Skip to content

Latest commit

 

History

History
1 lines (1 loc) · 54.5 KB

COF395.md

File metadata and controls

1 lines (1 loc) · 54.5 KB

Então vamos lá, boa noite a todos, sejam bem-vindos. Hoje eu vou ler aqui pra vocês praticamente sem comentários uma parte de um livro que eu estou escrevendo. Isso aqui é metade de um capítulo. E este capítulo ele se compõe, eu não sei evidentemente se eu estou a ler metade, se compõe de duas partes. De certo modo a coisa é autoexplicativa. Se precisar algum comentáriozinho no meio eu faço, mas eu acho que não é nem precisar. A coisa é autoexplicativa, não vou dar uma cópia do texto pra vocês porque isso ainda vai ser reescrito muitas vezes, corrigido etc. Não é uma versão final ainda. O título mais ou menos provisório aqui é a Trageda da Utopia, do Sonho de Liberdade, a Escrevidão Consentida. E este capítulo é um estudo sobre o movimento revolucionário desde o Manifesto Comunista de 1848 até agora. Então a primeira parte deste capítulo chama-se a Trageda do Marxismo Clássico. Então vamos lá, parágrafo 1. Ocultar de si mesmo e do seu público algumas partes vitais da realidade é o procedimento usual do pensamento ideológico. Mas algo diferente se passa quando as partes ocultadas são justamente aquelas que o ideólogo mais precisaria conhecer para realizar as metas que propõem. Aí estamos diante de algo que já não é a banal deformação ideológica da realidade, mas um caso de inconsciência radical que não se diferencia muito da pura estupidez. Mas se esse estado de inconsciência persiste em cólume e satisfeito de si, não obstante desenrolar dos fatos que o denunciam ao longo das décadas, então falar de estupidez se torna apenas um eufemismo para mascarar o que é, na verdade, um quadro de alienação psicótica. E se milhões de admiradores continuam a cultuar como sábios e guias os criadores de tão desastrado projeto de futuro, em vez de cobrá-los pelos erros monstruosos que justamente impediram que esse projeto se realizasse, ou melhor, que o transfiguraram na sua inversão simétrica, então não há mais como evitar a conclusão de que a alienação psicótica, afetando de início apenas um grupo seleto de intelectuais, se espalhou por amplas faixas da população e se transformou ela própria no novo estado de coisas geral, na inversão catastrófica daquilo que se prometia como futuro adorável. Por mais aberrante e espantoso que seja, esse fenômeno na cultura ocidental do último século e meio sucedeu não uma, porém duas vezes. A primeira foi com o marxismo clássico, a segunda com a democracia ampliada, ou reino da diversidade, que constitua o núcleo inspirador das rebeliões juvenis de maio de 1968, o ano que, convém lembrar e voltaremos a isso, jamais terminou. Essas duas histórias não são episódios separados, a segunda é o prolongamento orgânico da primeira, tentarei contá-las com o máximo de brevidade admissível em acontecimentos de tal envergadura. Parágrafo 2 O marxismo inteiro gira em torno da alienação e de como eliminá-la. A alienação é quando o ser humano se torna escravo dos meios que criou para prover sua subsistência nas duras condições de vida no planeta Terra, perdendo assim o controle da sua própria existência. Desde o início dos tempos, esses meios, o solo, a vegetação, a fauna, os instrumentos agrícolas, as armas, a força de trabalho, não foram nem poderiam ser igualmente distribuídos entre todos os homens. Alguns se apropriaram dos meios materiais, enquanto outros, mais lerdos ou menos afortunados, dispunham apenas da sua força de trabalho. Conforme o tipo dos meios disponíveis e as várias maneiras de distribuí-las que foram surgindo ao longo dos tempos, formaram-se historicamente diversos modelos de sociedade diferenciados por seus respectivos sistemas de propriedade. Aqui tem uma nota. Na exposição que se segue acompanha a narrativa marxista, mas só em linhas gerais, e, froshamente, sempre ocupando de distinguir, entram e desenrollam o propamento de dos fatos e o que calmar as pensadelas. Ou seja, eu estou aqui aproveitando o marxismo naquilo que, na narrativa dele, me parece integralmente verdadeiro. E não estou ainda fazendo a crítica do marxismo, e estou acrescentando a narrativa marxista, coisas que não estão nela, mas que estão na realidade e que de algum modo se encaixa nela. Então, falando respectivamente, sistemas de propriedade. O primeiro é a comunidade primitiva, terminologia de Karl Marx. Tratas de grupos pequenos, Mateibu de Índios, por exemplo, onde a divisão das tarefas é ainda rudimentar, a propriedade dos meios é coletiva e a hierarquia social é determinada antes por fatores culturais. A Valentiana Guerra conhece menos rituais religiosos a afiliação do que pela diferenciação econômica propriamente dita. Quando a população cresce e as comunidades se fundem, criando sociedades grandes e complexas e exigindo um controle maior da atividade econômica, surge um segundo sistema de propriedade, o escravismo. A casta guerreira se torna, pelo poder das armas, proprietária de grandes faixas de terra, onde organiza produção por meios de escravos que colheu no campo de batalha, entre as comunidades inimigas ou na própria sociedade. Os escravos são propriedados ao senhor de terra. Sua força de trabalho é um meio de produção como qualquer outro, podendo ser vendida ou passada em herança. O aprisionamento e comércio de escravos torna-se um setor vital da economia. Para que cada senhor de terra não precise ele próprio aprisionar seus escravos, formam-se grandes exércitos centrais incumbidos dessa tarefa, de modo que a atividade econômica inteira, quanto mais se expande, mais se torna dependente da guerra. Tal é a origem do que conhecemos por estado, a administração central, cuja função primeira e essencial é assegurar o funcionamento do sistema de propriedade baseado na escravidão. O escravo não é proprietário do seu corpo nem da sua força de trabalho. Sédios de graça, pela força, nada mais recebendo em troca, além de meios de subsistência rudimentares. Tendo a seu serviço, enormes quantidades da mão de obra mais barata que se pode imaginar, e dependendo essencialmente da guerra para subsistir e prosperar, a sociedade escravagista expande-se rapidamente, formando grandes impérios e entrando em conflito com outros impérios concorrentes, que derrotados na guerra fornecem novos contingentes de trabalho escravo. Desse ponto em diante, a narrativa marxista deja de lado os impérios mais longincos, pelos quais os sucessores de Marx voltaram a se interessar muito mais tarde e se concentram na evolução econômica da Europa. A dificuldade de administrar um território tão vasto, os custos crescentes da manutenção do exército, as repetidas invasões de bárbaros, a devastação do solo pelas guerras constantes, a desmoralização do culto