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Bom, noite a todos, sejam bem-vindos. Essa semana houve dois acontecimentos que sugeriram o assunto desta aula. O primeiro foi, evidentemente, este problema com a exposição do Santander. E o segundo foi o fato de que o deputado Jean-Louis está apoiando um projeto apresentado por um outro deputado, cujo nome me escapa no momento. Aliás, cujo nome eu jamais soube, que descriminaliza qualquer obra de arte, de maneira que, se o crime foi cometido mediante uma obra de arte, não há acusação possível. Então a primeira coisa que me ocorreu foi se os dois deputados ter alguma ideia do que seja uma obra de arte e do que não seja. Porque, evidentemente, essa distinção não é das mais fáceis. E, havendo uma indefinição e uma dúvida, então, se descriminalizar uma coisa que você não sabe o que é, qualquer ato pode entrar dentro dessa classificação e ser descriminalizado, desde que alguém o chame de arte. Então, é claro que a distinção do entre o que é arte não é das coisas mais fáceis e mais óbvias, mas eu acredito que há uma série de traços que estão necessariamente presentes numa obra de arte e que, se não bastam para defini-la, bastam pelo menos para distingui-la de tudo o mais. O primeiro desses traços é o seguinte, uma obra de arte é uma obra. Portanto, ela tem, vamos dizer, uma forma final. Ela chega a uma conclusão, uma estátua, chega a uma forma final. Ela não continua sendo alterada. Se você comparar, por exemplo, isso com o que acontece com o sistema filosófico ou com a filosofia de modo geral, você verá que as filosofias jamais estão terminadas. Quer dizer, você não pode dizer que um determinado livro contém a filosofia do seu fulano, seu ciclano, porque ele vai estar continuamente acrescentando novas observações, novas problemas, etc., etc. De modo que? Se você perguntar assim, o que é a obra de Shakespeare? A obra de Shakespeare constitui-se dos textos que ele publicou, como peças de teatro e como poemas, ponto final. O que Shakespeare disse fora disso aí não faz parte da obra, mas e no caso de um filósofo? Não podemos esquecer que a própria tradição filosófica ocidental foi fundada por um jeito que jamais escreveu um livro, que é Socrates. Portanto, tudo o que Socrates disse, seja, vamos dizer, num diálogo filosófico formal, seja numa conversa qualquer, do dia a dia acaba tendo importância para a filosofia de Socrates. Então isso quer dizer que a filosofia não é jamais uma obra, é uma investigação da qual algumas partes se expressam e se cristalizam em obras escritas, mas uma boa parte não. É certo? Daí que para o estudo de uma obra filosófica, tudo o que um filósofo escreveu o disse acaba tendo importância. Inclusive, correspondência pessoal, conversações que alguém lembrou e assim por dentro. Então, mas no caso da obra de arte não. A obra de arte ela tem, vamos dizer, um formato fechado e terminado, encerrado. Mesmo que seja uma obra de arte que se desenrole no tempo, por exemplo, uma peça de teatro. Pessoas de teatro chegam à sua conclusão. O que o autor possa ter falado fora do texto da peça não faz parte dela e não conta contribui para o julgamento dela, para compreensão e julgamento dela. Claro, algum dado biográfico pode ser usado secundariamente para a análise do sentido da obra, mas é sempre uma coisa secundária. Isso não pode jamais se substituir ou ser nivelado aquilo que está dentro da obra. Isso quer dizer que no caso de um poeta, de um dramaturgo, a noção de obras completas é perfeita. E no caso de um filósofo não, se você pegar as obras de Edmond Russel, Edmond Russel sabia taquigrafia, quer dizer, ele escrevia na velocidade que ele pensava e sobraram quando ele morreu 40 mil páginas taquigrafadas, o que dá mais ou menos 120 mil páginas transcritas. Isso não acabou de ser publicado até hoje, de maneira que o futuro ainda pode reservar algumas surpresas com relação ao sentido último da filosofia de Edmond Russel. Não se pode conceber isso no caso de uma obra de arte, que a gente fez uma estátua, e você fica esperando que depois da morte dele apareça algo que vai complementar a estátua. Isso não faz menor sentido ou uma peça de teatro. Claro que o indivíduo pode ter, mandei uma segunda versão da peça escrita, mas a segunda versão também terá de estar completa. Então a noção da arte vem inevitavelmente ligada à noção da forma, a segunda traça. Essa forma é uma forma física, visível e sensível, o que não é a mesma coisa de uma filosofia. Uma filosofia se distingue entre a obra escrita, ou publicada ou inédita, mas escrita, e o que nós chamamos o filosofema, que é a ordem interna daqueles pensamentos, que é uma coisa puramente abstrata, não tem existência física. O filosofema não é publicado, ele é o conteúdo teoretico daquilo que está ali, e que pode evidentemente ser expresso com outras palavras que não aquelas que o autor usou e às vezes até melhor do que ele se explicou. Então uma filosofia pode ter uma existência imaterial, uma obra de arte jamais. Se você pensar assim, e os poemas que Shakespeare pensou e não escreveu, digo não fazem parte da obra de Shakespeare, mas aquilo que o mundo russa pensou e não escreveu, faz parte sim porque você vai ter que adivinhar aquilo. Vocês veem eu mesmo deu um exemplo disso no livro sobre Aristóteles, Teoria dos Quartes e discurso, onde eu puxo de dentro da filosofia deles, estou atrás de uma teoria que ele não escreveu em parte alguma, mas que está implícita, está exigida pela lógica interna dos seus escritos. Ele nunca disse que a poética retórica, a dialética, a lógica são variantes de uma mesma ciência, ele nunca disse isso. Quem foi dizer foi a Vicena e São Tomás, muito tempo depois, mas se limitaram a observar isso de passar, da onde justamente eu tirei a dica para estudar o assunto e descobrir qual era a sua unidade por trás. Então essa unidade não faz parte da obra de Aristóteles, mas faz parte da sua filosofia. Então pode dizer, uma parte imaterial da filosofia de Aristóteles. Numa obra de arte isso não faz o menor sentido, isso é aquilo que não alcançou, de uma forma visível, audível ou tocavel, não faz parte da obra de arte de maneira alguma. Então por exemplo, se você pegar poesia oral, ela tem um formato físico, a música, a música é a mesma coisa, ela tem um formato audível, portanto atinge um dos sentidos. Um dos cinco sentidos tem que poder alcançar a obra de arte, senão ela simplesmente não existe uma obra de arte absolutamente imaterial, estranha aos cinco sentidos, não é concebível. Então nós temos essas duas traços que são inconfundíveis. Primeiro, a obra de arte tem uma forma acabada. Como ela esteja realmente