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Então vamos lá, boa noite a todos e bem vindos. A aula de hoje vai ser quase que uma conferência lida, são trechos de um livro que eu estou escrevendo, eu vou ler praticamente sem comentários, mas antes de entrar nesse assunto, eu tenho a mensagem que eu recebi de um aluno que tem algumas advertências aqui, eu gostaria de ler alguns pedaços dela para vocês. Há algum tempo participei em um grupo de alunos do Olavo, foi muito bacana ver a quantidade de pessoas estudando seriamente a filosofia do professor, muitos absolutamente conscientes do quanto esses ensinamentos são fundamentais para melhorar nossas vidas no Brasil, mas por outro lado foi frustrante ver um número expressivo de pessoas violando as regras mais básicas exigidas no curso, não dar opinião sobre o que não se conhece ou se quer se lê o respeito, não dar opiniões que exigem conhecimento técnico que o opinante não possui, não usar argumentos de autoridade no vazio, não observar os princípios da integridade intelectória, da busca da verdade, escamotando sentimentos inconfeçáveis, não relacionar o conceito abstracto ao mundo real, esquecendo o que é a realidade que os norteias. São regga simples e fundamentais, muito bem, mas essas são as coisas mais difíceis na vida intelectual, inclusive uma pessoa jovem é quase impossível você refrear um jovem de opinar, ele vai opinar mesmo, vai falar um monte de besteira, tanto que uma das felicidades que eu tenho na vida foi de ter jogado fora tudo que eu escrevi até os 30 anos, eu poupei a humanidade de ler os meus execráveis e os crístios de juventude, isso já foi um benefício, então eu também nem me lembro das opiniões que eu tinha na época e quando eu vejo alguma coisa que eu escrevi na ocasi eu morro de vergonha, eu quero morrer, eu poupitei só muita coisa que eu não conheci, inclusive profissionalmente, quando fui trabalhar no jornal da tarde, me botaram no setor de economia, quando eu não entendia absolutamente nada, ficam uns anos escrevendo sobre assuntos que eu não sabia, jornalista sempre é parado para isso, esse demônio de repente escrever sobre turf, ou sobre jogo de futebol de botão, e você vai lá e finge que sabe, eu escrevi para o editor abril um guia inteiro do nordeste sem nunca ter estado no nordeste, o jornalismo no brasil é isso, eu não sei se é por toda a parte assim, mas no brasil é isso, então evidentemente nada disso me honra nem me orgulha, ao contrário, eu só me desculpo porque era pelo leite das crianças, mas vocês pensem bem, vocês estão falando agora, tenta imaginar o que você vai estar pensando disso daqui 30 anos com a experiência acumulada, então o melhor seria mesmo você aproveitar a sua juventude para aprender e ficar quietinho o máximo de tempo, claro que existe uma cobrança, o tempo todo, por causa da situação do brasil, está assim assado, nós precisamos agir, precisamos fazer alguma coisa, não precisamos fazer alguma coisa, não precisamos fazer coisa nenhuma, eu vou sugerir que vocês botem na sua cabeça uma ideia que eu mesmo botei na minha quando eu tinha 20 anos, eu pensei assim, olha pelos próximos 20 anos vai ser exatamente assim como está, não vai melhorar e eu não vou ter chance alguma, eu vou tratar de me adaptar e viver dentro disso e ver o que eu posso fazer, então o que era possível fazer, estudar e crescer para dentro, por que vocês não podem fazer a mesma coisa, qual é o problema, vocês não precisam ser muito espertos para ver que todas as possibilidades de uma ação política transformadora no brasil são mínimas, tem esse pessoal que sai gritando a intervenção militar, eles já perguntaram quantos oficiais superiores das forças armadas apoiam isso, eu nunca vi militar nenhum falando isso, eu vi alguns militares da reserva de 105 anos, 143 anos, e aparece um monte de advogado, de jurista, de sociólogo falando, milículo nenhum, eu não sei sequer se esse pessoal intervencionista conversou com o militar, tentou com contato sério com o militar, sem contar o fato de que como eu já observei muitas vezes a intervenção esse 74 não teve apoio só da massa popular difusa, teve apoio de organizações poderosas, a AB, a BI, a mídia grande, mídia inteira, o único jornal que não apoiu foi a última hora, horas correis da manhã, estada, folha, globo, todo mundo apoiu, na igreja católica que naquela época era flagrantemente anticomunista, ainda era a igreja católica do tempo do Pio XII, a maçonaria inteira, a maçonaria desfilou depois nas comemorações do 31 de março, todo ano e a maçonaria lá tudo com a ventalzinho, comemorar, né, eu digo e agora, você conversou com a maçonaria, conversou com os bispos, conversou com o cara da OAB, com a da BAE, e não conversou com ninguém, eles pensam apenas que o povo gritando nas ruas é apoio suficiente, os milímetros e os milímetros não são loucos, né, então se não há o apoio de organizações e de organizações capazes, a gente compor as federações das indústrias, as federações do comércio, não pode ter uma intervenção militar assim, né, então falei que vocês estão falando de intervenção militar, mas você nem sabe direito o que é, é um negócio muito mais complicado que estou imaginando e que requer um planejamento muito mais complexo e abrangente, então você é contra o favor, nem conta nem a favor, eu falei eu não estou aqui para isso, isso aqui não é programado auditório, para você ficar, vai pro trono ou não vai, eu estou aqui para analisar as coisas e tentar ajudar, você quer fazer uma intervenção militar, vamos tentar te ajudar a explicar como é que é, você quer fazer o PT, eu vou tentar explicar como é que o PT tem que fazer, né, então você tirando as propostas que serão flagrantemente imorais, bom, a gente pode tentar ajudar todas com as correntes policiales, querendo ver alguma boa intenção, agora, não podemos, nem eu posso, nem este curso pode se comprometer com nenhum movimento político em particular, como nós não podemos ajudar a todos, ajudar com quê, com análises, clarecimento, dados, informações, isso é nossa função, nossa função é sanear o ambiente mental, não é botar alguém no poder ou tirar alguém do poder, e quando vier gente desses movimentos tentando envolver vocês, vocês mandam um beçabão, se vocês se comprometem, então daqui a pouco chega, ah isso eu não posso falar porque vai provar de cáfulo, aqui eu não posso falar porque vai provar de cáfulo, e nós temos que manter a nossa liberdade de poder falar o que nós bem entendermos, se o seu compromisso é apenas com a investigação na verdade, você tem obrigação de dizer doa quem doê, agora você não é obrigado a tomar posição com coisa nenhuma, pera um pouco vai mais devagar, eu mesmo tenho dito, olha nós não vamos, se vocês querem uma ação política em profundidade, vai levar de 20 a 30 anos, nós