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Bom, boa noite a todos e ser um bem-vindo. Hoje eu vou abordar um assunto que não é bem uma continuidade das aulas que eu estava dando sobre a questão do método, porque ele é uma etapa muito posterior da explicação do método, eu estou saltando vários capítulos para pegar alguma coisa que estaria idealmente na conclusão do livro. Também não é uma continuação da aula anterior sobre a aulas do caractereologia, embora tenha muito que ver como vocês vão perceber no decorador da aula. É um assunto que para mim é muito caro, porque é um objeto de especulação que eu tenho abordado de mim comigo mesmo há muitos anos, a respeito do qual eu não creio que tenha explicado um grande coisa até hoje. É algo que vai ajudar vocês muito a organizar as suas ideias e a compreender o quadreferência dentro do qual está colocado praticamente tudo que eu disse nesse livro, o quadreferência filosófico mais ampla. Este assunto se refere ao seguinte, existe uma série de condições a quais nós, nós humanos, estamos submetidos e que nos vêm da estrutura do universo exterior, do universo físico em torno e que não tem absolutamente nada a ver com a nossa vida subjetiva, ou seja, o nosso cérebro, os nossos pensamentos não contribuem para isso, no mais mínimo que seja, o máximo que podemos fazer é perceber essas condições e adaptar-nos a elas da melhor maneira possível. Elas são absolutamente universais, quer dizer, todos os seres humanos estão submetidos a elas e eu duvido muito que exista algum elemento na estrutura da razão humana, da cognição humana que não seja inteiramente determinado por essas condições. Eu acho uma das coisas mais estranhas que aconteceram na história da filosofia foi que, por volta do renascimento, o eixo da atenção filosófica se desvia do universo objetivo e se volta para o sujeito, buscando encontrar no sujeito a explicação de todas as nossas ideias sobre o universo exterior. Mais tarde, com o desenvolvimento da anatomia e fisiologia, passa-se a buscar essa explicação no cérebro humano. Ora, o cérebro não é nada mais do que um objeto material, entre outros, e ele portanto está sujeito às mesmíssimas condições externas às quais eu estou me referindo. Então, eu sugiro que vocês até anotem o nome de cada um desses elementos para que vocês sempre se lembrem de levar em conta. Essa lista que eu fiz não é exaustiva, existem outros. Eu estou dando apenas uma breve amostragem. A primeira dessas condições é a existência de ciclos. Nós podemos exemplificar, existem tantos ciclos nos quais nós estamos sujeitos, dos quais nós não podemos escapar de maneira alguma, que essa ideia de ciclo acaba se impregnando de algum modo na inteligência humana e determinando uma série de operações cognitivas, nossas inclusive extrapolando para áreas onde a ideia de ciclos não funciona de maneira alguma. Por exemplo, todo mundo conhece a ideia de ciclos históricos, que é uma das coisas mais duvidosas que existe. Mas os ciclos podem se aplicar à história de maneira metafórica ou metonímica, não de maneira literal. Mas existem, nós podemos fazer isso porque existem áreas da existência onde os ciclos são uma realidade, uma realidade material, uma realidade brutal da qual nós não podemos escapar de maneira alguma. Em primeiro lugar, no seu próprio corpo, você tem os ciclos da ingestão, digestão e excreção. Eu só chamo de ciclo aquilo que a série de acontecimentos que se repete de maneira mecânica e que acontece para um sujeito que permanece o mesmo. É por isso mesmo que eu acho que isso é a ideia de ciclos históricos, é um pouco metafórica apenas porque nunca os sujeitos permanecem. Quando o ciclo fecha, são outras pessoas, então não se trata propriamente de um ciclo. Mas o ciclo que eu estou falando da ingestão, digestão e excreção acontece para a mesma pessoa todos os dias. Não tem, não há nenhum modo de você escapar disso, do modo, do mesmo modo que o ciclo da vigília e do sono. Não tem, absolutamente não tem escapatória. Todos os seres humanos, desde que nascem até que morrem, estão os sujeitos a estes ciclos. Então é impossível que o negro não perceba a ciclicidade disso, algo mais dia menos dia. Tá certo? Então, por exemplo, crianças pequenas às vezes elas odeiam dormir, elas acreditam que podem prosseguir a vigília indefinidamente, cada pima cai no tapete e acorda na cama que alguém levou. Então por mais que você resista, este ciclo acaba se impondo você. Tá certo? Assim como o simples ciclo diário dos dias e das noites. Com amanhecer, depois um medinho, interdizer, com a noite ser e pronto. Isso volta e volta e volta e volta. Tá certo? Então, mais capatória, na chata. Você tem também, vamos dizer, o ciclo de produção e consumo. Por exemplo, na agricultura você planta as coisas, você vai ter que esperar um tempo para colher, depois da colher, você vai ter que plantar de novo e no ano que vem você vai ter que fazer a mesma coisa. Tá certo? Assim como você pode perceber, por exemplo, o ciclo lunar. Eu me pergunto assim, quanto tempo o ser humano levou para perceber que a Lua formava um ciclo? Porque a Lua não aparece no céu com a mesma aparência. Ela parece de maneira tão diferente das quais uma delas não é um aparecimento, ela tá invisível. Então, como é que você sabe que esses vários objetos diferentes que aparecem são o mesmo? Você não pode perceber isso num relance intuitivo assim como você percebe a luz do sol. Você tem que observar e anotar e guardar a memória e no fim você, por abstração, aprende que aquilo é um ciclo, tá certo? Mas, embora você precise a inteligência abstrativa para isso, é claro que esse ciclo não nasce da sua inteligência abstrativa, ele se impõe a ela como uma realidade exterior. E assim por diante existe inumeráveis ciclos que você pode observar mais ou menos, alguns deles você está submetido sem nem perceber jamais, tá certo? Mas eles estão aí do mesmo modo. Então, essa ideia do ciclo, quer dizer, de uma coisa que decorre no tempo, mas que de certo modo volta a uma etapa anterior, sem que o ponto de encontro com a etapa seja o mesmo anterior, tá certo? Essa será uma das estruturas fundamentais da inteligência humana. Por exemplo, os ciclos nos mostram que primeiro, não existe nenhuma continuidade absoluta para nós. Todos os processos temporais que nós observamos são escandidos. Aqueles que nós observamos, aqueles que acontecem a nós mesmos, tá certo? Então, não há a linearidade absoluta, embora você também não escape da linearidade, tá certo? Então, essa ideia de etapa, como num livro seria capítulos, tá certo? É uma coisa que também é inerente a condição humana e a qual a inteligência humana só pode se adaptar, tá certo? Então, se você perguntar quando que os seres humanos inventaram a divisão da história em episódios, eles não inventaram, eles encontraram assim, ou seja, nenhum ser humano jamais observou um processo contínuo do que quer que seja. No mínimo, quando você está olhando, você piska, e quando você piska, as coisas ficaram invisíveis. Qual é a sua capacidade de atenção contínua a um fluxo qualquer? A atenção, ela voa para um lado para o outro, não tem outro jeito. Tá certo? Então, essa ideia das etapas de todo o processo temporal também é uma coisa que nos é imposta pela condição física terrestre a qual estamos submetidos. E é claro que daí nós tiramos estruturas mentais, tiramos categorias, por assim dizer, mas nós não inventamos nada disso. Tudo isso nos foi imposto. Ora, se toda a ideia de narrativa de processo temporal é escândida em etapas, por exemplo, a ideia de etapas é inescapável, tá certo? Uma outra ideia que é inescapável é da continuidade invisível. Então se todo o processo temporal que eu observo, ele está escândido, ele está cortado em pedaços, então necessariamente um pedaço dele que eu não vejo. Então a continuidade invisível também nos é imposta. É isso, quer dizer, se você observa, por exemplo, o movimento do sol durante o dia, tá certo? Como é que você sabe que é o mesmo sol? Você não olhou continuamente, na verdade você nem pode olhar para ele, você pode olhar de maneira indireta. Então a ideia de uma continuidade invisível sem ela, o ser humano não é que eu não teria saído das caveiras, não teria nem entrado nas caveiras, teria morrido antes. Então se ele não sabe que por trás das etapas discretas, separadas que ele vê, existe um fio de continuidade, ele não vai saber nada, ele é totalmente desorientado no mundo. Então essa ideia da etapa, portanto, da narrativa, daí surgiu uma terceira ideia, você tem a continuidade temporóvel escândida, você tem a continuidade invisível ou inacessível e portanto você tem a narrativa, a possibilidade de narrar, porque o que quer que você narre, você fará com palavras que são separadas. Ou seja, as palavras são separadas, mas estão tentando refletir uma outra continuidade, também separada, mas que não é separada do mesmo modo como as palavras. As palavras não correspondem às etapas da sucessão temporal. Então necessariamente você tem aí a ideia de que é possível narrar desde que você divida as etapas do processo de uma maneira diferente da separação natural das etapas, que é a separação verbal, a