Bom, vamos lá. Boa noite a todos, sejam bem-vindos. Você deve ter encontrado aí um texto para a Honda de hoje, com o título provisório em busca da Unidade da Filosofia, que é um capítulo do livro Introdução Metropológico, que eu estou escrevendo mais ou menos com base na transcrição das aulas do curso, que foi dado com esse nome. Mas não é uma revisão da aula, é um livro novo, que eu estou escrevendo vagamente inspirado nas aulas. Na verdade, a simples correção das transcrições não é satisfatória de maneira alguma, porque fica faltando muita coisa que na hora, na exposição oral, você não lembra, mas que está de certo modo subentendido no que eu estou falando. Muitas vezes tem frases que parecem muito genéricas, mas que se refere a coisas muito específicas. Não é que se refere a lúdia, a situação muito específica, que depois no texto tem que ser trocado em miúdos, explicar exatamente do que eu estou falando e dar toda a documentação. Eu garanto para vocês que nada foi dito nesse curso, que seja apenas um improviso genérico, tudo ali tem fundamento e pode ser documentado. Para isso eu preciso realmente reescrever cada curso do começo até o fim, o que eu pretendo que me mantém ocupado durante esse ano e talvez alguns anos pela frente. Eu acho que tenho obrigação de terminar essas coisas, mas tem que fazer isso até o limite do que for possível. Então eu vou ler e comentar esse texto. Eu acho que alguns trechos desse livro já liam aqui, não sei, trechos anteriores, mas de qualquer modo esse tema também se encaixa dentro do assunto da zetologia. Tem muito que ver e pode ser usado nesse sentido também. O problema que eu discuto nesse livro são dois. Primeiro, o que é a filosofia? É uma característica da filosofia que é a única disciplina que se define a si mesmo. E apesar de essa ser uma das suas incumbenças fundamentais, ela não realizou até hoje. Quer dizer, toda hora o conceito de filosofia é recolocado em questão por um motivo muito simples. Existem inúmeras coisas que podem fazer com o nome de filosofia e novas coisas que estão sendo inventadas a cada momento, de modo que você criar um conceito que abarque tudo isso e que circunscreva o seu objeto de maneira clara e definitiva se torna uma coisa quase impossível. Nós vamos ver aqui nesse texto algumas das causas disso aí e como de certo modo remediar a situação para ajudar os recém-chegados. É claro que ninguém chega num curso de filosofia sem saber alguma coisa além da palavra filosofia. Quer dizer, se ele tem alguma ideia do que ele pensa que seria filosofia. E essa ideia realmente é claro, é de uma atividade intelectual que se desenvolve sobretudo no meio universitário e com algum suporte editorial e algum suporte da mídia. Mas aí nós temos uma situação para a doccção, porque este conceito inicial ele serve para qualquer disciplina que seja. Se você perguntar o que é economia, de bom economia também, uma atividade intelectual que se desenvolve sobretudo nas universidades com suporte editorial e na mídia. O que é medicina? A mesma coisa etc. Só que essas várias disciplinas além delas terem esta imagem genérica elas têm uma definição mais precisa do seu objeto. De modo que a imagem que o princípio ante traz quando ele entra num curso de filosofia ou vai ter uma conferência ou filosofia, ela serve para qualquer disciplina com a diferença de que a respeito dessa disciplina ele sabe mais alguma coisa referente a substância ou objeto de que essa disciplina tratia da filosofia não, ele sabe somente a patria genérica. Então é claro que você tem uma confusão inicial que na verdade a mídia ajuda a propagar a confusão, na medida em que toda hora transmite entrevistas e falas de novos filósofos e com isso a imagem vai se dissolvendo cada vez mais. Então eu achei que era uma forma de ser preciso retomar o conceito de filosofia desde a sua base, desde o seu centro, desde aquilo que fosse que atendesse a critério aristotélico das definições, quer dizer, a definição tem que abarcar todo o seu objeto e nada fora do objeto, quer dizer, ela tem que abarcar e distingui-lo. E o fato é que nenhum conceito de filosofia que circula na praça atende a esse requisito. Há alguns livros de introdução como a famosa lição preliminária de filosofia do Manuel Garcia Morente, que é muito famoso no mundo inteiro e na minha época foi lido por um bocado de gente, eu não sei se é lido ainda, mas marcou uma época, ele já começa dizendo que é impossível você conceituar a filosofia de início, você tem que chegar a um conceito de filosofia através dos exercícios da própria filosofia. Bom, isso em parte é verdade, mas se ele já chegou o que que impediria ele dar esse conceito logo no começo mesmo advertindo que esse conceito não será plenamente compreendido de início, mas o seu sentido pleno só se revelara no fim da coisa. Muitos outros livros discutem esse problema, tem um livro do Wilhelm Diltrey, a essência da filosofia, livro do Max Scheram, todos eles problematizam de algum modo o conceito de filosofia. Então eu decidi fazer um estudo que chegasse ao seguinte, qual é aquele mínimo sem o qual você não pode dizer que não é um filósofo? E que se atendido ele será um filósofo por mais que as suas atividades, as suas, seus escritos, as suas ideias sejam diferentes das dos outros. É certo? Esse mínimo tem de existir porque nós continuamos usando a mesma palavra filosofia e de algum modo quando as pessoas ouvem falar disso elas vagamente sabem do que se trata. Então o objeto é reconhecível ainda que a sua essência, entre aspas, será difícil de anunciar, quer dizer é mais um problema de anunciado do que um problema da substância mesmo. Então em vista disso aqui eu criei essa introdução metafilosófica e divido em duas partes, primeiro conceito de filosofia e segundo o que é o método filosófico, quer dizer o que é filosofia e o que os filósofos realmente fazem, o que com o treino tem de fazer para ele ser um filósofo. Se ele estiver fazendo outra coisa então não é um filósofo ainda que pareça. Então eu vou ler e comentar esse texto aqui. Em duas páginas que já citei muitas vezes nas minhas aulas, o historiador Wolfgang Stegmüller resume com o brilhantismo o processo de fragmentação do campo filosófico ao longo dos dois últimos séculos. São quatro etapas. Num primeiro momento diz ele a uma diversidade de opiniões invencível e irredutível. Muito bem, a diversidade de opiniões é uma coisa que tem sido ponto de partida de muita investigação filosófica desde o tempo de Platão e Aristóteles. E os próprios diálogos platônicos seriam impossíveis se não existisse uma diversidade de opiniões. Quer dizer a diversidade de opiniões é um pressuposto, quer dizer da investigação filosófica. Existe investigação filosófica porque existe diversidade de opiniões, se todo mundo concordasse. Não seria uma investigação filosófica. Porque a teologia se distingue da filosofia, porque ela parte, vamos dizer, de um corpo de texto que tem