precisa. Você vê todo garoto nos anos 30, né? Nós fizemos uma vergonha com os nossos alunos, várias entrevistas com escritores, artistas que tinha aparecido na ideia entre 30 e 40. Todos eles já são a mesma coisa, eu tenho que ir para Rio de Janeiro, sempre a mesma coisa. Então, isso não é que é a coisa do passado, isso continua assim, isso ainda é assim, do mesmo jeito. Você tem, ou dizer, no mundo inteiro você não tem um fenômeno como o rei de globo. Aqui no Estados Unidos, quando uma rede de televisão alcança 3 ou 4% de audiência, é uma festa. Com as sete milhares de canais, todo mundo pega 2%, 3%, 1%. Parece que chegou, a Fox News chegou, durante a eleição, chegou a 7% e 8%, foi um negócio, assim, uma oddia da vida deles. Agora, no Brasil tem um treco chamado de Rei de Globo, que tem 70% de audiência. E as pessoas permitem isso e gostam disso e se referem, elas mesmo criam a autoridade da rede de globo e seguidão vedecem. Quer dizer, esse é um fenômeno do Golem, você constrói o monstro e seguido ele manda em você. A rede de globo é um Golem, ela é o que assombra a sociedade brasileira. O velho Leonel Brisola tinha razão, olha, o futuro do Brasil passa pela destruição da rede de globo. Ele diz por um motivo, eu digo por outro, mas é a mesma coisa. Você vê, tem pessoas que começaram a sua carreira política aparecendo naquele filme do... aquele programa da Globo, como é que chamava? Big Brother. Big Brother, Big Brother. A gente sai dali e vai direto para a câmara do deputado, com o Senado, aprendendo da república para o papado. Como é possível isso? Quer dizer, é um nada, um zé mané, um bobão, etc. O cara que não tem nada para dizer para ninguém, mas foi promovido pela rede de globo, está feito. Quer dizer, a rede de globo se tornou a detentora monopolística da importância e do prestígio. Só ela dá prestígio para as pessoas, não apareceu na rede de globo, não existe. Agora, quem faz isso? Os espectadores da rede de globo. Quer dizer, é uma espécie de vício alto e inoculado. E, no entanto, você vê, por exemplo, Todas as vezes que eu fui para o Recife, eu notei que ali você tem mais vida literária, mais inteligente do que no resto do país, do que no Rio de Janeiro e São Paulo. Ela encontrei tipos realmente notáveis, dos quais o pessoal no Rio de São Paulo não tem menor notícia. Então, hoje mesmo eu comentei, não adianta você ficar procurando a raiz dos males brasileiros, no tempo da colônia, da escravil... Isso é tudo uma besteira, porque o que mais caracteriza a sociedade brasileira é a sua maleabilidade, a sua volubilidade. Ela muda de mentalidade em 24 horas, porque deu na rede de globo algum senador votou uma lei lá. É assim, no Brasil adotou esse negócio politicamente correto, com muito mais intensidade do que os americanos que inventaram. Aqui isso tem uma certa autoridade, em certos meios, mas não tem essa autoridade geral. No Brasil a coisa é aceita, de um sentido literal, raso e plano, você usou determinada palavra, você é mau. Eu digo, o que é isso? Você está conversando com um macaco, com um papagaio? Agora, veja, o ensino americano piorou muito, mas eu vi aqui, por exemplo, no ensino secundário, o Pedro e a Leila. Eles aqui leram coisa que no Brasil jamais teriam lido, porra. A alta literatura aqui é obrigatória, não tem jeito, você não vai escapar de Shakespeare, de Dickens. Agora você dá um clássico da língua portuguesa, para um professor universitario... Olha, faça esse teste, você pega o Camilo Castelo Branco e dá para o seu professor universitario ler, ele não consegue ler. Ele não tem vocabulário para ler aquilo. Vou pegar aquilo, ele não vai conseguir. Primeiro, não é que ela burrice, que foi a Semana de Arte Modernes, de 2002, que foi a ruptura com Portugal. O que é ruptura com Portugal? É a raiz da nossa língua, meu Deus do céu. Para quê? Para adotar a moda francesa. Depois foi trocada pela moda americana, amanhã depois será trocada pela moda chinesa. Então, o passado brasileiro não tem importância, nem o Brasil não tem passado, meu Deus do céu. É uma sociedade inteiramente