oficial pela expansão do cristianismo, entre outros fatores, acabaram por tornar inviável a economia escravista. O governo central desmorona e os senhores de terra se refugiam nas suas fazendas, cada um criando suas próprias tropas armadas particulares para a defesa da propriedade rural. Sem a ajuda do exército central, já não havia como capturar escravos em grande escala e o escravismo cede lugar ao novo sistema de propriedade, o feudalismo. Três outros fatores que Marx não enfatizam o suficiente e interviano no processo. A própria composição da classe dominante mudou um pouco, embora não o suficiente para perder sua identidade. Nem todos os senhores feudais eram antigos nobres romanos, muitos eram apenas soldados que receberam suas terras de presente das comunidades em recompensa de averlas lideradas com sucesso na luta contra o invasor bárbaro. Importantes mudanças culturais acompanharam e aceleraram a transformação da sociedade. No Império Romano, não somente os escravos não tinham propriedades, sendo eles mesmos meras propriedades, mas tão despersonalizada era a sua condição que eles não tinham o direito de constituir família. Reproduziam-se em grandes orgias coletivas anuais, de modo que nenhum filho viesse a conhecer o próprio pai. Por fim, desmantelada a administração imperial, o clero católico que reunia a maior parte das pessoas alfabetizadas de cada comunidade, acabou assumindo informalmente as funções de registro civil, lavrando as escrituras de propriedades, contratos, acertidões de nascimento e casamento, etc. Se a nova situação econômica favorecia por si uma mudança na condição dos escravos, a igreja também se esforçou com sucesso para melhorar a situação deles, que acabaram assim conquistando o direito de casar e de ter e legar propriedades. O antigo escravo tornou-se um servo da gleba, dividindo o produto da sua fração das terras com o senhor feudal, ao qual oligava o juramento de lealdade recebendo dele em troca a proteção militar. Em fronteiras froshamente delimitadas, havia um rei, mas este não era, senão, um primos interpares, um senhor feudal um pouco mais rico que os outros, e unido a eles por nada mais que os mesmos compromissos de lealdade pessoal que eles tinham com seus servos. O senhor servo para estar no juramento de lealdade, é o senhor feudal, e as várias senhoras e senhoras já prestavam o juramento de lealdade ao rei. E a partir da época de Carlos Magno, voltou a ver um imperador investido de poderes que variavam com o tempo e mal interferiam na autoridade local dos reis e dos senhores feudais. A existência vacilante, por vezes fantasmal do império, é objeto de parte do meu livro Jardim das Aflições. Na falta de um governo central, a vida social inteira, porque o rei não era um governo central de maneira alguma, ele era apenas um, tinha mais prestígio do que os outros senhores feudais, mas de fato não tinha poderes sobreviveres. Na falta de um governo central, a vida social inteira girava em torno da pessoa do senhor de terras. Sua função, em princípio, era essencialmente militar, a qual se somava administrador rural. Mas isso fazia dele pilar sobre o qual se assentava toda hora de social, cimentada por laços de lealdade recíproca e pela devoção comum afecrisnã. A propriedade da terra era o fundamento do poder econômico e este o do poder militar que o sustentava por sua vez. Paráforo 4. A prosperidade do sistema feudal levou à sua destruição. A população crescente começou a aglomerar-se nos centros urbanos, desenvolvendo então várias atividades comerciais, fabrizes e financeiras, e criando com isso formas de riqueza independente da propriedade do solo. Muitos senhores feudais viram a oportunidade de novos ganhos e somaram a sua atividade agropecuária militar a de empresários, especialmente no rão da construção civil. O acúmulo de riquezas e a necessidade crescente de investimentos para as indústrias nascentes favoreceram o surgimento de banqueiros e usuários, detentores da mais móvel das riquezas o dinheiro. O que fez com que essas pessoas acabassem se tornando as peças-chave da economia, suplantando os senhores feudais, foi um faturio externo de ordem político-militar. Marx também não expliquei isso em direito. Pode se descrever-lo assim. A medida que as guerras se intensificavam e seu cenário se ampliava, estendendo-se por toda Europa e alcança do Oriente Islâmico e África, foi se tornando cada vez mais patente a necessidade de exércitos permanentes, fortemente disciplinados e obedientes a um comando central, em vez da uso à aglomeração temporária de tropas heterogêneas e anarquicas, fornecidas pelos vários senhores feudais interessados, como foi na primeira cruzada. Cada senhor feudal fornecia-la a uma parte dos seus soldados e daí você formava um exército de tropas com mentalidade completamente diferente, com línguas diferentes, sendo quase impossível você manter uma disciplina geral no meio disso. Quando aparece então a necessidade de um exército central, organizado e disciplinado, a situação muda completamente. Para realizar essa unidade, a autoridade dos reis teria de se sobrepor a dos senhores feudais independentes, mas isso significava acrescentar aos inimigos externos, pelo menos alguns internos, aumentando ainda mais as despesas militares. A quem mais poderiam reis apelar em tal circunstância, se não aos banqueiros e os horários? A ascensão do poder financeiro ao primeiro plano da sociedade, dito de outro modo, a terceira grande mudança do sistema de propriedade, a passagem do feudalismo ou capitalismo, está intimamente associada assim à formação das monarquias absolutas modernas, a luta dos reis para sobrevogar os senhores feudais, a qual menciono no filme Jarniz Aflições, e que é muito bem ilustrada por aquela cena do Ivan Oterrivel, o Ivan Oterrivel como usou-te ele se apanou dinheiro dos banqueiros e os horários, e na solidariedade do povão contra a aristocracia, precisava unificar o país, então não podia ter tantos centros de comando independente, o rei então assume o comando da nação inteira. Em alguns casos, isso foi bastante simples, Portugal foi o primeiro reino absoluto que se formou na Europa, porque o rei Afonso Henrique matava pessoalmente os seus concorrentes, literalmente ele saltava a janela dos caras de madrugada e os degolava na cama, e quando as pessoas acordavam, o rei tinha estornado o dono daquela propriedade, e assim ele foi aumentando, aumentando, tomou conta do país inteiro e unificou o país. Florescendo em aliança com o nascente Estado monárquico, era natural que o capitalismo assumisse de início a forma de uma política estatal, o mercantilismo, ancestral do que depois iria chamar-se protecionismo, a política mercantilista consistia em encarar a nação inteira como uma vasta empresa comercial, que