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Então vamos lá, boa noite a todos, sejam bem-vindos. Hoje eu queria tocar um dos temas mais interessantes da história da filosofia, um desenvolvimento que começa no início da modernidade e cujas consequências se arrastam até hoje. Esse tema ilustra um outro fenômeno que não é da época, mas é constante, que é o de que toda a nação que alcança um certo grau de desenvolvimento e poder material, começa a se olhar assim mesmo como se fosse o centro da história, o centro e o limite. Isso aconteceu especialmente com a França, Inglaterra, Alemanha e os Estados Unidos. Então a história vista assim apresenta um certo perfil que pode se impor para toda uma população como se fosse a versão real da história. Acontece que aquilo que se passa nas nações mais poderosas nem sempre reflete o curso da história das ideias. Não há de fato nenhuma correlação entre a riqueza, poder material e a criatividade intelectual. Ao contrário, nós sabemos por exemplo que a época de Platão Aristótia, em que floresceu a academia e o liceu, já era uma época de decadência política econômica da Grécia. Do mesmo modo, o período do idealismo do romantismo alemão com Reggae, eufiste, Schellen, que foi um dos períodos mais belantes da história da filosofia, ocorreu numa época em que Alemanha não era sequer um país, era um conjunto de principados, educados sem nenhum governo central e sem uma identidade nacional, que ao contrário estava mal começando a se formar naquela época como se vê nos famosos discursos de Johann Gottlieb Fichte, chamados discursos da Nação Alemã, que são uma reação à invasão napoleônica, de fato a invasão napoleônica que desperta o nacionalismo alemão. E assim por diante, não há uma correlação entre o progresso material e o desenvolvimento intelectual, não é mesmo, são coisas absolutamente independentes. E porém graças a este espécie de provincialismo, vamos chamar o Provincialismo da Capital, o Provincialismo da Metrópole, certo desenvolvimento da história da filosofia foram simplesmente esquecidos e até hoje são transmitidos como inexistentes. Por exemplo, a época de que o renascimento foi o tempo do florescimento da ciência moderna e da liquidação das trevas medievais, da superstição etc. Na verdade foi exatamente o contrário, é dizer, o período de florescimento da ciência moderna um pouco posterior e o renascimento foi ao contrário a época de maior florescimento da magia, da astrologia, da cabala etc. Este fenômeno, sobretudo da cabala, ele surge em reação a onda nominalista que já vinha predominando nos círculos escolásticos. O nominalismo é aquela teoria que pretende que os universais, por exemplo, as espécies não existem em si mesmo, elas só existem às substâncias individuais e as espécies são apenas construções mentais humanas, como se nós tivéssemos inventado a espécie vaca. Na argumentação nominalista, então, era bastante forte e essa escola fez muito sucesso no meio escolástico. Em reação a ela, mas fora da universidade, aparecem então os cabalistas modernos, especialmente Johannes Roichlin na Alemanha, Pico de La Mirandola e Marcino Ficino na Itália e a Riconè, a Grippa. Na Alemanha, esses autores, então, eles começam a puxar do fundo dos séculos e a tradição vildaica da cabala e adaptava ao mundo cristão e faz algumas descobertas extraordinárias. O princípio fundamental da cabala é que a linguária da Bíblia, o hebraico da Bíblia, é uma linguária cifrada, na qual cada letra corresponde a um número, uma certa quantidade, de modo que por cálculos e permutações de uma palavra você obtém outra palavra e de outra outra e assim por diante, de modo que já naquela época eles haviam chegado a demonstrar que o nome secreto do Messias era Jesus, e Xua, o que veio acontecer de novo no século XX, quando um dos principais rabinos do mundo, falecido uns anos atrás, ele deixou a mensagem posto, dizendo olha, que tal o nome do Messias e quando os caras abriram, a mensagem era Xua, e esses três já haviam dito nessa época. A cabala se baseava na identidade do nome e da coisa, que é dizer, os nomes não eram signos arbitrários, era algo que vinha na própria natureza da coisa, uma espécie de simbolismo, sonoro e gráfico inerente à própria natureza do objeto, então era exatamente, isso estava nos antípodas do nominalismo, então em vez de haver uma separação absoluta, quer dizer, todos os signos serem arbitrários, como proclamava o nominalismo, havia uma relação intrínseca, uma espécie de simbolismo natural dos nomes, e particularmente o empenho desses todos foi demonstrar uma perfeita continuidade entre a tradição cabalística e o cristianismo. Infelizmente, dentro do debate da época, todas essas tentativas foram tanto apressadamente, criam o condenado pela igreja, se bem que a condenação que caiu sobre o pico dela, mirando ela foi depois suspensa por outro papo, o que aconteceu com o Rochlin e os outros não sei, mas, então essa, essa tendência que ocupou todo um século, ela é normalmente esquecida na história da filosofia, por que? Porque isso não era a filosofia no sentido formal, era antes uma filologia e uma teologia, mas a importância filosófica disso é notória. Então foi só no século 20 que alguns historiadores, como a França de AIDS, na Inglaterra e PRBA, na França, começaram a desinterrar o que se passou nessa época, e hoje a visão que os historiadores profissionais têm do período é bem diferente da visão popular, a qual no entanto ainda continua consagrada em programas universitários e livros mais populares, assim por exemplo, e toda essa tradição historiográfica consagrada popularmente, ela dá a ideia de que na época, ou seja isso aí seria século 16, mas no exemplo século 16 ou 17, a filosofia escoláscara tinha, onde se esclerozado, tinha virado apenas uma filosofia livrezca que era assim, comentares de comentário de comentário, isso de fato acontecia, mas acontecia sobretudo na França, e como a França era o país mais poderoso na época, então é claro que a visão que ela tinha de si mesma acaba se transformando numa espécie de visão da história da filosofia mundial, o que é evidentemente um erro, porque na mesma época a filosofia escoláscara estava alcançando certos desenvolvimentos extraordinários na Espanha e em Portugal, desenvolvimentos que antecedem certas descobertas científicas que só vieram a ser feitas realmente no século 20, pelo ano século 19, para você pegar a obra do Charles Sanders Pers, que é o Homem da Semiótica, praticamente tudo que ele disse já estava na filosofia escoláscara luso espanhola dessa época, mas isso foi solenemente ignorado, na verdade ignorado até hoje, a maior parte da história da filosofia se concentra nos países de mais destaque, especialmente a França Inglaterra, e deixa a Península Ibérica de lado, porque a Península Ibérica está começando a sua decadência política econômica, a decadência que foi muito acelerada, vamos dizer, pelo desastre acontecido a marinha de Felipe II, que iniciou uma invasão da Inglaterra, mas foi destruída por um furacão no meio do caminho, ao que o rei disse, eu não lhe havia enviado contra as forças da natureleza, então não é culpa nossa, mas com isso a Espanha perde muito do seu poderio, tá certo, e a Península Ibérica entra numa decadência econômica que, vamos dizer, por uma espécie de automatismo mental, é tida também com uma decadência cultural, só que a decadência cultural posterior, em geral o pessoal não sabe disso, esse mesmo período, vamos dizer, de perda da hegemonia espanhola coincide com o florescimento intelectual fora do comum dentro das universidades, então é uma coisa estranha, porque na mesma época, na França a atividade intelectual de maior destaque que se consaga na história, como representativa da época, era externa as universidades, você vê que o Prané Descartes não era profissão universitário, Michel de Montagne, a uma cultura extra universitária que se desliga não somente da instituição universitária, mas da língua internacional, o latim começa escrevendo as línguas nacionais, portanto escreve