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Então vamos lá, boa noite a todos, sejam bem-vindos. Esta semana eu tenho pensando o seguinte, todo mundo que diz alguma coisa, acredita, está dizendo algo que ele chama de a verdade. Ou seja, a verdade é um porte seguro, no qual todo mundo espera encontrar abrigo, defendendo-se por trás da verdade. No entanto, vamos meditar um pouquinho sobre o que esta palavra pode querer dizer. Bem, caso exista alguma verdade, existe alguns requisitos dos quais ela não pode escapar, então em primeiro lugar ela tem que ser universal, porque se você tem aqui uma verdade parcial, mas a verdade parcial está colocada dentro de um quadro falso, ela só é verdade, num ponto de vista muito subjetivo. Portanto, se existe alguma verdade, ela tem que estar conectada a outras verdades, quer dizer, ela não pode desmentir outras verdades. Se a verdade se desmente, então ela não é verdade de maneira alguma. Isso quer dizer que toda e qualquer verdade depende em última análise de uma verdade total, que abrange o infinito, abrange o universo, e abrange todos os níveis de realidade, todas as dimensões da existência, vamos dizer, desde a mais universal até o mais mínimo detalhe que você possa conceber. Tudo isso interconectado de alguma maneira, não necessariamente como se fosse um sistema lógico, dedutivo, mas através de todo um agrado, uma rede de interconexões que parecem lógicas, analógicas, dialéticas, elas decidir simpatia, de semelhança, de similitude, como queiram. Mas a verdade totalmente desconectada não pode haver. O que significa que se alguma verdade é a verdade da totalidade universal, incluindo o que essa totalidade universal sabe sobre si mesma, porque se ela nada souber, então acontecerá que nós estamos dentro de um campo eminentemente falso no qual nós somos os únicos portadores da verdade. Então é só você fazer essas observações, você pode perguntar assim, nós podemos conhecer a verdade? Resposta evidentemente não. A verdade é incognosível para os seres humanos, a verdade no sentido forte da palavra, a verdade universal abrangente e, por assim dizer, homem explicativa. Nós não temos isso de jeito nenhum. Então, ou estamos no Mato sem Cachor, ou tem alguma outra solução possível. Ora, se eu disse que nenhuma verdade parcial pode valer por si mesma, se não estiver amparada em toda a sequência, em toda a hierarquia das verdades que vai até a última verdade universal, então, se nós não podemos conhecer a verdade universal, então não podemos conhecer também as verdades parciais, a sua sina é muito simples, mas o fato é que por experiência nós sabemos que nós conhecemos algumas verdades parciais. Nós sabemos, por exemplo, vamos dizer, pelo domínio que exercemos sobre alguns processos naturais, ou pela nossa capacidade de previsão de situações humanas, que frequentemente ultrapassa até as nossas próprias expectativas, se você pegar todo o mundo da tecnologia, ele consiste no domínio exercido sobre processos naturais, de modo que você desencadeando um efeito, você produz a causa exatamente conforme a expectativa. Então, quer dizer que nesses pontos específicos nós conhecemos a verdade, nós conhecemos verdades parciais e sabemos que elas dependem de uma verdade universal que permanece desconhecida para nós. Ora, isto nos dá uma capacidade de adaptação ao ambiente físico, ao ambiente social, ao ambiente humano extraordinário, que transcende infinitamente as possibilidades de qualquer animal. Se nós perguntarmos assim, um animal conhece a sua situação, ele conhece dentro de uma grade muito limitada, dentro de um horizonte muito limitado. Por exemplo, suponhe que você é um urso e aparece um sujeito na sua frente como espingarda na mão. O urso sabe o que é espingarda, não tem a menor ideia. Ou seja, você aponta espingarda por urso e ele ainda não sabe que ele é um difunto. Quando ele souber, vai ser demasiado tarde. Por outro lado, pode haver um sujeito ali que está com uma arma e que não pretende matar o urso de maneira muito, ele está carregando arma apenas por auto-defesa ou por hábito e o urso ataca e o mata e come. Isto quer dizer que a adaptação do urso a sua situação só é válida dentro de uma esfera de realidade muito pequena. E nós vemos claramente o limite dessa esfera de realidade quando fazemos algo que o animal não compreende. Por exemplo, houve um biólogo, não lembro se foi o Radlórez ou o outro, e ele começou a conviver com uma tribo de macacos e os macacos aceitavam como se fosse um membro da comunidade. Mas um dia ele se vestiu de macaco, se fantasiou de macaco, os macacos ficaram aterrorizados. Então você vê que a distinção que o macaco faz entre o macaco e o não macaco é muito precária. Quanto mais ele se parecia com o macaco do seu próprio ponto de vista, menos ele se parecia com o macaco do ponto de vista deles. Em suma, eles não entendiam o que estava acontecendo. Uma vez eu fiz uma experiência, eu acho que eu já contei aqui, eu tinha uma cachorrinha, eu amarei a cachorrinha com um laço, porque ela não estava presa realmente, tinha um laço. E quando alguém a provocava, ela pulava para atacar a pessoa e era enforcada pelo laço evidentemente. Ela pulou mil vezes e mil vezes foi enforcada. Eu pensava assim, quantos séculos ela levaria para entender que se ela fosse para trás, ela estaria livre do laço. Ela não aprenderia isso jamais. Ou seja, essa simples situação transcendia infinitamente a capacidade de adaptação do bicho à sua situação real que ele estava vivendo. Se nós compararmos isso com o ser humano, nós vamos ver que a nossa capacidade de adaptação é absolutamente monstruosa. O Orta H.C. observa com muita razão que todos os animais têm um clima e uma região que eles são apropriados. Por exemplo, uma girafa se sente muito bem no calor africano, o urso polar se sente muito bem no frio do arte. Mas se você trocar as posições deles, eles estão lascadas. Ao passo que o ser humano não se sente confortável em parte nenhuma do planeta. Em todo lugar ele está inadaptado. Aqui no estado do rito, no verão você precisa do ar condicionado, no inverno você precisa do aquecedor. Você precisa fazer uma adaptação porque você não está bem nem no calor, nem