o valor dogmático, quer dizer, que ele é admitido como verdade preliminarmente por todos. E daí podem seguir diferentes interpretações, mas você tem a base, o centro da coisa já está garantido de uma vez por todas e não há discussão a respeito. E na filosofia, evidentemente, a situação não é essa. Você não tem essa base comum. Você tem vários pontos de partida diferentes, inclusive com interesses intelectuais diferentes. Se você vê para o trauma do Filosofio Pessoa Cráticos, eles estavam interessados sobretudo em fenômenos da natureza e de repente aparecem sokers cujo interesse é eminentemente a sociedade humana. Então, eles estão fazendo perguntas diferentes e obviamente obtendo respostas diferentes, mas sempre deve haver a possibilidade de um conflonto ou de uma comparação. Então, essa diversidade de opiniões, essa logomaquia, como você quer dizer, é a luta entre vários discursos. Ela é, certo, uma forma de um pressuposto da filosofia. Isso sempre existiu. E o Stegmirro está pegando aqui a sua narrativa a partir do século 19, onde então essa diversidade de opiniões tinha se tornado um fato irredutível. Quer dizer, não é possível mais confrontá-las no esforço dialético e chegar a uma conclusão que seja aceita por todas. No entanto, diz ele, resta a relação de discussão baseada na esperança de um futuro acordo possível. Fiz a discussão filosófica prosseguia, ainda que se reconhecesse que havia chegado a um ponto onde as várias opiniões eram irredutíveis. Já não podiam mais ser conciliadas de algum modo. Por exemplo, você pegar, qual seria uma conciliação de idealismo e materialismo? É difícil, é difícil, é difícil, bom, tentou-se, várias tentaram, mas essa era a situação no século 19. A situação já se torna pior quando a base que se tomou como ponto de partida, os métodos de pensamento foram totalmente divergentes. Então, pode-se chegar a um ponto em que já não é mais possível nenhuma discussão. Os argumentos e contraargumentos parecem cair no vazio, diz ele. Não obstante, a inexistência da possibilidade mesmo, não obstante a inexistência da possibilidade mesmo de um acordo, resta no entanto a relação de comunicação. Cada filósofo conhece e entende o que os outros estão fazendo. Mas logo a relação de comunicação cessa de existir. Um não consegue atribuir nenhum sentido aquilo que o outro afirma. Sub-sistir, você ver, quando a escola analítica começa com Bertrand Russell e Ludwig Wittenthal, que depois tomou outra direção, um dos seus pontos básicos é que muitas das afirmações filosóficas, não é que elas estão erradas, não fazem sentido. São afirmações que ou são tautológicas, são vazias de sentido. Então existe toda uma escola filosófica cujo ponto de partida é a negação de sentido aquilo que as outras escolas filosóficas estão fazendo. Então, já não é. Se o que o outro está fazendo não tem sentido, não é possível uma discussão. Quer dizer, eu vou tomar uma direção, eu vou tomar outra. Sub-sistir, no entanto, uma relação intencional. Cada um não entende o que o outro quer dizer, mas continua acreditando que ele também, de algum modo, busca o conhecimento à verdade. Por fim, até a relação intencional desaparece. Um não apenas não entende o que o outro diz, mas a própria atividade que esse desempenha e a qual dá o nome de filosofia lhe parece desprovida de sentido. Atinge do estado da ausência total de comunicação. Então, essas quatro etapas descritas pelo Wolfgang Stegmüller. Até que ponto essa descrição corresponde aos fatos, é algo que você pode conferir imaginando um debate entre um marxista leninista, um aristotérico tomista, um desconstruccionista e um transhumanista. Existe ainda filósofo representante dessas quatro tendências, você juntava na visão conversar sobre o que. No entanto, houve algumas tentativas memoráveis de reduzir o caos filosófico, um debate internacional organizado, do qual deveria verger algo como um corpo de conclusões universalmente válidos. Quer dizer, estamos no outro extremo. Por um lado, vimos um caos inabarcavel e reductível, onde nem mesmo um diálogo é viável. Mas, ao mesmo tempo em que isso estava acontecendo, havia escolas de pensamento que propunham a transformação da filosofia naquilo que Husser chamou uma ciência estricta. Quer dizer, você dá uma estrutura científica à filosofia e o diálogo filosófico se torna algo similar ao que é o debate nas demais ciências, onde se produzem resultados acumulativos, resultados que são reconhecidos como universalmente válidos e que são um ponto de partida para novas investigações e novas descobertas. A mais notável foi Edwin Mundo-Husserl com seu projeto de filosofia como ciência estricta. Ele acreditava que usando os critérios da sua lógica pura e do seu método fenomenológico, seria possível arregimentar os filósofos numa comunidade científica habilitada a produzir conhecimento acumulativo como fazem as ciências matemáticas naturais transmitidas de geração em geração o patrimônio das conclusões adquiridas. O sonho não se realizou, evidentemente, já que a própria escola fenomenológica acabou se fragmentando e orientação em diversas e mutuamente incompatíveis. Porém, ainda mais ambiciosos foi o projeto do nosso Mário-Ferreiro dos Santos. Ele acreditava que ao longo da história não apenas os filósofos haviam alcançado muitas conclusões válidas e definitivas, mas elas formavam por si mesmas um sistema, uma espécie de unidade transcendendo as filosofias que podia ser expresso numa hierarquia de proposições. Então ele chamava isso as positividades conquistadas pela filosofia ao longo do tempo. Ele disse que se você fizer a lista, você verá que não é só um aumento, uma lista, mas que tem entre elas uma hierarquia, um sistema, uma coerência interna. Então existe uma espécie de metafilosofia que pode ser expressa verbalmente. Ele chamava essa unidade ou metalinguagem de todas as filosofias a Matésis Meghiste, ensinamento supremo, pegando um termo pitagórico. E chegou a reedigir com brilho em comum várias vastas parcelas desse sistema, sobretudo nos seus livros finais, a tese que começa com a sabedoria dos princípios, sabedoria dos seres do nada, a sabedoria das leis eternas, etc. Já é uma expressão verbal explícita da Matésis Meghiste. Quer dizer, eles dizem que não são teses minhas, essas tese estão embricadas por assim dizer, no próprio desenvolvimento histórico da filosofia, representam as positividades, quer dizer, as certezas alcançadas. O preço do empreendimento era excluir do sistema os erros e desvios, que no obstante continuavam a fazer parte da história da filosofia, o que implicava que a Matésis Meghiste era apenas uma unidade virtual, não uma realidade histórica. Nunca não tivesse existido historicamente, mas entremeada de tese ideias que não se encaixavam nela, que nesse caso seriam excluídas como erros, desvios, defeitos, etc. Então, ela existiu historicamente, mas não era uma unidade historicamente, essa unidade só existiu na mente do Mário