para um outro público também, o material universitário todo em latim que era língua internacional, se dirigia especificamente aos profissionais, quer dizer, o pessoal que estava também dando universidade, era uma produção de universitários para universitários, e nessa época se conquista então todo um público leigo, sobretudo na nobreza, nessa época você vê muito contato entre os filósofos e os governantes, os reis, a famosa correspondência de René Descartes com Cristina da Suécia, e depois Lime, exatamente a toda uma rede de contatos nas classes dominantes, é um público totalmente novo sem um treino filosófico especializado e que necessita portanto de uma outra linguagem, então não apenas abandona o latim, começa escrevendo as línguas nacionais, mas abandona a terminologia técnica da escola, e começa escrevendo uma língua mais popular, uma língua para todo mundo, portanto são obras que para nós parecem muito mais claras, você por exemplo, você leu René Descartes sem nenhuma dificuldade, leu Francis Bacon sem nenhuma dificuldade, mas se você for ler John Donner Scott, por exemplo, é um osso, porque é tudo terminologia técnica, você já não sabe o que ele está falando, enquanto você não estudar a língua dominante da época, só que isso estava acontecendo na França, que era, se considerava o centro do mundo, e cuja auto imagem então se consaga na história da filosofia como se ela fosse realmente o palco central da história da escola, só que ao mesmo tempo na Espanha e em Portugal estava acontecendo o contrário, era época de grande, grande florescimento da filosofia escola, portanto da filosofia intrauniversitária, escrita na mesma linguagem técnica dos seus antecessores, e por isso mesmo essas obras não tiveram a difusão popular nenhuma, até hoje muitas delas só circulam em latim, não tem nem tradução, é um autor que do qual nós teremos especial interesse, que é João Puançou, filósofo português, mais conhecido como João de São Tomás, só no século 20 apareceu em traduções, apareceu uma tradução parcial do seu livro principal, que já está dos signos, apareceu em português, e uma tradução completa, uma edição bilíngua maravilhosa feita pelo filósofo americano John Dealey, apareceu nos Estados Unidos, mas o Puançou ficou à margem da história da filosofia, então o que consta oficialmente é que na época que eu estou mencionando, que é a época em que aparecem os cabalistas modernas, a filosofia escola que está em, é a famosa escola que é decadente, a escola que é decadente só aconteceu na França, e na Itália talvez, mas na mesma época havia uma ascensão vigorosa, avassaladora da filosofia português espanhola, pouquíssimos autores prestaram atenção nisso, um deles foi Láymus, Láymus sempre elogiu muitos filósofos portugueses espanhóis, mas também não podemos esquecer que o próprio Láymus, sendo um alemão, ele não tinha uma língua de cultura na sua própria patria, em século 18, o alemão não era uma língua de cultura apesar do sucesso da tradução da Bíblia feita por Lutero, as pessoas de, os intelectuais, eles se comunicaram ou em latim ou em francês, eles eram a grande parte da obra do Láymus, latim e francês, eles eram pouquíssima coisa em alemão, o alemão só se torna mesmo uma língua de cultura no século 19, o fim do século 18 com o mesmo século 19, sobretudo a partir do romantismo, cânndice, fiste, shelling, etc. Então esta corrente que surge do neocabalismo, ela é combatida, francamente combatida pela igreja, combatida e reprimida pela igreja, mas há algo sobra dela, a ideia principal da cabala é de que pela desifração dos textos hebraicos da Bíblia nós podemos obter a linguagem matemática em que Deus escreveu o universo, então a língua e sua desifração matemática seria o caminho natural para o conhecimento dos mistérios divinos, e esses autores todos colocavam uma grande esperança nisso, dentro de um contexto que era professadamente católico, eles queriam integrar isso na religião católica, eu não sei se não foram compreendidos ou se alguém no Vaticano achou que aquilo podia dar encrenca e condenou tudo isso, mas a ideia da cabala, quer dizer que é da desifração matemática dos mistérios divinos, ela permanece numa outra versão que na época apareceu mais aceitável, que é a desifração dos mistérios da natureza, então a matemática aplicada ao estudo da natureza, que era uma ideia que de fato não havia ocorrido a ninguém, se você ler Aristóteles ele descaramente com método matemático não serve para ciências naturais porque na natureza não existe nada de exato, hoje que nós temos física quântica, mas nós vemos que ele não deixava ter razão sobre certo aspecto, porém na época a ideia da matemática como chave dos mistérios da natureza se impregnou de tal modo na mente dos intelectuais que daí nasce tudo que nós entendemos como ciência moderna, não por coincidência, o sujeito que mais popularizou essa ideia foi Bacon que não entendia nada de matemática e que nunca fez escoberta científica nenhuma, mas ele pregava, quer dizer, uma transformação da filosofia em ciência da natureza e a ideia pegou, porém a expressão mais pura dessa transformação aparece em René Descartes e se aparece primeiro em Galilê, ele diz, Deus escreve o universo em caracteres matemáticos e ele tentava descifrar esse caracteres, mas não para descobrir os mistérios divinos, mistérios da vida após a morte, mistérios da salvação da alma, etc como os cabalistas modernos pretendiam, mas voltava a ideia do domínio sobre as forças materiais, essa ideia de Galilê deu e a ideia de Descartes, Descartes escreve o seguinte, você presta muita atenção nesse texto que é talvez seja o texto inaugural da filosofia moderna, está no discurso do método, aqui tem a parte de 61,73 da edição de Adam e Tannery, não sei que parna corresponde a uma tradução brasileira, então diz Descartes, em lugar daquela filosofia especulativa que se ensina nas escolas, escolas, quer dizer, das escolas, pode se encontrar numa filosofia prática pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos ástos, dos céus e de todos os outros corpos que nos rodeiam, tão distintamente quanto conhecemos os diversos ofícios dos nossos artesãos, poderíamos empregá-los do mesmo modo em todos os usos aos quais são próprios e assim tornar-nos como senhores e possuidores da natureza, a minha ideia do Galileo, o que não é de se desejar somente para a invenção de uma infinidade de artifícios, equipamentos, etc, que nos fariam desfrutar sem nenhuma dificuldade dos frutos da terra de todas as comodidades que nelas se encontram, mas principalmente para a conservação da saúde, poderíamos livrar-nos de uma infinidade de doenças tanto do corpo quanto do espírito e talvez mesmo do enfraquecimento que é próprio da velhice, este é todo o programa da filosofia moderna e da ciência moderna, ou seja, tornar-nos senhores e possuidores da natureza, dominar as forças naturais, domá-las e através, seja da construção de máquinas ou de outro procedimento qualquer, utilizar todas as forças da natureza em proveito, vamos dizer, do ser humano, é claro que isso implica você se desviar totalmente dos temas da filosofia especulativa. Isso então, a partir daí, a sondagem sobre a natureza do universo, a essência da vida humana, a imortalidade da alma, deus, praticamente desaparece, desaparece de cena, você vê que o tratamento que Descartes dá o tema de Deus, vocês podem ver isso no meu livro Visões de Descartes, é de uma simploridade quase coeril, você não dá para comparar isso aí com as grandes especulações da filosofia psicológica, mas ao mesmo tempo, toda esta parte especulativa, como a chama Descartes, ela é atrofiada e dá lugar a um crescimento hipertrófico da tecnologia, a tecnologia que visa não só a propiciar o ser humano mais comodidade na sua vida corporal, mais a vitória sobre as doenças e provavelmente sobre a velhice, portão ensinua-se, ensinua-se aí vagamente o sonho da imortalidade física, a qual hoje se consagam inúmeros estudos no mundo, a gente está gastando bilhões com estudos, como vamos tornar imortais fisicamente? Então, dessa