volúvel, cujos hábitos, cujos valores são modificadas em 24 horas. Eu já conheci o Negusurfista, ele dizia, o surf é minha vida. Eu digo, mas peraí, você tomou conhecimento do surf na semana passada. Como é que isso pode ser tão profundo assim em você? Agora provavelmente já esqueceu o surf, já está em outra. Então, esta maleabilidade da sociedade brasileira torna o país totalmente vulnerável a qualquer influência estrangeira, por uma vagabunda que seja. Este é o grande problema do Brasil. Não é escravidão, não é o Brasil Colônia, não é o capitalismo, não é nada. É o seguinte, nós não temos uma classe intelectual que tenha iniciativa suficiente para processar os dados, entender o que está acontecendo e ver o que é melhor para o Brasil. Simplesmente não temos, nós só temos as idiotas que vão estudar no exterior e voltam com as fórmulas mágicas, aquele negócio impressionante. Então, o brasileiro que vai estudar no exterior piora ainda, piora, porque ele recebe uma injeção de certos conhecimentos especializados, ninguém vai estudar no exterior para adquirir cultura geral. E já volta ávido por cargos, horarias, etc., etc., então essa gente é uma peste. Por exemplo, tem um amigo que com 14 anos tem anunciado matemáticas muito superiores, aparentemente todos os meus processos da faculdade de engenharia mecânica. Ninguém gostava deles, jamais tivesse feito alguma coisa, isso é verdade. É assim mesmo, o cara demonstrou talento, os que pensaram que era em matá-lo. Você vê que contigo o meu irmão, o meu irmão conseguiu, eu acho um energênio matemático. Socialmente é um zemané, mas ele descobriu uma fórmula para fazer um cálculo que era considerado impossível, até mesmo por computador, que é o cálculo de otimização de capital de giro. São tantos que nem o computador aguenta, ele inventou uma fórmula e a fórmula funciona. Levou para um grande matemático brasileiro, professor, não sei da quanta faculdade, não vou dizer o nome do cara, o cara pro meu irmão ri o da cara dele, ele falou, não, isso é impossível, não, por isso eu leito. Nesse momento eu vou lá, o professor diz, é, eu aprovo isso, mas só se você me der participação. O que é isso? É um grande método? Não, isso é um picareta bem sucedido, é isso que o sujeito é, não é nada mais do que isso, porra. Você vai se aproveitar de um aluno, um ex-aluno, que fez o que ele não conseguiria fazer, é sempre assim. Eu sei ver por lá, as pessoas querem que eu vá debater com o Leandro Espírito, o comar, o Sergio Mortadella, eles estão brincando, gente, porra, eu adoto o Leandro Dorghichot, e eu sei quem sou, porra, eu não sou nada, mas eu sou muito menor que esse cara, porra. Veja algumas pessoas que têm inteligência acima do comum, por não serem bem recebidos pelos outros heróidores, esses níveis deslocados do meio que vivem, a cama deixando de lado sua própria inteligência, entrando no alto emburecimento, eu vi isso acontecer com esses dois horas, com centenas de pessoas, você tem que se imedio cruzar para que as pessoas continuem gostando de você. Então, é isso que, esse é o mau brasileiro, e quando eu bolhei esse curso, eu bolhei entre outras coisas para que as pessoas que são intelectualmente dotadas, façam amizades umas com as outras em vez de fazer com vagabundo. O que é amizade é aquilo que dizia Santo Maedaquino, idem velha, idem nolevos, é amigo que quer as mesmas coisas que você, rejeita as mesmas coisas que você, os outros são apenas companheiros de viagem, né? Então, você se aproxima de pessoas que têm verdadeira afinidade com você, e esqueça os outros. Isso existe no mundo inteiro, as pessoas se aproximam pelas suas afinidades. Aqui nos Estados Unidos, você tem até esses clubes deficionados, você lá gosta de tal coisa, ele vai lá junto com a outra pessoa que gosta da mesma coisa. Agora, no Brasil, não, você tem que ser, você faz amizade na praia com qualquer um, né? É resultado. Na primeira, virado, se ele te dá uma facada nas costas, é claro, amizade não tem base, amizade não é baseada em valores, entende? É baseada apenas na uma simpatia pessoal momentânea. Então, se