Ferreira, porque ele juntou tudo isso e criou uma espécie de unidade ideal da história da filosofia. O que, de melhor e mais sólido, os filósofos alcançaram ao longo do tempo, excluindo o evidentimento daquilo que não se encaixasse. Embora ela existisse como fato, a não exer comunidade, quer dizer, os filósofos não expressaram essas várias teses, eles não estavam se apoiando uns aos outros, não estavam continuando um trabalho, a convergência era de tipo lógico e não de tipo histórico, então sentenças ou proposições que se reforçavam uma a outra espontaneamente, embora tivessem sido formuladas de maneira independente. Qual que seja o caso? Uma coisa certa. Um conjunto de discursos que pode ser descrito ao mesmo tempo como um caos inabarcavel e como um sistema hierarco de proposições verdadeiras não podem, em si mesmo, ser uma coisa nem a outra. Quer dizer que você pode chamar de filosofia ou um caos de discursos incomparáveis e inconfrontáveis, como descreve o Wolfgang Steigmeiler, e ao mesmo tempo você descreve esse mesmo conjunto como um sistema hierárquico, logicamente estruturado de proposições verdadeiras. E se você pode dizer essas duas coisas a respeito desse mesmo objeto, então ele certamente não é nenhuma coisa nem a outra, ele deve ser uma terceira coisa que admita ser vista por esses dois lados. Pode ter esses dois aspectos conforme o ângulo por onde se examine, mas não se pode resumir a um nem a outro. Deve ser uma terceira coisa que possa mostrar esses dois lados a dois observadores diferentes ou ao mesmo observador em dois momentos. Quer dizer que aquela situação que o Steigmeiler está descrevendo, ela existe e esta unidade lógica das positividades alcançadas ao longo do tempo, também existe. Então é claro que se essas duas propriedades podem ser atribuídas a um mesmo objeto, então evidentemente ele não pode resumir a nenhuma delas, ele tem que ser uma terceira coisa que tenha em si esses dois aspectos contraditorios. Mas aí a coisa mais interessante é a seguinte. Essa contradição na verdade não é exclusiva da filosofia, reaparece exatamente igual em todas as ciências, embora geralmente os cientistas não se incomodem com ela no mais mínimo que seja e em geral nem mesmo apercebam. Qual a ciência compõe-se dos seus métodos e anunciados atuais, aceitos consensualmente por todos os seus praticantes ou compõe-se também dos métodos infrutíferos e conclusões erradas que experimentou ao longo do tempo até chegar ao seu estado presente? Claro que toda a ciência pode ser encarada por esses dois lados. Você tenta um corpo, você vai dizer que que é a biologia? Hoje em dia ela é um conjunto de proposições que diz respeito aos seres vivos e que são mais ou menos aceitos consensualmente por todos os biólogos até aqueles que divergem com as essenciais, por exemplo, se você pega uma discussão entre evolucionistas, ele não é evolucionista, essa discussão é possível porque eles estão partindo de um mesmo corpo de fatos que se são reconhecidos pelos dois, só que um está interpretando de um jeito e outro da outra maneira, mas existe um consenso quanto aos fatos e esse consenso é que permite a discussão, mas é a discussão que refere ao modo, dois modos diferentes de articular esses fatos em teorias diferentes, as teorias divergem mas os fatos convergem. Então repetindo uma ciência componhe-se do seu estado atual, portanto do patrimônio de verdades que ela acredita por expor hoje, ou componhe-se de toda a sua história incluindo os erros, os caminhos, os becos sem saída, teorias erradas, etc. Obviamente componhe-se das duas coisas, você pode chamar de biologia aquilo que os biólogos acredita saber hoje e pode chamar de biologia aquilo que foi chamado de biologia ao longo do século, ou aquilo que se praticou com esse nome formalmente ou não ao longo do século. Por que essa constatação não perturba, por exemplo, os biólogos ou os físicos enquanto os filósofos perdem o sono e arrancam os cabelos diante dela? Quer dizer, todo cientista, qualquer que seja a sua área de atuação, ele está trabalhando em cima de um ente contraditor que tem esses dois aspectos, que em si são incompatíveis, quer dizer, o nome da sua ciência é aplicado a dois objetos incompatíveis, quer dizer, as verdades e as verdades mais os erros. Qual da ciência tem isso? Então, por que essa constata, por que os biólogos ou os físicos já os discutem esse problema? Por dois motivos. Primeiro, há um abismo de diferenças entre uma ciência com o sistema de anunciados admitidos e essa mesma ciência como realidade histórica. Segundo, nenhuma ciência, exceto a história, pode explicar com seus métodos próprios a sua própria história. Não há uma explicação biológica da evolução temporal da biologia, nem uma explicação física da história da física. Isso é impossível. A impotência de cada ciência para compreender a sua história nos seus próprios termos, não pode compreender a sua própria história, mas terá que compreender com conceitos históricos e não com conceitos da própria ciência, não com conceitos da biologia da física. A explicação da história da física não é uma teoria física, é uma teoria histórica. A impotência de cada ciência para compreender a sua história nos seus próprios termos é tão invencível que o problema é afastado em límine e os cientistas que praticam podem continuar tranquilamente a praticá-la sem se dar conta da contradição estrutural em que ela se assenta. Ou seja, como não pode existir uma explicação biológica da história da biologia? Então a história da biologia não é um problema biológico e portanto os biólogos não têm que tratar dela. Se a contradição se existe é para o historiador da biologia ou o historiador da física. Então, entendeu? Deu problema, estou impossível de tratar e ele é afastado. Quer dizer, o conceito de biologia abarca apenas o conhecimento que isso sobraram e que resistiram o teste do tempo que hoje são aceitos ou inclui toda a história das pesquisas, das teorias, das hipóteses, que foram abandonadas ao longo do tempo. Toda a ciência carrega em si essa contradição, só que ela não pode lidar com essa contradição nos seus próprios termos, só a história pode. A evolução histórica da ciência histórica é um problema histórico, mas a evolução histórica da biologia não é um problema biológico. Então como esse problema está muito acima da possibilidade de explicação que cada ciência traz consigo, então ele é abandonado porque ele não faz parte dessa ciência. Quer dizer, para você praticar biologia você não precisa resolver esse problema. Em geral, pela minha experiência a maior parte dos praticantes de uma ciência hoje em dia desconhece a história da sua ciência e não precisa o conhecê-la efetivamente. Quer dizer, você para, você fazer um estudo biológico, químico, físico de alguma coisa hoje em dia, você não precisa saber o que pensavam a respeito no século 12. Basta saber o que seus colegas pensam agora. Você tem que submeter as suas