para manter seu equilíbrio financeiro precisava vender mais do que comprava, então predominando as exportações sobre as importações de uma base do mercantilismo, evidentemente, então um capitalismo estatal totalmente administrado pelo rei, que naturalmente considerava a nação inteira como propriedade sua, claro que havia empresas particulares, mas obedecia um estritamento aos planos do rei, inclusive a descoberta das Américas foi um plano desse tipo. O capitalismo de Estado, o ancestral do socialismo, antecedeu de fato o capitalismo liberal e só viria a surgir do século XVIII em diante, nós estamos falando aqui de século XVVI, essa observação basta para invalidar a sequência lógica dos sistemas de propriedade tal como o marco da describe, mas este não é o ponto central deste estudo de modo que podemos deixar de lado. A passagem ao capitalismo liberal ocorreu à medida que os donos do capital financeiro, do qual os empreendimentos estatais e a própria sobrevivência do Estado haviam se tornado dependentes, foram tomando consciência de que após ajudar o rei e a si mesmos a desvencilar-se do poder dos nobres, podiam livrar-se da tutela estatal e por que não do próprio rei. Vocês não podem esquecer que na Revolução Francesa, a famosa Assembleia dos Estados Gerais foi convocada pelo rei a pedido da população, de modo que, em um primeiro momento, o rei era o agente da transformação revolucionária subjugando, então, os poderes locais dos senhores feudais remanescentes, que já estão bastante enfraquecidos nesta hora e que já tinham se tornado econômicamente dependentes do rei, do próprio rei. Você tinha ali uma corte, está certo, de vagabundo sustentado pelo rei e isto era o que sobrava do poder feudal, embora, nas suas terras, esses indivíduos ainda tivessem o poder de coletar impostos, etc. Com Revolução Francesa, de fato, o Estado cessa de servir-se dos banqueiros, em direitos em geral, para seus próprios fins, e passa a servi-los como suporte legal e policial do seu enriquecimento limitado, franqueando-lhes o acesso barato para não dizer o assalto aos bens da aristocracia da igreja. Paralelamente e incontormavelmente, a plethora de dinheiro fácil tinha de ser investido, ocasionando o súbito crescimento da atividade industrial e comercial nas cidades, o empobrecimento das propriedades rurais e a fuga de massas enormes de camponês arruinados em direção aos centros urbanos, na esperança de um salário de fome que os preservasse de morrer a amingua, tal e a origem do proletariado urbano, que cresce junto com as grandes fortunas de uma classe que, embora formada em parte de remanescência da antiga aristocracia, rapidamente adaptada à nova situação, já adquire consciência dele ser como classe dominante, dando a si mesmo a con exemplar modeste o nome que nos tempos da glória feudal designava os pequenos comercentes e artesãos residentes nas cidades, a burguesia. Está formado o quadro do novo sistema de propriedade que conhecemos como capitalismo, o mundo de Karl Marx. Parague a vocês. Dessa sucessão de formações sociais, Karl Marx tira algumas conclusões gerais, umas verdadeiras, outras falsas, que terão para ele e seus sucessores o valor de leis férreos do desenvolvimento histórico. Em primeiro lugar, ele observa que, dado um sistema de propriedade formalizado em leis escritas ou estabilizado pelo costume, o seu próprio sucesso decretava sua destruição. Isso acontecia porque o aumento progressivo da produtividade do sistema, espalhando riquezas e fomentando o surgimento de novas maneiras de produzi-las, estourava os quadros legais estabelecidos e exigia adaptações que mais dia menos dia acabavam se revelando incompatíveis com a estrutura do próprio sistema. Ninguém pode negar que essas coisas realmente acontecem, embora nem sempre da mesma maneira e com a mesma velocidade. Marx acrescenta, vamos dizer, essa aqui é a lei principal da história econômica marxista, quer dizer, o crescimento, o desenvolvimento dos meios de produção derruba o sistema de propriedade e troca por outro. Isso ele descobriu e ninguém pode negar. Talvez alguém tenha dito isso antes, mas ninguém disse com essa clareza. Mas Marx acrescenta que a troca violentou pacífica do sistema de propriedade equivale a queda de uma classe social e a ascensão de outra e isso tem manifestamente falso. Na passagem do escravismo agrária ou feudalismo, por exemplo, o fim do mundo antigo, o começo da idade média, a classe dominante permanece essencialmente a mesma, embora com ingresso de alguns novos membros e a queda de outros. Quem mandava no Império Romano era aristocracia agrária que continua mandando no Universo feudal. A gigantesca transformação da sociedade ocorreu sem nenhuma troca de classe dominante, que no fim das contas só mudou de endereço. Em Roma, os nobres que viviam das rendas de suas propriedades rurais moravam na capital e só iam às suas fazendas a passeio ou para inspeções ocasionais. Demolia do Império, cada um se instalou na sua fazenda e passou a administrar o pessoalmente. Isso foi tudo. É a mesmíssima classe. Claro, entre os novos membros que entraram, cada guerra, etc. Às vezes até alguns invasores, bárbaros, eles mesmos se transformar em senhores e senhores, mas essencialmente com alguns novos membros é essencialmente a mesma classe. Então, é esta brutal mudança econômica que é a passagem do escravismo agrária, ao feudalismo, onde não há mais escravos, onde há um negócio, na verdade, entre o Senhor de Terras e o Céu da Gleva. Esta mudança brutal não foi acompanhada em nenhuma troca de classe dominante. A classe dominante continuou intacta em pago do colostre. Do mesmo modo, na passagem do feudalismo ao capitalismo, uma parte considerável da aristocracia se adaptou com sucesso à nova economia e até hoje faz parte da classe dominante nas democracias capitalistas. Na Inglaterra, você tem uma olhada na pessoa do grupo Bilderberg, que são os donos da economia mundial. Eles viram quantos princípios, condes, duques estão lá. Era uma classe dominante e continuou sendo a classe dominante. Na Inglaterra, a aliança do rei com os capitalistas contra a nobreza falhou por completo. Em 1215, os aristocratas forçaram o rei João a assinar um compromisso que amarrou as mãos dos seus sucessores para sempre. Os nobres sobreviveram muito bem ao advento do capitalismo industrial, que vejam só ali alcançou mais sucesso do que em qualquer outro país da Europa, e até hoje são os principais centros de poder no mundo britânico. Até hoje você tem lá a Câmara dos Nobres funcionando junto com a Câmara dos Comuns. Os nobres são ainda um fator básico do poder no mundo britânico. Por fim, a ascensão da democracia proletária na Rússia, que é um capítulo seguinte da sucessão, que eu não expliquei ainda, não elevou um único proletário