separação em palavras. Então toda a língua é o idioma articulado, formado de unidades separadas. Não há outra maneira, está certo? Ora, por trás dessa unidade separada, quando você ouve, se você falava, você entende que ele não está se referindo a pedacinhos diferentes do acontecimento, mas há uma continuidade invisível que ele menciona e que você aprende de algum modo. Isso é universal, nenhum ser humano jamais escapou disso aí. Se vocês ouviram um coxicho aqui, é o Pedro que está traduzindo para uma amiga nossa. Então com essas duas noções, que vão dizer aqui, é a dos ciclos e a noção das etapas, portanto da continuidade invisível e da narrativa. Aparece uma terceira imposição, que é a ideia de escala e proporção. Absolutamente tudo aquilo que nós fazemos implica algum tipo de proporção e de escala. Por exemplo, se eu quero levantar uma pedra, eu tenho que fazer uma força que seja proporcionar o peso da pedra e que a supere um pouquinho, sim ou não. Isso aí, até um gato sabe que para ele saltar um múlvio precisa fazer uma força proporcional. Então, em todas as ações humanas, em todas as situações, nós nos defrontamos com esta realidade de certas escalas e proporções que são, por assim dizer, invencíveis. Você não tem como escapar delas. Então, é até para você ficar de pé, que é a força que precisa ser proporcionar o peso do seu corpo. E não é bem que isso não é fácil, porque um bebê não sabe fazer desde o início. Por que ele levanta e cai? Ele levanta e cai. Ele tem que regular o esforço da perna com o peso do corpo e ele não está sabendo isso. Portanto, isso tem uma outra condição que nos é imposta. Ora, quando nós falamos proporção, proporção é estrutura básica da razão humana. Razão, na verdade, quer dizer proporção. Então, se você me perguntar qual é a origem da razão humana, ela nos foi imposta. Ela não foi imposta e, por outro lado, nós temos, pela nossa estrutura anátono fisiológica, a capacidade de perceber, gravá-la na memória e expressá-la verbalmente. Então, se juntar essas duas, quer dizer, a um conjunto de condições cósmicas que se impõe a nós, existe da nossa parte, do nosso corpo, do nosso cérebro, etc., uma capacidade de aprender e reter essas coisas. Por isso, isso é a mesma coisa que dizer que a estrutura da razão da inteligência humana do conhecimento não deriva da estrutura do cérebro. Você pode desvasculhar a estrutura do cérebro quando você queira, porque o cérebro não está no ar, ele está no preciso lugar do universo onde todas essas condições se impõem a ele. Então, quer dizer, ele não precisa gravar tudo isso no cérebro para funcionar. Por exemplo, você sabe que quando acorda do dia seguinte, foi ter dormido, você é a mesma pessoa e a sua mãe que está ali é a mesma mãe da Vesto, você sabe tudo isso. Não foi o cérebro que inventou isso? Não, isso não é imposto, é uma condição externa. E portanto, eu acredito que todo estudo, vamos dizer, da neurofisiologia cerebral, ele é muito interessante, mas ele será inútil se ele não for conjugado com o estudo da estrutura, vamos dizer, do espaço o tempo em torno. Não tem como escapar disso aí. E eu, na verdade, nunca vi um estudo desse tipo. Vamos dizer, algumas pessoas quase chegaram nesta ideia, um deles foi o Erwin Panofsky, mas estudando na parte da estética, da filosofia da arte, está certo? As vezes, como um puro estudo, vamos dizer, gnoziológico, eu nunca vi isso, você dizia, ser explorado assim, com a profundidade devido a atenção que merecia. Na verdade, eu mesmo, se eu estou falando disso pela primeira vez, quer dizer que eu deveria ter falado antes, deveria ter abordado esse assunto com muito maior profundidade. E nunca tive sequer chance de escrever algo. A única coisa que eu escrevi sobre isso foi o negócio da triple intuição, que seria uma introdução a isso aqui. Está certo? Na triple intuição, eu tentei ali demonstrar, responder as seguintes perguntas, como é que as pessoas percebem a existência do sol? O sol está sempre aí, mas um dia elas têm que tocar o, tem um negócio ali. Então, uma coisa é a melhor sensação que você recebe, outra coisa é a percepção. Então, também é a pergunta, quando perceber a existência da luz? Eu acho que é quando a luz desaparece e depois ela volta, então a percepção da luz é simultânea, é coexistente com a percepção, da diferença entre enxergar e não enxergar. Não é possível você perceber a luz, não sei, pelo fato de que quando ela está presente, você enxerga e quando ela vai embora, você não enxerga mais. Portanto, esta ligação, onde dá direta da luz com a estrutura da consciência humana, acho que é um dos elementos mais primitivos da estrutura da nossa presença do mundo e da nossa cognição. Por tanto, eu vejo que este simbolismo antiquíssimo do sol, como simbolismo da inteligência, do conhecimento, é uma coisa natural, é um simbolismo natural, não é uma coisa inventada. Claro que existem muitos simbolismos culturais criados em cima disso, mas têm que ter uma base na percepção natural. Muito bem, na medida em que você tem as escalas e proporções e que você não pode escapar dela, você vai ter necessariamente a diferença entre quantidade e qualidade, porque todas as qualidades que você observa existem numa certa quantidade. Por exemplo, um som é alto, quanto ele é alto, um som é agudo, quanto agudo. Isto também nos é imposto pelas condições externas, por exemplo, você está frio, quanto de frio, está calor, quanto de calor. Isso está presente em absolutamente tudo, quando você identifica uma qualidade, existe nela uma quantidade. Quer dizer, todas as qualidades, em princípio, correspondem a quantidades, embora não se identifiquem com elas. Eu posso dizer, o calor não é a mesma coisa que o grau de calor. Isso, se está, digamos, 32 graus, está calor, e se está 45 também está calor. O calor é o mesmo, apenas aumentou a intensidade, então você entende que o calor tem uma gradação, mas ele não é uma gradação. Isso também nos é imposto, não estamos como escapar disso aí. Ou seja, uma mera gradação, um mero aumento quantitativo não gera uma qualidade. E a qualidade por si é impossível existir sem alguma quantidade, que não basta, por sua vez, para determiná-la. Então, você vê que muito tempo depois dos primeiros homens têm feito a experiência dessas coisas, surge a discussão das qualidades primárias e secundárias dos objetos, sendo qualidades primárias, aquelas que podem ser imediatamente medidas, que seria o peso, o tamanho e o movimento. Isso aí foi John Locke inventou isso aí, ou John Locke ou Isaac Newton, o Galileu, um deles, ou todos juntos. E as qualidades secundárias seriam aquelas que só são percebidas em função da fisiologia humana, como por exemplo a cor, o sabor, etc. Acontece que hoje nós temos bem os de imedir tudo isso. Então o campo do mensurável das qualidades ditas primárias aumentou formidamente. E essa distinção evidentemente não vale mais. Na verdade ela foi adotada pela formação de facilidade, mas ela criou um tremendo preconceito contra as qualidades secundárias que eram tidas como meramente subjetivas. Então, se elas fossem meramente subjetivas, elas não precisariam do excitante externo, eu poderia sentir o sabor só porque quero sentir o sabor. Quer dizer, a ideia de que as qualidades secundárias são subjetivas é absolutamente insustentável. Mesmo elas não são impostas de algum modo. Você diz, como está salgado, quanto salgado? É salgado como, sei lá, uma coxinha de frango é salgado como um saco de sal. Não é a mesma coisa. Então esse acúmulo de condições que vão se impondo ao ser humano dão para eles uma visão da sua condição terrestre, da sua condição de existência, onde ele está e quem é ele no meio disso. Sem essas condições nós não entenderíamos a pessoa me nada. Você precisa ver de um lado essas condições. Por outro lado você precisa ver um aparato psicofísico capaz de não só de aprendê-las, mas de senti-las como um animal também, mas de retê-las na memória e simbolizá-las de algum modo. Quando digo retê na memória e simbolizar é um ato quase instantâneo porque quando você grava a coisa na memória, você grava só uma parte dela que fica funcionando como símbolo do resto. Por exemplo, você tem uma imagem de vacas, simboliza um montão de vacas ou simboliza a mesma vaca no outro dia. E no entanto tem uma vaca só que você está vendo. Está certo então? Isso aí já é uma outra coisa que se impõe a nós de maneira absolutamente inescapável que é o signo. Nós nada podemos fazer sem signos e tudo que nos aparece é signo de alguma coisa, às vezes da mesma coisa tomada na sua totalidade. Quando você só vê, por exemplo, eu estou vendo a Carla aqui, mas isso que eu estou vendo é a Carla, não, esse é o aspecto momentâneo que a Carla tem aqui. Carla, Stella, Edson. Então essas presença são reais, mas elas são símbolos da coisa inteira que está por trás. Não temos como escapar disso. Por quê? Porque não temos percepção de continuidade absoluta, de continuidade material. Então qualquer etapa que você perceba é um símbolo da continuidade invisível que está por baixo. E a continuidade invisível, ela não pode ser uma conclusão que você tirou das várias coisas separadas, porque para que ela fosse uma