temos que primeiros sanear o ambiente intelectual, depois se possível sanear o ambiente religioso, sanear a igreja católica, sem isso nada se vai fazer, sanear a maçonaria, eu conheço um grupo de, sei lá, 2 maçons e meio que estão tentando lá esclarecer as coisas, tirar as ideias idiota da cabeça dos seus companheiros, etc, é um grupo muito pequeno, eu não sei que eu sou maçor, não estou lá dentro, não sei como é que é, mas eu ver que é um grupo muito bem, então é só nada, mas muito pequeno, nas forças armadas, então nem se fala, eu não conheço um militar hoje, não que eu possa confiar e falar as coisas francamente, então nós temos que ter paciência gente, agora por que os comunistas podem ter paciência, podem trabalhar por uma coisa que vem 50, 60 anos depois, e nós se não conseguimos no dia seguinte, fica tudo desesperadinho, o que é isso pô, sejam homens pô, se a situação vai ficar ruim por 50 anos, pois eu vou ficar aqui em pavio do colosso, tá entendendo, de banho tomado, safado e graxado e não vou baixar a cabeça e não vou sair chorando, entendeu, muito bem, então agora vamos começar, só que são três dos livros que eu estou escrevendo, eu não vou dizer o título, nem vou dizer o que que vem depois do pedaço que eu vou ler, neste livro eu retomo muitos temas que já foram abordados aqui no curso, aqui estão colocados uma maneira mais clara e mais condensada, por assim dizer, fazendo ele poderias funcionar até como um resumo geral do coffee, então vamos lá, tem livro 1, conhecimento e presença, capítulo 1, perceber e pensar, o primeiro passo para você entrar no mundo da filosofia é entender de uma vez para sempre a diferença entre perceber e pensar, é uma diferença tão banal que todo mundo acredita que já conhece, mas não basta conhecê-la por alto, é preciso meditá-la de novo e de novo e tê-la sempre na memória, porque algumas ideias pensadas são tão persuasivas, tão intensamente reais, que você acredita que viu uma coisa quando apenas pensou nela, isso acontece especialmente no campo das discussões políticas, onde você tem pouco acesso direto aos fatos e praticamente tudo em que acredita é puramente imaginário, inclusive aquelas opiniões queridíssimas pelas quais você se dispõe a matar e morrer, mas acontece também na esfera da filosofia, que o homem tão inteligente quanto o reino é Descartes, acreditou que estava escrevendo um depoimento direto sobre suas experiências anteriores quando estava na verdade apenas tirando conclusões de um conceito pensado, eu escrevi isso no livro Visão de Descartes, a solução dos mais difíceis problemas filosóficos, assim como a clareza em muitas decisões da vida prática, pode depender inteiramente de você não cair nessa confusão, no seu livro Controle Cerebral e Emocional, o psicólogo espanhol Narciso Virala, sugere um exercício simples que pode ajudar você não só a gravar na memória, distinção da qual eu estou falando, mas a trazê-la de volta e usá-la na solução de muitos problemas e perplexidades, aguçando a sua autoconsciência até fazer dela uma verdadeira máquina de compreender. O exercício é feito em três etapas, alguns devem ter se lembrado, cuidado nas primeiras vezes ao... 1. Deite-se num quarto escuro, feche os olhos, relaxe e em seguida comece a registrar mentalmente todos os ruídos em torno, do mais próximo ao mais distante, a cama arranjando, uma porta que bate, um cachorro latindo, um carro que freia o buzina, um bebê chorando ao longe, a chuva ou o vento bater na janela etc. 2. Feito isso, continue com os olhos fechados, esqueça os ruídos e tente visualizar apenas um fundo preto. Então, imagine um pontinho branco. Desse pontinho, puxe e devagar um segmento de reta igualmente branco. Dá ponto do segmento em ângulo reto, outro segmento do mesmo tamanho e em seguida outro e outro até formar um quadrado de linhas brancas sobre o fundo preto. 3. Agora relembre e compare as duas experiências. Na primeira, você apenas recebeu informações do ambiente em torno sem nada lhes acrescentar. Não foi você quem fez o cachorro latir ou o bebê chorar. Você permaneceu passivo, atento e receptivo. Na segunda experiência, foi você mesmo que inventou tudo, o fundo preto, o pontinho, os segmentos de reta, os ângulos de 90° e o quadrado final. Essas coisas só vieram a existir porque você as criou na sua mente. Só existe enquanto você está pensando nelas e só existem no seu mundo interior de pensamentos e imaginações. O doutor Irah distingue aí dois tipos de atividade da mente humana, receptivas e emissivas. Ele recomenda alterná-las no curso do trabalho intelectual, mantendo o equilíbrio entre o esforço e o relaxamento. Mas aqui o nosso interesse, no caso, vai além do proveito psicológico que podemos tirar desse exercício. Nos dois momentos dessa experiência não distinguimos só duas atividades da mente humana, mas duas modalidades de presença dos objetos diante de nós. Eles podem se apresentar como dados da realidade ou como construções, criações da nossa mente. As duas atividades, perceber e pensar, dão-se igualmente dentro da nossa consciência. Mas dentro dos objetos que elas revelam, os da segunda provém de nós, os da primeira de algo que definitivamente não é nós, a rua, a janela, o cachorro, o bebê, o mundo. Os objetos das duas etapas da experiência estão todos presentes a nós, mas um estão presentes porque vieram de nós, outros porque vieram a nós, outros estão presentes porque nós os posemos lá. Portanto, a diferença entre perceber e pensar e a diferença entre atividades receptivas e emissivas da mente acrescenta-se uma terceira e mais fundamental distinção entre os pontos de vista desde os quais a experiência é examinada. O ponto de vista do doutor Irala é o da psicologia. Ele está interessado no funcionamento da mente humano enquanto tal. O nosso ponto de vista aqui é o da gnozologia ou epistemologia à teoria do conhecimento. Nota, usa geralmente o termogroziologia para designar a teoria do conhecimento em geral e epistemologia à teoria do conhecimento científico e especial, mas por enquanto essa distinção não faz diferença. Estamos interessados na relação entre a mente conhecedora e os objetos que ela conhece. É uma pergunta que transcende infinitamente o campo da psicologia e já nos coloca em cheio no coração mesmo da filosofia. Se você queria entrar na filosofia, já está nela. Vamos adiantar. O latido do cachorro ao longe vem de fora e o quadrado branco sobre o fundo preto vem de dentro da consciência. Estou colocando tudo isso na real para que essa metáfora espacial não é muito exata. Mas uma coisa certa, ambos estão presentes a ela e são percebidos diretamente, não por meio de um sígono, como por exemplo a palavra elefante, que significa um elefante sem ser ela própria um elefante e sem produzir um elefante vivo e presente. Então isso