interminada, como por exemplo a famosa Sinfonia Inacabada de Schuber, a forma que ela tem é o formato em que o autor a deixou, o que você tem é aquela parte inacabada, o resto você não sabe o que é. Portanto você não vai poder jogar estéticamente esta obra com base nas partes faltantes, só pode jogar com aquilo que está dentro da forma. Em segundo lugar, essa forma tem que ser uma forma física, visível, audível, tocável, alcançável pelos cinco sentidos de algum modo. Estas observações nos levam a uma conclusão. Se o que define a obra de arte é distingue, por exemplo, da filosofia ou da teologia, a teologia é a mesma coisa, por exemplo, a teologia de Lutero, uma boa parte do que ele sabe do pensamento de Lutero é o chamado Table Talk, quer dizer conversações à mesa, quer dizer ele estava falando, ele estava conversando durante o almoço, alguém lá tinha a ideia de anotar. Ou a famosa conversação de Ekerman com Goethe, quer dizer, você conhece muito do pensamento de Goethe, não da sua obra de arte literária, mas do seu pensamento científico e filosófico, o que ele tem, era um filósofo, um cientista também, você conhece a partir dessas conversações, está certo, e da teologia de Lutero, sem o Table Talk você não entenderia muita coisa que Lutero está dizendo. Também isso não quer dizer que esse Table Talk faça parte da sua obra publicada, não, é certo, é uma coisa que veio de fora. Na arte é absolutamente inadvencível, pois você assiste uma peça, se a peça está ruim, mas daí você ouve alguém dizer que, ah, mas fora depois de estar da peça o autor tem uma ideia para completá-la assim, passado, e me diz isso assim, isso não conta na apreciação da obra, só conta aquilo que está definitivamente contido na forma final da obra. Isso quer dizer que o que define uma obra de arte, pelo menos, não sei se define completamente, mas o que é distingue de outras manifestações de espírito humano, é exatamente o fato de que ela consiste numa forma, não apenas que ela tenha uma forma, uma filosofia também tem uma forma, pode ser uma forma imaterial, mas a presença de uma forma fisicamente alcançável é o que define a obra de arte, portanto, nós dizemos, a forma é a finalidade da obra de arte. Se não chegou à forma, não tem obra de arte nenhuma, tem apenas uma ideia, um projeto, está certo. E nesse sentido até eu poderia me considerar uma alma música de todos os tempos, porque eu já ventei um monte de melodias na minha cabeça, não sou capaz de escrevê-las, está certo então? O bar perto de mim é pinto, só que o seguinte, eu não compus nada, ele compus. Então, a noção da forma é absolutamente essencial para a obra de arte. Ora, essa forma contém muitos elementos, se você pegar, por exemplo, pega o livro do filósofo Polônia Romerengar, a obra de arte literária, onde ele faz uma fenomenologia da obra de arte literária e ele a descreve como composta de várias camadas, está certo? É a primeira camada, evidentemente, uma camada física, você tem um papel impresso, se não tem um papel impresso, então não chega a ser uma obra de arte literária. Em este papel você tem sinais gravados, está certo? Que representam palavras de uma língua, então você tem uma camada verbal. Em cima dessa camada verbal você tem o mundo dos objetos, fatos e situações, aquelas palavras que você refere. E em cima disso você tem a concepção geral do mundo, que o artista votou ali. Então, do mesmo modo você pode descrever pelo mesmo método em garden, você pode descrever um quadro, então o quadro se compõe em primeiro lugar, de uma tela, o papel e manchas de tinta. Em seguida você tem alguma referência a um objeto ou alguma forma puramente inventada, mas alguma referência, certamente, tem. Uma chamada obrida de arte abstrata, que é incorretamente chamada abstrata, porque arte não é jamais abstrata. Você pega os quadros Vasili Candinsky, o Mondrian, aquele de abstrata não tem nada, você está vendo formas concretas, você está vendo um triângulo, um quadrado, uma cor vermelha, uma cor amarela, não tem nada de abstrato, isso aí. Então, isso quer dizer que se aquilo que define a obra de arte, que se ad extingue, é a forma, então a forma é o elemento mais importante dela. Os elementos que acompõem materialmente podem ser qualquer coisa, você pode, por exemplo, um pintor, pode pintar uma obra de arte, baseando-se no modelo de uma mulher lindíssima, ou dos anjos que ele viu numa visão celeste, mas ele pode fazer um belíssimo quadro, mostrando, por exemplo, um pedaço de carne e poder, porque beleza não está na forma, então é a representação que é bela e não o seu objeto, o objeto pode ser horrível, se você pegar, por exemplo, uma peça de, peça de cheio de títulos andrônicos, é só sangueira do começo até o fim, não tem nada de bonito ali, mas a obra de arte não está no seu, no conteúdo fático aludido, ela está na forma final. Então uma bela representação de uma coisa feia é a obra de arte, evidentemente. Se a forma é que é o essencial, então acontece que todo o conteúdo, ou seja, conteúdo para ser chamado de conteúdo, a alusão da obra de arte, as coisas do mundo real ou imaginar. Então o conteúdo está submetido à forma, ele não vale por si, nada significa por si, ele só significa dentro daquela forma que o artista lhe deu, essa forma então implica uma interpretação estética dos fatos aludidos ou do conteúdo aludido. Ora o predomino da forma é tamanho, tamanho, tamanho, que as ideias e convicções do artista não pesam em absolutamente nada para a apreciação da obra de arte, ou seja, você não precisa ser um protestante para você apreciar a música de Bach, embora ele tenha feito muita coisa sobre a inspiração do protestante, você não precisa ser um católico para você apreciar o canto gregoriano, você não precisa ser, vamos dizer, também não precisa ser católico para você apreciar Dante, o poeno de Dante, tá certo? Você não precisa ser um comunista para você apreciar os romances de os grandes romances soviéticos como Maximo Gorky e Mikhail Solokhov, então realmente são grandes obras de arte, e assim por diante, isso quer dizer que o conteúdo das ideias e a referência aos fatos está subentido a uma consideração maior que a da forma, então essa forma absorve estéticamente os vários conteúdos e o subordina, e é por isso mesmo que a apreciação da obra não depende do seu conteúdo e sim da forma com que ela articula esses conteúdos, tá entendendo isso? É justamente isso que permite que grandes obras de arte tenham interpretações filosoficamente ou moralmente ou teologicamente opostas, se você ler, por exemplo, os estudos do Gorky Lukash, que é um filósofo marxista, sobre Dostoevski, e depois você ler os do Nikolai