conclusão, quer dizer, um produto da nossa mera abstração, seria possível que você primeiro visse as etapas separadas de maneira totalmente inconexa. E depois você juntasse, não é uma continuidade? É possível isso? Não, não é. Por exemplo, eu estou vendo aqui a Carla, Edson, piscai, já estou vendo uma nova percepção. Essa percepção é totalmente separada da anterior, da anterior, não. Então a continuidade invisível está presente, ela se impõe a nós. Não é uma conclusão que nós tiramos, está certo? Não é uma criação da nossa mente, de como de acante, nós percebemos só pontos separados e depois juntamos na nossa cabeça. Não dá para fazer isso. Essas coisas já vêm juntadas de uma maneira que mostra a presença delas na estrutura do universo. Nós não contribuímos para isso em nada, tanto que a nossa compreensão disso é problemática e progressiva. Você vai perceber essas coisas aos poucos. E quando você percebe, se eu visia, eu também percebeu muitas coisas. Então, eu acredito, a estrutura da nossa razão, do nosso entendimento, ela é a estrutura do universo. Ela não é idêntica, evidentemente, mas ela é como se fosse, vamos dizer, imposta. Isso não é voltar, vamos dizer, a teoria do realismo ingenuo de que as coisas que são percebidas se grudam, por assim dizer, na nossa memória como se fosse sob uma fúria de papel. Não é disso que eu estou falando. Eu estou falando dos objetos, mas das estruturas. Essas estruturas se impõem a nós não como objetos da nossa percepção, mas como condições da nossa percepção. Elas determinam a possibilidade que nós temos de ter percepções, de ter razão, de ter memória, etc. Então, não é a nossa memória também que está costurando, ao contrário. Se a unidade dos objetos que eu estou percebendo, dependesse da minha memória, eu podia fazê-los e desfazê-los a meu belo prazer. Mas aqui eu estou olhando o Edson, fecha os olhos, está lá o mesmo Edson, fui eu que criei. Se fosse eu criei, eu poderia botar outro ali, eu põe o Pedro lá, põe o que eu quiser. Então, a continuidade dos objetos, que é a continuidade que está para além da nossa percepção sensível, ela também se impõe a nós como uma realidade inescapável. Se não fosse isso, nós seríamos totalmente desorientados e se dependesse exclusivamente da nossa subjetividade ou do nosso cérebro, seria a mesma coisa que dizer que nós estamos recriando o cérebro e todos os objetos, a unidade de todos os objetos a cada momento, que é um evidentemente uma impossibilidade matemática. Então, contudo isto, nós também temos uma outra coisa que se impõe a nós, que é distenção entre o possível e o impossível. Nós estamos cercados de impossibilidades, demarquem as nossas possibilidades de ação dentro de um horizonte muito estreito, muito definido e absolutamente intransmunível. Por exemplo, se uma pedra é superior à sua força, você não consegue levantá-la. Se um bifute ataque é mais forte que você, ele vai matar você e assim por diante, se você for mais forte, você vai matar ele, ele não tem como escapar disso aí. Então, também assim, se você não plantar sementes, não vai nascer nada. Quer dizer, você não tem como escapar disso aí. Então o tempo todo, a noção de possibilidade e de impossibilidade também nos é imposta pela condição física em torno. É claro que daí nós podemos, vamos dizer, obter pura abstração, ideias mais gerais a respeito da possibilidade, da impossibilidade e chegar a calcular possibilidades de coisas que nós não vamos ver jamais. É isso. Porém, sem esta base inicial, quer dizer, os limites do possível e do impossível que nos são dados pela realidade do material em torno, não teríamos absolutamente nada disso. Aí tem outra estrutura que também nos é imposta, que é o famoso Aperon, da Náximandro. Absolutamente tudo o que nós sabemos forma um círculo para além do qual há o que nós não sabemos. Então a ideia do conhecido forma para nós um horizonte, para além do qual existe um pôndente de arrogação. Para o maior que seja o nosso universo de conhecimentos adquiridos e a nossa esfera de ação, sempre existe um para lá. Tem alguém que não é assim? Diz-se só Deus, para Deus não existe um para lá. Mas para os seres humanos, vamos dizer, o Aperon quer dizer a existência desse círculo indefinido, vamos dizer, não é uma suposição da nossa mente, é onde nós realmente estamos. Então sempre existimos dentro de um horizonte relativamente conhecido para além do qual existe o desconhecido. Isso tanto no sentido espacial quanto até no sentido temporal. Por exemplo, quanto eu posso prever do que vai acontecer em seguida. Por exemplo, eu prever que as pessoas que estão aqui não vão sair voando, nunca saíram, também não deve sair agora. Eu prevejo que amanhã talvez vai chover. Eu prevejo que algum dia, mais dia, menos dia, é possível que o Lula seja preso. E é possível que der mais... E à medida que eu vou tentando especular, eu vejo que o horizonte vai se esfumando. Então a minha capacidade de previsão está tão limitada no espaço, no tempo, quanto a minha visão no espaço. E isso é assim, não é para mim, é para todo mundo. Por exemplo, o sujeito pode prever, se eu plantar as coisas aqui, esse negócio leva tanto tempo a germinar, tanto tempo a crescer, daqui a seis meses eu pego. Bom, e se eu ver uma geasa, se eu ver uma tempestade, se eu ver um bandiga foioto, tacar aquilo, você não sabe. Então, vamos dizer, a esfera do previsível está colocada dentro de uma esfera maior do imprevisível. Isso por causa da nossa mente, falando, não, não, não. A realidade em torno ela é assim, não é isso? E ela se impõe para nós. Claro que a nossa capacidade de perceber, de reter na memória, de fazer abstração, de poder utilizar esses circuitos, como eu diria, fechar o circuito aprendizado, para prever o que vem em seguida, é limitado e varia de pessoa para pessoa. Tem pessoas que passam pela mesma experiência, 500 vezes não aprende nada, outros na primeira vez já entendeu, está certo? Então, esta variedade também nos é imposta, porque quando eu apriendo uma coisa, não quer dizer que o vizinho apriendo a mesma. Então, essas diferenças individuais, que existem diferenças de tempo, de idade, de certo, etc, etc, elas se impõem a nós. Ora, por que que se impõe? Por que que eu percebo que um ser humano, por exemplo, leva mais tempo para aprender do que eu? Ou que ele sabe menos do que eu? Ou que ele sabe mais do que eu? Tudo isto eu só posso aprender se eu entender que eu pertenço a mesma espécie dele. Portanto, as diferenças entre os indivíduos só são perceptíveis em função da identidade espécie. Por que? Porque ninguém vai medir essa diferença com relação a um tatu, ah, o tatu sabe menos que eu. Você não vai fazer isso, na verdade você não tem a menor ideia do que o tatu sabe, eu deixo de saber. Então, isso quer dizer que a divisão dos seres em indivíduos espécies gêneros também nos é imposta. Então, por exemplo, eu sei que um urso não é um tomate. Eu não posso plantar um urso para que nasça outro. É absolutamente impossível. Isso vale não para este urso, vale para qualquer urso. Também não posso caçar os tomates. Eu não posso sair correndo atrás dos tomates, eles não coram. Então, isso nos leva a entender o conjunto do que está acessível a nós como uma rede de indivíduos espécies gêneros. Não fomos nós que criamos essa noção. Aliás, nós criamos a noção a partir do que? De uma experiência que nos é imposta e que não tem absolutamente escapatória. Você não tem como você confundir as espécies. Quando você confunde, você errou e esse erro pode ser fatal. Você esperar com um urso se comporta como um tomate, eu acho que isso nunca aconteceu. Ninguém foi chamar de idiota e disse, ponto. Também esperar, por exemplo, aqui você tem um cabrito, vei o urso, come o cabrito, nunca aconteceu ao contrário. O cabrito come o urso. Tudo isso, quer dizer, as estruturas que formam as espécies e que diferenciam uma espécie ou tem que dar uma espécie de diferenciar os vários indivíduos, tudo isso nos é imposto desde fora. Não tem e aprendemos essas coisas porque elas se repetem no universo exterior, elas não mudam. Se elas mudassem toda hora, nós estaríamos liquidados. Por mal que fosse a nossa capacidade estruturadora, organizadora, nós estaríamos perdidos no mato sem carfora há muito tempo. Então isso aí também nos traz uma outra noção, que é a noção de hierarquia. Tudo o que chega a nós chega dentro de alguma ordem hierárquica. Por exemplo, um bicho é mais perigoso que o outro. Eu volto ao exemplo, o urso come o cabrito, o cabrito não come o urso, então você tem uma relação hierarca de dominação. E também entre os seres humanos você vê claramente uma hierarquia de poder desde o início. Um homem adulto tem mais poder do que um bebê, sim ou não. Um homem plenamente desenvolvido tem mais poder do que uma mulher, sim ou não. A mulher tem mais poder do que o bebê, ou do que uma outra mulher mais novinha e assim por diante. Escapem disso e puder. Então medir forças, quer dizer, uma das experiências mais básicas do ser humano já revela que existe uma hierarquia. Não há só dois graus, o mais forte e o menos forte. Não, uma coisa é enormemente complicado. Por exemplo, a hierarquia da força é uma, da periculosidade