ideias, a discussão pelos seus pássaros, que se submeter às pessoas vivas. Você não vai discutir com o filósofo do século, com o físico do século 2 ou do século 5 a.C. não vai fazer. Você não é obrigado por exemplo a confrontar as suas ideias com as ideias de Arquimédios ou de Aráquia, então você não precisa fazer, você vai confrontar com as ideias dos seus colegas praticantes da mesma ciência. Então o que geralmente leva o nome de uma ciência é o seu estado atual, fazendo a abstração da sua história. Então, o cientista e a pratina podem continuar tranquilamente a praticá-la sem se dar conta da contradição estrutural em que ela se assenta. Bem, isso os filósofos não podem fazer. A evolução histórica da biologia não é um problema biológico, mas a da filosofia é um problema filosófico. Para alguns como Regal, é o problema filosófico por excelência. Regal arredital com o desenvolvimento histórico da filosofia é ele próprio, um longo discurso filosófico que vai passando por certas etapas dialéticas que são exigidas pela própria estrutura da discussão. Portanto, segundo Regal não há uma separação entre a filosofia como sistema e a filosofia como a história da filosofia. A história da filosofia, segundo ele, é um sistema. Isso é assim por uma razão muito simples. Historicamente a filosofia nasce e desenvolve como um debate, um diálogo que prossega ao longo das gerações. Cada novo filósofo que entra em cena recebe como herança a totalidade dos debates filosóficos que antecederam. Você vê, é possível sugerir ter exercido a filosofia sem conhecer a história da filosofia, de jeito nenhum, mas é possível exercer a biologia sem conhecer nada da história da biologia, bastante conhecer o seu estado atual. Então é claro que essa é uma diferença brutal, e é por isso que essa contradição entre a ciência como um sistema e a ciência como uma história não existe na cabeça da maior parte dos praticantes da ciência atuais. Ou seja, todas as ciências padecem deste mês dessa mesma contradição que a filosofia padece. Só que para a filosofia isso é um problema filosófico e para as demais ciências não é um problema delas. É um problema para os historiadores e para os filósofos. Está no filósofo que entra em cena, recebe como herança a totalidade dos debates filosóficos quando antecederam e nada poderá fazer sem tentar esclarecer qual o ponto exato dos status questiones no momento em que sobe ao palco. Mesmo sem qualquer pressuposto historicista e mesmo que o filósofo não queira fazer dela a questão central do seu pensamento, ele terá de se haver mais cedo, mais tarde, com a história da filosofia no mínimo para saber qual o seu próprio lugar na evolução do debate filosófico. Brito Cronche dizia que a fórmula de que não é possível compreender um filósofo da expressão dele sem saber contra quem ele se levantou polêmicamente. Quer dizer, toda a filosofia é uma contestação de algo que vinha antes. Você não sabe o que o neguinho está contestando, você não está entendendo o que ele está dizendo. E o Runea Maria resumiu dizendo o seguinte, a fórmula de uma proposição filosófica não é simplesmente A igual a B, mas é A não é B e sim C. Ele sempre tem que ter uma coisa que é rejeitada. A diferença entre a filosofia e a ciência não poderia sobre esse aspecto ser maior. Não quando um cientista tem um interesse pessoal muito grande pela história da sua ciência, como por exemplo, esta no seu livro A evolução da física, que aliás é um livro cheio de erros históricos monstruosos, o que não diminui nada por estilo de Einstein como físico. É claro, grande, fisico, grande. É um dos grandes da física teórica, mas como historiador da física ele é péssimo. Por exemplo, ele disse que o pensamento de Aristóteles dominou a evolução científica do Ocidente por mais de mil anos. Isso é absolutamente falso, porque pouco se sabia da filosofia de Aristóteles até mil e dois anos, mil e trezentos, quando alguns textos começaram a ser publicados, retraduzidos, que tinham sido perdidos, foram retraduzidos a partir do arbe e entrar no debate ocidental a partir de mil e dois anos, e mil e trezentos e quando passam dois séculos eles já são contestados. Então não chegou a dominar jamais, mas teve um certo prestígio a mais durante duzentos ou trezentos anos, no máximo. Então é claro que esse é um erro histórico monstruoso, mas um físico pode cometer esse erro sem que isso afete o valor da sua teoria física. E mesmo que ele tome dessa história a inspiração para as questões científicas que ele interessa, a abordagem histórica e a abordagem científica dessas questões permanecerão sempre heterogêneas separadas e infungíveis, quer dizer, não podem ser fundidas. O problema da unidade ou fragmentariedade históricas da filosofia permanece ao contrário sempre um problema básico para o filósofo. Ou seja, qual é a visão que vale para nós? Há de um caos inabarcavel entre atividades que são mutamente heterogêneas e que uma não faz sentido para o outro, ao contrário, o que agora é um sistema de proposições válidas construídas ao longo do tempo e que formam por si mesmos uma unidade ou um tipo como pretendia Husser ou mais ainda, até mais radicalmente o Marferria. Um problema que assumem os proporções ainda mais dramáticas, quando a visão unitária e a visão fragmentária coexistem, cada qual com seus títulos de veracidade legitimados e maior ou menor, que é exatamente a situação que nós encontramos quando nós temos uma descrição do Wolfgang Schegmüller, ele diz que é eriteração. E quando eu leio que o Husser ou o Marferria 116, é eris também tem razão. Então nós temos aqui um problema, né? O mesmo objeto pode ser visto de duas maneiras tão radicalmente incompatíveis, então ele é para nós não o objeto de certeza, mas sim um problema. O que quer dizer que nenhuma dessas visões pode ser aceita de bolo exclusivo ou excludente. Se é obrigado a aceitar as duas, é certo? E... Então você tem um problema, problema de Zyorteh e HC é consciência de uma contradição, quer dizer, nós temos duas verdades, até certo? As duas são válidas nos seus próprios planos, mas elas são incompatíveis entre si. A visão unitária proposta por Husser, e ainda mais enfaticamente por Marferria dos Santos, implicava, como vimos, a... aqui tem um erro, está um S em vez do A, bom, veja gente corrigir. A supressão das teorias considera as erradas ou desviantes, incapaz ou indígenas de integrar-se no corpo da irança válida. A visão fragmentária do Husser, limitava-se a constatar fatos e estados de fatos documentados historicamente, fazendo abstração do valor cognitivo maior ou menor de cada teoria filosófica apresentada e abstentos de qualquer tentativa de integrá-las numa teoria mais abrangente. Ou seja, o Stegmüller não estava fazendo uma teoria, assim assim, apenas o relato de um estado de coisas, ele não tenta explicar isso, né? Se ele conseguisse explicar, então a fragmentariedade deixaria de ser fragmentariedade, porque ali é apenas