ao poder. Você pode ver a lista dos componentes do primeiro comitê central que governou a Nossa Letra. Não tem nenhum sujeito de origem proletário. Tinha pessoas que eram, vamos dizer, classe média, era um intelectual de classe média, como Lenin, um espadre que era o Stalin, um filho de grande proprietário rural que era Trotsky, e assim por dentro, um geral intelectuais. Só intelectuais de classe média e filhos da antiga burguesia. A mudança do sistema de propriedade em suma não tem nada a ver com a troca de uma classe por outra. Voltaria a isso mais adiante. Mas para piorar as coisas, Marx inventa sua incrível teoria da ideologia. Diz ele que a história é acima de tudo a sucessão dos esforços humanos para tomar posse dos recursos materiais do planeta Terra. De bom, se a história não é essencialmente isso, ela pode ser encarada assim e não é erro. É um método, vamos dizer, contar a história dos esforços humanos para tomar posse do território e dos seus recursos e utilizá-lo da melhor maneira possível. Você vê que alguns povos têm algum sucesso nisso, ou se adaptam mal e dão que os bolunagos é assim por dentro. Então é perfeitamente possível e sensato contar a história sobre este ponto de vista. Não é evidentemente o único ponto de vista, mas ele tem a sua coerência interna, o seu critério de verificação e ele pode ser base em uma história bastante científica. Porém, como essa sucessão se traduz na dos diferentes sistemas de propriedade e esta, por sua vez, em que várias docessivas classes sociais segundo Marx que exercem o poder, entre aspas, segue-se a conclusão inevitável de que a história é sobretudo a história das lutas de classes. Mas se as lutas de classes são humiúlos, o resto da história não pode ser senão a casca. Tudo portanto, ideias, leis, valores, costumes, obras de arte, crenças religiosas, filosofias, não passa de uma ideologia, de um vestido de ideias, ideanclades, encobrindo os interesses de cada classe e a sua luta pelo poder. Como admirador do teatro grego, Elias Tóttris, Marx entendia que o interesse permanente que sobra certas obras de arte e filosofia conservam, longo tempo após encerrada a luta de classes que refletiam, coloca um problema, mas ele o resolviu com um jogo de palavras, reconhecendo uma certa autonomia do pensamento e da criação artística. Ele diz que a luta de classes os determina em última instância, que é isso, não determina mecanicamente e totalmente, mas em última instância. Só que, como ele não diz, qual é a penúltima, nem muito menos a gente, é penúltima. O resultado é que, em última instância, não significa coisa nenhuma e a tal autonomia pode ser descontada como historicamente irrelevantes. Marx de fato não menciona nenhum único caso em que fatores extraeconômicos determinaram, essencialmente, o curso dos acontecimentos. Convimos aqui um exemplo de que um fator político determinou a mudança na economia, as guerras, a necessidade de centralizar o poder para criar um exército central para enfrentar os inimigos de fora. Ou seja, a guerra, no caso, é um fator externo de ordem político-militar que interfere na economia. Uma breve comparação entre as leis, instituições, filosofias e obras de arte do período greco-romano e as da idade média feudal mostra diferenças tão abissais, tão incominstruáveis, que a pergunta surge de maneira incontornável. Se, nesses dois períodos, a classe que já dominava continuou dominando, isto é, se o seu poder continua intacto, sem precisar se defender de qualquer classe concorrente, por que sua cultura mudou tanto? Sem nenhuma razão marxisticamente aceitável, isto é fundado na luta de classe. Compara a cultura greco-romano com a cultura... Tem o personato Marge Aquino, o John Donald Scott, tem um dos catedrais e você fala, nossa, é outro mundo completamente diferente, mas é outro mundo que é criado pela mesma classe dominandia antes. Seria um caso de Mero Capricho, de Mera Frescura Histórica, quer dizer, mudou porque mudou? Como se a tamanha indiferença aos fatos históricos não bastasse, Karl Marx ainda arruina um pouco mais a sua teoria ao enfatizar uma diferença essencial entre as ideologias até então existentes e a daquela que é, segundo ele, a próxima classe dominante, o proletariado. Em todas as ideologias de existência, em todas as ideologias anteriores, diz ele, avisando a realidade era deformada pelo interesse de classe. Elas eram formas de falsa consciência, falsches Bewusschein, geradas pela ânsia de legitimar a dominação de uma classe sobre outra. Por exemplo, entre os nobres romanos, a palavra bom significava ao mesmo tempo indistintamente uma qualidade moral admirável e uma posição elevada na sociedade. Quando Marco Tullus Cicero, verberando o conspirador Catilina, alega contra ele o Consensus Bonorum Omnium, Consensus de todos os bons, ele não está se referendo a uma pléia de Santos, mas a Assembleia dos Ricos e Poderosos, quer dizer, nós somos os bons e você é o mal. Quer dizer, quem está fora da classe dominante é o mal. Basta esse exemplo para ilustrar. E aí, esse exemplo, eu não encontrei ele em Marx, eu acho que fui eu mesmo que atinei com isso. Mas combina com o que Marx está dizendo. Basta esse exemplo para ilustrar o quanto o interesse da classe dominante, na mente do orador, havia se arraigado como símbolo de um valor moral. Aqui nos Estados Unidos você ainda tem um pouco isso. Quer dizer, se você é uma pessoa boa, honesta, etc., você tem que estar subindo na vida. E não sobe, se você vai para a barra, tem algum treco errado com você. Isso aí, eu vou dizer, é mitologia protestante de que, os bons são socorridos neste mundo, pelo Espírito Santo e sobem na vida progrídio. E eu vou dizer, então, o estatuto social deles é uma prova da sua eleição, porque você não vai alcançar a salvação pelos seus atos, você está predestinado. Então, como é que nós vamos saber se você é um predestinado ou um condenado? Só tem um jeito, você tem que dar alguma amostra de que as coisas estão indo bem. Então, você começa a parecer um predestinado. Isso funciona até hoje. Toda a teologia da prosperidade é baseada nisso. Então, é um exemplo de como o interesse óbvio da classe dominante aparece aos olhos dos seus membros e dos seus portavozes como um valor moral. Já a ideologia que o proletário elabora na sua luta para tomar o poder da burguesia não contém distorção subjetiva. Isso é um ponto essencial, no Calmarco. Porque o proletariado não tem interesse de exercer domínio sobre nenhuma outra classe. Ele é a última classe da série. O libertador da humanidade inteira e o criador de uma sociedade sem classe. Então, essa sucessão de classes vai terminar no reino do proletariado e não há uma outra classe para o proletariado explorar e oprimir. Ele é a última classe. Então, a ascensão do proletariado