é importante, quer dizer, o som, você ouve o som diretamente e não através de um sígono. E o quadrado que você imagina, você também está vendo aquele quadrado diretamente e não através de algo que o representa. O som do latido é uma sensação física e o quadrado branco é um pensamento. Nesse sentido são muito diferentes entre si, mas na medidina em que estão ambos presentes a consciência diretamente e não através de algo que signifique, são ambos objetos de intuição. A palavra intuição é das mais usadas e abusadas. Carl Jung usava para designar aspas, um conhecimento por via do inconsciente. A Ribergson, a penetração da mente na interioridade viva de um objeto. Na linguagem vulgar, o tema aparece como sinônimo de precentimento, adivinhação súbita, ou sabe-se lá o que. No vocabular técnico da filosofia, ele significa percepção imediata de uma presença, ou como dizia Rüssel, presença de algo à consciência. Esse algo pode ser uma coisa do mundo físico, um elefante, uma formiga, um pires ou um edifício. Pode ser um sentimento ou emoção, medo, alegria, esperança, um mero pensamento ou também uma sensação física, fome, dor, o que importa é que esteja presente e seja apreendido pela consciência como experiência presente no momento em que está presente. Se você se lembra de uma emoção que teve ontem, o que está presente não é a emoção, é a lembrança dela. O pensamento é claro, torna-se presente pelo mero fato de você pensá-lo, mas todos os outros objetos precisam de algo mais. O conhecimento intuitivo distingue-se assim do conhecimento racional, sendo por meio de um raciocínio, no sentido imediato, sem intermediário, se distingue do mediato, mediado por um intermediário. Quando você pensa todo homem é mortal, Sócrates é homem, logo Sócrates é mortal, Sócrates não está presente nem muito menos morrendo nesse mesmo instante dentro dos seus olhos. Você tem acesso ao conhecimento da mortalidade dele por meio de conceitos pensados, homem, Sócrates, mortalidade. Mas, e esta é uma sutileza que espero que você guarde na memória para sempre. Se o intuitivo é o conhecimento direto de algo que está presente e o racional é o conhecimento indireto de algo que está ausente e que só vem a nós por intermédio de um pensamento, esse pensamento, no instante em que você o pensa, está tão presente à consciência quanto um objeto da percepção sensível, como o quadrado que nós vimos. Você está pensando o quadrado que você imaginou, você está vendo o próprio quadrado que você imaginou e não o outro quadrado que o representa. E é ele próprio nesse sentido objeto de intuição, dito de outro modo. Quando você o pensa, ele é conscientizado diretamente em si mesmo e não por meio de outro pensamento. Se você pensa um quadrado, é a própria figura do quadrado que está presente à sua consciência e não apenas um signo dela. Há, portanto, o conhecimento direto por intuição e o conhecimento indireto pelo pensamento. Mas, esse pensamento enquanto tal está presente e é conhecido imediatamente por intuição. Se não, ou fosse, você só teria acesso a ele por meio de outro pensamento e de outro, e de outro e assim recuaria indefinidamente sem poder acabar de pensá-lo nunca. Quando digo, portanto, que o conhecimento racional é conhecimento indireto de algo ausente, o que está ausente é a coisa, o ente a qual o pensamento se refere e não o próprio pensamento. O que está ausente é o pensado, não o pensar. Quando você imagina um elefante, o elefante pode estar ausente, mas a imagem está presente. Capítulo 3. O intuicionismo radical. Vamos dar mais um passo. Quando você pensa não uma ideia isolada, mas uma sequência inteira de pensamentos, de proposições, de afirmações que ele parece encadeada por um nexo lógico, isso é, quando você raciocina, você só consegue fazer isso porque percebe que umas proposições são idênticas a outras, ou estão contidas nela como a parte está contida no todo. Todo homem é mortal, só quer ser homem, logo só quer ser mortal. Você pode chegar a essa conclusão só porque você percebe que o indivíduo Socrates é apenas um exemplar da espécie todo homem, e que, portanto, sua mortalidade é apenas um caso individual da mortalidade de todos. Você chegou a essa conclusão pelo puro pensamento sem ver Socrates morrer nem muito menos todo mundo morrer. Essa conclusão, portanto, exemplifica o conhecimento racional diferente do intuitivo. Portanto, como você ficar sabendo se uma proposição é ou não idêntica a outra, se está ou não contida na outra, só pode ser por uma apreensão intuitiva direta. As proposições estão diante de nós, presentam a nossa consciência e percebemos imediatamente, sem mediações, que são iguais ou diferentes, continentes ou contidas. Então, imediatamente, quando percebemos que uma bola é igual a outra bola, maior que outra bola, menor que outra bola. Então, imediatamente, quando percebemos que a tesoura está dentro da gaveta e não a gaveta dentro da tesoura. Se não fosse assim, se para perceber a identidade ou a diferença de duas proposições precisássemos de uma terceira proposição, esta só poderia ser comparada com as duas por meio de uma quarta e de uma quinta, de uma enésima, recuando até o infinito e tornando o pensamento radicalmente impossível. Um raciocínio ou dedução, portanto, não passa de um encadeamento de intuições, coladas umas às outras por um nexo lógico, também percebido intuitivamente. Dito de outro modo, não há propriamente um conhecimento racional, todo conhecimento é intuitivo ou não é nada. O edifício inteiro da razão é erglices sobre as ideias autoevidentes aprendidas intuitivamente e cresce mediante sucessivas apreensões intuitivas. A, dos nexos de identidade e diferença entre proposições. B, dos nexos de identidade e diferença entre proposições e aquilo que foi aprendido também por intuição diretamente da experiência. Em conclusão, essa conclusão, quando a explicidade formalizada como uma tese filosófica é o que denomina o intuicionismo radical. Não fui eu que o inventei, nem é uma nova escola filosófica. Está implícito nas filosofias de Platão e Aristóteles, dos grandes escolas, assim como nas de Schelling, Husser, Lonergan e pelo menos. Estive aí durante séculos, aguardando que viesse um Zemané do terceiro mundo, dar-lhe um nome e assumi-lo justamente como o premissa fundante de toda a filosofia. Capítulo 4 Pensar, Meditar e Contemplar. O que acabo de afirmar pode deixar um pouco atôneto o leitor que se habituou a ouvir dizer que a filosofia é iminentemente uma atividade da razão humana. De fato, ela o é. Mas o pensamento lógico dedutivo não é a única nem a principal atividade da razão. O gano de São Victor, 1086 a 1141, explicava que essa atividade consiste em três procedimentos sucessivos e distintos. Pensar, Meditar e Contemplar. Pensar é transitar de uma ideia ou