Berdyev, que é um filósofo cristão, sobre o mesmo assunto, você vê que existem motivos absolutamente opostos para você apreciar a obra de Dostoevski, porque a forma absorveu os conteúdos e ela tem uma existência própria, tá entendendo isso aqui? No mesmo modo, se você pega as poemas de Baudelaire, Baudelaire é aparentemente um poeta satanista, tá certo? Mas depois apareceu um livro de um crítico chamado Stanislas Firmé, que é um crítico católico chamado Notre Baudelaire, nosso Baudelaire, então mostrando que uma interpretação cristã das poemas de Baudelaire é perfeitamente viável, e não faz sentido perguntar quem tem razão, porque os dois lados tem razão, porque a obra de arte não é a afirmação de um conteúdo moral, político e ecológico, ela é a criação de uma forma que abrange vários conteúdos, e é essa forma que é a diferencia enquanto obra de arte, tá entendendo? Isso quer dizer o seguinte, em qualquer caso em que a apreciação de uma obra de arte não possa ser separada da adesão ao seu conteúdo moral, religioso, ideológico, não é uma obra de arte, a subordinação alterou. Por exemplo, pode acontecer até o caso extremo em que o artista, o escritor, o pintor, o músico faz uma música com determinada finalidade ideológica, doutrinal, propagandista, etc. E ainda assim a forma predomina de tal modo que a obra pode ser apreciada independentemente até contra esse conteúdo. Se você pegar as peças do Bertolt Brecht, tem umas peças dele que são muito ruins, que são muito boas. Dessa era o que? Parênteses, dizem que a escrever as peças foi a mulher dele e roubou tudo, mas isso não vê o caso, quem é o autor ou não não interessa, ele era o vegarista mesmo, mas algumas peças são muito boas. Então essas peças são boas independentemente do conteúdo de propaganda comunista que era o objetivo dele. Isso prova que mesmo agindo com o sentimento e como um propagandista, ele era um artista e o lado estético predomina. Então entendam? Do mesmo modo, como alguns escritores podem ter escrito obras com uma finalidade propagandística ou ideológica, mas não conseguiram fazer a forma predominar suficientemente. É o caso por ano de Romanos de Emilio Isola. Emilio Isola tinha toda uma cosmovisão científicista, materialista da realidade e ele escrevia os livros para transmitir essa ideia. Em alguns que são livros muito bons, a forma predomina essa ideia, dizem uma obra de arte. Nos outros ele fala, não, isso aqui é só a propaganda barata de uma ideologia da época. Entendam? A separação entre o conteúdo vão chamar de ideológico. Com ideológico estou querendo resumir tudo aqui. Religioso, moral, filosófico, político, etc. As possibilidades de separar entre o conteúdo político, entre a intenção política, publicitária e ideológica e a forma é o que distingue a obra de arte de tudo mais. Onde essa separação não for possível, você está diante de um fenômeno de outro tipo que não é obra de arte, que é, vamos dizer, uma obra de propaganda, uma obra ideológica, uma obra de pregação religiosa, etc. Que utiliza instrumentos da obra de arte de uma obra de arte, mas subordinando-os à finalidade principal, que é ideológica. Se essa subordinação for demasiado evidente, então evidente não é uma obra de arte e não pode ser julgada como tal. É um outro tipo de fenômeno que tem que ser julgado, por exemplo, dentro das histórias das ideias, ou histórias da política, ou histórias da história cultural, etc. Mas não é obra de arte. Então é claro que nem o deputado criou o projeto, nem o Jean-Guy Lys, que o apoia, são capazes de sequer de seguir a terra sociina. Duvido que entendesse se ele tivesse acendido esta aula. Tudo mais de fazê-la por conta própria. Embora essa raciocínica eu estou explicando, não seja novidade nenhuma. Se você pegar a história da filosofia da arte, a história da estética, você ver que essas ideias circulam há séculos e elas são mais ou menos um consenso. Então isso quer dizer que, supondo-se que esta lei fosse aplicada, toda a obra de arte está descriminalizada, então torna-se absolutamente imprescindível e urgente distinguir em cada caso se é uma obra de arte ou se é outra coisa. É isso? Ora, eu tive examinando alguns desenhos desse Antônio Obá. O Antônio Obá é assim, ele é tão flagrantemente anticristão que se você tirar esse anticristiano dos quadros dele não sobra nada. Então isso quer dizer, ele é um pintor, tem uma certa destreza, tem uma habilidade, mas o que ele está fazendo não é uma obra de arte, de maneira alguma, é uma obra ideológica, é um ato, uma tomada de posição ideológica que subordina a forma. Isso quer dizer, a forma ali não pode ser considerada independente do conteúdo ideológico transmitido, não tem como fazer isso. E se não tem, isso já é a prova de que o objetivo não foi artístico porque o que predominam não é a forma e sim a mensagem. Então entendendo isso? Se isso ficou muito claro, então nós podemos tirar algumas coisas quanto ao episódio Santander. É isso? E até fiz uma nota hoje dizendo o seguinte, o trajeto normal do pensamento humano. O seguinte, ele primeiro cria uma síntese confusa de várias impressões que ele recebeu. Essa síntese se expressa, pode expressar verbalmente, gestualmente, etc., mas ela contém muitos elementos indistintos. Em seguida você analisa essa impressão e você cria uma segunda síntese distinta. Quando Descartes fala das ideias claras e distintas, uma ideia clara é uma ideia diferente de outra ideia. E uma ideia distinta é aquela cujo os elementos internos estão perfeitamente distinguidos uns dos outros. Então distinguindo os vários elementos da síntese confusa você obtém uma síntese distinta e aí sim você tem uma ideia a defender. Mas no Brasil acho que ninguém sabe fazer isso. Todo mundo pega uma síntese inicial confusa, se apega a ela e sai defendendo em altos braços e ainda se achando um paladino da verdade da Rostissa. É claro que isso é palhaçada, isso é infantilidade. E isso acontece em todo o debate público sobre o que quer que seja no Brasil. Eu nunca vi, nos últimos 20 ou 30 anos, algum formador de opinião ser capaz de analisar a sua própria síntese confusa que se agita na sua mente e depurar e transformar numa síntese distinta de modo que ele saiba do que está falando. Quer dizer, as pessoas nunca sabem do que estão falando, que estão apenas expressando uma síntese confusa. No caso da exposição do Santo André, a primeira síntese confusa foi expressa naquele vídeo daquele rapá lá do furoreiro do sul que ficou chocado com os desenhos ali de crianças de meninos travestidos, cenas de zofilia e já saiu falando que dizia que aquilo era uma apologia da pedofilia. A apologia da pedofilia, segundo o estatuto da