no frio. Se você mora no mato sem recurso, você acha que está mal ali, está correndo perigo, você vai viver na cidade, você está assaltado, atropelado, tem que pagar imposto, etc. Então, nesse planeta não há um lugar adequado para o ser humano. Em função disso, o ser humano desenvolveu milhares de artifícios para se adaptar mais ou menos ao seu ambiente. Se você pensar isso, se você pensar a multidão de remédios, equipamentos, de técnicas, tudo que o ser humano inventou para ele se virar mais ou menos no ambiente terrestre, você verá que a capacidade de ser humano não esteja bem em parte alguma na Terra, a sua capacidade adaptativa é monstruosa. Quando você pensa, por exemplo, a ideia das mutações, que fala a teoria de evolução, é uma espécie suponde que existe essas mutações, que na verdade até hoje as mutações observadas são absolutamente insignificantes. Por exemplo, quantos milhares de anos não precisa para que um bicho desenvolva uma pequena mudança anatômica para se adaptar ao seu ambiente? Essas mudanças, vamos dizer, em escala pequena elas acontecem. As macro mutações de que fala a teoria de evolução nunca foram observadas e, por definição, jamais serão, porque elas levam bilhões de anos, só se nós arrumamos um biólogo que dure um milhão de anos para poder observar isso aí. Então, nada disso foi observado, mas mutações de escala pequena existem, mas elas levam muito tempo para acontecer. Se o ser humano dependesse disso para sobreviver, já teria extinto há muitos anos. Tudo isso mostra para nós que algum conhecimento das verdades parciais nós temos. Agora, como é possível o conhecimento das verdades parciais se nós não temos nenhum acesso à verdade universal que as gera, produz e sustenta? É isso aí um mistério. Em parte, a solução desse mistério está na seguinte coisa. Existe uma montanha de estudos sobre a cognição humana, sobretudo a respeito da comunicação não verbal. E hoje nós não podemos negar que nós sabemos muito mais do que nós conseguimos dizer até para nós mesmos. Ou seja, cada um de nós é um depósito imenso de conhecimento que servem para nossa orientação na prática e no dia a dia, mas aos quais nós não conseguimos dar através da linguagem uma vigência pública. Isso quer dizer que se você pegar todas as bibliotecas do mundo, bibliotecas, arquivos científicos, etc., etc., o que está registrado ali é um nada perto do que a humanidade sabe. O que você sabe sobre a sua própria vida e quanto você conseguiria disso transmitir se você for escrever um livro de memórias? Tenho mais nem só para fazer uma ideia. Ou seja, os hiatos temporais que existem numa recordação autobiográfica, você pula meses, anos, não lembra aquilo ali, quer dizer, você sabe o que aconteceu, mas você não consegue processar isso na sua memória consciente. Mas a prova de que você sabe é que você consegue se orientar com relação à sua própria vida. Eu tenho muita experiência de ser acusado de coisas que eu não fiz, coisas que eu nunca pensei na minha vida, mas eu sei que eu não fiz. Eu sei que eu não estava lá, eu sei que a coisa foi outra, embora eu às vezes não saiba exatamente como foi. Então, quer dizer, mesmo aquilo que eu não consigo lembrar conscientemente, eu tenho um senso de orientação com relação àquilo. Então, a pergunta é, da onde vem esse senso de orientação que nos permite conhecer uma infinidade de verdades partiais? Ora, se isso não vem da própria verdade universal, então não tem explicação. Ou seja, de algum modo misterioso, nós somos dirigidos pela verdade universal em direção às verdades partiais que nós precisamos e podemos conhecer. Quer dizer, essa presença da verdade universal permanece, por assim dizer, no inconsciente. Mas sem ela, nada podemos fazer. Está certo? Então, ora, é isso que a Igreja descreve como atuação do Espírito Santo. O Espírito Santo sustenta a nossa inteligência. E a inteligência só funciona porque está fundada nesta raiz da verdade universal, sem a qual qualquer verdade parcial seria absolutamente inconcebível. Nesta imensidão de processos de adaptação que o ser humano criou ao longo do tempo e continua criando, seria absolutamente inexplicável. Então, entendendo isso? Então, isso é o mesmo que dizer, sim, nós conhecemos a verdade universal, mas a conhecemos não como um conteúdo conscientizável e manipulável. Nós a conhecemos apenas como um recurso inconsciente que trabalha em nosso favor e que orienta o nosso conhecimento das verdades partiais, sem que nós possamos reconstituir o processo todo. O Dr. Miller, ele costumava falar de um quadro patológico chamado de despersonalização epilética, que se caracterizava pela perda da capacidade divinatória. Se você parar para pensar quantas adivinhações você faz num só dia e sem as quais você estaria absolutamente perdido no espaço, você terá uma ideia de como funciona, esse fundo da verdade universal em cima do qual nós construímos as nossas vidas, as nossas percepções, o nosso conhecimento, etc. Ora, mas se as coisas são assim, então isso significa o seguinte, ninguém está privado da verdade, todo mundo tem um acesso a ela, não um acesso no sentido de um domínio consciente dessa verdade, ou seja, não conhecemos a verdade universal como conhecemos, por exemplo, o funcionamento de um equipamento que nós usamos, ou a conduta do animal que nós estamos domando, não nesse sentido, que esses são conhecimentos que nós dominamos, eles estão dentro da espela da nossa consciência, e nós dominamos e manipulamos esses conhecimentos, então não é nesse sentido que conhecemos a verdade universal, conhecemos a verdade universal no sentido de estar nela, e isso é que eu chamo o conhecimento por presença, mas eu chamo não, acho que um tempo atrás eu achava que eu tinha descoberto o conhecimento por presença, até que alguém me mostrou um livro que falava do filósofo iraniano do século XI, que já tinha descoberto isso, mas pra ele não se iludir com as nossas grandes novidades, então, o fato que o cara descobriu o conhecimento por presença, ninguém ligou, e eu sem ter conhecimento dele redescobri isso aí, e eu acho que com esses exemplos que eu estou dando, fica mais nítido do que eu estou querendo dizer com conhecimento por presença, você