proposição a outra por meio dos nexos lógicos que as articulam. Acabo de notar que esses nexos têm de ser percebidos intuitivamente um a um. O resultado do pensamento lógico é o encadiamento de situações ou construção dedutiva, como se faz, por exemplo, na geometria de Euclides, onde cada teorema serve de premissa para o teorema seguinte, de modo que a conclusão deste revela estar implícita na do anterior. Meditar é fazer precisamente o oposto. É remontar por análise, desde uma proposição ou conjunto de proposições até a sua raiz de forma na intuição direta da realidade. A meditação corretiva necessária do pensamento, porque, deixada a si própria, arrastada pela mera força do construtivismo dedutivo, a atividade construtiva da mente, o doutor Iralo diria emissiva, pode nos levar a conclusões que, embora corretas do ponto de vista meramente lógico, se afastam muito da experiência ou mesmo entram em conflito com ela. Contemplar, por fim, é observar simultaneamente e num relance intuitivamente, portanto, uma rede inteira de deduções e seus fundamentos na experiência como se fosse uma catedral gótica, uma representação artística do conjunto da realidade abrangida. Pensar todo mundo pensa. Um gato pensa, um computador pensa. Com frequência, o pensamento se torna uma pura construção no vazio, como disse o poeta, Augusto Maerco, quem pensa pensa que pensa, vai se ver, não é ninguém. Meditar e não umero pensar é a atividade própria dos filósofos, injustamente apelidados de pensadores. A contemplação é a última análise, o objetivo de toda a filosofia, embora ela se aproxime dele como numa síntota, sem jamais atingir o encheio. O sonho de todo o filósofo é fazer com que seus pensamentos se articulem numa rede de percepções intuitivas que dêem aos seus leitores de ouvintes um vislumbre de amplas secções da realidade acessível se não dela inteira. Com frequência, a rede tem furos aqui e ali e para piorar, muitas vezes o estudante, na ânsia de discutir certas proposições em particular, perde a visão do conjunto, como quem esquece esse acatedral para se concentrar numa das suas pedras ou no encaixe entre duas pedras. Por isso Regal tinha razão, tinha toda razão ao ensinar que na filosofia o sistema é tudo, o conjunto articulado fora do qual as partes isoladas não fazem muito sentido. Por isso também os grandes eruditos, os grandes intérpretes da filosofia alheia sempre advirtem que estudar uma filosofia consiste essencialmente em buscar a sua unidade, mesmo por trás das suas eventuais incoerências aparentes ou reais. Se as coisas de acontecimentos do mundo físico estão ao alcance da nossa intuição direta, também o estão os conceitos e proposições do pensamento. Por intuição imediata, sabemos que uma bola é igual a outra bola, e diferente de um tatu, que a tesoura está dentro da gaveta e não a gaveta dentro da tesoura. Por intuição imediata, sabemos que a proposição Sócrates é mortal e está contida em todo homem é mortal e que Sócrates é gordo, não está. No primeiro caso, falamos de intuição sensível, no segundo de intuição idética do grego, Eidos, que quer dizer imagem ou ideia. Quer dizer que o fundamento da veracidade e da intuição sensível, do qual tratarei mais adiante, serve também para validar a conclusão de um raciocínio? A resposta é um decidido não, porque na intuição sensível aprendemos as coisas em si mesmas, os acontecimentos mesmos e na intuição idética aprendemos somente o que nós mesmos pensamos a respeito. Por isso mesmo, dizemos que a intuição sensível é verdadeira e de um raciocínio lógico, dizemos que é apenas correto ou válido. O raciocínio lógico mostra apenas as relações entre um conceito e outro conceito, entre uma proposição e outra proposição, não entre coisa e coisa, ou acontecimento e acontecimento. Nossa apreensão dos objetos da percepção sensível é imediata, imediata sem intermediar. Há uns objetos do pensamento lógico que é imediata, isto é, intermediada, não só pelos conceitos e proposições, mas pelos signos que os representam na linguagem. Isto é importante, porque a passagem é dupla, você tem os signos, os signos representam o pensamento que por sua vez representa idealmente coisas, acontecimentos, fatos, etc. No entanto, todo este material está presente à intuição imediata. O pensamento que você pensa, ele está presente a sua consciência, o que não está presente é o objeto dele. Quando você pensa em elefante, a ideia de elefante está presente imediatamente. Eu sou pelo menos o termo elefante, está presente imediatamente, mas o próprio elefante não está. Nossa apreensão dos objetos da percepção sensível é imediata sem intermediar. Há uns objetos do pensamento lógico é imediata, isto é, intermediada, não só pelos conceitos e proposições, mas pelos signos que o representam na linguagem. Aí existe uma pequena variação individual. Tem pessoas que têm mais facilidade para pensar diretamente o conceito sem precisar representá-lo linguisticamente, isso é importante. Para que o raciocinológico válido seja reconhecido também como verdadeiro, temos de ir para fora dele em busca de algo que por si mesmo ele não pode nos dar. A relação entre os conceitos e as coisas ou acontecimentos dos quais eles falam. Se dizemos, por exemplo, que um gato é um animal, esse raciocinórico é válido porque o conceito de gato está contido no animal. Você não precisa jamais ter visto um gato para saber isso, ter o conceito animal, o conceito de gato, então um gato está contido. Mas de onde tiramos esses conceitos? Não foi do nosso próprio pensamento, foi da experiência que temos de ver gatos e outros animais. Para que o raciocínio, além de válido, seja verdadeiro, é preciso que os conceitos expressem adequadamente a realidade da experiência e que, portanto, a relação entre os conceitos, tal como expressa na proposição, coincida com a relação real entre os objetos mencionados. Essa certeza, o pensamento por si não pode nos dar de maneira alguma. Temos de saltar para fora dele e obter um terceiro tipo de intuição que já não é nem a pura intuição da coisa, nem a mera intuição da ideia, mas intuição da semelhança ou identidade entre uma ideia e uma coisa ou acontecimento. É o principal problema da filosofia moderna. Pode. Com relação aos conceitos abstrácios de segundas de gênero, como é o animal? Quando você percebe o nexo entre uma definição de gato e gato, é a última identitiva. E com a definição formal do que é animal, eu percebo que o gato está contido dentro de animal. Mas como eu percebo, porque eu não tenho experiência imediata do conceito animal, eu só percebo cachorro, gato, façalinho, um percebo animal imediatamente. Bom, aí é todo o mecanismo da abstração. Seria explicado que não está abrangido aqui por enquanto. Como é que acontece isso? Quer dizer, essa é uma das principais capacidades