o enunciado de um problema que teria uma solução numa um de dados superior descrita pela teoria, mas o Stegmüller não faz teoria nenhuma, ele se valende de escrever os fatos, né? A diferença entre as duas perspectivas, e aqui está o miolo do problema, a diferença entre as duas perspectivas é que uma toma a filosofia como um fato, o conjunto dos documentos escritos que atestam a existência de uma determinada atividade e a outra como um valor, um elevado ideal cognitivo que tenta se realizar ao longo dos séculos. Neste último caso, tudo que esteja muito abaixo de ser desvio do ideal ambicionado deve ser excluído como pseudo filosofia para filosofia, meta filosofia, aqui eu repeti duas, eu preciso de filosofia, mas eu quis dizer meta filosofia. Obrigado. O segundo filosofia é meta filosofia, é meta filosofia. Nos dois casos, porém, o que se põe em foco, em foco, e esta é a pista para resolver o enigma, o que se põe em foco são as teorias enquanto tais, que ao mesmo que dizer as conclusões de cada filosofia e os elementos elegados em seu favor. Quer dizer que se você faz abstração da história de cada filosofia, quer dizer, o desenvolvimento interno do pensamento de cada filosofia e pega suas obras como totalidades e as confronta, então você chega à situação do Steig Merer, ou ao contrário, se você pegar essas várias obras como todos e decidir conservar somente aquilo que elas têm em comum, ou seja, aquelas propósitas que eu acho que eu concordo, você tirar a perspectiva do Husser e do Mário Ferreira. Nos dois casos, porém, o que se põe em foco são as teorias enquanto tais, o que ao mesmo que dizer as conclusões de cada filosofia e os argumentos alegados em seu favor. Ora, nenhuma filosofia começa pelas conclusões. Algumas nem mesmo chegam a conclusões quaisquer, e algumas até se orgulham disso. Ocorre meu problematicismo de Hugo Spirito e o Homem-Oviator de Gabriel Marcell. Hugo Spirito, um filósofo italiano que criou uma escola na Coalizia seguinte. Eu acredito que os problemas filosóficos, especialmente metafíricos, têm solução, mas eu não conheço nenhuma. Está certo então, por isso que ele chama a filosofia de... É um enunciado de problemas. Cura solução, eu não sei. E o Gabriel Marcell acreditava, por sua vez, que a filosofia é uma atividade que se desenvolve ao longo da vida do filósofo, refletindo, vamos dizer, a evolução do seu estado de consciência a cada momento. Portanto, ela não tem obrigação de chegar. A única conclusão dele é a morte. Por isso, o Homem-Oviator, quer dizer, o Homem-Viagante. Ao longo do esforço do filósofo para realizar sua obra, podem intervir muitos fatores que nada tem de originalmente filosófico. A religião pessoal, os comprometimentos ideológicos, as técnicas literárias disponíveis, o estado de ciências existentes, etc. Ou seja, a partir do momento que o indivíduo ingressou em uma vocação filosófica, em que ele começa as suas investigações filosóficas, não é só a filosofia que interfere no resultado final. Existem muitos outros fatores. E como esses fatores são por sua própria natureza heterogêneas, eles não podem ser reduzidos a uma unidade. Por exemplo, você vê que algumas filosofias que assumem um caráter claramente narrativo como a do Gabriel Marcell, por exemplo, não seriam concebíveis antes de as técnicas narrativas terem alcançado um certo desenvolvimento. E não é sabendo que essas técnicas só aparecem na modernidade. Então, o próprio gênio romance, não tem sentido falar romance, é do século 18, por exemplo. Então, o que é o romance? O romance é uma vida, é uma biografia do personagem imaginário. Não necessariamente a biografia inteira, mas a biografia dos momentos essenciais que delineiam o modelo de um destino. Você não tem nenhuma narrativa que atenda a esse requisito até o século 18. E o grande época do romance é o século 19. Quer dizer, a arte de narrar alcança no século 19 uma perfeição tão grande como o Bausacra, o Standall, Dostoyevsky, Tolstoy, que antes era inimaginável. E evidentemente essa capacidade, uma hora de narrar uma biografia, de aprender a unidade de uma biografia, aprender verbalmente a unidade de uma biografia, é lógico que isso tem um efeito monstruoso sobre a atividade filosófica. Então, por que existe o existencialismo? Ou a filosofia do Ortega, que são todos baseados na ideia de uma unidade problemática da vida pessoal. Ou a filosofia do Kirkegaard, também é uma coisa. A filosofia do Kirkegaard é uma meditação sobre a sua autobiografia. Isso não seria possível com os métodos toscos de narrativa que você conhecia até o século 16 e 17. Foi para você aprofundar a arte da narrativa para que uma abordagem narrativa dos problemas filosóficos fosse possível. Então, essa é uma interferência externa. Agora, se você for comparar, por exemplo, eu não sei lá, eu estou comparando aqui a filosofia de Plotino com a do Kirkegaard. Bom, Plotino não tem a menor ideia da possibilidade de uma abordagem autobiográfica como faz o Kirkegaard. Então, a filosofia do Kirkegaard vai diferir da do Plotino, não porque eles têm ideias diferentes, mas porque existe a interferência de um elemento externo que é a nova arte narrativa, que oferece ao Kirkegaard certas possibilidades que Plotino não tinha. Então isso quer dizer que, desde logo, se você toma as filosofias como sistemas prontos ou as obras no seu conjunto, você não conseguirá fazer uma comparação entre elas, porque? Porque você está comparando elementos em cuja composição, em cuja formulação, entraram contribuições heterogêneas. Então, por exemplo, você não pode fazer nenhuma filosofia séria hoje que não leve em conta alguns dados de ordem científico. Você imagina, por exemplo, se um filósofo hoje poderia ignorar a seriamente o problema da inteligência artificial, não pode. O problema está dentro dele e não veio da filosofia, veio de fora. Então, se eu vou comparar um filósofo que está sabendo da inteligência artificial com outro que não está sabendo, você está comparando objetos heterogêneos, que são heterogêneos não filosoficamente, mas heterogêneos pelos materiais externos com o que estão lidando. Então é claro que a comparação fica impossível e você tem o panorama inavarcable, o que está falando o Wolfgang Scheigmeurer. Em grande parte, a situação que ele descreve é o resultado disso, por exemplo, as filosofias antes e depois da lógica matemática, lógica simbólica inventada pelo Frege, Gottlieb Frege. Bom, essa invenção não foi filosófica, foi a invenção puramente lógica ou matemática. Ela não é propriamente uma obra filosófica, é uma obra de uma técnica, como se fosse uma gramática, que entra dentro do universo filosófico e exerce uma influência tremenda, que é a sua escola filosóficas inteiras por causa das possibilidades inauguradas pelo Frege. Então como é que você vai comparar uma filosofia posterior a isso como anterior? Não dá para fazer, porque entrou um elemento que vai interferir de tal maneira nas suas