vocês querem progredir na vida intelectual, isso, vocês têm que abdicar. Desse tipo de amizade, vocês têm que abdicar. A pão do distinguido, o que é um amigo que é apenas um conhecido. E a água ao meida. Olá, Prishto, eu estou com um angústico, e me apara sempre que eu tente explorar algum assunto do meu interesse. Eu não sei exatamente qual é o melhor método, porque eu posso analisar a realidade de algum assunto específico. Já estou convencido que eu quero ser o estúdio, porém sempre que eu devolvo me aprofundar algum assunto, ler um livro referente, por exemplo, sempre tem uma voz que diz, será que é isso mesmo? Não se preocupe com isso. Eu sempre lembro o Hugo de São Vitor, o Hugo de São Vitor disse que ele coda a criança, ele tinha a maneira de anotar tudo que dizia para ele, tudo qualquer bestia que fosse. E quando ele ficou adulto, ele descobriu que tudo aquilo servia para alguma coisa. Eu tive mesmo uma experiência, por exemplo, no jornalismo, eu tive que fazer, sei lá, entrevistar putas e delegados, fazer matéria sobre jogo do bicho, sobre o esporte do polo, milhões de coisas que não me interessavam, absurdamente. Até hoje me serve para alguma coisa. Então, tudo e qualquer estudo é bom. Guarde tudo. Não se preocupe com isso não. Elio Faixola pergunta. Estou no curso há um mês, eu gostaria de ver se eu deixaria o exercício da primeira aula por e-mail. Não, não deve, não, porque eu não conseguiria ler tantos declorórios assim. E, segundo lugar, o declorório não é feito para mim, a orientação, mas para a sua. O que é importante não é que eu leia, mas que você o leia daqui a um ano, dois anos e refaça. Quer dizer, você faz uma atualização de como está o meu plano, minhas metas e como estou e eu agora. É uma maneira de você graduar a sua aproximação, o afastamento das metas da sua vida. Lorenzo Curi das Neves. Percebem que os professores universitários de ciência humana e de saúde estão com determinado número de palavras, expressões, autores, ideias limitado e que mais confundem do que instruem. Este é o problema do Brasil. Não precisa de pessoa, não tem amor ou conhecimento, tem horror ou conhecimento, horror ou inteligência, mas adoram cargos, honrarias, diplomas e subindo na hierarquia social. Se eu ia dizer, ah, mas isso vem da escravatura, de como isso poderia dever da escravatura? Hoje mesmo notei. No tempo da escravidão, os negros mulatos estudavam em casa sozinho, não tinha curso de universitar e viravam grandes escritores. E foram eles que fizeram a glória intelectual do Império. Agora, bom, quando acabou a escravidão não tem mais. Agora é só falar de funk e movimento gaisista, só vou bajar a toda. O que que aconteceu? Será que a escravidão ficou pior depois que ela acabou? É possível. Quer dizer, vem esse tal de G.C. de Suas, não todos os nossos problemas, vem da escravidão e falam, o que? Você quer dizer que a escravidão tem mais influência no Brasil do que a nova ordem mundial? Do que o Jorge Soros? Do que a ONU? Quer dizer, onde tem esse retaco à cabeça? Tem coisas que não existem, mais que estão mais presentes do que as coisas que estão presentes de maneira avassaladora. Olha, os problemas do Brasil não vêm do passado, todos eles são improvisados e vêm muito rapidamente. Você ver, como é que o Brasil se industrializou? O Brasil adotou no governo retúlio a fórmula fascista. É um governo centralizador, protecionista, da senhora Kih, conservava os empresários no bolso do seu colete, mandava neles e dizia o que ele devia produzir, quanto ia custar, etc. E começou a industrializar o país, mas foi assim. Resultado, os empresários ficaram para sempre dependendo do governo. Durante um tempinho eles tiveram os pruridos de independência, no tempo que era presidente da fiespe, o Teobaldo de Nígris. Então ele afirmava o poder do empresário, mas depois virou tudo puxar saco de ministro de novo, cavando em pré-treo, um verbo à pública, contratos, etc. Então, você tem empresas imensas no Brasil que vivem exclusivamente do governo, até hoje é assim. Então quer dizer, o que foi, de onde veio esse