do pensamento humano, é de você enfocar uma coisa não inteira, mas só por um dos seus aspectos. Agora, o aspecto está contido, efetivamente, nela. Por exemplo, você fala, uma das propriedades do animal é ele, por exemplo, se alimentar por si mesmo, ele se mover em busca do seu alimento, coisa que as plantas não podem fazer. Bom, um gato faz isso, um cavalo faz isso, um elefante faz isso, você vê que todos fazem isso. Então, esta parte pode ser abstraída da outra. E abstrair as diferenças entre os vários animais e considera somente esta parte. Você tendo feito isso várias vezes, você pode fazer o conceito do conceito. Você vai juntar vários pensamentos que têm o mesmo esquema ou estrutura. E daí você faz um conceito de segundo grau que é um conceito de conceitos. Mas o processo é exatamente o mesmo. A relação entre o conceito do grau e o conceito não abstrair, ela ainda não é possível. Ainda ela não entui. Mas a intuição dessa relação é muito dura. Veja, o que você pensou, o conceito que você pensou, você o entui. Você não está entuindo o objeto do conceito, mas o próprio conceito você está pensando. O que é importante é estar pensando diretamente. Então, do mesmo modo, você pode conservá-lo na memória e agrupar vários conceitos pelas suas semelhanças formais e fazer um conceito de conceitos. Como seguimos fazer isso? Fácilmente. Todo mundo faz isso. Capítulo 6 Aparença em realidade. Mas aí tudo se complica formidavelmente. E nessa complicação reside boa parte daquilo que no mundo acadêmico se faz sobre o nome de filosofia. Dentre as muitas crenças idiotas que, pela repetição, se disseminaram entre os cientistas do mundo inteiro e entre os filósofos do mundo anglo-saxônico, ao ponto de tornar-se dogmas e nabaláveis, está aquela que o biólogo Rupert Sheldrake assim resumiu para criticá-la, é claro. Aspas. Quando você olha para uma árvore, a imagem da árvore que você está vendo não está lá onde parece estar e sim dentro do seu cérebro. Acabei de dizer que essa relação entre o conceito e a coisa, esse é o grande problema. Então, está aqui dada uma das respostas dessa. Tudo que você vê até os objetos da percepção sensível não são coisas que estão lá fora de você. São coisas que estão se passando no seu cérebro. O bom e velho Aristóteles ensinava que todo o conhecimento filosófico e científico se baseia no conhecimento pré-filosófico e pré-científico, que ele pode aprimorar e corrigir, mas nunca impugnar por completo. Não entanto, filósofes e cientistas sempre gostavam de se divertir às custas do cidadão comum, negando o mundo que ele enxergava e no qual vivia, e substituindo por um outro mundo mais recuado e secreto, só acessível mediante os instrumentos sutis da filosofia e da ciência. Abutados de Grosso Marcos, afinal, você vai acreditar em mil nos seus próprios olhos, foi assim adotada com quatro séculos de antecedência como o emblema de uma sabedoria superior, sonegada ao comum dos mortais. A expressão realismo ingênuo viria a ser adotada mais tarde para rotular todo o conhecimento pré-filosófico e pré-científico, abalando a confiança do homem comum nas suas próprias impressões. Os espertos acreditam na ciência, mesmo quando ela diz que a árvore não está no jardim, sem dentro da nossa cabeça. Assim como o cientista que fala também não existe. Na realidade, existe somente uma rede sináptis no cérebro do ouvinte. Isso é uma coisa... Ó, Benes, que o sujeito está dizendo, a árvore que você vê não está no jardim, está no seu cérebro, eu digo que você está onde? Que presumção é essa que você tem de existir fora de mim? Ou você é apenas algo que se passa no meu cérebro? Então esse é o exemplo mais radical que existe de paralaxia cognitiva. O indivíduo está dizendo algo que desmenta sua própria existência. Realmente, quando o sujeito está falando, nós precisamos atenção apenas na fala, apenas na comunicação verbal. E não na situação de discurso. Já não percebemos o absurdo, mas só se comparar uma coisa com outra, você poderia dizer, se isso que você está dizendo é verdade, você não poderia estar dizendo. Entendeu isso? No início da filosofia moderna, Descartes e Mercen rebaixaram o mundo habitual como mero véu de aparências construídos em cima de um verdadeiro universo que se constituía essencialmente de forças mecânicas. Eu comentei isso em um dos capistas dos jardins e aflições. Recruzendo até aquela gravurinha onde o sujeito fura o mundo, tem árvores, passarinhos, etc. e entra num mundo de rodas mecânicas. Galileu e Newton distinguiram entre as qualidades primárias e secundárias dos objetos sensíveis, afirmando que só as primeiras, por serem mensuráveis, como por exemplo a extensão e o peso, correspondiam à realidade, enquanto as segundas, como o gosto e a cor, eram apenas subjetivas. O mundo da experiência direta era assim enviado a lata de lixo e substituído por um conjunto de equações. Aparentemente, ninguém aí notou que medir, comparar coisas com o padrão de medida, é uma atividade da mente. As coisas não vêm medidas, nós é que medimos, nós é que comparamos. É mensurar, vem no latim, mente, a mente. E que portanto havia nessa teoria uma curiosa inversão do subjetivo e do objetivo. O Wolfgang Smith escreveu várias coisas sobre isso, num livro cósmico de transcendência, enigma, quântico, etc. Mais modernamente, o físico Arthur Eddington gostava de mostrar uma mesa aos seus alunos e dizer algo como, isso parece ser uma mesa, mas na verdade, um aglomerado de átomos. Como se a mera troca de uma escala maior para uma menor é uma passagem decisiva da fantasia para a realidade. Inveravelmente, o ponto de vista adotado como mais verdadeiro é o da ciência em particular que o falante adotou como profissão, o que já basta para sugerir que essas passagens da ilusão à realidade são elas próprias ilusões. O biólogo ou neurofisiologista, por exemplo, pode alegar que os átomos do físico não existem na realidade, só no cérebro do distinto. E com igual razão, o físico responderá que aquilo que parece um cérebro é apenas um aglomerado de átomos. No obstante, essa comédia adquiriu status de coisa seríssima e em Senala se tornou a marca decisiva da diferença entre a inteligência de Skol e a multidão dos Esmanés. Grande parte do seu prestígio advém do formato sofisticadíssimo que lhe deu o filósofo Immanuel Kant, 1724 a 1804, no seu livro Crítica da Razão Pura, publicado primeiro em 1781, segunda edição definitiva, 1787. Capítulo 7, Percepção e Razão em Kant. Kant ensina que é setuada às verdades puramente lógico e formais, as quais, como ouvimos, não são propriamente verdades. Tudo o que conhecemos de sólido e verdadeiro advei da experiência e toda a experiência possível tem de se dar no espaço e no tempo. Até aí, tudo bem, quer dizer, quer que não sabe. Mas Kant acrescenta que o espaço e o