criança e da adolescente, exige a seguinte condição, é preciso que um quadro, um desenho, uma fotografia, qualquer outra representação de um ato sexual envolvendo crianças seja exibido a crianças. Os quadros que eu vi além do Santo André, nenhum atendia esta condição. Se você mostrar um ato sexual entre pessoas adultas, mostrar uma criança, você não está enquadrado no artigo 241 do estatuto da criança e da adolescente. Então você pode achar que isso é uma imolaridade, mas não tem crime. Então acompanhando daqui, esta distinção escapou perfeitamente a horizonte dos primeiros que ficaram chocados com o negócio. Então somando tudo, o único crime que havia na exposição do Santandré, não estou dizendo única imoralidade, única coisa chocante, única coisa revoltante, única coisa que diga de brilhar o estômago. Não, de brilhar tudo ali era de brilhar o estômago. Tudo era chocante e revoltante. Mas ser chocante e revoltante não é um crime. Não tem uma lei que proíba. Se tivesse essa lei, eu já estaria presa muito tempo. Porque eu vivo dizendo coisas chocantes e revoltantes. Então às vezes até de propósito, fazer o duet. Então por exemplo, do dia que eu disse que todos os comunistas do mundo são cúmplices do genocídio soviético. Mas a não que que eu disse? Se eu não justifiquei. Eu disse pra chocar em primeiro lugar, se a pessoa disse, ah, mas está exigendo, não, daí eu puxo lá jurisprudência dos tribunais internacionais que reconhece a complicidade e é exposto facto. Por exemplo, se o nego faz propaganda nazista hoje, ele está apoiando retroativamente um crime já cometido. Então ele é culpado também. E isso é evidentemente quando você conhece o que foi, vamos dizer, o gulag, a rede de campos de concentração soviética, você vê que aquilo foi uma coisa muito pior do que o Hitler jamais chegou a conceber. Mas muito pior, por primeiro lugar, pelo número de pessoas. Que chegou até ali 45 milhões de pessoas presas ao mesmo tempo. A mortalidade nos campos de concentração soviética era uma base de 50% por ano. De mais que tenha continuamente aprendendo mais gente pra mandar pra lá. Todos esses eram campos de trabalho forçados. E calcula-se, o próprio governo soviético calculava que 18% da mão de obra soviética era trabalho escravo. Outros economistas dizem que era 25%. Então foi o maior caso de escravidão que ocorreu na história do mundo. Se você pegar o Egito, a colonização das Américas, o Islam, soma tudo, é de bom. Tudo trabalho escravo soviético era fichinha. E hoje você vê esses movimentos negros protestando contra a condição dos negros nos Estados Unidos que é confortabilíssima. Queria eu ter a condição média do negro aqui, porque tem social security, tem crédito educacional, tem manusequia, não sei o que é, não sei o que é, assiste essa média gratuito, tem tudo. E mesmo assim eles acham ruim. Então, e bom, mas esses movimentos negros, todos têm inspiração comunista. Então são todos cúmperos retroativos do maior caso de escravidão que já houve no mundo. E você vai reclamar de uma escravidão que já acabou no século XIX, que é autoridade moral você tem. Não tem nenhuma, tá certo? Mas eu gosto de soltar a coisa primeiro numa versão sintética que choca as pessoas e dá a impressão que eu estou exagerando. Eu falo, não estou exagerando. Se você quiser demonstração todinha com todos os detalhes, eu te dou com número, fonte, etc., etc., etc. Então eu fico quietinho, mas estou dizendo isso só para ilustrar que você ser focante não é crime. Então, os primeiros protestos que se levantaram contra a exposição do Santander foram pura, sítice e confusa, misturando que é pura imoralidade com o que é crime e com o que é indução a um crime. Mas havia um único ponto onde o crime era insofismal, que era ultra-jacul. Praticado ali várias vezes, tá certo? Com a cárrica aturação, em nosso Jesus Cristo, em nossa senhora, e sobretudo com as hostas escritas, bom de palavrão. Ora, se o surreze fizesse uma cena de pedofilia, desenhasse uma cena de pedofilia, isso não configuraria a apologia da pedofilia. Porque a representação pictórica de um objeto não significa necessariamente adesão a esse objeto. Por exemplo, se você escreve um livro descrevendo a vida no gulag, isso não quer dizer que você é um apologista do gulag? Isso. Se você descreve, sei lá, um estupro, um aborto, que é uma representação literária ou pictórica, não quer dizer que seja contra o favor, talvez possa ser interpretado as duas maneiras. Dependendo do espírito do freguês, a obra de arte tem essa característica que isso é uma sua poliçemia. Ela pode significar transposta do plano estético para o plano ideológico, moral ou político. Ela pode significar várias coisas diferentes para pessoas diferentes. E isso é uma característica fundamental da obra de arte. Se ela não é poliçêmica, não é uma obra de arte. Se ela tem que ser uma e uma só coisa, isso só pode ser interpretado daquele jeito, então não acabou. Isso aí é filosofia, teologia, é propaganda, qualquer outra coisa, mas não é obra de arte. Então, no caso, este desenho das óstias, ele não estava representando um crime, ele estava cometendo. Ele não mostrou um sujeito escrevendo palavras nas óstias, ele mesmo escreveu. Portanto, o crime se consuma no ato de desenhar aquilo. Está entendendo? E no ato de exibí-lo, também é crime. Então ali não tinha dúvida, não tinha menor possibilidade de dúvida. E aí entra a questão adquire uma segunda dimensão muito interessante, que é a seguinte. Ao sair berrando contra a exposição, com base na sua síntese confusa, os cristãos, conservadores, etc., criaram uma pressão popular em cima dos artistas da exposição do Banco. E estes começaram a se queixar de ser vítimas de censura. Dizem, olha, o que que faz uma lei de censura? Um departamento de censura e diversões públicas. Ele permite ou proíbe a exibição de certos espetáculos, de certas obras, etc. Esse é tudo o que ele faz. O departamento de censura não pune ninguém. Ele não tem alcance penal. Ele literalmente faz a pena da censura. Ora, no caso, a imputação criminal e o desejo de censura vieram juntos misturados. De modo que o aspecto penal ficou em segundo lugar, quando ele era a única coisa importante e a única coisa verdadeira. Entende? Agora, o pessoal da direita brasileira é assim mesmo. Na cabeça de todos eles só existe síntese confusa. As pessoas não têm informação intelectual para fazer uma análise e distinguir alhos de bugários. Ninguém tem. Ninguém é ninguém. De todos os que falam em nome da direita. Claro, tem gente que não fala, tem pessoas que escrevem apenas expressando sua opinião pessoal sobre isso. Isso é em conta de alguns, sobre todos os alunos