mal, veio do atraso? Não, veio do progresso, meu Deus do céu. Foram decisões tomadas por... Por quê? Porque na época, os anos 30, era isso que estava na moda, era isso que estavam fazendo na Rússia, o que estavam fazendo na Rússia, estavam exatamente a mesma coisa. Industrializando o país à força, mediante um governo centralizador e tirando, que estavam fazendo na Itália, que estavam fazendo na Alemanha. Era essa fórmula, acabou o liberalismo, agora o negócio é a economia planejada e o retorno vai a doutora, se eu ficaria. Então, significa a economia rússia, ele deu um salto, mas a grande economia nacional dos anos, a partir dos anos 30, já veio com essa tara de nascimento. Qual é a culpa? Copiar a moda internacional. Sempre foi assim. No Brasil é só isso, você pega um dedo, manda o neguinho estudar, e a Harvard vem com um monte de ideias de Jericho e acha que sabe a solução de tudo, porque as pessoas não pensam, não querem ter o sentido, vamos dizer, do específico, do local. E sobretudo não querem ter ideias próprias, elas querem ter a ideia da última moda, porque isso dá prestígio. Você ter uma ideia nova e verdadeira e eficaz torna você esquisito. Então as pessoas rejeitam. Então, por exemplo, eu lembro que uma vez eu estava fazendo serviço lá para a Fundação Adebrecht, e eles inventaram um negócio, nós queríamos fazer uma campanha para que as pessoas exijam do governo uma educação melhor. E de qual é? Eu sou uma bobagem, porque a educação no Brasil não serve nem para instruir as pessoas, e nem para fazer para subir na vida. Serve para impedirlas de subir na vida se você não tiver. A educação no Brasil não funciona pelo que ela dá, mas quando você atém, mas pelo que ela toma quando você não tem. É só por isso. Então, pedir mais disso aí é loucura. O que você tem que fazer é uma campanha para você incentivar o autodidatismo, você criar instrumentos para ajudar os autodidatos, porque a cultura do Brasil depende de autodidata, sempre depender e vai continuar dependendo. Então, é essa a pessoa que tem que ajudar. Entrou para uma vida e saiu pelo outro. Não fizeram a primeira campanha, também não fizeram a segunda. E agora estão na cadeia. Por quê? Foram lá, puxaram o saco do governo. Quer dizer, é esse o problema? Não é escravidão, não é o Brasil Colôneo. Você vai botar a culpa e pedo almas cabral, meu Deus do céu. Ou dizer, porque eu recebo as pessoas, sai Zenães, viveu dizendo que é culpa do Português, era o Nego, era o Índio, é tudo a besteira, a culpa foi da escravidão. Mas é outra estupidez. Quer dizer, no tempo da escravidão os Negros progrediam. E subiu intelectualmente. Você pega um tipo como cruze-sousa, meu Deus do céu. É um poeta do continente, ele se fez sozinho. Então eu posso machar de assim, se fez sozinho sem a ajuda de ninguém. Por que que dava para fazer isso? Quando tinha escravidão e quando parou. A escravidão não dava mais. Porque até, a abolição da escravidão na República, foram cópias de modelo estrangeiro. Um modelo positivo e vista. Tem lá um gênio, Augusto Compte inventou, não sei o que. Então, se esse era o discípio do Augusto Compte, dava prestígio para os caras. Então, adotaram todas aquelas fórmulas aqui. E a República foi uma sucessão de revoluções e golpes de Estado que não se estabilizou até hoje. Há um passo, que o Império estava estável, estava indo bem. E quando derrubaram o Pedro II, eu não sou um grande admirador do Pedro II, não tenho muita limitação, mas era um homem honesto, nunca roubou ninguém. E o fato é que o país teve paz e progresso durante o governo dele. E quando derrubaram, o Teodoro Ruzio falou, derrubaram o único líder republicano da América Latina. É isso, copiar a moda internacional, acreditar nos caras, eu estudei em Harvard. Então, vai exercer sua profissão lá. Eduardo Gasola. O senhor afirmou hoje em uma postada no Facebook que as únicas heranças históricas que ainda tem influência sobre as nossas classes dominantes são positivos em Marxia. O ato simbólico que marca o início da prepodência histórica no Brasil e das cenas tira a ser do golpe