tempo não existem na realidade externa, são apenas formas da nossa percepção. Essas formas são, diz ele, a priori, quer dizer, anteriores a toda a experiência possível que elas estruturam, modelam e delineiam de todo modo experimentar, ter experiência, experienciar alguma coisa, consiste em colocar dentro de um quadro o espaço e o tempo e estar na nossa mente. Todas as coisas, acontecimentos e qualidades que chegam ao nosso conhecimento estão dentro do espaço e do tempo. Mas não porque o espaço e o tempo as contenham realmente, e sim porque o nosso aparato de percepção funciona dessa maneira, e automaticamente coloca dentro do quadro o espaço temporal tudo o que percebemos. Kant vai além e diz que o nosso pensamento racional também tem as suas formas a priori, que são as 12 categorias. Categorias da quantidade, unidade, pluralidade e totalidade. Categorias da qualidade, relação, negação, limitação. Categorias da relação, inerência e substância, substância e acidente. Causalidade e dependência, causa e efeito, comunidade ou reciprocidade. Categorias da modalidade, possibilidade, existência e necessidade. Você não precisa decorar essa lista, não precisa nem compreendê-la muito bem por enquanto. Basta saber a diferença entre o que Aristóteles entende por categoria e o que Kant pretende dizer com o mesmo termo. Em Aristóteles, categoria são aspectos que os entes possuem em si mesmos, e dos quais, uma vez que os percebamos, podemos dizer alguma coisa. Por exemplo, uma coisa é algo, consiste em algo. É um gato, um prédio, uma tempestade, um pensamento. Essa é a categoria da substância. Dizerem que uma coisa consiste em declarar a sua substância, ou em termos técnicos, a atribuir-lhe um predicado na categoria da substância. Mas essa mesma coisa tem aspectos quantitativos. Existem num só exemplo em vários, tem algum tamanho, pesa muito pouco, etc. Essa é a categoria da quantidade. Se você diz que determinada coisa é grande, por exemplo, você não está dizendo o que ela é. Você está atribuindo uma quantidade, uma medida quantitativa. Essa é a categoria da quantidade. A coisa pode também ser azul ou em color interessante, chatíssima, lento ou rápida, quadrado, redonda, trapazoidal, disforme, linda ou medonha e assim por dente. É a categoria da qualidade. Aristóteles nunca chegou a uma conclusão quanto ao número de categorias existentes. Às vezes a lista tem 8, às vezes 10. Usa de 8 para simplificar substância, quantidade, qualidade, ação, paixão ou ação padecida, relação entre uma coisa e outra coisa, tempo e lugar. São 8 aspectos que podemos observar nas coisas. E por isso mesmo, 8 tipos de predicados. Isso é de afirmações que podemos fazer a respeito delas. As categorias de Kant em contraste, nada tem a ver com que as coisas são o audacity ser. São apenas uma lista dos tipos de juízos que podemos fazer. Isso é de pensamentos que podemos pensar. Desse modo, estamos duplamente presos pela percepção e pela razão a estrutura interna da nossa mente. E jamais saímos dela para um contato direto com as coisas. É o mesmo que dizer, não conhecemos coisa nenhuma, apenas os aspectos delas que caimam na grade da nossas formas a priori. Seja da percepção, seja da razão. Tudo que acreditamos conhecer não passa de projeção externa da nossa forma mentes. Estamos presos lacrados na nossa máquina cognoscente e ignoramos tudo que possa existir fora dela. Talvez por sentir-se esrufocado nessa presão exígua, o próprio Kant se apressou a dizer que, como as formas a priori são as mesmas em todos os seres humanos, não estamos presos na nossa própria gaiola mental individual, mas na jaula ampli confortável da espécie humana inteira. Na hipótese de onda de que tudo o que sabemos seja uma ilusão, não precisamos atormentar-nos por isso, porque nem sequer podemos percebê-lo, já que estamos todos enganados juntos. Desde o primeiro homem de Neanderthal até o último pateta que voará em pedaço quando esse mundo se desfizera numa multicolorida explosão final. Consolador, não é? Tão portentosa, veja, Kant não é um solipsista, um subjetivista, não um cético, que não acredita no conhecimento. A gente não, nós temos conhecimento, mas o conhecimento é aquele que se enquadra e que combina com as formas a priori, que são as mesmas em todos os seres humanos, então todos nós vemos as coisas das mesmas maneiras e podemos, um pode confirmar o outro está vendo. Nós só não sabemos se isso corresponde às coisas em si mesmas, ou se nós estamos todos enganados juntos e isso jamais saberemos. Tão portentosas e temíveis eram as consequências dessa doutrina para o conhecimento humano e para o conhecimento científico especial, que o próprio Kant denominou uma revolução e a comparou à virada que Copernicus impôs a imagem do mundo celeste com a sua revolução heliocêntrica. Capitulo 8, os aspectos e a coisa. Uma dessas consequências é que se tudo o que conhecemos vem da experiência e a experiência não apreende as coisas em si mesmas e sim somente os aspectos delas que se encaixam na grade prévia da nossa formamente coletiva, então é óbvio que tudo o que conhecemos são aparências parciais de coisas que não temos a menor ideia do que sejam. Mas ignoramos o que as coisas são, não podemos jamais ter a certeza de que esses aspectos, que Kant chama fenômenos do Gregor Finestai aparecer, são traços essenciais definidores da coisa, se são propriedades secundárias dela, ou menos acidentes que ele sobrevende alguma curiosa coincidência. Tudo o que conhecemos são fenômenos e relações entre eles, as quais também não sabemos se são acidentes ou fazem parte das coisas em si mesmas. Você vai falar, não sei o que é coisa em si mesmas, como é que eu vou saber o que faz parte dela em si mesmas e o que é um acidente externo, jamais saberemos. Ou seja, nós podemos ter uma imagem do mundo muito exata, muito bem descrita, só que não sabemos se ela corresponde a alguma coisa ou não. A experiência científica pode demonstrar que essas relações são repetíveis, mensuráveis e expressas em equações matemáticas de uma confiabilidade sem par. Mas jamais saberemos se elas se referem a coisas reais ou a meras aparenças que, por motivos insondáveis, tiveram uma habilidade de se mostrar constantes e repetíveis. Mas se é assim, o próprio objeto magnuó que chamamos mundo desaparece dente de nós, esfarelando-se numa poeira infinita de aparências, que a ciência descrevendo e equacionando matematicamente uma uma, jamais terminará de aprender no seu todo. A perspectiva é a terrorizante, mas canta com calma e imperturbável, replica que não precisamos nos preocupar com isso, pois sabendo de antemão que nada podemos pensar fora das categorias da razão, toda a imensidão do que ainda resta de desconhecido, quando for conhecido, se enquadrará necessariamente nessas categorias e será tão