mudança, ela se inspira inicialmente na ideia cabalística, na ideia da desifração matemática dos livros sacros e portanto a aquisição do segredo matemático dos mistérios divinos, não que tudo fosse abrir para você, mas através do cultivo dessa desifração permaneca, a coisa que o rabino se dedica a século, você chegaria a uma compreensão cada vez maior dos mistérios divinos e isso colocado dentro de um contexto cristão seria evidentemente um exercício acético dos mais propícios à salvação das altas. Como a coisa foi banida pelo Vaticano, então imediatamente os autores que tinham interesses cabalísticos, como o próprio Enel Descartes, criaram esta outra versão da coisa onde você parecia se afastar de tudo quanto era mistério, magia, etc. E dirigir num sentido que era mais próximo do que hoje nós formamos de ciência natural, contra o que a igreja não poderia ter nenhuma objeção. Então, daí nasce então toda a tradição da ciência da filosofia moderna voltada para o domínio sobre a natureza. Mas a primeira coisa a observar aí é que quando ele diz assim, através disso, o homem adquirirá um poder maior sobre a natureza, faltou um detalhe. Você vê que nessa época havia um grande folio de ciências naturais, mas essa ciência sociais e histórica só se desenvolveria a partir do século XIX, com Leo Paul de von Ranken e outros. Portanto, as consequências sociais dessa nova orientação eram praticamente invisíveis, na época não se podia prever o que ia acontecer. Se houvesse alguém com um grande higênio sociológico ou historográfico na época, ele poderia fazer a seguinte pergunta. Você diz, através dessa nova ciência que você chama de prática e desses equipamentos todos e todos esses artifícios que vocês vão inventar, você diz que o homem adquirirá um poder maior sobre a natureza, mas qual homem? Todos os homens, isso é absolutamente impossível. Ou seja, qualquer equipamento que você invente na ciência, ele é inicialmente acessível só a uma minoria, só muito gradativamente e dificultosamente essas coisas se tornam acessíveis a todo mundo. Mesmo quando os benefícios se tornam acessíveis, como por exemplo, de serviços tratamentos médicos, são os efeitos que são acessíveis, não a produção deles. Então, por exemplo, você pode ir na farmácia comprar um remédico, um apontente biótico, etc. Não, não. Você se beneficia daquilo de algum modo. Mas você não tem ideia de como aquilo foi produzido, você não tem o domínio do processo. Então, longe de ser o senhor e detentor da natureza, você não é nem o senhor e detentor do seu próprio destino pessoal. Então, a primeira consequência inevitável dessa orientação, dessa nova orientação, é que em vez de aumentar o poder do homem sobre a natureza, o homem em geral, sobre a natureza, ele aumenta muito mais o poder de alguns homens sobre os outros homens. Não ele parece óbvio? Todos esses progressos técnicos são meio de atuação, não só sobre a natureza, mas sobre a sociedade humana, sobre os outros homens. E aí nós temos que lembrar que ela é a famosa constante do carro Quigley, por exemplo. Quando as armas são de uso fácil, fácil de aprender, então você tem uma época de liberdade democracia, mas quando as armas se tornam muito complexas e caras, então ao contrário, você tem uma hierarquização maior. E é evidente que a quantidade de ciência necessária para você fazer, por exemplo, um mosquetão daqueles de carregar pela boca é muito menor do que o necessário para você fazer, dizer, um navio de guerra, uma usinatômica, etc., etc. Então o próprio progresso da ciência ele tisa necessariamente os meios de poder, onde surge o fenômeno dos totalitarismos modernos, das ditaduras, cujo poder é todinho baseado em ciência e tecnologia. Você verá, por exemplo, as ditaduras dos anos 2030, elas jamais teriam podido existir no fenômeno do rádio. Imaginem, por exemplo, um governante do século XVI ou da idade médio baixando uma hora, baixando um decreto qualquer, aquele decreto era assinado e até aquilo se disseminar até os últimos confins do reino, que levava anos ou décadas. Com o advento do rádio, o ditador pegava o microfone e falava para milhões de pessoas ao mesmo tempo. E nós podíamos perguntar, e esse milhões de pessoas poderiam falar pelo rádio também? Não, porque eles não tinham dinheiro para ter uma estação de rádio. Então este processo iniciado por Descartes, ele aumenta o poder de alguns homens sobre a natureza e o poder de alguns homens sobre todos os demais homens. Uma vez assumido esta direção, também tem uma segunda consequência. Você verá que, no que Descartes disse aqui, ele não se pronunciou sobre a questão do nominalismo. Então, os conceitos gerais, eles expressam realidades ou eles são apenas construções da mente humana? A tendência nominalista parece predominar durante algum tempo. E mesmo dela não predominar, acontece que a discussão filosófica toma o rumo do conflito entre idealismo e realismo. Então o mundo das coisas que nos são acessíveis através dos sentidos, ele existe realmente ou ele é apenas constituído as nossas percepções? Então, o mundo está na realidade externa ou está na nossa mente? E essa discussão prossegue durante vários séculos, com inúmeras intervenções, umas mais criativas, outras não, mas este foi o curso da filosofia moderna. Você vê que até hoje esse problema ainda existe. Quando você ver, por exemplo, a voga da programação neolinguística, que é toda baseada numa visão fantasmagórica do universo, onde tudo está no seu pensamento, é um reflexo da filosofia moderna. E algumas reações contra isso de natureza materialista, como por exemplo a de Karl Marx, Karl Marx rejeita todo o idealismo, mas ele o rejeita não com uma apologia da objetividade da natureza, mas com uma apologia da objetividade do processo humano de transformação da natureza. Então, como eu disse no Jardim das Afeições, o Marxismo não é um materialismo, ele é um idealismo subjetivo coletivo, porque a natureza se reduz ao cenário passivo da ação humana. Então, você vê que o resíduo idealista está dentro do próprio Karl Marx, no último lugar que você esperaria encontrar. E, de certo modo, esta questão não está resolvida até hoje. Você vê quando aparece, por exemplo, o desconstrucionismo, que diz que tudo aquilo que nós dizemos, todos os textos, não tem referência no universo exterior, no universo real. Um texto significa outro texto, que significa outro texto, que significa outro texto. Ou, quando Fernandes de Sossurra, um excesor desconstrucionista, um estruturalista, diz que o sentido, uma palavra é a diferença entre ela e todas as outras. Se você vê, ele defina a palavra sem nenhuma referência a qualquer objeto. O dicionário viu um sistema fechado de diferenças internas. O que é isso aí? Idealismo elevado ao último grau. Os Marxistas reagem dizendo que o idealismo é a expressão da decadência capitalista, a qual eles opõem a sua própria visão das coisas, a qual também é o idealismo, embora eles não saibam. Então, para você ver, as decisões filosóficas tomadas nessa época tiveram consequências, há façaladoras sobre o mundo todo. Primeiro pela transformação técnica, segundo pela elitização sem precedentes do poder. Qualquer governo de hoje tem muito mais poder do que o Ilús XIV, o Átila I, o Júlio César, poderes que é imaginar. E em terceiro, com essa divisão da mente humana entre realismo e idealismo, que está na base, você observa isso até na vida pessoal dos indivíduos. Então, isso aparece em briga de marido e mulher. E este foi realmente o desenvolvimento da filosofia nos últimos séculos. Uma reação inicialmente anti-idealista ou antinominalista foi a fenomenologia de Edmondo Rousseau, que escapava desta discussão entre a objetividade ou subjetividade do mundo, centrando no problema da descrição das essências, quer dizer, que que são essências? Essências são aquelas coisas que nos aparecem, que aparecem dentro de nós, diante de nós. Aparecem a nossa consciência. Então em vez de saber se estas vivências, como ele chamava, são objetivas, nós precisamos descrever-las tal e como elas se