conclusões finais, que a comparação se torna inviável. Então aí a sacação que eu tive, é o seguinte, você pode encontrar a unidade do empreendimento filosófico desde que você não tome como foco as teorias completas, as teorias acabadas, a obra inteira, mas a inspiração originária. Ou seja, não aquilo que os filósofos fizeram, mas aquilo que eles estavam o começo tentando fazer. E é justamente por estar tentando fazer a mesma coisa que podemos chamá-los a todos de filósofos. Ainda que as suas conclusões finais sejam incomparáveis e irredutíveis ao sistema. Por que? Porque nela existe interferência cada vez maior de elementos externos. Você imagina, por exemplo, a influência da arte moderna ou da música moderna na filosofia. Como você vai compreender, sei lá, a filosofia do Wittgenstein ou do Theodor Adorno, sem você levar em conta algo que apareceu com a arte moderna e com a música moderna? Não dá pra fazer. Ou, por exemplo, a influência da psicanálise. A psicanálise não surgiu de nenhuma investigação filosófica, surgiu de uma investigação clínica. E, no entanto, a partir da hora que ela existe, ela entra dentro do panorama filosófico e modula ou influencia as conclusões finais. Entra um filósofo influenciado pela psicanálise e outro que não foi. Como você vai comparar as conclusões finais? Não pode. Mas por que você chama os dois de filósofos? Porque algo em comum havia no projeto inicial, não que eles estavam tentando fazer. Então, a unidade da filosofia está na vocação filosófica, não nas obras finais. Isso seria absolutamente impossível. Então, vamos ler esse finzinho aqui. Se é possível delinera a filosofia como unidade, essa unidade não pode ser buscada nos resultados alcançados nas teorias plenamente desenvolvidas, mas, ao contrário, no impulso inicial que colocou o filósofo no caminho da sua vocação. Quer dizer, é a unidade da vocação que determina a unidade da filosofia e não a impossível unidade das conclusões finais. Por baixo da variedade alucinante das escolas de orientações filosóficas, deve haver um impulso básico que seja idêntico em todos os casos e que, por isso mesmo, permita nomear com o mesmo título de filosofia todas as atividades diversas que daí resultaram. O filósofo não se torna filósofo pelo que encontrou, mas pelo que estava buscando. Quer dizer, portanto, uma situação básica que seja o ponto de partida de toda a vocação filosófica, bem como um tipo peculiar de reação intelectual que define essa vocação. Ou seja, há uma situação inicial que tende a ser a mesma estrutura, esquematicamente, para todos os filósofos e tende a haver um certo tipo de reação intelectual que o caracterize o personagem como o filósofo. A unidade da filosofia não está na soma das suas realizações, como o Noitec Viller, nem no recorte seletivo dos seus melhores momentos, como no Mário Ferreira, mas no despertar da sua vocação. Felizmente para nós, um número suficiente de filósofos nos legou relatos desse despertar, e essas relatos são tão convergentes que não deixam margem a dúvidas sobre o que é ser um filósofo, qual o objetivo inicial de toda a busca filosófica e qual os meio de que o filósofo se socorre para atingir a sua meta. Daí a definição unitária da filosofia decorre de maneira tão clara e inequívica que chega a ser surpreendente ter existido alguma dúvida a respeito. Então qual é o método aqui adotado? É muito simples, nós vamos pegar os relatos autobiográficos, ou seja, eles não existirem, os relatos biográficos, feitos por terceiros, do início das vocações filosóficas, e ver se existe primeiro uma situação esquemática, que seja idêntica em todos os casos, e se existe um tipo peculiar de reação que chamaremos a reação filosófica para distinguir da reação histórica, ou científico, artística, ou literária, ou como queiram. Então é só pegar esse imenso material, você verá, muitos filósofos deixaram relatos autobiográficos, Platão deixou um, não é isso? Aristóteles não deixou um, mas você pode reconstituí-lo a partir de certos dados que você tira da própria biografia do Platão, quer dizer, uma situação que o próprio Aristóteles viveu dentro da academia platônica, e da qual decora então a orientação da sua vida intelectual. Mais modernamente, você verá, a obra fundamental do render de cartas é uma autobiografia intelectual. As famosas meditações de filosofia primeiras, meditações metafísicas, são um relato de uma autobiografia interior, meio falsificada, mas utilizável. Ademais existem documentos importantes sobre o Descartes, como o relato daqueles famosos Três Sonhos, que eu comentei no livro, que foram relatados primeiro por um biógrafo de Descartes, e depois, lá em visitando a casa de Descartes, encontra uma narrativa de próprio punho do Descartes sobre esses sonhos. Então você tem esses elementos biográficos. Infelizmente, Higgel não nos deixou uma autobiografia, quer dizer, o filósofo que mais insistiu na unidade de história e filosofia não nos contou a sua história, mas ela pode ser reconstituída de fora. Kant, ou a motivação autobiográfica do Kant, ele não escreveu uma autobiografia, mas ele deixa na própria, quer dizer, a razão pura, o relato da situação que ele encontrou e de qual foi a sua reação. No caso de Karl Marx, hoje conhece a biografia de Karl Marx tão perfeitamente que o que desperta a sua vocação filosófica e o tipo peculiar de desenvolvimento que ele vai dar à filosofia, também é esclarecido. No caso do Nietzsche, Nietzsche escreveu o relato autobiográfico, na base assim, por que soltão o genial, por que escrevo livros tão bons, por que eu sou um surreino divino maravilhoso, etc. Então, é claro que deu uma boa parte da loucura dele, mas o relato está lá de algum modo. E no século XX, o número de autobiografias filosóficas se multiplica por mil, que tem a autobiografia filosófica do Bertrand Rosser, você tem a do Nicolau Berdier, você tem a do Jean Paul Sartle, você tem a do Gabriel Marcel, deu um monte. Então é só pegar este material e fazer esta pergunta, qual era o ponto de partido, qual era a situação intelectual e existência encontrada, no que elas se assemelham estruturalmente, é claro que não, nos seus detalhes materiais. E por que existe uma reação filosófica característica que difere, por exemplo, de uma resposta literária, ou científico, histórica, eles têm a vida de Thomas Hobbes, é também bastante conhecida, está certo? Então, é o negócio, ninguém pode prever qual o desenvolvimento que uma filosofia alcançará, porque esse desenvolvimento é monstruosamente afetado por dados culturais heterogênios. Mas o impulso inicial que coloca o direito na pista da investigação filosófica, ele pode ser descrito, está certo? E você verá que é invariavelmente o mesmo. Portanto, se entendemos, como o Wittgenstein entendia, eu creio que o primeiro que disse a filosofia não é um corpo de conhecimento, a filosofia é uma atividade, está certo? E acho que ele tinha razão nisso aí. Então, o que caracteriza, o