conhece a verdade, não porque você domine intelectualmente, mas porque você está nela, ela é o seu quadro vital, você não pode, em vez de ela, nem um único minuto, e você conta com isso, mas se as coisas são assim, então pensa bem, o sujeito que diz que está em busca da verdade, exatamente o que ele está buscando? Ele está buscando um conjunto de proposições que, segundo ele, expressam o conteúdo da verdade, esse conjunto de proposições é escrito em alguma língua, língua morta ou língua viva, mas a língua que tem uma vigência pública, ou seja, é aquela parte da verdade que não apenas está conscientizado, por um indivíduo, mas que pode ser conscientizada por todos, não, um grande número deles ao mesmo tempo, então é uma espécie de mínimo múltiplo comum, assim, até um recorte, que é abrâneo, porque eu sei o que o outro sabe, o que o outro sabe, o que o outro sabe, tem um pedaço ali que é todo o conhecimento público, é isso, é um recorte feito com uma parcela infinitesimal, é um recorte feito com uma parcela infinitesimal do que cada um sabe e que coincide com o que os outros sabem, eu digo que você está buscando isso, você pode dizer que você está buscando a verdade, ou você está buscando apenas o consenso público, então a busca desse consenso público, evidentemente, tem muito menos importância do que a busca da própria verdade, que jamais cederá, antes do seu desejo de dominá-la, mas ao contrário, ela só se oferecerá a você, se você aceitar, se você se colocar dentro dela, em vez de colocá-la dentro da sua cabeça, a verdade nesse sentido, ela não é um conteúdo da sua consciência, mas é um âmbito, um domínio, uma esfera, um espaço no qual nós vivemos, no sentido do apóstolo, nele, vivemos, nos movemos e somos. Então se você perguntar assim, qual é o propósito de um curso de filosofia, iniciar as pessoas numa doutrina, de um conteúdo doutrinal já expresso em palavras, que será absorvido por você, ou ao contrário, levar você a conscientizar esse imenso depósito da verdade universal, dentro do qual você está e que você jamais dominará, mas que pode sempre inspirar, orientar e dirigir você no sentido das verdades parciais que você precisa ou deseja conhecer. Então é por isso que eu disse que hoje mesmo eu escrevi que a finalidade da filosofia não é criar filosofias, isso é doutrina filosófica, mas criar filósofos. O que é um filósofo? Filosofia é o amor à sabedoria, mas pera aí, quando eu estou falando dessa verdade universal, que permanece por assim dizendo as nossas costas e dentro da qual nós estamos, isso é a sabedoria, evidentemente. E no que consiste o amor à sabedoria? Consiste você tentar pegar a sabedoria e encaixá-la dentro de um sistema doutrinal e publicá-la? Claro que não. Consiste em você ceder a ela e você estar atento e você ser doce a ela, de modo que deixasse dirigir por ela nos vários momentos da sua vida e das suas investigações. Está certo? O que significa o seguinte? Só existe neste mundo um portador da verdade, esse portador é o ser humano. Então, não é bem, não são os livros, não são os arquivos e registros científicos, não são as instituições, são os seres humanos. Agora, por exemplo, quando você lê as obras do grande filósofo, digamos, o Edmond Russell, o exemplo do Edmond Russell é muito útil porque já expliquei, o Russell sabia a taquigrafia e ele praticamente escrevia na velocidade que pensava. Então, o número de registros de pensamento de Edmond Russell é monstruoso. Agora, pega todos esses registros e para para pensar assim, o que mais Edmond Russell sabia? E o que mais ele precisaria ter sabido para ele saber isso que ele escreveu? Aí você vê que, por enorme que seja o volume de registros, o que estava na alma dele, na percepção real dele era muito mais. Por que, por exemplo, você ter acesso aos livros de Edmond Russell, claro que é bom, é imensamente bom, mas não é tão bom quanto você ir lá e ter aula pessoalmente com Edmond Russell? Por causa desse depósito de verdade que estão não num livro, não numa doutrina, mas num ser humano real, de carneoso, falante, vivente, entende? É por isso que realmente só existe em cima da filosofia onde existir o filósofo vivo, na plenitude da sua atividade filosófica. Se não, não existe, se não existe apenas cultura filosófica. Então, a presença, o exemplo, o tom de voz, tudo isso importa. Veja, isso importa não só no ensino da filosofia. O Theodore White, no livro Faith in Numbers, Trust in Numbers, ele diz que isso se aplica até ao domínio técnico, técnico científico mais material possível. Hoje mesmo eu estava comentando aqui que um escritor americano que da aula de, da aula de arte de escrever, é um homem famoso, dominador da língua inglesa, evidentemente, e ele escreveu um artigo para os imigrantes, dizendo o seguinte, você chega aqui, vocês vêm da Índia, do México, do Brasil, do Raikopar, e chega aqui e vocês veem que vocês têm uma dificuldade imensa para compreender uma carta da companhia de luz, um manual do usuário, essas coisas todas, o texto de uma lei, e vocês ficam perdidos no meio disso, mas eu tenho confessado também não compreendo nada disso. Então, em vista disso, eu mesmo estava comentando o seguinte, se chegar aqui, por exemplo, um móvel, um equipamento qualquer, eu tenho que montá-lo, não adianta ler o manual do usuário, porque eu não vou entender jamais aquilo. É preciso que alguém faça na minha frente, eu vejo com meus próprios olhos e daí eu sei. Agora, eu sou assim, de fato, todo mundo é assim, as pessoas que têm a capacidade de transpor da explicação verbal para a realidade espacial são poucas, o Pedro, por exemplo, está lento nisso aí, você dá um manual absolutamente incomprensível para ele, ele sabe o que fazer, assim como interpretar mapas, por exemplo. Se ler um mapa, se pega o seu Zemané na esquina, solta ele no meio do mapa e dá um mapa, ele vai morrer perdido ali no meio, ele não sabe ler mapa. Então, o Theodore White observa que na maior parte dos equipamentos científicos não é possível ensiná-los por meio de manual de instruções. Você precisa ir lá e alguém manejar aquilo na sua frente e você ver isso, e você sentir, por exemplo, o sentido dos gestos, o jeitão. Você imagina a quantidade