militar do Republice 1889, mas é claro, eram todos positivos ali, simplesmente não havia outra ideia na moda. E o que que era o positivo? A ideia positiva era a tecnocracia. Quer dizer, é o governo dos cientistas, dos universitários e dos oficiais militares. Eles se ajuntam, eles têm a fórmula mágica. O que foi adotado em 1964? A mesmíssima fórmula. Os militares derrubaram o junglar, fizeram muito bem derrubar. O que eles pudiam fazer? Agora fazemos novas eleições e deixamos o povo decidir, o povo aprender com seus próprios erros. Mas não podemos permitir que um sujeito instale uma ditadura comunista que feche as porteiras todas. O que eles fizeram? Instalar uma ditadura positivista e fechá-las por ter a toda. É a mesma coisa, sai do marquinho para cair no positivo. Parece que não tem outra. Agora, o pior é que os caras não sabem que são positivistas. Não tem cultura suficiente para comparar suas ideias com a do outro e perceber, ah, eu sou um positivista. Se imaginar que o corrente militar que tomou o poder através do odoro positivista beija-me em constante a religião da humanidade, etc. O corrente que o sujeito através do Florian Peixoteira, Jacobinista revolucionar, tem escharacterizado duas forças de olá. Perfeito! Perfeito, exatamente isso aí. Eles haviam duas correntes, um lado, o machado do Orben, o jamecoense, eles eram tudo positivistas e por outro lado, tinham os caras que eram Jacobin, o revolucionário de Florian Peixote. Está aí o Brasil inteiro. Se você tem a tecnologia ou você tem a revolução. Ítalo Feitoso. Por isso, quais são, na sua opinião, os temas mais urgentes de um tratamento literário aqui no Brasil? Tudo o que se passou nos últimos 40 anos. A vida brasileira está ausente da literatura. Você não tem, por exemplo, se você pensar a corrupção petista, eu digo, escuta, teve um sujeito que escreveu, por exemplo, um romance, você pega ali um idealista revolucionário dos anos 60, pega o Zedir Sirco, acho que o Zedir Sirco é um personagem romance absolutamente fantástico. Como é que o sujeito começa com aquela presunção moralista de ser o portador do bem e termina sendo uma oladrão da paróquia? O que que transformou ele numa cor... Eu acho que está na lógica interna da mentalidade da revolucionária, isso aí. Mas ninguém explorou esse personagem. Não precisa ser Zedir Sirco, qualquer personagem desse tipo. Então, o que aconteceu com o Brasil? Aquestas inumeráveis famílias que a Rede Globo desfeiz. Houve uma pesquisa aqui, em qualquer lugar, onde chegasse a Rede Globo, o número de divorcias aumentava imediatamente. Veja um personagem assim, que ele é tão superficial, tão louco, que um programa de televisão muda a cabeça dele. Ele do dia para noite esquece a religião, a família, a tradição, a língua, e adota aquilo como se fosse uma nova identidade. Falei, olha, não existe no mundo um retrato, um personagem tão superficial quanto este. Eu me lembro de um filme feito pelo Olivier Perroque, era um fotógrafo, da editora Abril, ele fez um filme chamado Bet Rockfella. O Bet Rockfella era um perrapado que gostava de se fingir de milionário, entrar nas festas do milionário e tal. E no fundo, no fundo, ele tinha um vazio, mangústias, graças. Falei, olha, esse aí é um tema importantíssimo. Devia explorar mais esse tipo, porque esse tipo existe muito no Brasil. Quer dizer, o explorador do prestígio Aleio. Não precisa dizer o número de exploradores do prestígio do Alávio que existe. Quer dizer, o jeito que ele quer ser, ele não quer ser igual àquele que ele imita, ele quer ser uma boa imitação para ele subir na vida com a Emacopa. Simples imitação. Então, como é esse negócio, por exemplo, de... Como é possível que num país que tem 70 mil homicídios por ano, sempre o problema é que são três guerras do Iraque por ano, as pessoas fiquem seriamente preocupadas com discurso de ódio, o Direito fez uma piadinha de gay, o congresso inteiro se escandaliza e vai cuidar da piadinha de gay, e fala, o que que é isso? O que que tem na cabeça, num personagem desse? Você pega as caricaturas políticas que houve já na