é outra. Uma cobra é muito menos forte do que você, ela pode matar você. Isso é uma aranha. Então você tem essas várias hierarquias compondo um conjunto que se você se perder dentro dele você está liquidado. E tudo isso também nos é imposto. O tempo que nós levamos para perceber isso pode variar de pessoa a pessoa. Está certo? Mas as estruturas são sempre as mesmas e quando as pessoas percebem elas percebem sempre essas coisas de maneira igual. Então, daí vem um elemento que eu considero o dado fundamental da ciência política, da filosofia política. A diferença de poder entre seres humanos. Esquece as outras hierarquias, urso, aranha, etc. Esquece isso. Sempre houve e sempre haverá entre os seres humanos uma diferença de poder que chega a ser imensurável. Por exemplo, um pai que fica irritado pode jogar o bebê pela janela. O bebê não pode fazer a mesma coisa com o pai. Então todos nós ouvimos falar de sociedades que matam seus bebês. Não vem do chinguze de fazer isso. Agora você nunca vai falar ao contrário, o bebê que está matando o pai e a mãe. Então começa com essa diferença determinada pela idade. E que você observa a mesma no reino animal. Quando dois cachorros brigam ou quando um urso come filhote. O urso adulto come filhote e o filhote é o mais que come um urso adulto. Essa diferença de poder é grande entre os animais, mas entre os seres humanos ela chega a ser imensurável. Por exemplo, se você tem uma tribo de índios, você tem o chefe. O chefe pode mandar qualquer um, mandar matar qualquer um. E o urso não pode fazer a mesma coisa com ele. Essas diferenças de poder são enormemente variadas porque os fatores que dão poder ao ser humano mudam de acordo com o tempo e se acrescentam. Existem novas formas de poder que antes você não podia imaginar. Então, por exemplo, as armas. Isso, o Colonel Quigley no livro Tragendian Hope, que é um grande livro, no fim das contas, ele diz o seguinte, ele diz que você vê períodos de maior igualdade em democracia ou períodos de maior tirania e domínio do governo conforme o tipo de armas que estão à disposição. Se as armas são simples e baratas, todo mundo tem, então tende a equalizar. Mas se as armas se tornam muito caras ou difíceis de manejar, então centraliza o poder. É a coisa mais nova do mundo. Então, por exemplo, você vê que a expansão da democracia nos Estados Unidos no século XIX foi pelo barateamento das armas de fogo. Um revolver custava, o que, 10 dólares, 12 dólares, todo mundo podia ter, e era uma arma mais ou menos igual, mas depois, quando inventam armas mais complicadas, enormemente caras, epa, aí o negócio muda. Só uns poucos podem ter. Então os meios de controles do governo sobre a população são muito maiores. Então, por exemplo, a guerra civil americana foi decidida por um fator, os rifles de repetição. Inventar o rifle Spencer que dava sete tiros. E os caras do Sul nunca tinha visto uma coisa dessa. E dizia, se esses caras chegaram aí com uma espingar que atira durante uma semana inteira. Então nós estamos lascados. E não houve tempo deles fazer uma arma equivalente. Então essas coisas, elas mudam o destino de nações inteiras. A introdução da pólvora, por exemplo, foi uma coisa extraordinária. E também do mesmo modo, a esses meios de poder, você tem que acreditar os meios de informação, que hoje são muito reduzidos de um lado e são monstruosamente grandes de outro. Nós estamos falando aqui, o FBI pode gravar nossa conversa 2 quilômetros de distância e nós nem sabemos o que o FBI está lá. Então também veja, o que nós chamamos de poder é a capacidade com o ser humano. Tem de determinar as ações dos outros. Se ninguém obedece o cara, ele não tem poder nenhum. Se muita gente obedece, ele tem algum poder. E entre esses que obedecem, existe também uma hierarquia. Esse manda neste, que manda naquele, que manda naquele, que manda naquele. E essa rede pode se tornar tão imensamente complicada que ela em si mesma é inabarca. Isso acontece na sociedade hoje. Quer dizer, você não sabe exatamente qual é a hierarquia. Vocês são tantas as agências funcionando para o poder central, que você não sabe por onde ela vai te pegar. Então, vamos dizer, a diferença de poder também é uma constante que faz parte das condições em que nós estamos. O primeiro é o jeito de perceber que existia um bicho mais forte, que ele já entendeu essa relação. Então, a hierarquia, sobretudo a hierarquia de poder, é outra coisa que nos é imposta pela condição terrestre e não é criada pela nossa mente. Nada disso foi criado pela nossa mente. Absolutamente nada. Ele viu o nosso cérebro, o nosso cérebro coitadinho. Ele registra as impressões sensíveis, guarda um pedaço e tenta operar alguma abstração em cima disso, e isso é o máximo que ele pode fazer. Ele não está criando nada. Então em função dessa coisa hierárquica, você verá que também a ideia de família e comunidade também se impõe aos seres humanos desde nisso, como se impõe um cachorro. Quer dizer, nós temos família, não é porque alguém inventou a estrutura da família. É porque se você tem os bebês e você não as alimenta, eles morrem. Então, é uma condição natural da qual nós não podemos fugir, nós nos reproduzimos. Eu ouvi dizer de uma tribo, não sei aonde, que ainda não tinha feito a ligação entre o ato sexual e a procreação. Eles transavam e depois vinha as crianças, não sei daonde. Eu também vi um casal alemão, isso ficou famoso, é um vídeo. O casal foi no médio, disse nós estamos tentando ter filhos há tantos anos, não conseguimos. E daí o médio perguntou como está sua vida sexual. Eles falaram, ah, o quê? Eles não sabiam que isso existia, a gente era dois caipiras do medo alemã. Eles não tinham se tocado, o médio teve que explicar para ele como é que faz. Daí claro, eles tiveram o filho. Tudo isso pode acontecer, mas a condição está aí e está imposta. Você pode saber, pode não saber, você pode entender ou não entender, mas você está vivendo dentro desse mesmo quadro. Tá certo? Bom, outra coisa que nos é imposta, vamos dizer, é a periculosidade. Existem perigos no mundo, não é isso? Você pode demorar um tempo a perceber, mas eles existem. E portanto, a necessidade, a busca da segurança, é outra coisa que nos é imposta a nós como é imposta a todos os bichos. Tá certo? Vamos dizer, é imposta a nós de uma maneira diferente daquela que é imposta aos bichos, porque nós temos uma capacidade de previsão maior. Quer dizer, nós podemos pensar perigos que não existem ainda, mas que podem vir a existir. Isso aí um bicho não consegue, ele só consegue o perigo quando está, quando ele recebe algum sinal da presença do perigo. Nós não precisamos disso. Por exemplo, eu digo, bom, agora nós estamos pescando, temos um monte de peixe, nós vamos comer e se não tiver peixe, como é que vem? Nós temos esse medo, não é isso? E daí vamos dizer, a necessidade da previsão é outra coisa que é imposta aos seres humanos. O seu humano não pode viver sem a previsão. Claro que na sociedade moderna a atividade previsiva é atribuída a certas pessoas e a outras não. Então, tem uma faixa enorme que pode viver na total imprevidência, só buscando se divertir, não pensando em nada, porque tem, sei lá, o serviço de mitologia, tem a polícia, tem o médico, tem o pai, tem a mãe. Tem um monte de gente que está preocupada com a previsão para que nada aconteça, que ele é desgraçado e ele não precisa fazer isso pessoalmente. Mas se por acaso acontecer de ele ficar desprovido dessa rede de assistentes, ele está lascado. Então tudo isso são elementos, vamos dizer que eles formam a estrutura da nossa inteligência e todos eles são impostos pela condição terrestre na qual nós vivemos. E o papel do nosso cérebro dentro disso é mínimo, é apenas o papel de registrar, guardar na memória e fazer abstração, sendo que nós guardamos tudo isso no cérebro, todas as informações da nossa memória estão no cérebro, estão no cérebro de uma pinóia. Por exemplo, por que a gente tem bibliotecas? Porque você não vai guardar tudo na cabeça, você volta ao livro e observa de novo. E além disso, o livro, você tem o próprio universo, é um recurso mnemônico. As coisas que estão acontecendo, te recordo, aquelas que aconteceram na véspera. Então, quando choveu, um mês passado também choveu. Então o universo inteiro é um sistema mnemônico, é um sistema de sinais que sustenta a operação da nossa memória de modo a reduzir ao mínimo o trabalho do nosso coetado cérebro. Se fosse tudo depender dele, nós já teremos morrido. Uma outra coisa que se impõe a todos são as direções do espaço. Nós não temos como escapar disso aí. Existe um em cima, um em baixo, um em direito esquerdo, está à frente, para trás. São as direções máximas, você não tem como mudar isso aí. Você pode ir para o lado que você quiser. Mas ele sempre vai estar a uma determinada distância da direita, da esquerda, em cima, da em baixo. Isso se reflete imediatamente na estrutura do nosso corpo. Para onde estão voltados os seus pés? Para trás? Para frente. E as suas perdas estão separadas lateralmente. Olha que coisa que quer dizer que a estrutura do espaço está gravada aqui no nosso corpo. Então eu tenho meios de me mover para frente e para os lados. Então... E