apresentam. E isso parecia anunciar uma superação do idealismo, do nominalismo, etc. O próprio Rousseau, nos seus dias finais, acaba cedendo ao idealismo, no livro Ideias para uma Fenomenologia Pura, ele já é um filósofo idealista de algum modo, de onde veio toda essa crítica do Kola Kovsky, um livro maravilhoso que ele escreveu contra o Rousseau. Então este problema que surge na entrada da modernidade, ele se afirma do amanhã cada vez mais avassaladora, mais dominante, por exemplo, você vê todo o idealismo alemão, o nome já diz, é um idealismo, quer dizer, o processo da realidade é um processo que se passa no espírito, no mente humano. Mas que tudo isso já estava resolvido desde o século 17 pelo menos na filosofia portuguesa, com o João de São Tomás, João Ponsso, em português descendendo da família francesa. O Ponsso teve a sorte dele ler com muita atenção o livro Santo Agustinho, Santo Agustinho foi o primeiro filósofo que chama a atenção para o problema dos signos. Ele diz assim, olha, todos os animais, todas as peças animais, elas se comuniquam de algum modo, então todas têm algum sistema de signos. E nós quando pensamos, nós também estamos usando signos, você não pensa as coisas diretamente, mas os seus signos. E aquilo que você vê delas no mundo também são signos. Por exemplo, se você vê um cubo, você só vê três lados do cubo, esses três lados significam que existem outros três lados. Então esta questão de idealismo e realismo, ela é absolutamente inviável porque ela reduz o problema da significação, a representação. E se você introduzir aí o conceito de signo, você vai ver que toda esta questão de saber se os nossos pensamentos refletem a realidade ou a constituem é totalmente absurda, porque tudo isso é signo, você tem que tratar essa questão de uma maneira totalmente diferente. Só que ninguém leu João Ponson na época, continuou sendo lido nos círculos escolásticos, bem menos do que outros autores escolásticos, por exemplo. E só no século XX que começa a desinterrar este negócio, depois de ter aparecido a semiótica com o Drone Sanders Pierce, que chama a atenção de novo para este negócio dos signos. De uma maneira que para mim nunca me parecia muito adequada, mas ele teve o mérito de levantar o problema de novo. Não como dizer com a força e a clareza que já estava no Ponson, mas a conta do Ponson é escolástica, ele escreve uma linguagem escolástica. E além disso era um português, se ninguém estava prestando atenção na que acontecia em Portugal. Então você vira a tragédia de três séculos de filosofia que se perde em debates sobre idealismo e realismo, quando basta você botar essa palavra signo e você ver, pera aí, tudo isso, aí está muito confuso. É claro que não é assim, não é dê-me um jeito, dê-me outro. Então somente com este retorno ao conceito de signo, é possível resolver de uma vez todos os signos e você ter um novo ponto de partida. Isto não aconteceu por causa do Provincialismo da Metrópole. E isto também nos permite recolocar hoje o problema dos cavalistas modernos, de uma maneira que na época apareceu impossível. O que a igreja verificou é se os ensinamentos deles coincidiam com a doutrina da igreja, evidentemente não coincidiam. Mas é o tal negócio, se não as perguntar assim, mas eles estavam falando das mesmas coisas que a doutrina da igreja fala, falando de outra coisa. Então a coincidência ou a oposição entre o ensinamento deles e a doutrina da igreja é mais aparente do que real, na verdade nós não sabemos isto. Ainda é preciso pegar todo este trabalho deles e analisá-los conforme a teoria dos signos para ver o que dá, para ver se no fim o que eles propunham da conciliação da cabala com o cristianismo é possível ou não. De fato nós não sabemos, eu não sei, ninguém sabe isso aí. Eu ver o que imediatamente com a teoria dos signos, a ideia da cabala sugere um problema terrível. Ele diz se as palavras do hebraico traduzim imediatamente a essência das coisas, então elas não são somente signos, elas são parte dessas coisas, elas expressam então que a verdadeira substância, que que é a substância? É a forma interna que faz com que um ser seja ele mesmo. A noção da substância, tal como exposta por Aristóteles era a dessa forma interna ou hoje chamaremos um algoritmo, a fórmula de um ente individual. Essa fórmula, embora ela permaneça constante, ela é compatível com todas as transformações que esse ente vai sofrer no curso da sua existência. Por exemplo a fórmula do gato é compatível com gatinho, gato gatão e gato murto, assim como com os dois sexos etc etc. É compatível também com todas as transformações que o gato pode sofrer por influências externas. Por exemplo, se cai uma mesa em cima do gato, o gato pode ser afetado por que? Porque ele tem a forma de gato e se ele tivesse a forma de uma equação do segundo grau, ele não seria afetado pela queda da mesa. Então ele tem uma forma que é compatível com essa paixão, como é que a paixão é sofrer uma ação, a contradação. Essa é a paixão. Então a ideia de Aristóteles, de substância e a ação, é uma ideia muito dinâmica e muito aberta a toda a complexidade das relações possíveis. Acontece que na modernidade, como pararam de estudar Aristóteles e pararam de estudar a escola, então criaram a ideia da substância como uma espécie de absoluto. Então por exemplo o famoso Eu de Descartes. É um Eu fechado em si mesmo, autosubstante, autosuficiente e que ele, por si mesmo, constitui o pilar de toda a realidade. Essa concepção da substância, especialmente da substância ao homem, como um todo autosuficiente, pervade toda a filosofia moderna, de canto, de fiste, etc. E ela é uma das bases da democracia moderna. Isso aparece em John Locke. Então o homem, tal como entendido, já não é aquela substância que conserva a sua forma essencial ao longo dos ciclo de transformações. Ele é tido como uma coisa que foi estabelecida por Deus de uma vez para sempre. Então toda a ideia moderna do indivíduo e dos direitos do indivíduo, tal como é que expressa nas democracias modernas, é baseada nisto. Então, por exemplo, a ideia de que o indivíduo nasça como portador de certos direitos. Nesse ora, como que o indivíduo pode ser em si portador de certos direitos, e como já expliquei em outras aulas, o direito é apenas uma obrigação que outros têm com ele. Isso quer dizer que a concepção dos seus direitos é absolutamente inseparável das obrigações que ele tenha para com os outros. Então a famosa pergunta de Luiz XVI está certa? Por que uma declaração dos direitos não é declaração das obrigações? Então este indivíduo do abstrato, que é portador de direitos, ele não corresponde a uma realidade como a substância aristotélica. Ele é uma abstração. Ele não é um ser humano de verdade, ele é um cidadão. Então digamos, o que tem direitos, efetivamente, não é um ser humano, é o cidadão. Quer dizer, uma certa forma lógica que só existe nas leis e que não abarca a realidade desse ser, mas somente algumas das relações que ele tem com os outros membros da mesma sociedade. Isto jamais teria acontecido, se em vez de seguir o debate de idealismo e realismo, o pessoal que tivesse prestar atenção não ponçou. Tudo teria sido colocado de maneira diferente. Quer dizer, esse famoso abstratismo da democracia moderna, idealizando, por exemplo, a noção de direitos leva à conclusão de que precisam ampliar os direitos, a conclusão que eu já expliquei, que leva à destruição da própria democracia, mas que os teóricos da coisa, como Roberto Bobo ou Marlene Chaudy, já absolutamente não percebem, porque os direitos são inerentes, são indivíduos, então eles portanto são um absoluto, eles são inquestionáveis, eles são intocáveis. Então eles não dependem de absolutamente nada. Olha, um direito que não dependeria de absolutamente nada é um direito que não está vinculado à obrigação de ninguém, portanto é um direito que não existe. Isso quer dizer que até certo ponto os marquistas estavam certos, ao dizer que a concepção dos direitos humanos é uma ilusão burguesa, é um mundo idealizado, que só existe no papel, existem nas leis, mas