de informações sensoriais que o aluno adquire numa coisa dessa, que ele jamais poderá dizer e muito menos transpor no manual de instruções. Sem isso não existe ciência. Você imagina, por exemplo, sei lá, aqui está um telescópio desse observatório, ele vai ensinar você a mexer com o telescópio, você para ler uma nódigo e sorresta a sua vida, alguém não mostrar como é que funciona, você não sabe. Um reator atômico, qualquer equipamento científico, mais simples que seja, essa câmera que está me filmando, se eu não vi alguém fazendo, não vou entender. Isso quer dizer que não é só na filosofia que a presença humana é importante. A intercomunicação das consciências, não através da palavra, mas através de uma totalidade na qual a palavra entra como um elemento muito pequeno, elemento apenas complementar. A palavra serve para você designar coisas as quais você não tem acesso sensorial direto. Por exemplo, eu não posso ter conhecimento direto da vida de Napoleão Bonaparte, então alguém tem que me transmitir por escrito. Então, em vez de a linguagem ter esse poder onipresente e onipotente, que a tradição linguística do século XX, desde o feralinando e sociô até hoje, lhe atribui, nós vemos que a linguagem é quase nada, dentro, não só dentro do universo, mas dentro do universo que nós conhecemos. Ou seja, a maior parte dos conhecimentos é indizível, mas ela é transmissível de algum modo, quase mágico. E é isto que um curso de filosofia pretende desenvolver em você, não um conteúdo do outro não. Pronto, mas uma capacidade de conscientizar esse aporte, esse auxílio da verdade universal em todos os momentos da sua vida dirigindo você para as verdades parciais que você quer ou deseja conhecer. Portanto, é por isso que eu digo, a finalidade da filosofia não é produzir filosofias, mas produzir filósofos. E o filósofo, se é o que tem amor à sabedoria, é o que tem, uma relação frutifera com esta verdade universal que o sustenta. Ele se deixa guiar por ela para que ela intensifique, agulse a sua intuição e o faça perceber as coisas que ele precisa saber, transcendendo infinitamente a sua capacidade de desejar. Então, entendeu? Então, tudo o que estão fazendo nesse curso, desde o início, é por isso. Eu meditei muito o caso do Mário Ferreira e pensei por que este gigante da filosofia, que tinha inclusive o gênio comercial de distribuir livros, ele inventou a venda de livro de porta em porta, a venda de livro acrédito, ele inventou tudo isto. Por que o resultado pedagógico dele foi nulo? Foi zero. Eu não conheci, entrevistei vários ex-alunos dele, ninguém tinha entendido nada, ninguém aproveitou nada daquilo, absolutamente nada. E o gênero do Mário, Fernando, me contou que enquanto o Mário viveu, ele vendia livro para caramba, porque ele morreu, não se vendeu, mas não o exemplar. Você apagou tudo. E por que isso aconteceu? Meditei muito isso, claro, nós temos que meditar o exemplo dos nossos grandes antecessores, para aproveitar o que eles adquiriram e para não cometer os erros que eles cometeram. Eu vi o problema do Mário seguinte, ele tinha uma doutrina pronta, ele estava transmitindo esta doutrina, como se fosse um pregador, o pregador transmite uma doutrina pronta, ele é protestante, a doutrina protestante, se é católica ou católica, então um filósofo que vem com uma doutrina pronta, ele está transmitindo, mas isso significa que você vai estar circunscrito as limites desta doutrina. Então, trata-se de uma transmissão de ideias e não de uma verdadeira educação. Pode-se tratar de uma instrução, veja o fato de ele ter adotado a impressão, uma tesesmegista, uma tesesmegista quer dizer instrução suprema, o que é instrução? Eu pego aqui uma estrutura de ideias, de conhecimento e emboco aquilo dentro de você, de que modo que aquilo molda você. Educação é exatamente o contrário, é que é do ser levar para fora, fazer com que você perceba algo que está para além de você e que está para além do que eu mesmo estou lhe ensinando. Então, falei bem, a instrução suprema não é a educação suprema, a educação suprema não pode se consistir na transmissão de uma doutrina pronta, mas apenas de sugestões que vão fecundar a mente dos alunos, como fazer as sócrates. Se você pensar qual é a doutrina de sócrates, pode revirar se não tem doutrina nenhuma. Ele tem perguntas, dúvidas, raciocínios, sugestões, tudo isso, não dá para você formular uma doutrina, nem a doutrina de Platão dá para formular inteiramente, em termos teoreticos. Por que? Porque quando você chega na culminação do discurso dialético, ele solta lá um mito e você pode interpretar um mito do jeito que você quiser. Então, isso quer dizer que Platão não tinha muita ilusão quanto a possibilidade de transmitir em palavras o ensinamento supremo. Quanto aos materiais de Aristóteles, tudo que nós temos de Aristóteles, não é seu rascunho de aula, não tem uma menor ideia do como ele se explicava aquilo. Então, o conjunto da obra de Aristóteles é também um ban de sugestões. Eu já expliquei para vocês que a obra de... toda a obra, todo o esforço filosófico da Aristótese, culmina num paradoxo que ele não resolveu, que é o seguinte. Tudo que existe só existe como íntese individuais, não existe entidades genéricas caminhando por ali. E no entanto, todo o conhecimento que nós temos de tipo genérico, baseado nos conceitos das espécies. Então, existe um hiato entre o nosso conhecimento e a realidade. A adaptação das duas coisas, ela existe, certamente existe, eu mesmo acabei de demonstrar que existe, mas é precário, precário, problemático e tem que ser refeito continuamente. Então, é isso que eu pensei. Por que que eu denominei isso aqui de seminário de filosofia? Porque o seminário vem de semente, sementê. Você está plantando a semente, você não sabe qual é que vão terminar, como não vai. É como não está na Bíblia, não nos vem, passarem o coma, os querem na pedra, ele termina o controle da coisa. E pior, nós não sabemos quais vão terminar, nós não sabemos o que vai terminar. É como se o sujeito pegou lá a semente de tudo que está misturado aqui, de milho, de abacate, de tomate, de goiaba, e jogou, não sabe o que vai pegar. Já não sabe o que está criando, está certo? Então, um educador