racional quando 2 mais 2 é 4. O mundo, portanto, pode não ter unidade nenhum em si mesmo, pode ser apenas um farelo de aparências em conexas, mas para nós terá sempre a unidade que vier a receber do soberano poder construtivo da razão. A unidade do mundo, portanto, não existe em si, é a unidade da razão que o unifica e trate-se de estar satisfeitos com isso, pois segundo canto não há mesma alternativa. Mas se desconhecemos a coisa e, portanto, ignoramos a relação entre os aspectos e a coisa, não podemos saber se eles realmente pertencem a ela, sabemos apenas que no nosso pensamento, esse aspecto se refere a algo que não sabemos se existe, nem o que seja, e ao qual damos o nome de coisa, ou com otimismo ainda mais desvairado, coisa em si. Ou seja, os aspectos não são propriamente aspectos da coisa, qualidades objetivas que elas porto e exibe são apenas signos dela, isto é o mais importante de tudo. Essas aparenças não são coisas, os fenômenos não são coisas, são signos de uma coisa desconhecida, incognosível, inacessível, ou seja, tudo é signo. Isso quer dizer que é regular a diferença que eu expliquei no mundo, no começo, o conhecimento intuitivo, o conhecimento racional desaparece, só a conhecimento racional agora. E a palavra intuição, embora o canto continue a usar, é apenas a intuição de aparenças, portanto, de signos. Então não há mais diferença, então você vê no elefante e você pensar no elefante, nos dois casos é um signo. Isto teve consequências históricas, mas absolutamente formidáveis. Num relance, os objetos da experiência somem do alcance do conhecimento intuitivo e só não resta a intuição dos seus signos, exatamente como no capítulo 2, vimos que se passavam no pensamento lógico com os objetos pensados, dos quais só tínhamos intuições diretas dos seus signos e não deles mesmos. Transferidos assim, do mundo das coisas para uma aparência de mundo onde tudo é signo e nada é coisa, nossa certeza intuitiva, direta, dos entes sensíveis desapareceu por completo e foi substituída pelo simples manejo racional dos signos. Mas se toda veracidade do nosso conhecimento depender em última análise da instituição direta dos objetos da experiência, enquanto o raciocínio lógico só dispinha de validade e não propriamente de veracidade, isso que, repentinamente, as limitações do pensamento lógico se alastram por todo o órbio do conhecimento humano e ninguém mais pode falar de verdade ou veracidade, apenas de validade ou racionalidade. A validade é, claro, alcança a sua expressão máxima no ponto mais alto da elaboração racional, que é o conhecimento científico. Os herdeiros de canto no mundo científico e filosófico têm, portanto, uma compreensível indibição de discutir teorias no plano da veracidade e da falsidade, preferindo falar de científicamente válidas e científicamente inválidas. Isto é compatíveis ou incompatíveis com o estado atual das crenças científicamente válidas. Muitos deles acreditam ou fingem acreditar com isso, que estão dando um exemplo dignificante de modeste epistemológica. Quer dizer, eu quero ter um modeste que nem diz algo, eu estou dizendo a verdade, é apenas científicamente válido, é racional e adequado, não tenho a pretensão de conhecer a verdade. Mas, inexistindo um mundo fora dos quadros da razão e inexistindo outra expressão mais alta da razão, acima da razão científica, não há mais uma realidade a qual podemos apelar contra a opinião válida dos cientistas. Por absurda que esta nos pareça em certos momentos. Aparentando modéstia, o consenso científico vigente num dado momento, sem se deixar abalar pelo fato de que pode mudar no momento seguinte, se autonomeia desse modo à medida de todas as coisas. O juiz soberano e último de todas as questões autorizada a calar como científicamente inválidas, todas as opiniões das quais discordem hoje e quais podem concordar amanhã. Ou seja, não há outra referência a não ser opinião científicamente válida. Não existe um mundo no qual você pode olhar, dizer, não, as coisas não são assim. Se o leitor entrevil vagamente nisso, a origem remota dos códigos de censura politicamente corretos, entrevil certo. Falarei disso mais adiante. Por enquanto limitemos a constatar que se o leitor queria ingressar na filosofia, a esta altura já está metida nela até o pescurso e provavelmente não se livrar dela nunca mais. Bom, ainda tem mais, vídeo tantas págras para a frente que ficaram para a próxima aula. Vamos fazer uma pausa aí. Aqui, vamos lá. Marcelo Sprecher pergunta, nossa percepção imediata do mundo sensível não pode equivocar-se, levando a proposições não verdadeiras. Nossas instrumentos da ferição do mundo exterior são considerados intuitivamente confiáveis. E, bom, entendo em a intuição, é claro que você pode perceber as coisas erradamente, pensamento pode fazer um raciocínio errado, nada aí é absolutamente garantido. Agora, eu acho que muito pior é quando você, pelo raciocínio, você se afasta monstruosamente da intuição, ao ponto de você negar o que você mesmo está vendo. E o problema hoje é mais esse. Os famosos erros da percepção, como por exemplo a história do, você coloca o pau na água, ele parece que está quebrado, um pedaço de pau, um cabo da surra, então ele parece que está quebrado, e de bom, existe um erro de percepção? Ou você está vendo a refração exata da imagem na água? Exato, por exemplo, quando você olha um muro à distância, ele parece que vai ficando pequeno. Não há uma proporcionalidade exata entre a distância e o tamanho, claro que há. Quer dizer, o sistema de perspectiva é o erro de percepção. Todos os exemplos clássicos estão meticulosamente errados. Então, isso não significa absolutamente nada, são apenas pegadinhas, os famosos erros de percepção, eles na verdade são raríssimos. O que quer que você perceba está lá de algum jeito. Agora, o conceito que você faz é que pode ter errado, você pode dar o nome errado, você pode se equivocar ao conceitoar, claro que pode, mas em geral são erros irraciocínios em não de percepção. Alguém me faz uma pergunta aqui. Olha, vocês não me façam pergunta para o seu guiamento da sua vida religiosa. Vocês vão perguntar para o Padre Zé Eduardo, Padre Paulo Ricardo. Mas essa aqui já está aqui, eu vou responder, mas é só por Alexandre Segala pergunta. Uma vez eu li um posto de seu dizendo que o melhor é que ele relatar na confissão todos os pecados que cometemos, nem sempre dá para relembrar de todos, principalmente se for uma pessoa que ficou anos afastada da igreja. Porém, eu vi que o Canon 988 da igreja católica afirma que devemos confessar em espécie e números pecados mortais. Se a pessoa relatar o tipo de pecado, mas não a quantidade de vezes, mesmo que a aproximada a confissão é inválida, é claro que não é inválida. Se você não sabe o número, você tem um número indefinido, você