que não tem como corresponder à prática, ele sempre professará uma coisa e produzir a outra completamente diferente. Tem o fato de que a noção dos direitos é totalmente independente da noção do poder e sobretudo da noção dos meios de poder. Por exemplo, você fala direito à privacidade, eu falo bom, mas não há coisa a você proclamar direito à privacidade no século 18, quando a única maneira de o rei vai dizer a sua privacidade era mandar um soldado derrubar sua porta e o que está se passando lá dentro, mas o que significa isso numa época em que a tecnologia deu aos governantes ou a qualquer grupo mega-billionário, os meios descobriram tudo que você está fazendo dentro da sua casa, eu não digo grande peça de telefone, e vascular seu computador, claro que a coisa mudou totalmente, mas a noção de direitos continua mesmo. Então, quer dizer, esses direitos já cessaram de existir há muito tempo, mas eles continuam sendo proclamados, então eles se tornaram apenas argumentos pretestuais para serem usados perante os tribunais, eles não correspondem à prática social efetiva, eles são um discurso que você pode apelar em certo momento e que até certo ponto é respeitado ao menos da boca pra fora. Então isso quer dizer que os problemas reais da democracia não têm como ser colocados e muito menos resolvidos dentro dessa tradição de pensamento que se desenvolveu ao longo dos outros três ou quatro séculos, coloca problema que está infinitamente acima do poder de preenção dos conceitos que são usados normalmente. Em vista disso, então aqui eu estou propondo faz anos uma mudança radical da filosofia política, tá certo? Que se abstenda as questões fundamentais do que é a legitimidade, do que é o poder legítimo, quais são os direitos, qual é o estado ideal etc. E se concentra, vamos dizer, em destrinchar qual é o processo político real que acontece. E ver dentro disso o que é possível fazer. Quando nós observamos, onde nós observamos, obviamente que a margem de ação humana dentro disso é muito pequena. Então, vocês viram como essa orientação assumida no começo da Idade Moderna, que até hoje é mostrada nos manuais e na mídia como sendo o início da grande liberdade moderna, é na verdade o início da garantia moderna. Então, de que as pessoas que são muito entusiasmadas pela ideia de direitos, do estado de direitos, liberdade etc. Estão discutindo num plano puramente idealístico que não tem nada a ver com o processo histórico real, sendo que nesse ponto os marxistas estavam completamente certos na crítica que faziam a eles. Só que eles faziam essa crítica desde um ponto de vista que também era a linha nada em relação à realidade, porque a natureza que eles falam não é a natureza material, mas é apenas o cenário passivo da ação do partido. Então, o partido é que se torna, vamos dizer, o absoluto. Ele é o padrão central da realidade, e o universo que se vire para caber dentro do que o partido decidiu. Então, uma crítica certa. Está certo no que ele nega uma terra no que ele afirma, mas essas críticas mutuas, assim como a crítica liberal, comunista, é perfeitamente válida. Então, o que ele diz em conto com o mundo está certo, mas o que ele diz a respeito da própria sociedade está errado. Então este é o ponto que chegamos partindo deste capítulo inicial. Vamos fazer uma pausa para que eu estou com as oitinhas. Então, vamos lá. Aqui o Danilo Fernandes pergunta, a pergunta deve estar na cabeça todo mundo. Substância e essência são, então, a mesma coisa? Alguma diferença entre uma e outra terminologia? Sim, há. A substância, segundo Aristóteles, é aquilo que efetivamente existe, quer dizer, é aquilo que, segundo ele, não é nem parte de outra coisa, não existe nem como parte de outra coisa, nem como atributo ou qualidade de outra coisa, mas que existe em si mesmo. Em si mesmo não quer dizer por si mesmo. Se você pegar uma vaca, por exemplo, a vaca não é nem uma parte de outra vaca do outro ser, qualquer, nem uma qualidade, ela é algo em si mesmo. Porque não quer dizer que ela exista por si mesmo, como causa a sua. A vaca depende de ter havido um boi, uma vaca, etc., etc., e de que existe um pasto, alguma coisa, existe uma série de condições externas. Mas as condições externas não modificam o que ela é, modificam apenas a condição da sua existência. Agora, a palavra essência é como se fosse a definição da coisa, é aquilo que a coisa é independentemente, ela existir ou não. Então uma vaca é uma vaca, porque atende a definição de vaca. Mas é apenas a definição, não se trata de uma vaca existente. Quer dizer, quando você está falando de essência, você se fala de um ente tal como ele é definido, independentemente da sua existência ou não. Na hora que você coloca uma existência, então não está mais de uma essência, apenas mais de uma substância. Claro que a substância tem uma essência, mas ela não é somente a sua essência, ela é a sua essência preenchida com as condições da sua existência. Então, a substância é a mesma coisa que entre real e essência é a definição do entre real. Não é exatamente a definição, ela é aquilo que a definição expressa, a definição expressa a forma interna que faz com que um ente seja ele mesmo. Por isso esse arrumgato não é uma vaca, não é uma miocca, etc. Mas para que exista uma vaca, uma miocca, etc. Não basta que ela seja o que são, é preciso que haja certas condições que possibilitam a sua existência. Diga, a ideia de algoritmo ajuda a... A ideia de algoritmo, não, a ideia de algoritmo, ela é, antes de... A melhor maneira de você entender o que que Aristóteles quer dizer com a palavra forma, porque ele diz que a essência ou definição expressa a forma interna. Agora você pode estar se referindo à forma de... Presta atenção, a forma de uma essência ou a forma de uma substância. Portanto, é a forma de um ser considerado como mera possibilidade abstracta e é a forma de um ser realmente existente, que inclui certamente algo mais do que a sua essência. Nesse... Então, por exemplo, nós podemos conceber que um gato seja gordo ou mágaro. A essência é a mesma, tá certo? Mas a substância não é, um gato mágaro, um gato gordo e um gato gordo. Então, entendeu? Então isso são substâncias, entes reais. Então você pode conceber, vamos dizer, a palavra... A forma que o mô... Aristóteles, a forma não é o formato. Então ele dá como exemplo, uma mão cortada, tem formato de mão, mas não é mão mais, porque não funciona como mão. Penas que parece uma mão, né? Ou uma cabeça cortada, né? Se tem formato, uma cabeça, mas não funciona como cabeça, né? Então... Tá mais certo? Então não é o formato, mas a fórmula ou o algoritmo. Se quer, se quer ideia fundamental do Aristóteles. Agora, toda esta riqueza do conceito de substância... O Aristóteles se perde no mundo moderno, onde a substância começa a virar... O... A espinosa, no começo da sua ética, que não é uma ética, é uma metafísica, na verdade, ele diz, eu entendo por substância aquilo que existe por si e é concebido em si mesmo. Você não depende da concepção de uma outra coisa para ter aquilo. Então, ele vai chegar a conclusão que a única substância que existe é Deus e tudo mais é atributo de Deus. O que é simplesmente negar a criação. Quer dizer, Deus não fez nada, apenas falhou as suas qualidades, né? Então, mas esta noção, a espinoziana da substância, ela se impregnou quase que não inconsciente, moderno. Então, por exemplo, a substância homem, ela passa a ser concebida, vamos dizer, como um ente existente de persi. A noção moderna da individualidade é isso, agora nós sabemos que nenhuma individualidade existe de persi. Quer dizer, ao longo de toda a sua vida, é no filme que eu falo disso, você permanece sendo você mesmo. Mas você incorpora elementos externos. E esses elementos externos podem te engolir dissolvendo a sua individualidade. Quer dizer, a individualidade, você nasce com a fórmula dela, tá certo? Mas é apenas a forma da sua essência individual. O que John Don Scott chamaria sua, essa idade, essência de um ente individual, tal como distinta da essência da sua espécie. Então, explicando