espanhol, que eu não lembro o nome, ele dizia, a educação é uma arte de resultados imprevisíveis. Imprevisível não quer dizer que esteja totalmente descontrolado. Eu me lembro, acho que todo o esforço educacional, para mim sempre me lembra, quando era jovem, eu deseava muito e pintava e gostava muito de pintar com aquarela. Para desenhar um céu em aquarela, o que você faz? Você desenha meticulosamente cada nuvem, espalha água no papel, põe duas gotas de tinta azul e fica fazendo assim com o papel. Até o negócio é ajeitado, dá um jeitão mais ou menos de nuvem. E funciona. Então, educação é mais ou menos assim. Você não tem um controle total, você tem por assim dizer uma orientação estatística, probabilística. E eu acho que isso funciona. Funciona por quê? Porque é próprio da natureza humana se desenvolver a partir dessas sementes. Claro que uma semente pode se corromper completamente no caminho, pode ser devoradas pelos passarinhos, por um urubu, qualquer coisa assim. Mas, em geral, funciona. Estatisticamente, 75, 80% dos casos vai funcionar. Então, tudo isso obedece a uma estratégia baseada nesses conhecimentos adquiridos. E é por isso mesmo que eu faço questão dos elementos da minha filosofia que são expostos aqui, seja um fragmentário, nunca se consolida em um sistema. São apenas sementes que eu estou jogando e que podem se desenvolver em sentido que eu mesmo não posso prever. E, em segundo lugar, sempre tem em mente isto aqui. O objetivo do ensino é a pessoa. É criar pessoas melhores, pessoas mais cerdas, pessoas mais centradas, pessoas mais conscientes, mais inteligentes e mais honestas. Ora, se não está centrado, como é que pode ser honesto? É absolutamente impossível. É fácil você fazer discursos moralistas, acusando as pessoas de serem corruptos, de serem mentirosas, etc. Mas se, devido, não tem um centro e se este centro não está de certo modo aberto à verdade universal, como ele vai poder ser honesto? Só por um sorteiro, por uma questão lotérica. Então, até o ensinamento moral, ele tem que visar o centro consciente da pessoa. E este centro consciente não é controlável verbalmente. Ele se transmite do mesmo jeito que os gestos do técnico transmite ao aluno o manejo da máquina. Tudo isso não tem jeito de você transpor isto em explicação verbal. Você tem que ver e fazer. É do mesmo modo. Estudei desenho em tempo e 90% do ensinamento consistiu em copiar o que o nosso professor Lujud Noiviano fazia. A explicação verbal era um pedacinho. O resto você via ele fazendo e fazia igual. Então, é por esta imitação. E isto, para mim, vigora sobretudo na educação de crianças. O que você transmite a uma criança? Você não transmite o que você quer transmitir. Você transmite o que você está fazendo. Ou seja, a criança não presta atenção em você só quando você está ensinando, dando uma ordem. Fulaninho não faça isso. Fulaninho desça do burro. Fulaninho, pare de estrangular seu irmãozinho. Não é só nessa hora que ela está prestando atenção. Ela está prestando atenção em você quando ela bem entende e presta atenção no pai e na mãe. A maior parte do tempo. A criança tem um fascínio por pai e mãe. Ficou olhando. Então, é ali que você está ensinando a criança. Você não tem controle deste processo e ela também não tem. Mas existe uma espécie de controle, vamos dizer, cardíaco, do coração que vem do seu centro e passa para o centro dela. É um processo mágico? É, mas muita coisa é mágica nesta vida. Nós não sabemos como isso funciona, mas sabemos que funciona. E se isso é assim na educação de crianças, também será na educação erudita, da educação do adulto, da educação filosófica. Pois eu acabo de dizer que isso é assim até no ensino, o técnico, meu Deus do céu. Se é assim, na coisa mais material e técnica, como é que não será na filosofia, na ética ou na religião? Então, na própria religião, a pregação funciona um pouquinho. Mas se você nunca vê aquilo funcionando, você nunca vê o exemplo da santidade, da bondade, não adianta nada. Mas o exemplo por si, ele sempre funciona, mesmo que você não consiga verbalizar tudo o que você está vendo. Então, o caminho certo da educação é sempre isso, é educação, pelo exemplo. É o que eu estou fazendo aqui? Eu estou filosofando, vocês estão me vendo filosofar. O que vocês captam? Vocês captam um monte de detalhes que estão fora até do meu próprio foco. Eu estou hoje mesmo a ver um vídeo de um sujeito imitando, um negócio de Rolade da Rissade. Mas ele pegou um conjunto de coisas, um estilo, pegou grosseiramente, mas pegou. De bom partido desse exemplo físico, você pode pegar camadas mais profundas da influência. O professor está passando, quer dizer, um estilo de ser, um estilo de pensar, um estilo de perceber, um estilo de conscientizar, etc. E é isso que vai funcionar no fim das contas. Tá bom? Vou fazer a intervalo da campanha de Outras. Então, vamos lá. Eu vou pedir o Alexandre Valias perguntas aqui para nós. Jonas da Silva Pereira pergunta, Descartes, procura uma música para a verdade universal através da dúvida metódica. Acreditava que essa verdade universal era concluída. Agradecimento, se eu falasse um pouco sobre a verdade para Descartes, com a perspectiva da verdade, que o senhor acabou de se perguntar. Muito obrigado. O próprio Descartes expõe a concepção dele de uma verdade exposta à maneira de um tratado de geometria. Ou seja, você partiu de premissas fundamentais e você deduzindo conclusões mais particulares. Então, evidentemente, tratava-se de uma verdade. Primeiro, que pudesse ser verbalmente exposta. Segundo, que pudesse ser desenvolvida como um sistema dedutivo. E terceiro, evidentemente, uma verdade que ele pudesse dominar e tornar operacional. Descartes era muito entusiasmado pelo progresso técnico e ele visava, evidentemente, com sua filosofia, a fomentar o progresso da ciência e da tecnologia. Então, se trata sempre, vamos dizer, primeiro, de um conhecimento público. Totalmente verbalizável e acessível a toda uma comunidade. Aí, tem um detalhe que precisará ser objeto de uma outra aula. Basicamente, dois usos diferentes da linguagem. Existe o uso que se faz da linguagem nas ciencias e na tecnologia, que tem que ser uma verdade sem nenhum tipo