nossa história, como, por exemplo, a Numa e a Ninfa do Lima Barreto, ele diz, olha, aquele deputado Numa era um prodígio de profundidade e seriedade perto do que veio depois. Quer dizer, é uma futilidade que chega a ser satânica. Nada disso foi explorado na literatura, nada disso aparece. A própria história do Lula, o Lula é um primor de futilidade. Esse é um sujeito que não tem nada na cabeça, nem no coração, não tem nada, nada, nada, tudo o que ele faz é só autodefesa. Ele está se protegendo a si mesmo desde o início, é só nisso que ele pensa e fizeram dele. Um ídolo ao ponto de que o pessoal na Norvester acreditava que ele tinha o poder da imposição de mãos. Veja, isso é um mito, ou não só mito, isso é uma realidade, quer dizer, o poder curativo dos reis, que até o tempo de Luiz XVI ainda existia, que existem certas doenças que o rei empolha a mão, a doença some, isso acontecia mesmo. Se era por um efeito de sugestão, qualquer outra coisa, não sei, mas... E o pessoal atribuiu o poder da imposição de mãos ao Lula, meu Deus do céu. Quer dizer, que fenômeno é esse? Se você pegar um tipo como Antônio Conselheiro, então o Conselheiro tinha mil vezes mais profundidade do que o Lula. Ele era louco, mas era um amissério. Ele acreditava realmente naquelas coisas e dedicou sua vida, você sacrificou por aquilo. O que que o Lula sacrificou na vida? Para ele dizer que ele levou mais chibatadas do que Jesus Cristo. Gente, ele disse isso, levei mais chibatadas do que Jesus Cristo. O que que é isso? Ele perdeu totalmente a medida da realidade? Agora, quem são os culpados disso? É o capitalismo, são os donos do escravo, são os intelectuais, não são os intelectuais. Os intelectuais são a matriz de todos os males brasileiros, todos sem insensão, porque eles são a principal força, a gente de transformação social. E eles sabem disso, eles sigavam disso. Mas daí, vê se tem algum livro que acusa os intelectuais brasileiros. Nenhum. Teve o livro do Roland Corbizier, a responsabilidade das elites, eu não tenho o livro, eu recomendo que leio. Só que esse sujeito fez isso e depois entrou para o Partido Comunista. Largou tudo que estava tentando elaborar, copiou o discurso marxista. Por que? Só isso que dava em Bope. Quer dizer, ele era um cara superficial também. Felipe Riso, se eu acho que traduções corrompem as obras literais, as coisas de sutilismo de uma língua cultural que não são traduzidas para outra, existem. Mas eu acho que os textos e sobretudo poesia, eles são muito mais traduzíveis do que as pessoas dizem. A tradução é uma das principais atividades dos grandes poetas. Permanel Bandeira fez traduções maravilhosas, é um dos exemplos que eu dou. A França, o Pierre Boutin, coisa que ele mais adorava fazer traduções, as traduções dele são incríveis. A tradução é uma nova criação, sem dúvida. E ela às vezes até enriquece o texto original. Isso pode acontecer. Mas, note bem, tradução também não é para qualquer um. No Brasil, qualquer neguinho que estudou dois anos na escola Berlitz, vira tradutor. Não, tradução é coisa para grandes escritores, meu Deus do céu. E você pega a tradução que Albert Camus fez da peste, que o Graciliano Ramos fez da peste do Albert Camus. Aquilo é uma tradução. Você pega algumas traduções feitas pelo Zé Geraldo Vieira, traduções de Dostoevsky e de outros. Vale a pena ler aquilo. Leonardo Yu-Ki-Wa-Fuso. Deixe aqui a seguinte pergunta do Anilo Fernandes, que hoje não está aqui. Professor, isso foi um negócio complicado. Foi um possível agnosticismo, e a Agostina e a Quina, a redução de Deus da eternidade de um sistema fechado. Agora me vê na cabeça uma aula com o viante. Isso aí é uma coisa que o pessoal da Gerudo que eu vi dizendo. Teu Hermand Oewer, um grande filósofo, o holandês calvinista, ele diz, não, os caras intelectualizaram tudo, e nós aqui vamos para a mística. Isso é tudo uma bobagem, porque é também reduzir. Quer dizer, claro que Agostinho tem uma dimensão mística tão grande quanto de qualquer santo da igreja ortodoxa. E Tomás de Aquino também. Mas os caras, eles estão tratando o