exatamente por causa disso é porque você tem os pés para frente e as pernas para os lados, está certo? É que você também pode fazer uma outra coisa, que é baixar e levantar. Que também não é fácil, pergunta para o bebê, quantas vezes ele tenta esborrar no chão? Então ele sabe que ele está tendo que se adaptar a uma condição externa que ele não pode mudar, meu Deus do céu. Se ele pudesse mudar, basta ver ele imaginar que está de pé, ele fica de pé. Tem os caras que falam, o pensamento positivo, você faz assim com os dedos, modifica nada. O poder do pensamento positivo é praticamente nulo. Nós estamos cercados de condições determinantes, absolutamente imutáveis, invencíveis, as quais nós podemos nos adaptar com grande trabalho. Então aí existe outro elemento que também nos é imposto, que é a nossa capacidade de previsão e de imprevidência. Todo mundo tem alguma, você pode ver sem nenhuma? Não, então alguma você vai ter que ter. Porque você quer? Não, porque isso também tem imposto, isso faz parte da sua estrutura. E naturalmente aí existe, junto com a previsão e a imprevidência, possibilidade e impossibilidade, existe a noção de sucesso e fracasso. Deu certo ou deu errado? Se alguma ação humana que escape disso, da possibilidade de dar certo ou dar errado? Não, isso todo mundo aprende. Não, o que você está tentando aprender é andar, você já sabe disso. Deu certo ou não deu certo? Portanto nós estamos dentro de uma condição complexa, abrangente, está certo, na qual se desenvolve para nós a condição de sucesso e de fracasso, também como uma realidade universal. E por fim existe, para terminar essa lista, que é apenas uma lista de exemplos, existe um outro elemento do qual nós não fugimos, eles chamam-se a subjetividade. O que é a subjetividade? As nossas sensações e os nossos pensamentos não se transmitem automaticamente. Eles não são partilháveis em si mesmos. Se eu como, nem por isso você está alimentado. Se eu tenho o dor de dentro, o seu dentro não precisa doer, ou seja, existe a separação, os corpos são discretos, separados. E portanto tudo que se passa não tem correspondência direta no que está passando o outro. Isso significa que nós estamos por assim dizer, presos dentro de nós mesmos. Ora, mas isso é só uma das condições, a subjetividade não nos livra de nenhuma das outras condições, mas é grande a tentação de ver esse conjunto de condições tal como ele se reflete na subjetividade, como de fato aconteceu a partir do século XVII e XVIII. Quer dizer, como se a estrutura do Unigar se estresse em nós. Mas isso é evidentemente uma fuga, assim como no livro do Wilhelm Wohringer, que ele fala que quanto mais primitivo uma tribo, mais ela tende a fazer arte geométrica, não arte naturalista. Por que? Porque as figuras geométricas são mais facilmente controláveis. Então o geometrismo mostra o impulso da inteligência, que se refugia em si mesmos contra a complexidade do mundo que ela não controla. O que é mais fácil? Você desenha um triângulo ou uma árvore? Hum? Um bicho em movimento. E pior ainda, né? Então quando começa a desenhar bicho, você também os geometriza. Bicho de árvore você reduz, tá certo? Então é com a percepção de um gato, um gato vetudo geometrizado. Então com toda essa condição aqui, ainda tem esta que complica tudo que é a subjetividade. Então isso quer dizer que a maior parte do que nós percebemos e sentimos, etcétera, é incomunicável. Então o sentimento de solidão aí é até aterrorizante. Quantas vezes você já não sentiu coisa que você não conseguia explicar para ninguém? E ninguém te entendia, hein? Isso acontece o tempo todo, ser humano. Isso quer dizer que o ser humano, pela sua condição e por esse conjunto de determinantes que pesam sobre ele, pelo fato de que ele tem uma subjetividade, é a subjetividade que lhe permite, é claro, ter a memória, guardar esses elementos todos e conversar consigo mesmo, para refletir sobre as coisas, tá certo? Mas ao mesmo tempo ela o isola. Então este conjunto de determinantes obriga também o ser humano a desenvolver a sua capacidade de manejar signos com uma riqueza incomparável de qualquer outro animal. Quer dizer, o ser humano é o único bicho para o qual tudo é signo. Os outros bichos são sensíveis a determinados signos, que são compatíveis com a sua estrutura anatomfisiológica. Mas para o ser humano qualquer coisa pode se tornar artigo de outra. E isso, evidentemente, facilita de uma maneira extraordinária a nossa comunicação com o nosso semelhante. E na minha que facilita a comunicação, não é só comunicação, comunicação também reforça a memória. Se eu te conto uma coisa hoje, amanhã eu esqueci, eu pergunto para você como é que é? Então quer dizer, esse conhecimento compartilhado, ele é muito mais fácil de ser recuperado a cada momento, de mais que a comunicação não é só comunicação, né? Ela é consolidação de possibilidades de conhecimento e de ação que o indivíduo sozinho jamais teria. Então muito bem. Essas aqui, essa aqui é uma brevilista que eu fiz desses determinantes, das quais eu acredito, toda a estrutura da inteligência humana, o sistema das categorias, o sistema dos tempos verbais, a gramática inteira, tudo pode ser deduzido a partir daí, tá certo? Sendo então, vamos dizer, um esforço absolutamente ridículo, queria encontrar tudo isso dentro do cérebro humano. Tudo que nós descobrimos sobre o cérebro humano só se torna compreensível em função da relação dele com o meio ambiente físico. Se não, nada pode ser compreendido. Vira uma espécie de fetiche. Tá bom? Então vamos parar por aqui daqui a pouco de volta com perguntas. As perguntas podem se referir à aula anterior, inclusive, né? Então okay, problema não. Então, vamos lá. Aqui o Rodrigo Palmeira pergunta, a realidade em posições sucessivas, que nos é dado para a natureza da nossa própria existência, somada à limitação inédita do ser humano e aprender, assim como a necessidade de se colocar forçosamente em uma posição hierarca, nem sempre confortável, não seria um quadro tão assustador que poderia levar uma das raízes da revolta contra a realidade, e por fim ao movimento revolucionário, toda desgraça do caminho contra a realidade, sem a menor sombra de dúvida. Então, a fuga para dentro da subjetividade, quer dizer, uma defesa natural contra o tamanho da realidade que nos cerca, é um elemento constante da história humana. Só que essa subjetividade pode ser coletiva, você pode se fechar, dentro, por exemplo, da ideia ilusória de uma continuidade histórica, que vai terminar, não sei onde, uma situação hipotética, de tal modo que as pessoas que vão entrando nisso, elas sintam uma continuidade histórica, como se elas fossem, vamos dizer, elementos de uma ação histórica continuam. É claro que isso é ilusório, porque todas elas morrem, e saem do cenário, e nada sobra para elas do que elas fizeram. Elas não têm nenhum feedback, quer dizer, a ausência de feedback facilita esse tipo de pensamento metonímico, onde pelo fato de você participar do movimento, você acha que está dentro de uma linha histórica que vai continuar e terminar num determinado lugar, quando você não tem a melhor ideia de onde ela vai terminar. Então, o fato é que a limitação da possibilidade de ação humana é tanta, que se você pegar os maiores, os homens mais poderosos do mundo, eles nunca conseguiram fazer o que iriam, nunca nenhum. Nunca nenhum. Houve na antiguidade uma mais poderosa que o Júlio César, ou na modernidade alguma mais poderosa que o Napoleão, não. Ver os planos deles, ver o que fizeram, os objetivos, ver o quanto eles conseguiram, como ficaram atrás do que queriam. Mesmo se juntando todos os talentos do mundo, dificilmente se encontrará um homem com mais talento do que o Júlio César. Por uma coincidência, estou lendo agora o livro do Thomas Hodkin, que é a história das invasões barbars, e ao mesmo tempo a biografia do César por historiador alemão Christian Meyer. Então, eu estou vendo o começo ali do Império Romano, que ele destruiu a república do Império, e o fim. E você vê que muito antes do fim, o negócio já estava condenado de alguma maneira. Então, se você vê Napoleão morar à parte, até onde ele esperava chegar, e como foi breve o reinado dele, é uma coisa impressionante. Se você for entrar da obra de Stalin, o que que sobrou? Sobrou pedacinhos soltos que estão infernizando a humanidade. Claro, um Stalinismo desconjuntado, fragmentado, ainda está aí. Mas não obedece mais, não tem mais uma inteligência no centro, planejando tudo. E Stalin foi um dos camaradas que mais conseguiram fazer o que queriam. Mesmo esse não durou. Então, como é que você pode... Esse apego das pessoas, vamos dizer, a ideia de uma ação histórica coletiva, que faz ela sentir uma espécie de transcendência temporal. Quer dizer, eu faço parte da história do socialismo, a grande epopeia do socialismo, da democracia, sei lá de qualquer pocaria. É claro que é uma coisa ilusória. É um falso senso de participação. O fato é que a nossa ação termina com a morte. E o que você deixar consequências que foram após a morte, elas vão se diluir necessariamente. Alguém pode mais tarde pegar um pedacinho e aproveitar, mas isso é o máximo que nós conseguimos