de ambiguidade. E aonde a cada palavra, a cada termo corresponde a um objeto perfeitamente identificável. Ora, isto só é possível por um vocabulário convencional. Quer dizer, você define cada termo, esse termo tem um significado estável e tem um referente externo perfeitamente identificável. Ora, é claro que para fazer isso, é preciso limitar severamente o alcance deste discurso. Limitando, primeiro, aqueles aspectos que interessam a investigação. Ora, não existe nenhum objeto que corresponde integralmente só àquilo que uma ciencia investiga dele. Isso é absolutamente impossível. Se você pegar, sei lá, um grão de milho, é ao mesmo tempo um objeto da agronomia, objeto da economia. É um objeto estético, pode ser desenhado. É um objeto gustativo, é milhões de coisas. É um objeto utilitário, tem todos esses aspectos ao mesmo tempo e nenhuma ciencia pode estudá-los todos ao mesmo tempo. Então, ela limita, faz uma seleção abstrativa e diz, olha, este objeto para nós, nós o definimos assim, porque isto é o aspecto dele que corresponde ao nosso ponto de vista. Aquilo que os escolas chamavam do objeto formal. Você tem o objeto material, então, um milho, por exemplo, é o objeto material de milhares de abordagens possíveis. Se você vai estudar sobre o ponto de vista agronômico, por exemplo, então, é só este lado que interessa e você dá uma definição agronômica do milho, que não é a definição econômica, por exemplo. Então, o modo de você produzir o milho não tem nada a ver com o modo de você estudar o preço com que ele é verde do mercado. São métodos completamente diferentes, são, portanto, objetos diferentes. Então, isto quer dizer que uma linguagem estável, perfeitamente formalizável e sem ambiguidades, só é possível medir uma severa seleção dos aspectos a ser estudados. Porém, existe a linguagem em geral a qual não é assim. Na linguagem em geral, ou seja, seja na linguagem diária da nossa comunicação, das conversas pessoais, seja na linguagem da literatura, qualquer palavra tem significados imprevistos, porque depende do contexto que você está usando. Por isso ela vai ter nuances, referências, evocações, etc., que não são previsíveis. Então, é por isso que eu insisti umas aulas atrás, em um post que eu coloquei ontem no Facebook, que o princípio da educação tem de ser a aquisição de uma extensa e profunda e séria cultura literária. Porque se você não tem o domínio desta linguagem, você não tem flexibilidade. Você só vai entender o que seja dito na base de um literalismo grosso e convencional. Então, você que nem aquele idiota da folha, que se você usa a expressão todo mundo, ele quer dizer, ah, são todos sem exceção. Qual é? Então, o que é isso? É uma falta de domínio da linguagem. E essa falta acontece porque as pessoas não têm o treino literário, não estão habituadas a ler a grande literatura. Simplesmente não estão. Você que venta no faculdade, ele vai aprender direto, se ele entrar em uma área técnica, científica, ele vai aprender direto o vocabulário daquela ciência e vai se acostumar com ela e vai achar que ela é realidade para ele. E se ele entra em uma área de humanas, ah, eu vou aqui fazer letras para adquirir o futuro. O que vai acontecer? Você vai receber uma injeção de teorias, desconstrucionistas e outras, que vai substituir a leitura do próprio material literário. Quer dizer, em vez de você ler Camões, você vai ler uma análise de desconstrucionistas de Camões. Então, a teoria encobre o objeto. Assim não dá, você não tem prática literária, nenhuma vai estar cheio de teorias a respeito na cabeça. É como se ele nunca viu um bicho na vida, mas ele leu um monte de tratar de biologia e zoologia. Então, ele leu tudo sobre a biologia das vacas, mas você mostra uma vaca de verdade para ele não reconhece que é uma vaca, ele pensa que é um porco. Então, o treino linguístico para o uso desta linguagem cheia de imprevisibilidade em nós, é o essencial para inteligência. Então, tem duas coisas que você precisa aprender a vida. Uma é isto, o domínio da linguagem em geral, não da linguagem específica de uma sessão ou de uma técnica, que é apenas um, dentre milhares de usos possíveis. E se você vicia na língua da sua profissão, você está substituindo, você está fazendo um particulário em gulo em geral. Então, você já começou errado desde o início. E assim, você precisa aprender um pouco de matemática para desenvolver o treino de sessão, senso das proporções, porque matemática é tudo em matemática e proporção. Está certo então? Você tem o senso da medida, do tamanho das coisas, não é isso? Então, aqui nós estávamos discutindo aqui, se os meus livros caberiam na minha biblioteca, caberiam na existência, isso é um problema de sessão das proporções. Você olha, já então, mais ou menos vai caber ou não vai caber. E assim, em vários outros domínios da realidade, por um sujeito bem com o plano econômico, isso é executável, não é executável, isso é sessão das proporções. Se você vai jogar a bilhar, vou conseguir embocar a bola lá na caçapa ou não, também é sessão das proporções. Você está fazendo uma equação trigonométrica no fim das contas. Então, essa é equação trigonométrica sem expressão matemática. Do mesmo modo, o gato que vai pular em cima do muro também faz uma equação trigonométrica. Então, o senso das proporções é importantíssimo e ele se desenvolve sobretudo através da matemática, da música e do desenho. Tudo isso é muito importante. Mas, e por outro lado, a aquisição da habilidade linguística, de lidar com significados imprevisíveis e que dependem do contexto momentâneo. Contando o caso de uma obra de Liagem Literária, ela mesma cria o seu contexto. E na vida diária, você vai ter que identificar o contexto social, cultural, pessoal, psicológico, etc. Então, isso simplesmente na educação brasileira não existe. Então, alguém estava agora lembrando uma lista de livros brasileiros importantes. De, olha, se você não sabe o outro alívio, só sabe o português, mas você ele tudo está aqui, você vai adquirir uma cultura de valor universal. Nem sem saber uma língua estrangeira. Por quê? Porque toda a problemática que está em discussão no mundo, ela aparece de algum modo na literatura, vamos dizer. Indiretamente, mas