meus, evidentemente. Capaz de fazer essa distinção. Mas entre os formadores de opinião não tem nenhum. Isso quer dizer que toda questão no Brasil está a mercer de idiotas despreparados, incapazes, palpiteiros, vigaristas e isso é uma calamidade. Porque nada pode ter enquadramento racional e muito menos uma solução racional. E num instante em que um ato de censura é confundido com o enquadramento penal de um crime, eu digo meu Deus do céu. Eu quando tinha 12 anos já sabia a diferença. Entre o que é o departamento de censura e diversões públicas e o que é o direito penal. Eu sabia isso. Talvez que meu pai fosse advogado. Para mim, eu terminei. Uma coisa é você proibir a exibição do filme, outra coisa é botar seu diretor na cadeia. Se você puser o diretor na cadeia só porque você achou que o filme dele é imoral ou é subversivo etc. Então ele é um prisioneiro político evidentemente. E aí você entrou já num procedimento ditatorial. Mas a coisa é totalmente diferente quando a obra em si constitui um crime. Então é enquadramento penal. Não tem nada a ver com censura. Entendeu? Se uma obra foi censurada ela não é exibida. E no caso desses desenhos, você vê que eles não estavam representando um crime, mas eles estavam cometendo. As hostias com palavrões não eram referências a uma coisa externa. Aonde existem hostias com palavrões? Só naquele quadro. Daí o confusionismo entra em seguida dizendo que não, essas hostias não eram objetos de culto porque elas não estavam consagradas. Eu falo mas escutou aqui o idiota. O culto consiste na consagração. Produtoração é objeto de culto antes, durante e depois da consagração. Segundo, onde você comprou as hostias? Num alora de objetos religiosos que por definição só vende objetos de culto. Então não tem como escapar. Mas quando eles se quejam de ser vítimas de censura eles não deixam de ter uma certa razão porque houve uma pressão popular generalizada visando o que é impedir o prosseguimento da exposição. Eu não digo que essa atitude fosse errada. Na verdade eu não sei. Não tenho opinião nenhuma a essa respeito. Mas eu sei que a questão penal era a única questão substantiva que existia ali e essa era prioritária. Entendendo a fim de conto, o que você quer? Você quer apenas fechar a exposição e fazer os caras passarem 15 minutos de vergonha ou você quer punir um crime? Se você punir o crime, o autor vai passar vergonha de qualquer jeito, só que muito pior vai passar vergonha na cadeia. Então a incapacidade de discernir o aspecto sensório e o aspecto penal apareceu dos dois lados. Os críticos da exposição faziam essa confusão e os seus defensores também. Os primeiros por burrice, os segundos por esperteza. Pra desviar a discussão do aspecto penal você esquechava da censura. Você vê o promotor que foi lá investigar a exposição pra ver se havia crime. Ele nem mencionou o trajacuto. Ele só falou de pedofilia. E aí, no máximo, eu não vi nem sequer uma representação de pedofilia, que seria um adulto fazendo sexo com uma criança menoridade. Eu não vi isso, em lugar nenhum. Havia uma sugestão, porque é evidente se você começa a estimular, se você consegue somente as crianças desde pequena, você está criando clientela para os pedófeles. Mas é um efeito indireto. O jeito que pode perfeitamente ligar, meu intuito não foi esse, foi outro. Meu intuito foi fazer um negócio contra a pedofilia, que não vai ter jeito de provar uma coisa ou outra. É impossível. Se for uma obra de arte, então ela é separada dos valores que compõem o seu conteúdo. Você desenhar um elefante não é fazer apologia dos elefantes. Desenhar um animal qualquer, você pode odiar o animal, você pode desenhar uma aranha, por exemplo, um escorpião. Então esses dois casos do projeto de lei e o caso do Santander mostraram um estado de confusão mental medunho. De fato as pessoas que eram contra a exposição até certo ponto elas conseguiram o seu objetivo, mas que se tornou involuntariamente um objetivo de censura, quer dizer, fechar a exposição. Mas se você fechou a exposição e o crime saiu impune, você não conseguiu o que você queria, você conseguiu uma outra coisa que você nem tinha pensado. Entendeu? Tudo isso que eu estou dizendo para vocês nesta aula é óbvio e autoprobante e eu não vi até agora ninguém entrando no mérito desta questão. Quer dizer, nós estamos a fim de censurar uma imoralidade ou de punir penalmente um crime? Foi incrível que pareça, a única coisa séria mesmo perigosa foi o crime que foi cometido e esse está passando impune até o momento, porque ninguém o destacou, ninguém fez disso o centro da discussão. Então entendeu? Um tempo atrás um grupo cristão processou o programa Porta dos Fundos por causa de uma paródia cínica que fizeram a religião. O programa foi absolvido pelo juiz, porque o crime de ultraseculto, quando é assim, de você achincalhar uma religião, ele só existe quando existe uma vítima determinada. Não se tradia a achincalhar a religião em geral, mas a religião de determinada pessoa. Entendeu? Pega um indivíduo e o reduzo ao ridículo por causa da religião dele, aí é crime. Agora, o segundo caso de ultraseculto, que é o vilipêndio de objeto de culto, não implica que haja uma vítima determinada. Se você vilipêndio um objeto de culto da religião tal, tal, você ofendeu todos os membros dessa religião. E isso é crime também. E o terceiro caso previsto na lei é a interrupção de um culto religioso. Por exemplo, as duas lésbicas que invadiram a igreja do pastor Feliciano e foram lá se beijar lá na frente. O pessoal diz que não, mas isso é uma imoralidade, tem que ser punido, o que foi punido não foi a imoralidade, foi a interrupção do culto. Se elas interrompecem, tá certo? Não supo, eu sou um católico, eu vou lá interrompo o culto do pastor Marco Feliciano para fazer propaganda da igreja. Não tem nada imoral a isso aí, mas é crime, porque o crime está na interrupção do culto. Tá entendendo? Se as duas fossem lá vestidas de filho de Maria, tá entendendo? Interrompe o culto e seria crime do mesmo jeito. Agora, nascente se confusa, que a pessoa faz na cabeça dela, está tudo misturado. Imoralidade, crime, censura. Mas que que é isso? São 200 milhões de habitantes no país? E você não consegue ter uma discussão decente sobre o que quer que seja? Então, eu acho que esse é um problema muito maior do que a exposição do Santander e de que tudo que o deputado Jean-Louis Huit possa fazer durante a sua porca-vida. Eles não conseguem ter agravidade uma coisa destas. Porque isso aí é a garantia de que nenhum problema jamais será analisado racionalmente e muito menos resolvido de maneira decente. Os problemas vão se prolongar, prolongar, prolongar, prolongar, prolongar. E