fazer. Então, essa ideia de você perceber claramente o limite da sua ação, até onde você pode ir, e além do qual não adianta, eu acho que esse é um dos segredos da ação eficaz. Mas, a tentação de você ir muito acima do que você pode, como diz o francês, peidar acima do próprio cu, é outra coisa permanente no ser humano. Por que acontece isso? Porque a inteligência humana tem capacidade de manipular com coisas que estão muito acima da situação dada. O ser humano pode ter o conceito de infinitude, o conceito de absoluto, os princípios lógicos eternos. Pode pensar tudo isso, que vai muito além das suas necessidades básicas. Então, por ter essa capacidade a mais, a mais que apenas de ordem cognitiva, ele pode projetar isso no campo da ação e achar que pode acontecer, na verdade não pode. Alguma coisa nós sempre podemos fazer. Isso para mim foi sempre uma preocupação constante. Eu quero saber o que dá para eu fazer realmente. Quer dizer, essa noção da impossibilidade, eu por ter ficado doente logo no começo da vida, onde praticamente tudo era impossível, então a noção da impossibilidade ficou muito clara para mim. Você tem limites e você não vai transpôr de jeito nenhum. Não é isso? Não, eu fiz exatamente... Bom, deu até um pouco mais de resultado que eu pensava, mas é só um pouco. E eu não sei quanto isso é durável também. Quer dizer, minha ideia era o seguinte, vamos tentar restaurar a possibilidade, não uma cultura superior, mas a possibilidade de uma cultura superior. Para isso não é precisão de um certo círculo de pessoas, que eu calculava em 200, 300. Foi muito mais, na verdade. Mas nós estamos só no começo, eu não sei onde isso vai terminar. Alguma coisa foi feita e teve efeitos políticos que eu não esperava tão cedo, eu sempre dizia que isso vai levar 20 ou 30 anos. Parte desses efeitos políticos foram ejaculações para a Ecosse. Quer dizer, aparece esse movimento de massa, etc., mas você não tem liderança, então não dá ideia, a liderança é uma quim que ataca o quim e o outro. Você fala, não vai dar. Você está precisando de um lê e aparece o quim. Não dá, porra. Apoleá-me na parte. Aí eu falando como Karl Marx, semi-aidragões e colipugas. Quer dizer, mas eu acho que dentro de certos limites, nos centros das proporções, eu consegui fazer crugiria. Quer dizer, os alunos desse curso, eles já estão despertados, a inteligência deles já ligou, agora ninguém vai parar mais. Agora, onde vai isso terminar? Não tem menor controle. Mas também, nunca pensei em controlar, pensei em suflar um negócio e falar, como dizer, tocar fogo, não sei até onde vai. Isso já está tocado e já começou a funcionar, e teve até efeitos políticos, prolifério, não sei. Mas graças a isso, eu consegui, graças a minha auto-limitação, o que eu sei fazer é isso que eu vou fazer. E aí, você precisa ser senador, você precisa ser repouver, você é ministro, você está doido. Eu não sei fazer essas coisas, eu não sei mesmo. Por exemplo, se a pessoa quer me dar um cargo de comando, eu digo, você pode ter um cargo de comando, você tem que dar uma ordem, você tem que ficar em cima dos caras. Todo dia. Eu posso te dar ideia mais certa do mundo. No dia seguinte, eu estou pensando em outra coisa, investigando agora, eu esqueci o que eu não devo você fazer. Se você continuar muito bem, se você não fizer, eu não vou ficar nem sabendo. Então, eu não tenho esse... Eu posso ter um talento arquitético, eu vou lá, vou em edifício, etc. Vai de mestre de obra, de ficar o tempo todo em cima dos caras, eu falo, não sei fazer isso. Então, se eu for fazer isso daí, eu fico preso neste negócio e perco a mobilidade da minha inteligência. Eu estou por toda hora, tenho a atenção despertada para isso, para aquilo, para aquilo, o outro, eu não quero parar. Então, eu não posso ter cargo de comando e com isso em cima nenhum. É isso. Então, as pessoas acham que isso aí é fácil, mas eu quero ter uma continuidade brutal. Se isso tudo é estouando na polêmica ou na parte, ele ficava examinando cada fuzil, cada canhão, cada detalhezinho, todo dia, todo dia, todo dia, isso é coisa de louco. Isso, o cara precisa ter o talento para isso. Eu não tenho realmente, não tenho esse. Eu tenho o talento que eu tenho para fazer o que eu estou fazendo. E não vou subir acima das cheias delas. E olha, até já fiz demais. Nando Cas, pergunta. Essa questão da previsão que o senhor mencionou, que é uma das políticas, para as próprias provisões acertadas, o senhor também se encarça a capacidade de previr o horizonte, sem dúvida. Quer dizer, você, para você fazer uma provisão acertada, você precisa ter uma ideia do horizonte e de consciência dos personagens envolvidos. Até onde eles enxergam e para além da que vocês não estão sabendo. Então, é que, portanto, a partir de que ponta as suas ações não são mais controláveis, já não podem desempeiar os efeitos que o senhor está aí. Então, por exemplo, esse pessoal, todos os teóricos, intelectuais, do PT, etc. todos eles foram criados na base da luta de classe. Então, eles vão interpretar tudo na base da luta de classe. Só que o seguinte, onde estão eles? Na sociedade, eles não sabem. Então, mesmo que o seu diagnóstico de luta de classe esteja certo, o seu papel na luta está errado. Ah, eles ainda acham que são representantes do povinho e que são a classe dominante. Mas quem apoia o PT? São os banqueiros, são as 15 famílias mais ricas, é a grande mídia. Eu dou horários, eles é que são a classe dominante. Mas talgo tem algum escotomo ali que impede eles perceberem isso. Eles se identificaram de tal modo como os líderes do proletariado, que agora não tem mais jeito de eles perceberem quem eles são. Ua falsidade. Eu acho que não é tanta falsidade. Eles não estão fingindo, eles acham isso mesmo. E quando eles acham que as discussões internas do partido, os caras dizem verdade, eles dizem aqueles que estão achando que eles não estão a enganar seus companheiros, eles estão tentando um diagnóstico mesmo. E todos os diagnósticos são desse tipo. Quando eles acham que o movimento é golpista, eles acham que você já viu 90% da população dar um golpe de estado. Não existe uma coisa dessa, né? Tem que fechar aí. O cachorro está querendo comer as pessoas aí. Então então eu acho que nessas análises internas, eles são sinceros. Eles não estão enxergando mesmo. Piraram da cabeça, estão fora do mundo. Então ficou uma situação patética evidentemente. Aqui até o Cheyenne falou, porra, se tivesse consultado você, você teria ensinado como consertar um partido agora não dá mais. Por que? Porque eu estou buscando esses diagnósticos mesmo. Eu estou fazendo isso a sério. E eu acho que para isso para você fazer o diagnóstico acertado é absolutamente necessário que você se enxerga, né? Quer dizer, você não tem cargo, você não tem posição, você não tem partido, você não tem grupo, você nada. Então eu vejo as coisas do jeito que eu estou querendo ver, porra. Eu faço as perguntas e busco a resposta. Para ter a liberdade para fazer isso, você precisa não ter responsabilidade de outro nível. Né? Nível político, religioso, moral, etc. Não tem esses compromissos aqui para ver o que está acontecendo mesmo, né? E as pessoas não estão, você tem entender? Elas estão lá lutando por um resultado que já foi escolhido dentro de mão. Não. Alguém me pergunta aqui, Gabriel Campos. Há relação dos fenômenos astrologais, a posição das pirâmides ou de outras construções antigas. Depende qual sistema astrologista está falando. Alguns tem, alguns levam essas coisas em conta, outros não. Então, assim, é o que eu falei na hora de ver, né? Existe uma astrologia, existe um monte de astrologias diferentes. São sistemas diferentes, às vezes incomunicáveis. O material astrologial, bibliográfica astrologial, é um caos, é um caos. Você não consegue se orientar no meio daquilo. Não tem nem o que entrar lá com referência teosófica, antroposófica, espírita, maçônica, gnóstica, o diabo, tem, tem, tem, tem. Então, para como é que eu vou separar o que é a astrologia mesmo, do que é o binocínio do cara, às vezes não dá para fazer isso. Isso, os melhores livros da astrologia são assim. O nego está falando um negócio que parece que ele deduziu direitinho, ele leu lá um morrão de VFR, não deixa de estar de repente, entra um treco de reencarnação de não sei o que, que morrão de VFR, nem sabia o que era. Então, eu acho que a questão do fenômeno astral em si é um desafio cognitivo enorme, como eu demonstrei para vocês. A questão da astrologia é muito pior, é muito pior. Então, eu acho que quando as pessoas desistem de tratar do assunto, ou começam a criar opinião a respeito sem mais nem menos, sem motivos motivos, na verdade existe um motivo. É que o problema é grande demais para ela, então elas não querem estudar, é melhor emitir opinião besta qualquer, é melhor. É por isso que você pega, pega uma história da astrologia, você vai ver como o negócio é complicado. Ah, essa aqui, Ailton pergunta, a noção do certo e do errado também entra nesse exemplo de determinações que não são impostas. Bom, é fácil você observar o seguinte, a atitude de aprovação e de desaprovação sempre existe em qualquer cultura. Portanto, é possível existir uma