aparece. Só que, aparece até, digamos, anos 60 a 70, depois sumiu. Não aparece mais porque não há literatura suficiente para isso. Não que não haja escritora e talento. Hoje mesmo eu estava lá louvando um inscrito da Lorenda Miranda Kotlak, que ela publicou no Facebook esses dias. Não, publicou no blog dela, esses dias. O Facebook também. No Facebook também, né? Tem ela, tem o Jorviere, tem o Eric Nogueira, tem o Flávio Gorn, tem excelente escritor por aí, mas o volume é pequeno em comparação com o que nós tínhamos cinco décadas atrás. Então, podemos dizer, existem alguns escritores, mas não há uma literatura brasileira hoje. Ela está, vamos dizer, eu estou fazendo das tripas do coração para que ela volte a existir. Está certo? Mas, para ver uma literatura, é preciso ver alguns milhares de escritores produzindo para que, anualmente, apareçam, digamos, dez obras dignas de ser conservadas para sempre. Nós não estamos produzindo isso. Isso significa que a vida brasileira não tem testemunho literário mais. Só tem um testemunho parcial de um pedacinho, um pedacinho, um pedacinho. Está faltando muito. E, claro, que a literatura desapareceu porque desapareceu a cultura literária. As pessoas simplesmente não leem mais determinadas coisas. Então, hoje mesmo, uma aluna colocou lá um depoimento, falou, olha, sua terração, a minha vida é uma as de ter lido determinadas coisas de literatura brasileira e outra depois. Quer dizer, agora ela percebe as coisas melhor, tem mais sensibilidade. É um conhecimento, vamos dizer, que ela tem, mas que ela não pode formular. Você perguntou, mas exatamente o que mudou? Ela não sabe dizer isso, mas ela, ou seja, a percepção que ela tem da vida se enriqueceu muito. Isso tornou mais sólida e mais central, mais consciente. E é essa a finalidade básica da educação. Sem isso, o resto não adianta. Ah, mas nós precisamos dar um ensino especializado para o sujeito, a gente já se vê uma profissão, a profissão fala, então, sim, existe essa necessidade econômica, mas se o sujeito não tem essa base, ele vai exercer isso muito mal, porque não sabe onde isso está. Quer dizer, é espécie sem gênero. Eu não sou contra a especialização, eu sou só contra, o específico que toma o lugar do genérico. Aí não dá, porra. Você precisa saber onde as coisas estão, você precisa ter um mapa do universo cultural e humano de você estar, e ali saber situar o seu negócio em particular. Muito bem, acho que eu fui muito além dessa pergunta. Vamos lá. Rodão Pereira de Souza. Tenho observado uma constante no comportamento do brasileiro. A pego emocional, profundo e negociável a ideias e conceitos que mesmo comprovado estar errados, seriam por argumentos por raciológico, testemunho e udados estatísticos, que o sujeito não os abandone e permanece correntado das crianças. Ele não consegue conceber o contraditório, você quer a possibilidade de estar enganado ou com informações as suficientes para expressar uma verdade parcial. Seria isso uma noção errada da verdade, junto com uma ausência de autocorreção e unidade no brasileiro diante do conhecimento? É claro que isso acontece também em toda a parte, aqui nos Estados Unidos acontece também, sobre tudo no meio universitário. Mas no caso do brasileiro, este problema adquire um perfil específico que eu acho que é muito baseado na insegurança permanente do brasileiro. Essa insegurança já vem de Portugal. Portugal esteve em guerra de religião durante oito séculos. Então um dia o sujeito era dominado pelos cristãos, estudia pelos muçulmanos e ele tinha que se virar no meio disso. Então a noção que ele tinha de autoridade era uma coisa muito evanescente. E se você não tem uma autoridade externa ou interna, a qual você referiu, você está em segura, evidentemente. Então nós já temos esta herança que nós mesmo trouxemos de Portugal. Se você ler o clássico de essa riqueirois, a Luz de Casa de Ramíris, você vai ver que o personagem Ramíris é um espécie de retrato da insegurança, da instabilidade, quase volátil da alma portuguesa. Isso passou muito para o Brasil, complicando mais ainda pelo fato da população africana e indígena, que de repente era inserida dentro de uma sociedade que eles não tinham criado, que eles não compreendiam. E que eles não sabiam direito qual era o papel dele, o que era para fazer, o que era para não fazer. Então está literalmente perdido no espaço e leva décadas, muitas gerações para você estabilizar uma nova identidade dentro de um contexto nacional. Mas como esse contexto nacional também é volátil, também fica difícil, se você pensar no que consiste a identidade do Brasil, o que é sentir-se brasileiro? Ah, carnaval, samba, futebol, mas isso é identidade brasileira? Uma identidade nacional é a memória dos feitos realizados em comum. Se a única coisa que nós tínhamos que fazer, sempre eu pulei o carnaval, joguei futebol e dancei um samba. Isso aí não basta, isso aí não nada, isso é coisa de criança pesando bem. Nós não nos sentimos participantes da história nacional. Os grandes eventos da história nacional não dizem nada para o brasileiro. Se ele diz, por exemplo, que o Brasil surge na batalha de Guararapes, o cara nem sabe o que é a batalha de Guararapes. Ora, aqui nos Estados Unidos você percebe um decréscimo da consciência histórica, o ano na tarde, mas ela ainda existe. Você aqui vê uma bandeira dos Estados Unidos e quanto é porta? Se você entra em qualquer livraria, o qual é o assunto que mais tem na livraria? É a história americana, então existe um... o cara que é americano, ele sabe o que é ser o americano. E ser brasileiro não sabe exatamente o que é. Então isso dá uma insegurança desgraçada. Então nesse sentido as ideias, crenças, convicções, ideologias aparecem como muletas psicológicas. Elas dão um sésil de identidade postiço. Eu achei assim, o exemplo disso foi um sujeito candidato a não sei o que, que ele se apresentava com o nome de Toninho do PT. Ele disse, olha a identidade dele. Não é assim, o Toninho da Padaria, o Toninho da Vila de Ocuñé, o Toninho da Oficina Mecan... Não, é o Toninho do PT, quer dizer, o partido se incorpora nele como identidade. Veja se isso acontece com algum político americano, mas absolutamente