quando alguém resolver tomar providência, com certeza vai ser uma providência errada. Um outro caso que acontece, eu vou dizer, é o do famoso Intervenção Militar. Eu vou explicar uma das pessoas de seu lado, como é que é uma intervenção militar, como é que se faz? Então os militares simples, eles vão lá, apremem todo mundo e de agora queimando aqui sobre nós. E eles fazem isso sem ter a menor ideia do que vão fazer no dia seguinte. Qual é o primeiro decreto que você vai assinar? O que você vai fazer com a política econômica? O que você vai fazer com as relações interiores? O que você vai fazer com o controle da opinião interna? O que você vai fazer com partidos, partidos políticos existentes? O que você vai fazer com os movimentos de protesto, etc. Se você não tiver tudo isso planejado, não tem golpe militar, meu filho. Não tem intervenção militar. Então até lembrei as pessoas quando estava em discussão, e falei, olha, a preparação da intervenção militar de 64, ele foi dois anos. E não foi só militar que participou. Eles conseguiram a apoiar de toda a mídia, de praticamente todo o Parlamento do Supremo Tribunal Federal e de toda a opinião pública, antes de intervir. Agora vamos pensar assim, quantos jornais e canais de televisão hoje apoiaria uma intervenção militar? Nenhum. Quantos membros do Parlamento apoiaria uma intervenção militar? O Bolsonaro. E mas ninguém. Então, quantos governadores de Estado apoiaria? Porque naquela época, mais de metade do governador, ele estava apoiando. Ninguém. A igreja católica foi fundamental no golpe 64. Ela em massa apoiou a intervenção. E hoje ela apoiaria? Então, se falar em intervenção militar, é quase propôr um suicídio. Segundo, no plano internacional, na época havia uma certa tendência aos golpes militares. Por quê? Porque as guerrilhas estavam crescendo velozmente no continente. E os Estados Unidos viam com bons olhos qualquer coisa que se fizesse contra elas. É esta mesma situação internacional hoje? Não. Você não teria apoiado o internacional nenhum. Você seria condenado na ONU, no Tribunal de Aia, no Parlamento americano, no Parlamento Europeu e tudo quanto é lugar. Então você história. Sozinho contra o mundo você apoi interno e externo. Você só teria apoiado o povo. A massa solta e disseminada. A massa totalmente desorganizada. Então, ninguém analisou isso. Eu só vi gente falando contra e a favor. Eu digo não estou falando em contra e a favor. Estou tentando entender o que é e como se faz. Agora, você quer fazer um negócio? Você não quer saber como se faz. Então o que você é? Você é um louco palhaço. Tudo que você fala assim é um flato os vossos. Um peido verbal para falar a verdade. É tradução correta. O flato os vossos é esse. A palavra flato só assenadores, debutados, usam. Então, só pessoas importantes. Eu só usei maneiro, digo as coisas. Então o nome é mais popular e mais exato. Então a pergunta é, meu senhor, até quando nós vamos continuar essa loucura? Você só vê gente tomando posição a favor e conta coisas que elas não têm a menor ideia do que seja e que não são capazes de perceber que não tem ideia. Não são capazes de fazer análise das suas impressões. Você vê, a Aristótia já ensinava que a inteligência humana não opera diretamente sobre os dados dos sentidos, mas sobre aquilo que se depositou na memória. O que se depositou na memória é um conjunto de imagens compostas de elementos heterogênicos. Esse conjunto provoca uma emoção. Você expressa essa emoção acreditando que está dizendo alguma coisa. Você está dizendo nada. Para você sair da síntese confusa e chegar a uma síntese distinta, você precisaria analisar os conteúdos guardados na sua memória. Analisar sua própria constelação de impressões para distinguir em primeiro lugar o que veio do fato e o que é uma reação maioramente sua. Por exemplo, se eu fico com medo de algo, não quer dizer que esse algo será necessariamente temível. Você sonha com o tigre atacando você e você fica com medo, mas não tem tigre nenhum ali. Então você pode dizer, o medo não veio do tigre, veio de mim mesmo. Se eu não sei distinguir o que vem de mim e o que vem dos fatos, eu estou em plena alucinação. Então eu digo o seguinte, o Brasil só tem um problema, é esse. O resto é tudo decorância desse. E sem resolver isso não vai resolver mais nenhum outro. Não veio me dizer que eu vou resolver o problema da segurança pública, vou resolver a dívida nacional, vou acabar com a corrupção, você não vai acabar com nada, você não vai fazer nada. Por quê? O seu pensamento não tem poder de preenção sobre a realidade. Dependendo de se está apenas expressando sentimentos e estados interiores seus. Cuja relação com a realidade é para você o mal dos mistérios, você não tem ideia do que está aqui e o que está lá. Você entende porque ideias de tipo relativista, o séptico se espalham com tanta facilidade? Por causa disso, isso é uma resposta a esse estado de coisas. Já que o sr. não está entendendo coisa nenhuma mesmo e ele tem essa sensação de insegurança, ele acaba concluindo que a verdade não existe, mas o que não existe não é a verdade, é a sua inteligência que não existe. Você veja. Se você pegar toda a psicologia contemporânea, você vai ver que tudo na inteligência humana se baseia, mandando um confronto que você faz entre as suas representações mentais e as alterações de estado de coisa externo. Por exemplo, você está casado com a dona fulaninha, tem amor para a dona fulana e você chega lá e a dona fuleira não está. Dónde ela sumiu dos seus pensamentos? Não sumiu da sua casa. Isso não é um dado de sua interioridade, é um dado do mundo real. Isso daí alguém te fala, ela fugiu com o vizinho, também um dado do mundo real. Então tudo o que nós fazemos é esse jogo constante entre o estado interior e as modificações sucedidas no mundo externo. Isso quer dizer que algum conhecimento do mundo externo nós temos necessariamente, se não não conseguiríamos sequer pensar. Então os argumentos céticos, eles acabam se espalhando não pela força dos seus argumentos, mas porque eles dão um alívio ao indivíduo que está em dúvida total. E por que ele está em dúvida total? Porque ele simplesmente é vítima da sua própria síntese confusas. Ele vagamente sente que ele está enganado a respeito de tudo. E não confessa isso, mas sente isso. Bom, então por hoje é só, daqui a pouco voltamos com as perguntas. Então eu queria avisar o seguinte, nós tivemos aqui um problema horroroso com o nosso formulário de perguntas, mas que não será possível vocês enviarem perguntas hoje. Mas prevendo uma pergunta que certamente vai surgir, nós observamos em toda essa discussão do caso