corresponde à libertação da humanidade inteira. A ideologia proletária não é, portanto, um vestido de ideias, mas um diagnóstico descritivo exato do estado da sociedade e do processo da sua transformação. Ela já não é uma mera ideologia, mas uma ideologia transfigurada em ciência, o socialismo científico, nome que Marx dá ao conjunto da sua própria doutrina. Mas aí surge o problema dos problemas. Sim, depois de uma longa sucessão de falsas consciências, só o proletariado alcança, por fim, uma visão objetiva e adequada da realidade histórica, como é possível que o primeiro a descobrir ela não tenha sido um proletário, mas um burguês, filho de uma das famílias mais ricas da sua renânia natal, que é o próprio Karl Marx. Pela lei das probabilidades, é quase impossível. Não tanto aconteceu. A resposta mais fácil e imediata é que Karl Marx não cria a doutrina da proletária enquanto membro da classe dominante, mas enquanto intelectual que livremente se volta contra os interesses dela e assume o dos dominados. Quer dizer, o jovem que se revolta contra o pai como o representante da classe dominante e ele adere a causa dos pobres. É de fato isso que aconteceu. Isso parece resolver o problema, mas na verdade o agrava. Se um ser humano pode livremente adotar a ideologia, isto é o ponto de vista décelo daquela classe, então evidentemente não é a sua posição de classe que determina a sua ideologia. É a sua liberdade que determina. Mas e assim, o sentido faz falar em ideologia de classe. No máximo, pode-se conceber que um indivíduo letrado, intelectual, cria um discurso ideológico baseado naquilo que ele imagina ser os interesses de uma outra classe, a qual não precisa de maneira alguma, ser a dele. Isso é tanto mais patente no caso do intelectual que não simplesmente adere a uma ideologia preexistente, mas se inventa. Karl Marx, de fato, não encontrou nenhuma ideologia proletária pronta a qual pudesse aderir. Depois de Karl Marx, tem muitos intelectuais de origem burguesa, ou pequena burguesa, que adere a causa proletária. Adere a ideologia proletária, tal como Karl Marx a formulou, mas Karl Marx não encontrou essa ideologia pronta, ele a inventou inteirinha. Ele acriou de cabo arrabo, e ela não é ideologia da sua classe e sim a da classe adversária. Contou da evidência, não há vínculo de causa efeito entre a posição de classe de um indivíduo e a ideologia que ele adota ou cria. A própria vida de Karl Marx exemplifica isso de maneira incontestável. Tanto mais incontestável, porque Marx não se limita a criar a ideologia proletária, mas a coloca em movimento como força histórica, disputando e conquistando pessoalmente o controle do movimento proletário, destruindo e impiedosamente as reputações de seus concorrentes, alguns deles de origem proletária, e tornando-se, ao lado do seu amigo Friedrich Engels, a força dominante na Fundação da Liga dos Comunistas de 1847. Quer dizer, ele virou o chefe, não só o formulador, o teórico, o mentor, o guru, mas o chefe, o líder efetivo do movimento comunista. Ou seja, a classe que encarna pioneiramente a consciência objetiva da humanidade tem de ser iluminada e guiada por um membro da classe adversária, personificação da falsa consciência. Algo nisso está tremendamente errado. A incongruência tão flagrante que ela, em si, surpreende menos do que o fato de Karl Marx, com todo o faro regueliano, seu faro regueliano para as contradições, não havia percebido senão superficialmente. De fato, embora em 1868, ele recusasse a presidência, quer dizer, de 21 anos depois, ele recusasse a presidência da Primeira Internacional, alegando ser um trabalhador mental e não manual, em parte alguma da sua obra, ele chega a dar ao problema o tratamento teórico que merece. Ou seja, ele sabia que não era um proletário. Na verdade, quando ele escreveu o Manifesto Comunista, assumiu a liderança da Liga dos Comunistas, ele nunca tinha visto um proletário na vida, era tudo imaginar. E daí convivendo com o proletário, ele percebeu que não era um deles, ele disse, bom, eu não posso ser o presidente desta coisa, que não vai pegar bem, vai ser um mico, é melhor botar um proleta, menos porque a Primeira Internacional era a Associação Internacional dos Operários, etc. Não tinha operário ali no nome. Ele de fato percebe que tem alguma incongruência nisso, mas ele não elabora isso teoricamente. Isso não chega para ele a construir um problema teórico, um problema do doutrina, um problema de uma situação social que podia ser veja menor. Se confessar sentir algum mal-estar em posar de líder operário sem ser operário, o filósofo da luta de classes permanece totalmente inconsciente da contradição, não entre trabalhador mental e manual. Isso ele sabia. Da contradição entre sua posição de classe e a proclamada superioridade da consciência proletária. Ele sabia que uma associação proletária não deve ser presidida por um intelectual. É tudo bem. Mas ele não percebeu que este mesmo fato colocava em dúvida o que ele dizia da superioridade da consciência proletária. De fato, ao afirmar que aspas a filosofia, a cabeça da emancipação e o proletário a deu seu coração, ele nos deixa anuar quanto a questão é essencial. O proletarado detentor supremo da consciência histórica é tão desprovido de uma cabeça própria que tende a receber uma cabeça orguesa enxertada? Tamanha ingenuidade no homem que foi o primeiro daqueles que Paulo Riquel chamou de mestres da suspeita é, no mínimo, intrigante. Contou de evidência, estamos dentro de um caso característico daquilo que é o que eu chamei paralaxe e cognitiva, fenômeno endêmico na filosofia moderna, deslocamento irremediável num pensador entre o eixo da sua construção teórica e da sua experiência real. Já dei exemplos detalhados desse fenômeno, nas minhas breves anais dos casos Maquiavel, o teórico do sucesso que aposta sempre no seu concorrente perdedor, e René Descartes, o filósofo do eu-pensante, que não tem nenhuma consciência da diferencia entre seu eu-biográfico e o conceito abstrato de um eu-genérico. Temos agora o filósofo da consciência de classe, que não tem consciência da sua própria classe, e, não obstante, deseja infudir consciência numa outra classe que ele mesmo proclama ser a única detentora da consciência. Isso tudo é infinitamente ridículo. Com certeza, a importância do caso não se limita ao âmbito da biografia intelectual, psicológica de Karl Marx, pois o paradoxo do burguês que encarna a consciência proletária passando por cima dos proletários se amplia naturalmente no problema geral da função dos intelectuais no movimento revolucionário. E aí o drama vai fundo. Karl Marx não é apenas o intelectual burguês que se antecipa aos proletários na criação da consciência proletária. Após alguns anos de convivência com militantes operários, ele e