um tema moderno na linguagem antiga, nós dizemos que você nasce com a substância da sua essência. Então, com a substância, não com a essência da sua substância, esta será preenchida ao longo da vida conforme você se saia melhor ou menor no seu processo de individualização, de tornar-se e reforçar-se como um indivíduo. Ou então de ser dissolvido e tornar-se apenas um átomo da massa anônima. Então, a individualidade, segundo o Aristótico, a individualidade de substância é a mesma coisa, é uma noção altamente problemática, uma noção cheia de dificuldades, tá certo? Que a modernidade transformou numa noção simplória de quase que uma unidade matemática. O que é um é um e continua sendo esse um eternamente e tem seus direitos baixados por Deus eternos e imutáveis. Então você está tomando uma abstração como se fosse um ente real. Daí ele volta para o ente. Quanto a este último ponto, a realidade da ideia, qual é o ponto de discordância entre Platão e Aristótico? Não há propriamente uma discordância, porque uma coisa são as objeções que Aristótico se formula à teoria da unidade de Platão e outra coisa são as conclusões finais daquele cheio. O Aristótico dirá que uma espécie só se torna existente nos seus membros, quer dizer, você não vai ver a espécie vaca andando por aí. Mas isso não quer dizer que ela não seja uma substância, ela é uma substância, mas não é uma substância individual no sentido corporal. Então não tem uma corporalidade própria, a corporalidade dela é os seus indivíduos. Então entre, vamos dizer, a forma da espécie e a existência dos indivíduos, tem uma série de transições e tensões que tinham escapado ao Platão porque esse não era o problema do qual ele estava lidando. Aqui, Fernando Golombiesk pergunta, você poderia falar um pouco sobre a música como emoções ordenadas matemáticamente? Então isso me remete àquela pergunta que o Thiago Ramos me fez outro dia. Eu tinha dito que separar a música das emoções, reduzir ela, vamos dizer, a uma forma abstrata, matemática certamente, é uma coisa totalmente inviável e seria como você queria descrever o prazer sexual como algo que se passa apenas dentro de um organismo humano, um organismo humano. Claro que isso existe também, se você tem lá um casal transando, cada um está tendo lá as suas sensações que são dele e não são do outro, mas o fenômeno em si não existe sem o outro. Eu não sei que você vai confundir a relação sexual com a masturbação, mas mesmo a masturbação tem uma referência, ninguém faz masturbação pensando em nada, alguma coisa ele está pensando. Então, daí veio esta pergunta, é muito bem vindo, aliás. Estou lendo a estética de Dietrich von Hildebrand, ainda estou no começo, mas justo também no primeiro capítulo ele afirma com argumentos que me pareceram convencentes, uma teoria dos valores segundo a qual a beleza existe independente e menos das pessoas, dissociadas das emoções. Ele critica o Jorge Santa Ana duramente por afirmar que o valor belo só existe ligado às emoções. Bom, muito bem, uma coisa é a questão estética geral de se a beleza existe em si mesmo ou se ela é apenas uma reação subjetiva humano. E isso tem uma questão. A questão que eu estou tratando da música é totalmente diferente. Por que? Você pode conceber a música sem som nenhum? Não, ela se consiste de sons. Os sons são ordenados numa forma matemática. Mas basta a forma matemática para fazer com que eles serem sons musicais? Não, o som se ensuar e é impossível que o ser humano, ao receber, não sinta nada. Então é por isso que eu defino a música como uma sucessão de emoções ordenadas matematicamente. Então, a forma matemática não é a música inteira, é apenas a música hipotética, é a música possível. Agora, uma forma matemática, ordena outras formas matemáticas que estão dentro dela, ordena sons. E a música ordena sons? A música é inaudível. Você pode dizer bom, mas Beethoven era surdo e compunho, assim, mas ele imaginava os sons. Ele não teve surdez imaginária. Aqui, o indivíduo que houve, agora tem a segunda hipótese, o indivíduo houve os sons, mas ele não sente nada. Então ele sofre de surdez tonal. Isso quer dizer que ele pega as notas separadas, pega até o encadeamento, mas não pega a frase musical. Portanto, ele não tem emoção nenhum. Então ouvir sem a emoção seria surdez tonal. Então, isso quer dizer que a música, quando os dois decafônicos inventaram a teoria de que a música tem que ser independente das emoções que ela provoca, você está fazendo uma música para pessoas que sofrem de surdez tonal. E isso não é música de maneira alguma. Isso tem apenas a estrutura matemática da música. Então, entendeu? Então, esta questão não tem nada a ver com aquela que está sendo discutida pelo D. Trishforkin, que é uma espécie de platonismo, que a beleza existe em si mesmo. Eu até acredito. Por exemplo, se você pegar a estrutura matemática da música, ela tem uma beleza enquanto a estrutura matemática. Assim como uma bela demonstração matemática, uma beleza, mas ela não é musical. Ela não soa. Isso ela não soa, não é música. Então, entendeu? Então, uma coisa é a beleza da estrutura em si mesmo. Outra coisa é a beleza da música realizada. Que pode ser tocada materialmente ou só idealmente. Por exemplo, a Mércia Mércia Carpó não ouvia música, ele só lia para a pintura. Isso quer dizer que não ouvia som nenhum. Fala, claro, ouvia imaginariamente. Senão ele não estaria lendo música, ele estaria lendo apenas a fórmula matemática. Ele imaginava dentro da mente dele uma execução muito melhor do que aquela que ele poderia ouvir em qualquer lugar do mundo. Então, ele está de fato ouvindo música, ouvindo mentalmente. Então, a música inaudível não é música de maneira alguma. E a música separada das emoções, então ela está ordenando apenas a sua forma matemática interna e não os sons. Então, não é música. Então, você pode dizer, a beleza existe objetivamente? Sim, existe. Existe objetivamente a beleza da estrutura matemática? Sim, objetivamente a beleza da música. Está certo? Então, ela existe em si mesmo, independente do que este ou aquele ou aquele ou outro, sim, está. Quer dizer, as emoções estão ali ordenadas matematicamente. Porém, estas emoções podem ser sentidas de milhões de maneiras diferentes conforme o indivíduo. Então, não há contradição alguma. Então, é como se você dissesse. Um padrão de objetivo de beleza, padrão de beleza que está no objeto, vamos a resolver isso, vamos a ser como Aristóteles. É um algoritmo que permite muitas experiências possíveis. As experiências vão ter que coincidir em algum ponto, porque senão seriam duas músicas diferentes. Entendem? Além de as experiências podem ser diferentes, mesmo porque os diferentes ouvintes prestam mais atenção em trechos diferentes. Isso, e portanto, eles de certo modo ordenam a música de uma outra maneira. Mas dessa maneira tem alguma correspondência a algum ponto com a estrutura originária. Eu já reparei isso mil vezes. Quando eu ouvi a primeira vez o Sérgio Cellebidac, RG foi em São Paulo, a quarta sinfoné de Brames. Eu saí de lá com a impressão. Pô, mas nas outras execuções que eu vi faltavam um monte de notas. Depois que eu entendi, o Cellebidac diminuiu o tempo da coisa. As execuções dele duravam mais tempo que os anos. Você prestava mais atenção, tudo ficava mais nítido. Então isso quer dizer que eu guardava uma recordação insuficiente das músicas que ia ali ouvindo o Cellebidac, eu fui preenchendo. Depois eu voltei a ouvir as outras e eu quis dizer que eu ouvi de outra maneira. Cada vez que você ouve tem mais coisa. Mas o que é isso? Mas tem um algoritmo que permanece constante. Entendem? Então esse algoritmo tem sua própria beleza objetiva, independente da emoção que eu sinto, que ele sente, mas ele continua sendo um padrão de emoções ordenadas matemáticamente. Por quê? Porque são os sons ordenados matemáticamente. São as melodias e harmonias, ritmos. Se não tiver nem melodia, nem ritmo, não, então não é música, é apenas uma fórmula matemática de uma música possível. Os dois têm a sua beleza em si mesmos, mas são