Santander, a dificuldade que as pessoas têm de distinguir entre o que é um confronto de opiniões e o que é enquadramento penal de um delito. Por exemplo, no caso da censura, a diversidade de opiniões pode ir desde a censura total até a liberação total. Por exemplo, você pega os livros do Henry Miller, não são romanções, são livros de memórias. Eles são imorais por um lado pelo seu conteúdo e altamente moralizantes por outro, porque está falando de valores sublimes da profundidade da alma humana, etc. Se você pega Rabelé, a mesma coisa. Rabelé é um imoralista por um lado e por outro lado ele é um doutrinário catórico. E assim por dente. Mas quando se trata do enquadramento penal, isso é quando a própria obra, ela por si, ela pratica um delito, como é o caso do doutrário aculto, esse é um caso completamente diferente. Então censura ou não censura é uma questão de opiniões. Isso pode ser enormemente elástico e varia de acordo com as tendências predominantes na sociedade e na classe dominante num certo momento. Mas o enquadramento penal é uma coisa puramente objetiva. Quer dizer, o que se chama tipificação penal. Quer dizer, esse ato corresponde objetivamente à descrição do delito tal como está dado no código penal? Sim ou não? Isso é uma questão, claro, pode ser discutida, porém a sua resolução é objetiva. Não é uma questão de preferência ou de opinião. O juiz pode errar, claro, que pode errar, como se pode errar em qualquer ciência. Mas nem por isso deixa de ser uma questão puramente científica. Agora, é muito estranho para quem está morando aqui nos Estados Unidos observar esse contraste. Porque nos Estados Unidos as considerações jurídicas penais invadiram toda a esfera de existência humana? Maído discutindo com mulher, pai discutindo com filho, já entra ali o argumento penal. Vocês têm muita consciência da lei e até introduzem a consideração jurídica penal em todos os setores de existência humana. É uma coisa horrorosa, sob certo aspecto. Mas no Brasil acontece exatamente o contrário. As pessoas não têm a menor ideia da impessoalidade das leis. E por isso confunde a sua emoção de estar chocada com a prática de um crime. Eles estão logo assim, chocados, elas já acham que aquilo é crime. Então, primeiro, não conhece o texto da lei. Quando conhece, não o compreendem. E sobretudo, vamos dizer, a falta de cultura faz com que o sujeito não tenha confiança no poder de conhecer objetivamente a verdade. Porque ele jamais tentou, nem sabe o que é isso. Tem pessoas que passaram a vida, nunca conseguiram descobrir a verdade sobre o que quer que fosse. Nem sobre elas mesmo, nem sobre seus próprios actos. Não é claro que vive em uma permanente estádea em distinção. Claro que existem inúmeros fatos que são difíceis de conhecer, que são amigos, que têm vários aspectos mesclados e que talvez jamais conseguiremos desmisturar. Acontece isso também. Mas não quer dizer que acontece em todos os casos e nem mesmo na maioria dos casos. No caso do enquadramento penal, a tipificação do delito é uma coisa sempre muito clara. E depois, não certo, não tem mais discussão. Por exemplo, eu digo, quando citei ali o artigo 241 do Estatuto da Criança Adolescente, o crime consiste em você mostrar uma imagem de um ato sexual que envolva crianças, mostrá-lo a uma criança. Se fazer simplesmente se quadrar na parede, para adulto ver, não tem problema nenhum. Você fala a esposa, você inteirinha, cheia de desenho de pedofilia. Não há crime. Por quê? A representação pictórica não é apologia necessariamente. O artista pode dizer, ah, fiz todo esse desenho para denunciar a pedofilia. Você pode até achar que ele está mentindo, mas é o seu negócio. Aí põe o pão em cima de questão de opiniões. Então, para tipificar o delito é preciso esta condição. Ora, esta condição, no caso dos desenhos do Santander, não se cumpre. Então você provar que houve uma violação do Estatuto da Criança Adolescente é difícil, mano, no caso. Porque vai depender de uma interpretação de intenções capciosas. São imagens ambíguas que sugerem, mas não dizem. E que podem, por efeito estatístico, produzir tal qual o resultado. Então isso aí também vai cair numa indefinição jurídica. Mas no caso do ultragiculto, não. O negócio está tipificado materialmente, porque o quadro ali não é o retrato de um crime. Ele é o próprio crime cometido no desenho. Não é um objeto material. Então essas confusões, elas se propagam de tal maneira no Brasil e elas ocupam o tamanho do espaço público, que os problemas mais simples se tornam impossíveis de resolver. Então quando você debate sobre desarmamento, ou sobre vacina obrigatória, etc., tudo entra a essa confusão. E quando entra no setor, ou dizer, dos delitos ou pretensos delitos sexuais, então aí a coisa vira um pandemônio. Porque cada um reage com a emoção decorrente dos seus desejos. Se você é um sujeito moralista, reprimido, etc., você reagear de um jeito. Se você é um vive na Gandáia, foi cantado de surubas, etc., você reage de outra maneira com a militaria, mas depende do seu gosto. Se você pegar todas as discussões públicas do Brasil, elas são exatamente assim. Você prefere uma coisa ou prefere a outra. E não vai passar disso aí. Então quando é assim, nós entramos no que? Aquela situação descrita pelo Richard Rorty, onde diz o seguinte, não sendo possível arbitrar racionalmente uma questão, e ele diz que nenhuma questão é racionalmente arbitrada, só nos resta induzir as pessoas a falar com a nossa linguagem. O que é isso aí? É uma disputa de força, força psicológica. Eu domino a sua linguagem, você acaba dizendo, fala das coisas do jeito que eu quero, você acaba pensando do jeito que eu quero. Então essa é uma luta pelo domínio psicológico do vizinho, da vítima. E na verdade toda a concorrência política, moral, publicitar no Brasil, é só indução de linguagem. Como é que você pode administrar um país nesta base? Porque os próprios caras que fazem isso também são vítimas disso. Ele primeiro é para absorver uma linguagem, e depois ele é transmitir aos outros. Então se ele está a aprender a falar como certas pessoas, por exemplo, quando você está na faculdade, qual é o primeiro tratamento que você recebe? Esse é o primeiro. Tem que aprender a falar como nós falamos. Não é que nós vamos discutir ideias e pregar ideias para você. Não, não, não, o conteúdo de ideias é mínimo. 