Engels chegam à conclusão de que a classe, que segundo eles mesmos encarna a consciência suprema, não tem consciência clara do processo revolucionário. E, tendendo a uma pressa voluntaria estar arriscada e suicida, tende a continuar sendo guiada por intelectuais burguês. É uma situação muito parecida com a que eu vivi aqui, porque eu digo, nós temos que, no Brasil, nós temos que criar uma classe intelectual, temos que criar uma hegemonia intelectual, depois preparar uma classe política, uma militância, etc. E eu pensava, não, nós temos que agir já, a mesma coisa, a mesma coisa. Quer dizer, o Karl Marx, eu sou preparado, que estudou o negócio, compreende o processo histórico e se depara lá com proletas entusiastas que só querem sair dando porrada e morrendo da comunidade de Paris como de fato morreram. Karl Marx não pode ser acusado da morte dele, porque ele avisou. Então, ele, por um lado, diz que o proletarado encarna, pela primeira vez na história humana, a possibilidade de uma consciência objetiva do processo histórico. E, ao mesmo tempo, por exemplo, se proletar, não tem consciência nenhuma do processo histórico, e nós é que temos que dar uma pra eles, senão eles vão tudo morrer. Quer dizer, é claro que temos um problema aí, mas Karl Marx não elabora esse problema, ele não para pra pensar nesse problema, que está no entanto, está no centro da sua doutrina. Com certeza, é importante, né? Pode. É uma questão de identificação, mas será que ele não pensava que o próprio processo histórico ia solucionar dialéticamente esse governo? Bom, mas se ele pensava, ele tinha que expor isso aí. O Che me pergunta aqui, será que ele não pensava o próprio processo histórico, ele ia resolver isso, né? De fato, o processo histórico resolveu. Mas se ele achava isso, ele tinha a obrigação de explicar como isso ia acontecer. Havia um problema, né? E dizia o Ordega C, problema é consciência de uma contrapunição, ou de um conflito, né? Então, bom, aí havia um problema, havia um conflito, havia uma incongruência, né? Que estava fazendo o coração mesmo do sistema, e o Criador do Sistema só enxerga nisso o problema do vexame social do intelectual, assumia a presidência da Internacional. Não há elaboração teórica nenhuma, né? Ele sabe se virar na situação social concreta, ele pula fora. Em outras partes, ele trata da função do intelectual, dizendo que o intelectual é a cabeça, o projeteria é o coração, etc., etc. Ele diz que a filosofia é o meio para eliminar o projeterado, o projeterado deixa de ser projeterado e isso é uma clase dominante. E o projeterado é o meio para a realização da filosofia. Mas a pergunta é, da onde sai a filosofia, se não da burguesia? Então, como é que se dá isso? Como é esse processo? Há um problema e ele tem a obrigação de explicar. A esta altura, como se pode falar ainda em ideologia proletária, se não no sentido de uma ideologia criada de fora para ser injetada nos proletários, aos poucos e com dificuldade, como o próprio Karl Marx não tem muita dificuldade. Parágrafo 10. Quem resolverá essa dúvida com a franquesa brutal que lhe era peculiar será Vladimir Ilych Lenin, que nunca se encontrou com Marx e Engels em pessoa, impressionado sobretudo pela defecção geral do proletariado europeu, que preferiu antes alistar-se nos exércitos da guerra imperialista de 1914, do que aderir a revolução mundial e derrubar seus governos nacionais burgueses? O líder comunista russo tirou do Marxismo uma conclusão que já estava implícita nele e camuflada pelo menos desde 1868. A revolução de Iraele não é feita pelos proletários, mas por uma vanguarda, o partido constituído eminentemente intelectuais, que depois da tomada do poder tratará de infundir consciência proletária nos proletários. Ou seja, meter consciência proletária nos proletários não faz nem parte da revolução, é para depois de você tomar o poder. O Estado comunista antecipa-se aos proletários e faz a cabeça deles. Na verdade, não só a cabeça. Para sofrer uma revolução comunista, um país não precisa nem mesmo ter um proletariado pronto. Pode ter apenas uma semente dele, o que era precisamente o caso da Rússia. As quais serão regadas até formar um proletariado em regra no processo de industrialização forçada sobre a regência do partido. Então, é a industrialização forçada depois da tomada do poder para os comunistas que criam o proletariado. Não vai criar sua ideologia proletária, porque é o próprio proletariado. Em vez de o capitalismo criar o proletariado, o proletariado toma o poder, ele cria o comunismo ao contrário. O partido cria o comunismo, o comunismo cria o proletariado. Aí você já tem a teoria do marco totalmente invertida. Mas essa inversão já estava lá como problema. O Lené que a colocou como solução. Quer dizer, ele simplesmente assumiu, falou que o negócio proletar ou esperar o proletar ou esperar sentado. Vamos fazer nós mesmo o negócio. E depois nós criamos o proletariado. Inspirado nesse estado de coisas, o filósofo marxista Ungaroghörg Lukacs dirá que a tal consciência proletária não existe como realidade efetiva na mente do proletariado. O que existe é apenas uma consciência possível que se transformará em consciência efetiva mais tarde por obra do partido. Assim como a Revolução Burguesa de 1789 na França não foi feita por capitalistas burguesas, mas por intelectuais enragias, muitos dele de origem aristocrática. O mesmo sucederá com a Revolução Proletária. Aprisionado num cárcere fascista, o fundador partido comunista italiano Antonio Gramp, com franqueza ainda mais crua que a de Lené, rabiscará milhares de párnios teorizando a Revolução dos intelectuais e celebrando o partido como príncipe moderno, imagem ampliada do ideal tipo criado por Maquiavel, que engana a sociedade inteira, exercendo sobre ela aspas. O poder onipresente invisível do imperativo categórico de um mandamento divino. Fecha aspas e leva as massas a tornar-se aspas socialistas sem saber. Então assim, o partido dos intelectuais faz praticamente tudo. E o proletariado nem precisa entender o negócio, ele vai se tornando socialista sem saber. No curso do processo histórico, aconteceu o que todo mundo sabe. Aquilo que se anunciava como democracia proletária e reino da igualdade, se transformou no regime mais hierarquizado do mundo, com uma nomenclatura de burocratos onipotentes dominando pela repressão e controlando pelo terror uma massa de operários inermes em defesa exposta a morrer à mimba após uma vida de trabalho escravo. Diante desse espetáculo, mesmo antes de revelado em público pelo sérgio de discurso anti-stalinista de Nikita Khrushchev em 1956, e da repressão sangrenta à revolta húngara no mesmo ano, provando que o pós-stalinismo não era tão pós. Muitos intelectuais marxistas entraram em crise e romperam com o partido. Uns