uma coisa diferente, uma coisa é a beleza da estrutura matemática. Outra coisa é a beleza da música. Deu para entender? Dilemos sequer, a pergunta. O realismo antigo, qual como ensina o Joseph Marichal, ele foi andelepado na metafísica, no Cadeirno 5, sustenta a verdade do ser, a verdade do mundo, na identidade do ser e pensamento. Também pode ser considerado superior em termos de explicação do processo cognitivo e idealismo moderno. Bom, sim, não, o idealismo moderno percebou muitas coisas que tinham escapado ao realismo antigo. Mas o que eu estou dizendo é o seguinte aqui, você não pode jogar fora nenhum realismo antigo no idealismo moderno, porque de certo modo eles estão complementando os aspectos de uma questão. Então, essa questão, pela perspectiva realista ou pela perspectiva idealista, parece mutilada, porque saltou fora o conceito fundamental, que é o conceito do signo. Ele está reduzindo a significação, vamos dizer, a representação. Eu vou te ilustrar esta coisa. Se você fala a palavra cubo, o que ela tem a ver com o cubo de verdade? Ela pode chamar outra coisa. Então, este é um signo, o som, o agroarquismo cubo é uma coisa, é um signo e o significado dele é a definição do cubo. E o cubo de verdade é o referente, é aquilo que ele se refere no mundo real. Agora, quando você vê três lados, três faces do cubo, elas também são um signo. Só que este signo não é como o primeiro, ele é parte do cubo. Então, você pode compreender, essa é a ideia minha, isso que não é o ponçor, isso que eu pensei, porque eu estava pensando como articular o ponçor com a cabala, com os cabalistas. Bom, então existem signos que são parte da coisa. Os cabalistas dizem que os palavras hebraicas são assim, eu não sei se são, não estudei o suficiente para matar essa questão, mas se a conexão entre o som e a coisa, no hebraico da Bíblia, é uma conexão intrínseca e inseparável, então esses signos são apenas signos, são partes, são signos também, funcionam como signos para nós, mas são partes. Então, quem já viu um automóvel por todos os lados ao mesmo tempo? Ninguém. Quem já viu a carroceria e o motor ao mesmo tempo? Não dá. Ou a carroceria está fechada, você está vendo a lenteira, ou então está aberto, você está vendo o motor. Então quer dizer que você está vendo os signos das coisas, mas esses signos são partes das coisas e tudo que nós vemos é assim. Por exemplo, você conhece a pessoa, quando você viu ela tinha determinada idade, mas quer dizer que ela sempre teve essa idade? Não, as outras idades estão todas embutidas nela como parte do seu desenvolvimento que ela levou até o presente estágio. Então o estágio presente é um signo de tudo aquilo, mas ele faz parte do conjunto. Qual é a sua opinião, sua filósofa, o que é o mario bongue? Nunca li nenhuma linha. Mas eu queria falar uma outra coisa aqui, não está nas perguntas, mas de alguém me mandou uma gravação do maro Sergio Nutella em que ele dizia o seguinte, que a finalidade da filosofia é desenvolver o espírito de suspeita. Você tem que se certificar de tudo, você passa um certificado de validade, já que eu examei e vale aquilo. Bom, o primeiro elemento da filosofia é você adquirir uma certa prática de você saber quando você deve suspeitar e quando não, porque se você foi suspeitar de tudo, você fica paralisado, isso é expliquei no Visões de Carte. Qualquer dúvida que você tem sobre qualquer coisa, pressupõe um montão de certezas caso contrário, a dúvida não é formulável. Por exemplo, se você diz tal coisa existe fora do meu pensamento ou está no meu pensamento, vamos expor e você saiba o que é o fóreo dentro e que as definições do fóreo dentro não sejam colocadas em dúvida no mesmo instante. Então essa história de suspeitar de tudo, diz primeiro lugar, ensinado que a pessoa não praticou o método filosófico em um minuto. Então é evidente que a suspeita faz parte do método filosófico assim como a crencia, a confiança também fazem. Você não pode esquecer aquilo que ele dizia, lá mesmo, eu acredito em tudo quanto eu leio. Claro, se eu não acreditar no instante que eu estou leendo, nem entendo o que o senhor está dizendo, eu tenho que pensar como o senhor está dizendo, então naquele instante eu estou acreditando, não quer dizer que eu vou acreditar no momento seguinte. Então esse negócio da suspeita é um mito moderno. Dizem que os mestres da suspeita são Marx, Nietzsche e Freud, que suspeitam de tudo, eles não suspeitam de tudo. Eles suspeitam de algumas coisas e outras, eles dão por pressupostas. Você pensar sem pressupostas, como dizia o Rousseau, é como você andar a sem pé. Mas você não sempre não anda, algo você tem que tomar por pressupostas pelo mesmo instante, ainda que você esteja em dúvida sobre milhões de coisas, você sempre vai chegar naquele ponto de cárptima, você duvida que você está em dúvida. A suspeita é algo mais do que a dúvida, é onde você supõe por trás da aparência uma malícia. E se você vai supôr uma malícia por trás de tudo, você está no mato sem cachorro, você vai ficar paralisado não só intelectualmente, vai ficar paralisado de medo. A não ser que você seja, como dizia o John Antony, você seja o John Wayne da filosofia, o cavaleiro solitário, duvidando de tudo, to aqui em cima, to na uma boa. Mas isso tudo é o gostoso intelectual, isso não se realiza na verdade. Tudo isso é amadorismo, é moda. Não chega nem a ser moda, é um travão. Aqui alguém me passa uma asforada do Walter Benjamin, ele diz olha, autores como Walter Benjamin, todos os caras da escola Frankfurt, eles têm dúvida o melhorzinho. Eles não filosofam realmente, o número de coisas que eles dão por preço poste é absurdo, absurdo. Aqui nós estamos fazendo a filosofia crítica de tudo, não, você faz uma coisa de outra ali, o resto está cheio de frases que você diz olha, pode ser assim ou pode não ser, precisaria ser examinado, essa precisaria ser examinado uma por um. Quer dizer, a suspeita é válida quando você está lendo livros de filosofia, quer dizer você vai verificar coisa por coisa, você não pode lançar a suspeita sobretudo, está certo, mas sob um livro de filosofia você pode, pode duvidar de cada frase que você está fazendo, agora, quando fazer isso e quando não fazer. Eu tenho por norma, eu só levantar a suspeita quando o próprio autor da frase está me implorando que eu o faça, quando ele diz uma coisa que obviamente não é sustentável por si mesma, dependeria de outras, então eu ver se ele oferece essas outras ou não, por exemplo, a linguagem comunica a essência linguística das coisas, dedinho, pera aí, pera aí, pera aí, a essência pode ser uma essência linguística, não, a essência linguística é apenas a definição da coisa, mas ela não é essência da coisa, não é uma essência linguística, a língua expressa uma forma interna que por si mesma não é linguística, isso por exemplo, a tartaruga, pega a definição de tartaruga e de bom, isso aqui é a essência da tartaruga, mas essa essência em si é verbal, a essência da tartaruga coincide com a sua definição ou a definição expressa uma outra essência e foi algo que você aprendeu na forma da própria tartaruga e não na forma da sua frase, isso aqui é o que? É canha e estrisse, falta de domínio da técnica filosófica, pois Walter Benjamin é como todos, Frank Fortuna, é um filósofo interessante, mas não é um grande filósofo, ele não está assim, não é alguém como como você possa aprender alguma coisa, tem algumas ideias interessantes aqui e ali, mas ele não está realmente filosofando. Então aqui o Samuel Algovia Pereira que perguntou, tive um trabalho miserável de construir seus argumentos muito encantadores e eu digo bom, são encantadores até certo, ponto, esses conceitos, quando é negócio da essência linguística, apontam para a forma, sim, mas aponta de uma maneira obscura e canhestra, então isso está muito mais claro no Aristóteles do que aqui. Então, ali o Walter Benjamin é uma coisa que você pode fazer, e não tem mais nada para fazer. Como esteve nisso, qual a maior influência da Escola de Franco? Bom, o criador da Escola de Franco foi de fato George