que singulariza essa atividade, está certo? E que, portanto, nos dá o verdadeiro conceito do que é a filosofia. E, deste conceito, decorra, evidentemente, algumas exigências metodológicas que todo filósofo terá de cumprir, independentemente das contribuições metodológicas específicas que ele mesmo faça. Está certo? Como, por exemplo, Karl Marx inventa o tal do método da praxis. Então, isso é a intenção dele, isso não é característica de toda a filosofia. Mas, por baixo deste método específico que ele criou, existem algumas exigências que ele teve de cumprir, simplesmente para ser um filósofo, simplesmente para poder dizer que ele está na mesma atividade do outro. Então, eu resumia essas exigências no livro A Filosofia, se eu inverso com sete etapas do método filosófico. Mas, praticamente, só dei os nomes das etapas, não expliquei mais nada, então isso terá que ser explicado. Então, o livro se divide nessas duas partes. Primeiro, que é a filosofia. Segundo, o método filosófico, o que os filósofos fazem e o que os define como filósofos. Então, acho que essa questão pode ser resolvida de maneira integralmente satisfatória, de modo a não deixar mais margem a dúvida. O que, evidentemente, não elimina todas as diferenças, inabarcavel, que o que o Flandr segmilo nem nos impede de buscar, se quisermos, uma unidade histórica ou sistêmica das proposições válidas, como queria o Mario Ferreira. Quer dizer, nós não estamos falando de uma coisa nem da outra, estamos falando de uma distinção básica que situa o indivíduo em um empreendimento filosófico, que o caracteriza como filósofo. Então, se nós não temos consciência disso, quer dizer, do que que singulariza o filósofo e quais são os procedimentos metodológicos que são indispensáveis a todo o filósofo, não estou falando das contribuições metodológicas pessoais, se nós não temos isso, nós vamos ficar com barata tonta no meio da barra funda de doutinas filosóficas e discutiremos filosofias sem ter uma ideia muito clara do que é ser um filósofo. Então, tem pressão que essa investigação, ela tem para o princípio, para os sujeitos que está entrando nesse estudo, ela tem um valor pedagógico muito grande, quer dizer, você vai entrar no assunto com muito mais consciência do que você está fazendo. Então é isso, vamos fazer uma pausa daqui um pouco mais outra. Então, vamos lá. Como sempre é uma pena, não vai dar para responder todas as perguntas, tem muitas perguntas interessantes aqui, mais do que nós teríamos o tempo de respondê-las. Algumas se referem ao assunto dessa aula ou outras de aulas anteriores. Eu vou começar com essa aqui, que é uma coisa que eu já expliquei várias vezes, mas reapareceu a pergunta aqui, talvez porque o aluno não tenha assistido às aulas onde eu odeio as explicações, porque é necessária literatura antes da filosofia? Bom, a mim parece evidente que se você não tem um pleno domínio da linguagem, você não pode ler nada com proveito, muito menos uma obra filosófica. Porque na filosofia, os modos de expressão usados em filosofia são de uma amplitude enorme, que vão desde a lógica matemática até a poesia, tudo que você tem que poder captar, as diferenças de nível de significado, de todas essas possibilidades. Isso aí requer um domínio literário extenso, é muito domínio da língua que você precisa ter. É que se você não tem um domínio da linguagem suficiente, você ser um escritor, você não vai ser um filósofo jamais, e não vai entender nada a filosofia. Eu já vi, assim, o maior par de erros de interpretação que eu vi em filosofia, sobretudo em trabalhos universitários brasileiros, não é porque o sujeito não estudou filosofia, é porque ele não sabe ler. E se você não dominar a língua ao ponto de poder usá-la como instrumento de expressão, você também não vai entender o que os outros estão falando. Então, a literatura se identifica assim, conhecimento da linguagem, conhecimento da língua não se pega na sua gramática, mas nos seus usos efetivos. Felipe Rizzo perguntar uma relação do que o senhor diz com o texto de Háidegro, que é a filosofia, em que ele diz que ela é o espanto de andar a realidade. Bom, quem disse isso não foi Háidegro, foi Aristóteles. Ele diz toda a investigação filosófica, toda a vocação filosófica começa com um espanto, quer dizer, algo que sustitua a sua estranheza, uma sensação de paradoxo. E isso pode ser, vamos dizer, isso é a universal. Se você estudar a biografia de Platão, ele se encontra com essa situação de espanto, sem nenhuma intenção de encontrá-la, como o jovem da aristocracia, da classe rica, ele se destinava a uma carreira política e acreditava que ia ser, a vida dele ia ser como a dos seus colegas. Mas logo houve um golpe de estado empreendido por pessoas que eram amigas da família de Platão e ele esperava que isso levasse a uma situação melhor, menos corrupção, menos confusão, etc. E o negócio piorou formidamente, uma desilusão tipo PT. Depois houve aí um segundo golpe de estado que derrubou esse e a coisa foi piorando, piorando, piorando, e chegou a um ponto que ele viu que o caos era insolúvel, não havia mais nada de fazer. Então a corrupção era impossível de eliminar. Por exemplo, houve um caso, um desses golpes de estado, os caras contavam com socas, se mandaram socas prender um sujeito que socas tinha sido, ele era das Forças Armadas, mandaram ele prender um camarada, que o socas sabia que era inocente, ele se recusou e anos depois os socas foram condenados à morte pelos adeptos deste mesmo sujeito que ele salvou. Então o Platão vendo tudo isso, fala, acabou, não tem nada mais nada que fazer, agora temos que parar e pensar. Qual é o primeiro, a primeira pergunta dele foi essa, qual é o princípio da ordem social, o que determina a ordem, a desordem, e ele vai indo aos poucos chegando à conclusão de que é impossível você pensar uma ordem na sociedade se você não tiver encontrado dentro de si algum princípio de ordem que tenha a validade universal, quer dizer, a ordem da alma como o reflexo da ordem do ser e entre essas duas coisas você tem a ordem da sociedade, está certo? Então a carreira do Platão é por assim dizer, ela é modular, todo filósofo se defrontou com alguma situação deste tipo que não precisa ser evidentemente na esfera política, o sorvete pode encontrar essas dificuldades já sob a forma de doutrinas filosóficas, ele por exemplo entra numa faculdade de filosofia aos 18 anos e recebe o impacto de todas aquelas doutrinas em conflito, então a coisa toma a forma de um confronto existencial com um problema político, mas já de um confronto intelectual na própria área da filosofia isso pode acontecer também, acho que hoje acontece para a maioria, quer dizer, eles tomam a sua experiência do que Aristóteles chamaria o espanto, já assume a forma de uma dúvida filosófica direta, pode acontecer isso aí, aos 18, 19 anos, você sem jamais ter vivido nenhuma situação político social capaz de gerar essa reação de espanto, você pode