nenhum. O sujeito pode estar no Partido Republicano, a democratas, mas ele tem que ter alguma identidade, pelo menos regional. Se não vão rir da cara dele, se ele não tiver nada, mas nenhuma outra identidade, não sei o nome do partido, ele tá lascado. No Brasil isso se tornou normal. Então essas ideias dentro da mente brasileira têm uma função diferente da que tem, digamos, um estudo americano. Então, o estudo americano se aproxima mais da ideia do fanatismo autêntico, que o brasileiro não é propriamente fanático. O brasileiro afirme e reafirme ideias nas quais, no fundo, ele não acredita nem um pouco. É um puro suporte verbal de uma personalidade, como você diz, vacilante, personalidade periclitante. Então, o que nós podemos fazer para remediar isso? Digo, bom, eu posso fazer para vocês e eu estou dando todos os elementos para que vocês adquirem um senso do que é ser brasileiro, através da cultura brasileira, da história brasileira, da identificação com a história nacional, que é isso aí tudo que vocês podem fazer. Eu creio que hoje uma boa parte dos alunos, se não todos, já têm uma identidade pessoal mais, um pouco mais centrada e mais claramente situada dentro do contexto histórico. E por isso, veja, só a pessoa que tem isso pode mudar de ideia. Você precisa desesperar da minha ideia, porque sem ela a personalidade dele cai, ele não vai largar ideia de jeito nenhum. Quando eu vejo ao longo da minha vida o número de vezes que eu tive que mudar de ideia, não só mudar de ideia, mas mudar de estilo de vida, mudar tudo, como morrer na sua outra vez, é o que aconteceu várias vezes. E a gente sobrevive tudo isso, mas você só sobrevive a isso, se você tem um senso de identidade muito profundo e muito bem centrado, em última análise, esse senso de identidade depende da sua presença dentro de Deus, sem sobreviver. Só isso segura o ser humano de pé, mas entre a situação do indivíduo atomizado, perdido no espaço e o indivíduo centrado, você tem muito gráfico intermediário de a conquista da identidade social, nacional, linguística, etc. Tudo isso entra na composição dessa identidade. Vamos lá? Ah, pera aí, tem uma pergunta aqui. Professor J. S. Naule, a verdade universal não pode ser conhecida pelo ser humano, pelo indivíduo humano, mas que só chega até nós algumas coisas que essa verdade nos mostra. Mas de algum modo nós presintimos essa verdade universal, que tem unidade, que é a unidade de todas as coisas, mas eu consigo perceber que eu presinto isso, mas não sei exatamente como. Talvez seja por um... eu presinto que o contrabito seria um absurdo total, que se não existir isso, seria um absurdo. Isso é um modo que eu presinti que existe essa verdade universal, unitária, essa unidade de todas as coisas. Mas como é real, mas eu não sei exatamente como eu presinto isso. Tem alguma coisa meio com a fé, essa percepção dessa unidade, da verdade universal? Não, ao contrário, isso não tem nada a ver com a fé, a fé é um efeito disso. Isso aí está na Bíblia, quer dizer, a fé é o dom do Espírito Santo. Não é a fé que vai te conectar com o Espírito Santo. Ao contrário, a iniciativa está na verdade universal e não em você. Ela, como disse, ela está presente e ela, de certo modo, se orienta e te dirige. Se você não compreenda esse processo, é porque não é para compreender mesmo. Você não pode ter domínio disso. Se você tentar ter o domínio, você automaticamente se fechou a inspiração do Espírito Santo. Você tem que deixar que ele te dirija. Tudo isso que eu estou dizendo, isso vai de tal modo contra o subjetivismo moderno. Ele começa com um decor e te vê até hoje, incluindo os que pretendem ser materialistas, como Karl Marx, no Pólogo Farniz da Aflições, eu mostrei que aquilo dia não é um materialismo de nenhum, é um idealismo subjetivo, na fina, apenas coletivo. Essa tradição subjetivista quer ver tudo, explicar tudo pelo sujeito. Em mais tarde, a gente foi explicar pelo cérebro. Eu disse, pensa bem o tamanho do seu cérebro dentro do universo, é um nada. Então, você tem que explicar o cérebro pelo universo e não ao contrário. Mas a tendência subjetivista está tão arraigada que todo o conhecimento do qual nós não temos um domínio cerebral e portanto um domínio verbal explícito, parece que nós não conhecemos. Mas pera aí, se você só, se todo o conhecimento que você tem, se só aquele que você domina conscientemente e verbalmente, você não conseguiria nem andar. Você não conseguiria respirar, não é isso? Então, isso quer dizer que a nossa adaptação ao mundo real, ela tende a ser algo que nos transcende, porque senão nós teríamos apenas aquele pouquinho que nós dominamos. Então, eu sempre me inspiro no exemplo de um vizinho que eu tinha aqui, nadava numa praia que tinha ondas de 20 metros de altura, e o que ele fazia? Ele nadava, não, ele deixava as ondas jogarem para cá, para lá, para aí, saía no abor, se tentasse dominar aquilo, ele ia afundar. Então, nós também, nós temos que nos instalar no mundo real. O mundo real é por definição aquilo que escapa o nosso controle. Agora, você vê, existe no meio de tudo isso a interferência da emoção gnóstica. O que é a emoção gnóstica? É o medo, é a desconfiança. E se por trás de tudo isso tem um Deus maligno que está pronto? Você pensou isso? Então, qual é a reação normal? Tentar dominar, tentar se defender. E na hora que você entrou nesse reflexo gnóstico, então você tem que dominar o conhecimento. Então, você pode se defender dessa coisa maligna que não cerca por toda parte, mas é por isso que, eu aqui estou sugendo que você faça exatamente o contrário, quer dizer que você confia nessa verdade universal. É o primeiro mandamento, amar o Deus sobre todas as coisas. O que é que é o Deus? É a verdade universal, controla tudo, está por trás de tudo, e que você não domina absolutamente. Mas você pode se deixar levar e ele, é que não está na Bíblia, não se preocupe o que você vai dizer no tribunal, porque o Espírito Santo inspirará as palavras. Deu para entender isso aqui? Bom, acho que vamos parar por aqui hoje, as respostas foram bastante longas. Então, é isso, tem algum aviso? Acho que não tem aviso nenhum. Está bem, então é isso aí. Até a semana que vem. Muito obrigado.