90% do negócio é indução de linguagem. Você para você se sentir integrado no meio, conseguir fazer amigos, etc., você tem que falar como os caras falam. Para o professor ouvir o que você tem a dizer, você tem que falar na linguagem dele. Então é assim, isso aí é o Império do Richard Rort. Neste. E... Certo as palavras, então exerce sobre as pessoas um efeito tão mágico que elas só enxergam o que está contido dentro desta palavra e não enxergam o fato em si com a sua materialidade. Por exemplo, a campanha contra doutrinação comunista nas escolas, doutrinação esquerda nas escolas. Isso é uma estupidez para falar a verdade. Por quê? A quantidade de doutrinação é muito pequena. O essencial do domínio que a esquerda exerce sobre as escolas, sobre o sistema educacional, não consiste de doutrinação, consiste na censura e boicote exercido contra as ideias que não possam ser expressas na linguagem deles. E até contei, nos anos 50 houve uma comissão da Câmara do Deputado Americano, Câmara do Deputado, para investigar a infiltração comunista em Hollywood. E ele se concentrar no que? Doutrinação. Então, procurava o propaganda comunista nos filmes. Bom, existem poucos filmes com propaganda comunista explícita. Mesmo porque os comunistas em Hollywood obedeciam a instrução de John Howard Lawson, que era o chefe da Escola de Roteiristas, dizendo, não façam filmes comunistas. Vocês façam um filme normal que no meio tem uma ou duas mensagens comunistas. Não é suficiente para caracterizar como obra de propaganda comunista. Então quase toda a doutrinação que existia era minimalista. Mas o que existia mesmo era o seguinte, era o boicote a quem não estava enquadrado na política do partido. O número de atores, diretores, roteiristas, fotógrafos, etc., que foram jogados pescanteios, era muito grande, e sabe como se chamava isso? Lista negra. Então, quem inventou a primeira lista negra foram comunistas e aplicaram aos seus adversários. Como a comissão da Câmara de Representantes, que aliás não tem nada a ver com o senador Joseph MacArthur, o senado não investigava, o óleo investigava apenas autofuncionalismo público, o senado, ao investigar, somente a propaganda e não a atividade de controle de gêmono e com exercido através de censura, boicote, etc., etc., deu aos culpados a chance de ele se fazêne de vítimas de uma lista negra. Quando eles não tinham feito uma lista negra muito maior, o pessoal de escola sem partido cometa o mesmo erro no Brasil. E não adianta falar. Não adianta explicar, já expliquei, não adianta. Todo mundo cabeça dura. Então, a palavra doutrinação é duplamente errada, porque primeiro, propaganda não é doutrinação. Doutrinação é você passar uma doutrina, doutrina é uma teoria, a teoria é um modo de ver a realidade. Então, essa é uma operação intelectual. Por exemplo, se ia para a Universidade de Patrícia, Lumumba e Moscou, você ia ser doutrinado no marxismo. Você fica 3 ou 4 anos decorando o texto marxista, aprendendo a pensar marxisticamente, a pensar e não apenas a falar. E isso é doutrinação. Se você ler o livro do Pascal Bernardão, vocês vão ver que 99% das modificações introduzidas pela escola nas cabeças pequenas, tem nada a ver com doutrinação nem com ideias. É indução direta de comportamentos sem passar pela inteligência verbal. Então, como é que vai chamar isso de doutrinação? Então isso quer dizer, esse pessoal reage de maneira moral a uma situação, mas confundindo a sua emoção moral com o fenômeno que eles estão combatendo. Então, você está combatendo o que? O monho de vento, uma coisa que faz isso na sua cabeça. Ao passo inimigo verdadeiro, está passando a margem de totalmente ileso. Isso começa o sujeirinho, não chama de escola sem partir, chama de escola sem censura, porque é através da censura que se exerce o controle gemônico, é através da censura e não da doutrinação. Não adiantou. O que aconteceu depois? Os professores esquerdistas registraram um movimento chamado Escola Sem Censura. Agora nós somos objetos de censura, então temos que nos defender da censura. A direita brasileira sempre faz isso, como diz a Mery Harakabes, que é a brasileira. A direita brasileira tem uma pressa de vestir a carapuça que ninguém sequer lhe ofereceu. Esse é burrice. Nem a burrice é causada pelo famoso desprezo brasileiro ao conhecimento e pelo emocional imbarato que confunde as suas emoções com os fatos. Médio por exemplo, o tamanho do perigo pelo tamanho do medo que ele infunde, em vez de fazer o contrário. Aparece um tigre e eu fico com o rendimento, só que depois eu fico com um filhote de tigre. Mas aí eu vou ter que ampliar o tamanho do filhote de tigre, porque ele me infundiu medo como se ele fosse adulto. É assim que funciona a imaginação pública brasileira. Eu considero que os alunos desse curso são a única esperança possível de melhorar esse panorama. Por que? Porque não está havendo nenhum outro esforço nesse sentido. E do meu próprio esforço, às vezes me pergunto, quanto do meu esforço está sendo totalmente desviado e desperdiçado para alimentar carreiras políticas, para alimentar empreendimentos comerciais, alimentar ambições de idiotas que não têm a menor capacidade para nada. Outro dia eu vi, olha, com um grande espanto, eu vi um candidato a prefeito de uma cidade do interior que criou uma página no Facebook chamado O Que? O Lavo de Carvalho. Os gente vai lá na página, não tem nada a ver com o Lavo de Carvalho, só tem o nome. Na verdade, é propaganda do seu fulano de tal candidato a prefeito do seu ano. Chega até esse ponto. Então eu tenho que avisar o seguinte, eu não considero que ninguém está habilitado sair falando em meu nome, se não for pelo menos meu aluno. Claro que você pode citar, mas não vai se promover as minhas custas. Eu não sou cabeleitoral de ninguém e não serei, isso é importante, não serei cabeleitoral de ninguém. Eu posso dizer em quem eu vou votar. Vou votar no seu fulano, porque eu prefiro por isso assim, assim, então fazendo propaganda. Então eu considero que uns 50% do meu esforço é desperdiçado com essas coisas, porque a parasitagem é o normal no Brasil. Na sua idade eu quero descobrir, ah, deu um movimento direitista crescendo. Então vamos embarcar nessa onda, vamos ganhar um dinheiro com isso. Eu não sou contado em ninguém ganhar dinheiro, mas desde que eu não seja confundido com os meus aproveitadores e usurpadores. Eu já disse mil vezes, eu não criei este curso para estibular um movimento de direita, nem de esquerda, nem de coisa nenhuma. Eu falei, meu objetivo não é criar direitista, é criar gênios, que é isso que o Brasil precisa. Porque se ele esquerda isso, ou direitista, isso é meramente frescuro, se ele está aderindo alguma coisa, ele gosta. Não tem mal significado. Bom, então é isso, gente. Hoje não vai dar para ter pergunta, gostaria, porque nascemos lá, passaram e não teve. Seu retrasar já não teve, mas o nosso formulário de fato não está funcionando. Então até a semana que vem, muito obrigado.