Lucas, e o problema do George Lucas era que ele descobriu que o maior obstáculo à revolução socialista não era o poder da burguesia, mas era toda a civilização do ocidente, e ele ficou horrorizado pelo então, como é que nós vamos fazer para destruir a civilização do ocidente? Então, esta é uma pergunta filosófica, não, essa é uma pergunta estratégica, quer dizer, já está dando por pressuposto tudo o que Karl Marx falou, está dando por pressuposto que o culpado dos males humanos é o capitalismo, dizer não, apelo vários capitalistas tem um treco pior que a civilização ocidental, e eu quero destruir essa porcaria, e falar isso não é um problema filosófico, meu filho, isso é um problema para um governante, para um líder revolucionário, coisa assim, não? Lucas Albano, pergunto se eu recomendo o Livar da Memória da França e de Ita, recomendo enfaticamente, a França e de Ita foi uma das que trouxeram a luz todo esse período esquecido da história do pensamento moderno, que é um interregno de um século mais ou menos entre o apogeu da escola estica e o advento da ciência moderna, como Galilê deu bem com o outro, Celina Vieira perguntou se o protetor de deriva do nominalismo, em parte ele foi influenciado pelo nominalismo, mas não pode ser que deriva dele, tem elementos nominalistas ali. É aluciana certo, o politicamente correto, os direitos indivisais que ele carrega, está impondo, ele é imobligado na sociedade para se adaptar a ele, bom, isso é inevitável e é a própria dialética do conselho de direito, o conselho de direito do indivíduo ele é intrínseicamente autodestrutivo, ele não é uma coisa assim como pretendendo logo que os demais teóricos da democracia, uma obvedade universal, como está na constituição americana, na declaração de dependência, que esses direitos são autoevidentes, eles não tem nada de autoevidente, eles dependem de um milhão de coisas, é certo? E se você ignora de que eles dependem e acredito que eles são princípios, o princípio é uma coisa que não tem nada antes, que não depende de nada antes, quando você pegar o princípio de identidade, que uma coisa é ela mesma, bom, isso não depende de que você tenha afirmado nada antes, então logicamente o princípio é uma afirmação inicial, que não depende de uma anterior, não é isso? Também os princípios de uma determinada ciência são afirmativas iniciais, que não dependem de outras, está certo? O princípio da geometria, para você pegar lá os axiomas e oclídeas, não depende de nada anterior, as herdadas definições, ele come as primeiras, os princípios são as definições, então o pessoal toma, por exemplo, a liberdade, os direitos, a democracia, então como se fossem princípios, quando não são eles são conclusões remotíssimas de raciocínios muito complicados que estão ali embutidos, se você os toma como princípios, ou será como coisa que não depende de nada, eles vão acabar se destruindo assim mesmo, então acabam com sua própria negação, sempre que você pega uma regga derivada que não é um princípio, trata como se fosse um princípio, você vai fazer com ela o que você normalmente faz com o princípio, quer dizer, aplicá-lo universalmente, se você aplica universalmente o princípio de identidade, você não chega a contradição nenhuma, mas se você aplica, por exemplo, os direitos do homem universalmente, você chega a contradições lógicas e pior, contradições reais, contradições ontológicas, eles comporam, por exemplo, a expansão dos direitos, quantos direitos nós devemos ter, então você começa a dar mais direitos para mais pessoas e mais pessoas e mais pessoas e isso automaticamente produz o que? O aumento do poder estatal sobre os indivíduos, então quanto mais direitos, menos direitos, mais, aí não são conceitos lógicos, mas são elementos de uma dialética, se você perde isso de vista, caso você não sabe, pensar, está fazendo confusão, está confundindo uma abstração com uma coisa, está confundindo uma consequência remotíssima com um princípio, essas duas confusões, confusão do abstrato concreto, confusão do princípio com as suas conclusões, isso é endêmico no mundo moderno, então isso quer dizer que muito se perdeu da técnica filosófica desde o tempo de Descartes, porque eles não estavam interessados na técnica filosófica, eles estavam interessados nas aplicações técnicas e nem sequer meditaram sobre as consequências das aplicações técnicas, partiram do princípio de que isso é bom, então por exemplo nós podemos eliminar um enfraquecimento próprio da velhice, o de quanto e durante quanto tempo, quanto tempo você vai esticar a vida do sujeito, né, então... A medida que você conseguir esticar, ninguém pode negar que a longevidade das pessoas foi bastante aumentada, você pode dizer que no tempo santo-maricainas as pessoas duravam 30 anos, no imperio romano as pessoas duram 25, 26, ou seja, que os reis sobrevivem até o ponto de chegar a te filhos e netos já eram um negócio extraordinário, então é claro, mas quanto você vai esticar a duração da vida humana antes de você começar a ambicionar a imortalidade física, e daí não pensaria, a imortalidade física para quem e a partir de quando, quer dizer, se você cria uma geração de imortais, ele certamente já não pertence à espécie humana anterior, mas continua submetido às condições históricas que geraram a possibilidade da sua imortalidade física, então basta isso de depor, esse é um negócio increncadíssimo, bom por hoje vamos parar, mas eu tenho a impressão assim, uma coisa que eu gostaria de fazer vocês aprender de uma vez por toda, é assim, é o poder da técnica filosófica, que não é nem o poder de ensinar a pensar, nem o de ensinar a suspeitar, mas é o de criar na medida do possível a unidade do conhecimento, a unidade da consciência, unidade do conhecimento disponível, qual conhecimento disponível, bom, disponível para você, porque esta operação se realiza dentro da mente individual, e ela, em vez de você ter uma mente individual pronta no qual esse processo se desenrola, não, ele faz parte da formação da própria mente individual, então é como a sua consciência vai se assumindo e se criando ao mesmo tempo dentro de um quadro que não foi ela que escolheu, de um quadro cultural que ela recebe e que ela tem que incorporar de algum modo, esse processo não pode parar nunca, por que? Porque ninguém tem a totalidade do conhecimento, está certo? E portanto, a unidade do conhecimento permanece virtual, só existe aquela unidade que fulano, fulano, fulano conseguiram realizar, por exemplo, se você pega o mundo de Aristótia, no mundo de uma vastidão imensa, ele abarcou praticamente todas as ciências existentes no seu tempo, mesmo assim ele está completo, fala claro que não, tem alguém que sabia algo que a Aristótia não sabia, só que ele não ficou sabendo e nós também não, mas se você procurar, devia ter algum chines que sabia um negócio que ele ignorava, um cara na África que também sabia, sempre tem isso, mas essa atividade ela é absolutamente necessária, porque se não o padrão da cultura perde toda a unidade, se transforma num farelo, num caos, então essa restauração da ordem, tem que ser um empreendimento dos indivíduos, que não é que restaura uma ordem olhando tudo de cima e unificando, não, eles estão se criando ao mesmo tempo, certo? Um outro representa, personificam esta unidade possível num certo momento do tempo, unidade que com certeza será desfeita dali a pouco, ou durante a própria vida dele, ou na geração seguinte, será desfeita e será que será refeita e sempre tem que ser refeita, é por isso que o fim da filosofia é uma impossibilidade. Então acho que por hoje é só, então não esqueço de ver essa entrevista que eu dei aí para o Felipe Moura Brasil, já está lá no meu, minha parte no Facebook, foi uma entrevista longa, né? E obrigado pela presença de todos ao filme Jardins da Flições, não agradeço muito ao Rosias, a toda sua equipe, o Mauro Ventura, Matheus Basso, Daniel Aragão, todos eles, esqueci o nome de todos, mas está aqui a todos e sobretudo agradeço aos espectadores, não? Então, até a semana que vem, muito obrigado.