santo... Ele se inventa no santo... Você lê, por exemplo, a Catena Aurea, a cadeia dourada, o santo Amar de Aquino. Você vai ver a dimensão mística do homem ali. Ela está inteiramente presente. Toda a filosofia escolasca dele nunca atrapalhou em nada. Quer dizer, mas os caras estão pegando um pedaço do santo Amar de Aquino tratando como se fosse o todo, um pensamento metonímico. Essas polêmicas interagoração sempre besteiras, sempre besteiras. O tema de hoje é gigante. É mesmo. Eu acho que esse é o tema. Esse é o problema do Brasil. O professor Avalio quase fim da poesia do nosso país. Acabou tudo porque a poesia não é acabar também. A literatura de ficção só subsiste graças a tipo de outra geração, como Alberto Mussa, esse excelente escritor, tem dúvida. Mas eu não posso dizer que ele seja representativo do Brasil de hoje. Pela mente dele, ele é um escritor dos anos 50 e 60. É um herdeiro, sei lá, do Marcos Rebello, do Zé Jarodriê. E temos alguns tipos promissores como Yuri Vieira, por exemplo. Mas no geral, a coisa está muito ruim. Você vê, as artes narrativas, sobretudo o cinema, o teatro, viraram apenas instrumentos de agendas internacionais. As narrativas são julgadas por isso. Os críticos de literatura e de cinema, de teatro que tem nos jornais julgam exclusivamente por isso. Eles estão lá para isso, eles são agentes de ongs e fudações internacionais. É só isso que eles fazem. Então, de novo, quem é o culpado disso? Os intelectuais. Não são os empresários, não são os milíquios, não são... Nem o governo. Porque o governo não pensa. Se o intelectual não só põe ideia na orelha do governante, ele não vai aplicar aquilo. Então, é o seguinte, os nossos intelectuais, em geral, são apenas carreiristas, são exploradores de modas que eles captaram superficialmente no exterior. Eles não elaboram as coisas, não pensam, sobretudo, não querem conhecimento, querem cargo, querem prestígio. Eu digo, olha, gente, por isso mesmo, no começo da minha vida, eu fiz esse juramento para Deus. Deus, eu quero entender certas coisas, mesmo que eu não consigo explicar para ninguém. Mesmo que eu fique falando sozinho comigo, mesmo pelo resto da vida. Foi isso que me salvou dessa precaria. E vocês têm que fazer o mesmo negócio. Nós temos que valorizar as coisas que realmente têm valor. E... Se você tem um emprego modesto, eu digo, quando foi que um emprego modesto atrapalhou algum grande escritor? Nunca. Ah, você tem pouco dinheiro. Eu digo, mas a maior parte do escritor sempre tem pouco dinheiro, dois trezentos que nunca teve dinheiro. E... sobretudo, o Brasil se vê estórgico. O Brasil foi construído por Pedro Rapado, meu Deus do céu, toda a cultura nacional. Você vê, tem claro que tem caras de origem, rica até aristocrática, como o Joginabuco, mas são poucos, a maior parte vem do fundo da sociedade mesmo. Eu mesmo, eu mesmo, eu li uma barretto, mas já de assist, praticamente todo mundo, então qual é o problema? Não adianta você dizer, nossa sociedade não valoriza os trabalhos modestos, mas o problema não é a sociedade, a problema é você mesmo. Se você se sente infero por não ter dinheiro, você está lascado. Então eu conheci muitos pais que se envergonhavam de chegar no fim do ano, não tem dinheiro para dar um presente mais caro para o filho. Eu digo, mas isso, desde quando você é vergonha? Vergonha é você pensar isso, você dá o que você tem, vai. Então, e... veja, tudo da vez que você lança culpa na sociedade, você está apenas fazendo a autoprojeção, porque se alguém tem culpa de alguma coisa, você tem que nomear os cobertos, são eles, fulano, fulano, fulano, fulano. Agora, até na nossa lei, é responsabilidade da sociedade e do Estado, são abstrações. Então você tem que parar de pensar nas abstrações, começar a pensar em seres humanos concretais, fulano, ciclano, ciclano, ciclano. É a classe dos intelectuais. Então é só isso. Hoje é só, muito obrigado até a semana aqui. Ah, temos no dia 30, teremos aula normalmente. Tá? Dia 30 ainda não é fim de ano. E, evidentemente, feliz Natal para todos vocês. Até a semana que vem, obrigado.