poucos romperam completamente aderindo ao capitalismo liberal e tonando-se anti-comunistas militantes. Foi o caso, por exemplo, de Arthur Kestler, Inásio Silone e demais co-autores do livro Manifesto The God That Failed, o Deus que falhou de 1949, que se tonaram as betenoire da propaganda comunista no mundo. Poucas pessoas foram tomodiadas quanto essa. No Brasil, foi o caso de Antônio Pahim e Paulo Mercadante, dois intelectuais de grosso calibre que se notabilizaram com o pioneiro do nosso incipiente movimento liberal. Mas a maioria dos desiludivos não quis jogar fora um marxismo, junto com o filho que ele havia gerado no ventre do movimento revolucionário. Falando de traição e aburguezamento, buscando a salvação paradoxalmente Oren Leon Trotsk, um tipo ainda mais turcolento do que Stalin, que não tentava em oprimir a sociedade, mas desejava mesmo militarizá-la. Essa é a ideia do Trotsk. Tem gente que imagina que se o Trotsk tivesse chegado do poder e veio do instáculo, que eles teriam mais maneiras. Trotsk era o homem que queria militarizar a sociedade inteira. O que significa militarizar a sociedade? Quer dizer que se é uma desobediência, você tem uma corte marcial em cinco minutos e fuzilar de medatamento. É isso que significa. Ora, em Mao Tse Tung, um Stalinista distrito observando que estava promovendo na China o mais vasto genocídio de todos os tempos. A evolução ideológica desses intelectuais era o objeto da segunda parte deste estudo. Por enquanto, o que cabe perguntar é como foi possível tanta gente falar em traição e desvio se a evolução das coisas, tanto no União Soviética quanto na China, não foi senão o desenvolvimento lógico e inexorável das premissas que já estavam em boutias no Marxismo desde o começo. Pois a recusa ou omissão de Karl Marx, em esclarecer teoricamente a posição dos intelectuais, permitiu que estes continuassem a exercer sobre o movimento revolucionário um controle inconfeçado, discreto senão clandestino, e a beneficiar-se para isso da mitologia da consciência proletária. O que é a consciência proletária? Os intelectuais estão comandando tudo, mas os intelectuais acham que o movimento é deles. Então, a consciência proletária serviu de vasilina para os intelectuais. E esse problema já estava em Karl Marx. Antes mesmo do advimento de Antonio Gramp, o partido, tal como criado por Marx, já era o príncipe moderno. A ditadura do proletarado jamais foi exercida pelo proletarado, mas sobre o proletarado. Na época em que Marx ainda estava vivo e atuante, uma boa análise lógica da sua doutrina já bastaria para provar que ela não poderia levar ao outro resultado, se não precisamente aqueles que produziu. A ditadura dos intelectuais é a escravização definitiva do proletarado. Porque ali já estava claro, quem diria os negócios intelectuais? Os intelectuais são a cabeça e o proletarado é o coração. O coração, na época do século XIX, significava o que? Parte sentimental, portanto a parte passiva e secundária do negócio. Mas Karl Marx não fala em nenhum momento de revolução dos intelectuais, ele não teoriza a posição dos intelectuais, só teoriza a consciência proletária ao mesmo tempo de estar criando a revolução dos intelectuais. Então, é claro, se ele lê o carnaço, o que vai acontecer? Os intelectuais vão tomar o poder usando o proletarado e não vai haver revolução proletária nenhuma, a revolução proletária é apenas o nome da ditadura dos intelectuais. Isso já dava para perceber que Karl Marx não é isso, é importantíssimo. Mas os adversários do Marxismo, na época e muito tempo depois, eram o geral acadêmico, os economistas de formação como Ogen von Bambaverk, Werner Zombart, Marx-Bieber, hipnotizados pela complexa argumentação econômica de Ocapital, concentraram-se em tentar refutá-la no plano teórico, como se ela fosse uma pura hipótese científica abstrata, quando, na verdade, ela mesma se apresentava com um guiamento estratégico do movimento revolucionário, dissolvendo na práxida quais que eram objeções que o pensamento burguês pudesse apresentar. Quer dizer, o burguês estava discutindo as teorias econômicas, ele falou, na verdade, enquanto isso o movimento revolucionário continuando andando. Então, isso aí equivale. Isso aí tem tanta eficácia na prática quanto você provar um ladrão que o rouba é ilegal. Não vai dizer ilegal mesmo, mas e daí? É exatamente isso que se trata. Esses pessoal, todos os críticos do marxismo, até hoje tem gente que faz isso, quer contestar teoricamente o marxismo, mas o marxismo não é uma teoria, ele é praxis, quer dizer, uma união indissoluva de teoria e prática. Portanto, ele tem que ser estudado na articulação da teoria com a praxis, na teoria, vamos dizer, os resultados efetivos da teoria. Então, tem aqui o que o marxismo está dizendo e tem o que ele está fazendo. Você tem que articular as duas coisas pra entendê-lo. Não pode separar a teoria e tratar dela como se fosse uma coisa em si, ou que todo mundo faz, até hoje tem gente que faz isso. Outros de mentalidade mais filosófica, concentrar-se e refutar o materialismo de marxismo em nome de valores espirituais ou religiosos. Sem perceber que com isso não perfuravam nem mesmo a pele do monstro. Você está lá discutindo materialismo e espiritualismo enquanto o cara está lá, organizando as forças, tomando poder, etc. Ou seja, é um estado de alienação total que, de certo modo, confirma a teoria que o Karl Marx tem sobre o pensamento por Guise. Ele diz que o pensamento por ele é tipo metafísico. Metafísico pra ele tem sentido pejorativo. É você tomar conceitos como se fossem realidades, você iria ver um mundo de puras ideias. De certo modo, isso foi profecial, realisável, porque os críticos do marxismo fizeram exatamente isso. Inclusive, o nosso Marver do Santos, isso quer dizer que ele como adversário do marxismo, é inocuo. Aliás, praticamente todos os outros adversários do marxismo são assim. Até hoje, se eu tivesse visto alguém para se assinar por aqui, eu não teria eu mesmo escrito isso. Pois ficavam no céu das ideias puras enquanto a revolução ia ateando fogo no mundo. A síntese marxista de teoria e prática estava obviamente fora da alcance da mentalidade puramente teórica. Estava e ainda está. Transfundo isso para a situação atual, onde nós temos já não o marxismo clássico, curo sangue, mas a ideologia diversitária, etc. Os críticos delas estão todos fazendo a mesma coisa. Estão estudando, vamos dizer, as teorias, por exemplo, ideologia de gênero, feminismo, racialismo, como teorias e tentando refutá-las enquanto teorias, sem perceber a articulação deles com a prática. A articulação na qual essas teorias às vezes adquiram o sentido inverso que elas têm no papel. Estão lutando por uma coisa, mas na verdade vão produzir outra completamente diferente. E essa articulação