se comete tal pecado muitas vezes, quantas? Não sei, acabou o problema, não ver. Então, essa coisa de você ficar, isso aí chama assim, na tradição católica chama assim escrupulosidade, palavras escrupulos, quer dizer, você contar pedrinhas. Por exemplo, você fica contando pedrinhas, será que isso é pecado? Será que aquilo é pecado? Você tem que confiar no bom senso de Deus, meu Deus do céu. É aquele negócio, quer dizer, se você, Jesus Cristo disse, se você pede uma coisa para o seu pai, não vai te dar agora, se você pede mais de Deus, que é muito melhor que seu pai. Não é muito melhor que seu pai, ele é muito mais inteligente do que seu pai. Você tem que dizer, olha, eu não sei quantas vezes eu cometei esse pecado, não é o senhor sabe? Acabou o problema. Agora, se você tem uma noção, vou dizer, do pecado fundamental que gerou os outros, se você contar esses, os outros estão incluídos. A espécie, o gênero, quanto tem espécie? Por exemplo, você... Quantas vezes você pensou coisas contra Deus? Quem não pensou? Quem não teve um momento de revolta agnóstica? Não é isso? Todos tiveram quantas vezes? Ninguém vai saber. Mas o pecado que gerou a revolta agnóstica... Esse que você tem que procurar? Esse que você tem que procurar. E esse que você cometeu uma vez só? Isso foi uma escolha que você fez. É. Olha, aqui tem uma carta, um mensal muito interessante da Ana Maria Silveira Campos Grebler. Mas essa mensal é muito comprida. Ela quer conversar comigo, por escarp, até vir aqui. Faça exatamente isso. Vem aqui, vamos ter uma conversa longa, tentar esclarecer as suas coisas. Ela diz que quer trabalhar em cima de um livro do Vladimir Safatli, que é um circuito dos afetos. Eu não li o livro, não sei se é interessante. Mas se você quer trabalhar em cima disso, talvez eu possa ter ajudado a ler o livro também e vamos conversar a respeito. Mas venha aqui ou conversamos pelo escarp. Não dá para fazer isso aqui, o negócio tem uma par de meia aqui. Agora aqui tem uma mensagem também comprida, mas não tanto, do Fernando Carneira. Essa eu vou ler porque está muito interessante, é muito útil para o quê? Pelo menos para outros temas que nós abordamos aqui. Sobre a ciência dos milagres, em particular sobre o milagre do sol, gostaria de observar que pelas leis da física, se eu jogo um objeto na direção de alguém e essa pessoa desvia, o objeto percorra uma trajetória. Se a pessoa pega o objeto e começa a girar o braço com o objeto na mão, a trajetória é outra, embora seja a mesma até determinado momento. Portanto, se Deus pega o sol e o faz girar, dançar para depois deixar o percorrer à trajetória que ele vinha percorrendo, não há contradição com as reis da física, há interferência de um ente no movimento de um corpo. A dança do sol só se contradiz se você supõe que os únicos agentes capazes de interferir no movimento do sol fosse agentes humanos comuns, igual os que vemos todos os dias. Se o desafio de Lagrange me deu os dados iniciais e com as equações da física, eu daria o desenrolar o desacontecimento do universo. Foi abandonado nesses últimos 100 anos pela ciência, a admitir o erro de medição, o probabilismo de certos eventos e a entropia, faltaria admitir o pressuposto de que não há um agente capaz de alterar os dados e não as leis naturais. Isso é importantíssimo, porque muitas vezes o pessoal define o milagre como algo que suspende as leis naturais. Não, não suspendeu lei natural nenhum, apenas mexeu um dado e não as leis. Então, isso aqui está muito bem colocado, continue investigando isso, você pode chegar a uma coisa muito boa por aí. Gustavo Furtado Brandão. Eu já me acompanhei no seu trabalho há algum tempo, não tenho formação filosófica, sou o Bacharão em Direito e advogado. A pergunta que faz é o seguinte, como fazer para mudar o discurso do jurídico atual no Brasil, no qual o direito positivo clássico está sendo substituído por um modelo principal, org, por uma política de direitos humanos. E como posso me defender dos falsos intelectuais na hora do direito? Eu acho que todo este problema começou com o cantismo e o cantismo está por baixo de tudo isto. Então, esse mesmo texto que eu li hoje, principalmente se você lê até o fim, não sei se eu vou poder ler até o fim, aqui no curso, pelo menos quando saiu o livro, eu acho que isso vai te ajudar muito nessa direção. Mais adiante eu menciono a tradição jurídica que sai do canto, eu não sei se eu vou poder examinar ela em mais profundidade, ou vai ficar apenas numa menção. Aqui o Arthur Chagasviana, também uma mensagem mais ou menos longa, ele diz que está em dúvida sobre seguir medicina para poder ajudar as pessoas fisicamente, ou se ele continuar com o estudo de filosofia para ajudar no sentido educacional, e com as duas coisas que são boas, eu não ver o porquê que elas se contradizem. Se você tem a possibilidade de ir para Itália e lá você conseguiria mais ou menos harmonizar essas duas coisas, então faça exatamente isto. Eu acabei de falar no começo disso, nós não estamos aqui para ajudar nenhum movimento político em particular, mas há algumas coisas que todos temos a obrigação de fazer na medida em que são pessoas amigas e estamos vendo a situação brasileira piorar muito. Você tem que supor que a coisa tome o pior rumo possível e você tem que estar preparado para sobreviver na pior situação possível. Então você criar com os seus amigos sistemas de proteção mutua, sistemas até de você retirar as pessoas do Brasil às pressas, todos nós temos que dar preparado para tudo isto. Então eu acho que isso é mais importante do que você pensar, ah, quem é que nós vamos eleger presidente da república? No Brasil você tem muito a ilusão de consertar as coisas por meio de eleição. Você não esqueça que o pessoal da direita já elegeu o presidente, eu falei Fernando Collor, quanto tempo ele durou na presidência? 6 meses. Então você botar um presidente lá, sem você mudar o sistema, não precisa estar nada. O poder não está na presidência da república, não está sequer no congresso. Então eu acho mais importante, você veja, em todo o pessoal da esquerda, como eles sempre tiveram isso, proteção mutua, esquemas de abrigo de pessoas, de fugas, se for preciso, isso aí. Nós não sabemos o que vem por aí, pode ver uma ditadura brutal. Temos que estar pronto para isso. Bom gente, eu vou parar por aqui. Na próxima aula, espero continuar com esta leitura. Oi. O Elio Angote criou um semelhado de filosofia e ele... Sim, sim, sim, procure falar com o Elio Angote, que é um suíte que está fazendo estas duas atividades com fluir em uma única. Ele criou até o Seminar de Filosofia aplicado à medicina. Elio Angote Neto, né? Elio Angote Neto com dois testes. Então por hoje é só, Iana Grebler, apareça aí. Tá bom? Tudo bom para vocês. Até a semana que vem. Muito obrigado.