comunidade humana sem que nenhuma conduta seja aprovada ou desaprovada? Não, então isso aí também nos é imposto, quer dizer, nós estamos colocados numa situação onde alguma opinião sobre o que o Zotão faz é nós vamos ter. Agora, o conteúdo e os motivos desses rios variam de cultura para cultura, mas alguns sempre têm que ter, então você dizer, o certo e errado, considerado abstrátamente e independentemente do conteúdo do certo e errado, sem dúvida estão aí. A noção de algum certo e errado, sem dúvida, é universal e não é uma coisa da qual o ser humano possa escapar. Eu creio que, vou dizer, numa civilização urbana já o também é desenvolvido que tem, vamos dizer, um coeficiente enorme, de vagabundo sustentado pelos outros que não precisa fazer nada. Tipo na Holanda, 10% da população trabalha e produz o suficiente para sustentar os outros 90, então é possível aparecer lá um cara que diga, eu nem ligo por certo e errado, nem quero saber disso aí, mas isso é uma estação moderna, criada pela abundância, portanto, uma situação artificial, assim como, por exemplo, coisa como o direito das mulheres, é criada pela abundância, porque enquanto você está numa situação primitiva, onde você precisa contar com mais forte para te defender, então é claro que o mais forte que te defender ele mesmo, porque vai mandar em você, não tem barriga-me-dói, sempre foi assim. Então, a mãe é mais forte do que o filho, então quem protege o filho é a mãe, então ela manda, agora tem o pai, que até mais forte, protege a mãe e o filho, então é ele que manda, isso é inevitável. Agora, a abundância, e uma sociedade extremamente organizada, como nós temos hoje, cria situações que eram impossíveis antes, e situações para os casos ser humanos não estava preparada, então aí vão começar a surgir e 10, 500, eram impossíveis, eram enviáveis, né, isso? Então, como você separar, por exemplo, o sexo da procreação, só numa sociedade muita abundância, muita riqueza, né, isso é o que surge, vamos dizer, o sexo recreativo, isso nunca existiu, meu filho, existiu só para gente muito rica, né, isso? Então, se você for, ah, na idade de médio, quando o Sneginho tinha sexo recreativo 2 ou 3, então, essas, essas coisas vão dizer, uma situação de abundância criada pelo capitalismo, vamos dizer, aparecem possibilidades que não existiam antes, e que a gente não sabe direito como lidar. E agora de gaisismo, por exemplo, você vê tribo, americanas, onde tinha o fenômeno do sujeito sexualmente invertido, né, que virava então uma mulherzinha do outro, em algumas não havia desaprovação, aí isso, tá certo, mas considerava que o Nega era biruta, e ele não reprovava a conduta dele, mas reprovava a conduta do Márcio que casava com ele. Todo o motivo, muito simples, ver como a vida dura. O homem mesmo, sendo por mais homossexual que ele seja, é mais forte que a mulher, então o cara que casava com ele, é como se ele tivesse casado com duas mulheres, tem uma força extra trabalhando para ele, então era como se era um explorador da, explorador do do gaisinho. Então, alguma aprovação, desaprovação, sempre, aí isso muda de sociedade para sociedade, e muda de acordo com as possibilidades reais disponíveis. Como as possibilidades de hoje são imensas, e as pessoas podem passar a vida numa espécie de adolescência perpétua, que que é a adolescência, a idade onde nada tem consequências, onde você pode experimentar tudo. Eu a pessoa, fico experimentando, né, que é virar cavalo, que é, sei lá, virar hipopótamo, então, quer dizer, a abundância também é a abundância de possibilidades, mas não quer dizer que as possibilidades vão ser realizadas, muitas delas são apenas imaginárias, e o indivíduo que as vivencia, ele pode até querer que os outros aceite aquilo como real, mas também isso tem limites, pois é por negociador que acredito o senhor me disse em hora, e eu digo, bom, até certo ponto dá pra gente fazer isso, mas pra todo mundo fazer isso, obrigatoriamente, pra não verdade, tem um limite também, onde chega, vamos dizer, é uma conduta teatral, querendo ser teatral imitativa, querendo ser tomada literalmente como se fosse uma coisa real, você pode fazer isso, até um certo ponto, né, por educação, pra não ferir a pessoa, mas se ele abusar muito é, as crianças percebem claro, as crianças percebem, o Pedro, a Leila, quando vira o Michael Jackson, ele é homem ou mulher, não sei, então tudo passou a ter três sexos, era homem, mulher e Michael Jackson, ahahahah também o dia, o Pedro viu na praia uma mulher de top less, e ele, mãe, olha os mamados dela, né, você não pode mostrar o cê, e queria que ele permaneça invisível, mostra o cê, mostra a bunda, mostra a perna, mas não quer que ninguém olhe, não vai dar, pelo menos uma criança vai olhar, né, e falar, a abundância de distorção psico patológica, que eu não conto, olha, eu não sei, eu nunca vi um cálculo desse, hoje tem mais louco do que antigamente, ou ao menos mais variável, dá pra saber, porque essas condústrias, elas não são loucas, as condústrias não são loucas, em si, o jeito não precisa ser louco pra fazer uma coisa dessa, não é isso, não é? Basta ser um pouco ensinado na praia? Não, também não precisa, também não precisa, quer dizer, basta ele ter algum motivo por pequeno que seja pra ele fazer isso, na sua satisfação, na sua satisfação da sua fantasia sexual, por exemplo, não é uma coisa louca, em si mesmo, né, isso, quando é em outra situação, seria imediatamente tida como louca, mas, a partir do momento que essa possibilidade começa a ser materialmente realizável, até a certa um ponto, não é isso? O outro, eu tenho que se adaptar aí, a singulha e a estação, então esse caso, por exemplo, vamos dizer da mudança de sexo, eu negoperar o sexo, e ele aí não tem mais volta, bom, aí você vai ter que aceitar ela como mulher de qualquer jeito, porque, fazer o que? Mas eu quero que não que a fazer isso, mas que ele que a ser aceito como mulher, ah, eu quero ser aceito como mulher, mas quero conservar o meu peru, bom, é uma possibilidade, socialmente, hoje, mas nunca será inteiramente confortável para os outros, sobretudo, e dizer que o cara é louco, não resolve nada também, não é não saber se é louco, eu sei que está criando uma situação insuportável para nós, também isso varia, porque se fomos gente bonitinha, com um cara de menina, todo mundo aceita, porque ele está parecendo laerte, e fala, pera aí, pera aí, minha importação tem limites, parece um chorzenegre, então, vou dizer, essa violação da percepção humana, hoje, é uma coisa muito comum, porque, quanto maior o número de pessoas que estão querendo produzir um mundo melhor, de acordo com a cabeça delas, mais pessoas serão forçadas a fazer o que não querem, a ver o que não estão vendo, e a dizer que vem aquilo que não vem, né, isso, então, provavelmente, esse problema vai aumentar muito, todo esse código politicamente correto é isso, forçar as pessoas a admitir que estão vendo, uma coisa que elas não estão vendo, de jeito nenhum. É, vamos ver, o que mais aqui. Valdir, filho, pergunta, qual é a medida que a filosófica serve de socas e eu devo aceitar? A regalha, que vê um avanço filosófico continua após socas, o anitiana, que identifica o caráter negativo na filosofia socrática, eu digo, bom, é por um lugar, por que você tem que se definir com respeito da positividade ou negatividade o curso inteiro da filosofia em dois mil e tantos anos? Quer dizer, essa ideia de, foi um progresso ou foi um retrocesso? Eu digo, mas quem diz que isso pode ser visto em termos de progresso ou retrocesso? Primeiro, você precisa resolver esse problema, você precisa saber se existe o avanço ou retrocesso. Isso, digo, sobre certos aspectos, ah, e sobre outros, não, não é uma questão que possa ser resolvida com uma resposta científica, portanto, tem uma questão de gosto, se você gosta, você diz que é positivo, se você não gosta, você diz que é negativo. Não vai passar daí, é. Como diz o Jango Mararosa, pô, põe essa questão de opiniões. Eu acho tudo isso uma arbitrariedade, tudo isso é uma frescura moderna. Bom, eu acho que o povo não vai ter que... Ah, pera aí, tem duas perguntas que vieram aqui através da casa, né? Fale bem alto. Ele é muito novo. Ele pergunta, tem uma perguntinha simples. Como perseverar nos estudos? É porque não importa o que eu faço, sempre tenho dificuldades pra estudar. Parece mesmo uma dificuldade de constância em tudo. É simples, só estuda aquilo que você deseja desesperadamente saber e ignora o resto. Se você quer saber, sei lá, quem vai ganhar o jogo amanhã, é melhor você estudar isso. E se você quer saber, sei lá, existe vida no planeta Marte, é melhor você estudar isso. Não estudo o que você não quer saber. É muito simples. É o John Taylor Gato, se professor americano teve um maior sucesso ensinando para as crianças o que elas querem saber e esquecendo o resto. No fim, ela é um grande e esquecendo o resto. No fim, elas acabam através daquilo que elas querem saber e elas aprendem o resto também. Então não force jamais, mas veja, todos nós temos perguntas que para nós são dramáticas urgentes. Vai em cima destas perguntas e esquece o resto. Isso. Por exemplo, se as mulheres só pensam em