é que é a essência do movimento. Isso eu vou demonstrar na segunda parte, que é a tragédia da revolução diversitária. Por isso as consequências horrendas que o marxismo trazia no seu vento permaneceram ocultas e discretas, crescendo em silêncio, só se revelando a plenal da luz do dia quando era tarde demais para reverter-las. Então, sempre o que eu já me diz é a tragédia do marxismo clássico. A tragédia é quando todo mundo está fazendo aquilo que lhe parece o melhor, e dá tudo errado. Não deu errado o cara de uma traição, não foi uma deformação do marxismo, foi simplesmente a realização do marxismo. O que é a realização do marxismo? É a revolução dos intelectuais que fica amuflada em revolução provetária. Agora você raciocina um pouquinho. O que se dá na tomada do poder pelo partido, pelos intelectuais? Eu já expliquei para vocês em outras aulas que só existem três formas de poder. Você tem o poder intelectual, espiritual, cultural, como queira chamar, que consiste em você ser capaz de moldar os quadros de referência conceptuais e simbólicos dentro dos quais os outros, por ser incapaz de inventar o substituto, vão necessariamente pensar. Quer dizer, você acaba pensando exatamente como o filósofo andou você pensar porque você não é capaz de filosofar um lugar dele. Nesse sentido aqui, ao gosto cumpre, dizia que a vida dos vivos é determinada por filósofos mortos. O poder intelectual tem essa característica, que ele é de longuíssimo prazo, ele não é um poder pessoal, ele atua numa profundidade que ultrapassa a duração da vida do filósofo. Por exemplo, a Aristótia vai provocar uma revolução intelectual no ocidente, 15 séculos depois de ter morrido. E o próprio Karl Marx, Karl Marx não viu a revolução comunista. Mas é um poder decisivo porque ele cria o quadro perceptivo dentro dos quais as pessoas necessariamente vão ficar. A não ser que um deles seja um filósofo também e invente outro, mas não acontece. Então, em segundo lugar, você tem o poder econômico, que é o poder que Gia gera os meios de ação, os meios materiais de ação. E o poder econômico, ele age de uma maneira mais imediata, mas ele só tem duas maneiras de agir, ela é três. A primeira é a promessa de um benefício, não é isso? Quer dizer, você faz tal coisa de pago tanto. A segunda é a retirada do benefício, a ameaça de tirar um benefício. Quer dizer, e a terceira é que o poder econômico consegue, pelo dinheiro, adquirir os meios de ser apropriado da terceira forma do poder, que é o poder político-militar. Isso é a mesma coisa que eu disse, o poder do dinheiro não é ainda um poder. Como o poder ele é como dizemos assim, é um poder, como se diz, feminino. A mulher te oferece para transar com você, você recusa a transar com você, isso é o máximo que ela vai poder fazer. Então, atrai, e nessa atração, atração, sedução, etc., ela tem alguma mar de manobra, mas se o homem se enche o sacro e ele dá uma porada, ela acabou a conversa. Então, só quando entra o poder político-militar, que é como chamava Max Pepper, o monopólio do uso da força física, aí que você tem o poder na sua forma mais direta no ecrúa. O dinheiro serve para você adquirir esse poder, mas se você não o adquire em tempo, babal. Então, só existem essas três formas de poder. Ora, os intelectuais, eles já detenham o poder intelectual, eles são os formuladores da visão do mundo que se empunha à sociedade como diz o Antonio Gramsci, a autoridade unipresente invisível. Todo mundo pensa daquele jeito, mas ninguém sabe que isso é socialismo. E isso eles já têm. Eles adquiram as outras duas formas de poder. Eles se tornam os detetores do poder político-militar e do poder econômico ao mesmo tempo. Ou seja, eles têm as três formas do poder. Dito de outro modo, eles criam uma elite governante praticamente indestrutível. Indestrutível pelo povo. Nenhuma revolta popular pode derrubar uma ditadura comunista, jamais pode. Ela só cai, ela é platã, dizia isso, não é um respeitizador comunista, mas de qualquer um. E diz uma minoria bem organizada é capaz de sufocar qualquer revolta popular. As minorias só caem quando elas se dividem internamente. Exatamente o que aconteceu na Rússia. Não foi uma revolta popular. Foi gente de dentro do próprio partido que começou a rachar. Gorbachev começou a rachadura, ele achou que aquilo seria uma reforma, foi uma desgraça. Se não fosse o Gorbachev, não aconteceria nada. Depois o Elton se aproveitou dessa confusão para fechar o Partido Comunista. Mas note bem, a elite que está governando a Rússia até hoje ainda é o mesmo pessoal, é a turma da KGB. Então, Marx dizia que o proletarado, então logo ele nasce o inimigo de classe, quer dizer, a burguesia. Estaria instaurado o reino da igualdade, da liberdade e o Estado cessaria de existir. Não haveria mais Estado, porque o Estado seria idêntico à sociedade. Mas idêntico à sociedade, em que sentido? O Estado está unipresente, ele controla tudo e ele tem as três formas do poder na mão. Isso quer dizer, mais ao mesmo tempo, a ideologia proletária, converse o proletário de que aquilo é o governo deles. Embora ele não participe do governo e não mande nada. Então, o que desaparece não é o Estado, é o conceito do Estado como entidade distinta. E Marx toma isso como se fosse a eliminação do próprio Estado, materialmente. Mostrando que ele também estava infectado de pensamento metafísico-burguês, que toma conceitos como realidade. Então, isso quer dizer, com uma boa análise lógica do pensamento de Karl Marx, já em 1860 e pouco, teria mostrado o que ia acontecer. O que vai acontecer no curso da sua revolução é exatamente o que já está acontecendo dentro da Liga dos Comunistas. Os intelectuais mandam e os proletas obedecem, acreditando que eles são os donos do pedaço. E o poder dos intelectuais vai aumentar, aumentar, aumentar, quando se houver atomado do poder, vocês vão concentrar nas suas mãos as três modalidades do poder, e não tem como tirá-los de lá, a não ser que vocês se matem uns aos outros. Que foi exatamente o que aconteceu e que na China não aconteceu até agora. Eles ainda continuam lá, em Pávio Colosso, mandando. Agora, no restante desse escrito, que talvez a semana que vem esteira pronto, não garanto, de restante desse capítulo, eu vou explicar como mesmo um processo similar, analógico, está se dando dentro da chamada revolução diversitária, começa em mais de 68, como aqueles ideais libertários, igualitários, etc. estão criando uma sociedade muito mais hierarquizada do que antes, e praticamente indestrutível, muito mais do que a nomenclatura soviética. Deu para entender, deu para acompanhar? Então, acho que hoje não vou responder perguntas não. Você tem que fazer um trabalho miserável para ser anoite escrever, então, vão ficar para a semana que vem. Até semana que vem, muito obrigado.