mulheres, bom, por que as mulheres não estão ligando para mim? É uma boa questão. Vai estudar isso, rapaz. Você vai descobrir grandes coisas a partir dessa questão. Por que eu estou duro? Eu não tenho dinheiro. Vai estudar isso, como é que faz para ficar rico? Se os seus interesses não são de ordem nominalmente intelectual, mas já é interesse de outras ordens, eles têm a sua relevância intelectual também. Quando você vê uma mente universal com Aristóteles, você vai escrever até um livro de economia doméstica, meu filho. É um cara que se interessava por tudo, mas ele realmente se interessava por tudo. Ele nunca estudou nada porque era obrigação curricular ou para tirar um diploma. Ele queria saber. Então faça isso, veja o que você requer realmente saber e você não terá mais dificuldade nenhuma, que senão de motivação. Vamos lá, tem outra pergunta. A outra pergunta, uma prazer de eu, aquela pocheira, senhor da inteligência, a verdade, é uma certeza. A pocheira, ele diz que o senhor fala que a inteligência é a potência de conhecer e compreender a verdade. No entanto, muita gente define a inteligência como o ato de pensar, raciocinar, etc. A minha dúvida é, a inteligência se resume exclusivamente ao senso de compreender a verdade ou a definições mais complexas sobre a inteligência? Hoje em dia se dá o nome de inteligência, a uma série de operações secundárias que ajudam você a compreender alguma coisa. Por exemplo, raciocínio lórico, raciocínio matemático, imaginação espacial, senso estético, tudo isso ajuda. Mas o fato é o seguinte, você quer saber o que? Tudo que você quer saber, pressupõe uma verdade desconhecida que está por lá de lá e é lá que você quer chegar. Você não quer uma história da carochinha, ninguém quer uma história da carochinha. Então o objetivo da inteligência é o conhecimento da verdade em qualquer plano que seja. Por exemplo, se você quer saber como eu faço para cantar todas as mulheres, você quer saber isso de fato, ou você quer saber a história da carochinha? Então você quer saber de fato, então você está buscando a verdade. Como é que eu faço para ficar rico? Ou você quer uma resposta verdadeira ou falsa? Então tudo o que nós estamos buscando é assim, é uma verdade por enquanto vazia, é uma incógnita. Mas que você espera que seja preenchida com uma verdade. É não é isso? Portanto, todas as faculdades que servem a isso elas não são a inteligência. Mas no número de recursos cognitivos que você precisa mobilizar para você descobrir qualquer dessas coisas. Você pode precisar de memória, imaginação, raciocínio, tudo o que tiver. Portanto, essas funções elas não são a inteligência. Então, a inteligência pode ser medida ou pode em termos da sua rentabilidade na busca da verdade. Mas isso pressupõe que o cara que vai medir a inteligência ali conhece aquela verdade. Se ele não pode medir. Então o que ele vai medir? Vai medir apenas a operação de certas faculdades. Todas as faculdades servem para você conhecer a verdade e para você errar também. É só a capacidade de conhecer a verdade mobilizando os recursos que são necessários para isso. Todas as capacidades cognitivas você tem. Memória, raciocínio, imaginação, vontade, sentimento, tudo o que for preciso. Então agora, chamar de inteligência essas coisas é fazer abstração, da rentabilidade do conhecimento. Então, você entra em outro conceito de inteligência quando o Dr. Milner fez bem maluco com o consultório dele, contava um delírico isofrênico daqueles e ele falou, rapá, você é um gênio. Não é qualquer um que vende uma pocaria dessa. Só se você considera inteligência assim, se você inventar a história da caralho, você se engana a si mesmo. Mas não é o que ninguém quer. Isso quer dizer, não há ser humano que não reconheça a verdade como um valor. Todos reconhecem, mesmo os mentirosos. Se o sujeito conta uma mentira pra mim, ele quer que eu acredite ou não? Quer que eu acredite? Ele quer que eu acredite de verdade ou o que eu finge, que estou acreditando só pra enganá-lo por minha vez? Então, até o mentiroso quer a verdade. Então, tem que ter alguma capacidade da veracidade que seja o conhecimento da verdade e que é a inteligência. Agora, os instrumentos que você usa, memória, raciocínio, imaginação, senso estético, tudo, tudo, serve pra chegar na verdade e serve pra chegar no erro do mesmo modo. Quer dizer, essas faculdades, elas não têm a garantia da veracidade. Elas apenas operam no nível que eles é próprio. Não é isso? Agora, é a inteligência que tem a capacidade de articular essas coisas em função de um objetivo que é o conhecimento da verdade. Só pedindo a Deus, né? Querendo, porque, no meu lugar, querendo. Porque nós devemos pedir pra Deus uma coisa que você acha que deveria querer, mas no fundo você não quer. Então, você precisa querer, de fato. Pedir a Deus também, muito bem, é também um negócio meio complicado. Porque qual é a comunicação efetiva que você tem com Deus? Qual é o canal? É um canal ritual, é o canal da confissão, qual que é? Então, pedir a Deus também não é fácil. Quer dizer, o que você pede a Deus com a periferia do seu ser e eu acho que ele nem ouve. Ele não quer saber. Deus não quer saber a história da carochinha. Deus não quer saber do seu teatro. Então, por isso que eu digo, primeiro é que você o quer realmente. Querer de tal modo que você possa chegar dentro do próprio Deus e dizer, eu quero isso. Eu morbo isso. Se não, não. Ah, eu quero só um pouquinho. Se for uma frescura, um capricho, eu vou chegar para Deus e pedir um capricho. É melhor que você pedir para Deus te dar a mulher do vizinho. Não está lá para isso. Está certo? Então, onde? É o negócio do Lorde da Arábia. Nós podemos tudo o que queremos, mas nós não conseguimos querer tudo o que queremos. Então, o querer verdadeiro, sincero, é a coisa básica. O que fazer com que não querem, mas querem querer? Querem ter a vontade, querem ter a motivação, mas não tem. O que você faz com isso? Na verdade, eu não sei como é que resolvemos isso aí. Mas supondo que o sujeito esteja no estado de impotência avolitiva, ele quer querer, mas ele não quer querer. E ele se queixa disso. Está certo? Eu diria o seguinte, você vai afastar tudo aquilo que você diz que quer. Vai sobrar só aquilo que você não pode viver sem aquilo. Alguma coisa ele vai querer mesmo. Sempre vai ter alguma coisa no fundo. Mas acontece que a fantasia, o que a gente chama o melhor desejo, o desejo não chega a ser uma vontade ainda. É uma coisa que ele passa pela cabeça que não tem profundidade. Então, você vê uma mulher gostosa na rua, você tem um desejo dela. Você não quer dizer que você vai atrás dela e fazer alguma coisa e casar com ela no fim. Então, a multidão de desejos encobre o que é a vontade verdadeira. Então, não se trata de reforçar a vontade dele, mas de apagar a multiplicidade dos desejos. Você vai se desiludir com esses desejos. Isso aí você não quer mesmo, isso é besteira. É frescura, teatro. Para encontrar o que ele quer. Alguma coisa todo mundo quer. Hoje em dia é difícil porque os objetos de desejos que são mostradas a nós são inúmeros indefinidos. Você liga a televisão para outro Japão, e eles são trocentos. Eu quero um ronda, não sei o que, eu quero um hotel das barramas. Como é? Cuidado isso diminui o corpo. Diminua, mas diminui na medida que dá. Diminui a força voletiva também. Então, não adianta. É aquele negócio, aos 80 anos o cara descobriu o que eu quero. Agora não tem mais energia para ir atrás. Então, você acha a atitude mais importante do que a paciência? Com esse assunto? Eu acho que a imaginação do objeto desejado é o que mais importa. Você consegue imaginar aquilo e ver se ele quer realmente aquilo. Por exemplo, eu acho que o cara que escreve com suficiente clareza para as pessoas entenderem. Isso eu quis desesperadamente. Eu não quero, porque eu estou falando sozinho. Eu não quero escrever um negócio pedante, que só eu e mais eu quero que vier para todo mundo e quero que isso funcione. Mas eu quis muito isso aí. E treinei durante muitos anos para conseguir. Consegui, mas isso eu queria mesmo. Teu atitude que eu só disse que queria. Mas não estava disposto a lutar por aquilo. O número de mulheres que eu disse que eu queria, eu teria superado o Don Juan, quando o Melhétrae... Na verdade eu queria ninguém, só fantasiando. Mas diante dessa oferta muito de desejos, como de ser novo? Mas eu não sei, isso aí cada um tem que se virar, porque como eu vou saber o que o neguinho quer mesmo? É só ele sabe. Claro, aquilo que você não pode viver sem. Aquilo que você não tivesse, você vai querer morrer. É isso. E olha, de novo, as pessoas querem poucas coisas. Então eu descobri essas e fazer essas. De fato, o número de objeto de desejo é um monte de fantasias. E você se perde no meio daquilo. Pior, você tem um negócio de desejo mimético e complica mais ainda. Quer dizer, você acha que é aquilo, porque você acha que os outros estão querendo aquilo também? É que complica mais ainda. Então isso aí, você resolve por redução. Não precisa fortalecer a vontade. É só concentrar no que você realmente quer. Então acho que por hoje vamos por aqui. Deu para entender tudo. Então até por semana que vem. Obrigado.