vivenciar através da própria combate intelectual, quer dizer, uma coisa muito mais pacífica, isso pode acontecer, pode acontecer outras coisas também, se você vê na vida de Thomas Hobbes, quer dizer, o que que isso citou o espanto de Thomas Hobbes das guerras de rendirão, ele viu aquele morticino que não acabava, ele falou o que que está acontecendo isso e o que que nós podemos fazer, então a busca de uma ordem social é também no caso de Thomas Hobbes, a motivação é claro que Hobbes não é um filósofo da profundidade de Platão, mas essa motivação inicial está presente em todos os filósofos, ela não existe por quem que você diz a filosofia, se não há um problema filosófico a ser resolvido, então esse é um dos elementos fundamentais da definição da filosofia, mas além desse elemento existe, vamos dizer, a reação intelectual propriamente filosófica, quer dizer, se não existe, se diante dessa situação de confronto, de contradição, não existe o esforço de aprofundamento das raízes intelectuais da coisa, não há filosofia alguma, se ele pode reagir de outra maneira, por exemplo, se ele ficou desiludido com a política, ele esquece disso e vai tratar da vida dele, pode fazer exatamente isso, pode haver casos em que conflitos de ordem familiar, conflitos de infância sugerem já essas dificuldades que mais tarde serão elaboradas, eu estou lendo agora com algumas inscritos autobiográficos do Gabriel Marcelo, e você vê que já na infância aparece isso, e outros casos, em que o Leas Alveoli pediu a Lea, a Milchapier, em que ele disse, a infância foi uma chatice como todas, parte daí começa a falar de outra coisa, a infância foi só idiotice como todas, então os problemas começam a assumir outra forma mais tarde, já está através de ensinamento recebido na própria universidade, mas assim por diante, essa coisa varia, se você estudar a vida de Karl Marx, Karl Marx tem evidentemente uma crise por volta dos entre os 16 e os 18 anos, ele era um sujeito muito cristão, e de repente ele aparece, vamos dizer, com uma visão já satanista das coisas, quer dizer, ouve algo aconteceu ali, ele tenta, passa o resto da vida tentando encontrar uma explicação para isso, também vamos dizer, uma outra característica que é comum a todos os filósofos, é a autotransformação do filósofo no curso da sua investigação, quer dizer, ele não apenas está buscando uma verdade, mas começa a se modelar pela consciência dessa verdade, o seu próprio Karl Marx serve de exemplo, quando ele entende, faz aquela constatação, por exemplo, de que os filósofos se limitaram a tentar compreender o mundo, mas o que importa é transformá-lo, ele se autotransforma nessa hora, ele deixa de ser um pensador teórico e se torna o líder da primeira internacional, está entendendo? Quer dizer, essa autotransformação acontece, então quando eu defino a filosofia como a busca da unidade, o conhecimento, a unidade da consciência visiversa, eu estou me referindo a essa autoformação do filósofo no curso da sua investigação, quer dizer, a verdade ou a falsidade, se quiser que ele descobre, se torna o padrão reestruturador da sua alma, para o bem ou para o mal, isso, se não acontece isso, ele não é um filósofo de maneira alguma, se ele simplesmente escreve um trabalho acadêmico e esquece aquilo e não liga mais, a sua vida real não é afetada por isso, então ele não filosofou, ele apenas fez um trabalho de erudição que não o afeta pessoalmente e o ser afetado pelas suas próprias ideias, bom, essa é a característica fundamental do filósofo, porque o filósofo não tem aqueça a pegar fora as suas ideias, então ele tem que se reestruturar em função delas, isso independente até de ele ter alguma crença religiosa, se você for ver para a vida santo tomada quino, ele também reestrutura sua personalidade não só em função da religião que ele recebeu, mas daquilo que ele vai descobrindo ao longo do tempo, e que inclusive o coloca muitas vezes em conflito com as autoridades da religião que não entendia o que ele estava fazendo, claro que mais tarde acordaram e viram que ele tinha razão em tudo, mas isso foi 200 anos depois, na verdade não foi 200 anos depois, quem consagrou santo tomada quino, como o doutrinário fundamental da igreja foi Leão 13, no sábio 19, então você vê que ele foi tão profundamente afetado pelas suas próprias descobertas que isso determina a sua carreira na universidade e dentro da igreja, a sua posição dentro da igreja, colocando em conflito com a autoridade, logo no começo várias testes de santo tomada foram empugnadas por um concílio, porque que ele arrumava a briga desse tamanho, se ele não estivesse convicto daquilo que está dizendo, então quer dizer é a filosofia, a meditação filosófica refluindo sobre a pessoa do filosofio e remodelando de alguma maneira, e isso acontece em tipos tão enormemente diferentes, como Platão, santo mais e Karl Marx, então é uma constante da filosofia, então é nessas constantes que nós temos buscado a definição da filosofia, o conteúdo das descobertas, sobre a forma final das filosofias, a forma final da filosofia não serve para isso, é a forma final para ser determinada, em parte pelos elementos externos que ele está colhendo e que ele procura integrar na sua filosofia, então por exemplo se você ver em que a obra de Karl Marx ou a tradição marquista foi afetada pelas novas descobertas em lógica matemática, nada, é um desenvolvimento totalmente alheio, mas quando você ver por exemplo a vida George Lucas, ela foi bastante afetada pela experiência da Primeira Guerra Mundial, que não pode ter afetado Karl Marx, porque Karl Marx já tinha morrido, você pode dizer que toda a orientação pessoal da filosofia de George Lucas é determinada por aquela experiência para os comunistas traumáticas de ver o proletariado aderindo a suas burguesias nacionais em vez de unir-se numa revolução de toda Europa contra burguesia, como ele diz que era o que acontecesse, ele tem que passar o resto da vida, quando ele fala por exemplo que a consciência de classe não é uma realidade, é uma consciência possível, quer dizer que mais ou menos na base leninista você se adianta ao proletariado, quer dizer a intelectualidade militante se antecipa ao proletariado agindo não em função da sua consciência atual, mas da sua consciência possível, isso aqui determina toda a carreira de George Lucas, então a experiência espantosa inicial existe, mas o desenvolvimento posterior da filosofia é afetado por fatores externos, então se você procurar as filosofias prontas finais e tentar encontrar uma unidade nacionais não pode encontrar, é a mesma coisa que se, isso é tão absurdo quando você tentar descobrir a unidade do fenômeno chamado pintura pelos temas dos quadros finais, aqui um sujeito desenham a mação, outro desenham o elefante, outro desenham a catedral, outro desenham a visão angélica, ou dizer a mulher pelada, não há unidade temática, é certo? Ou que há uma série de procedimentos que estão no início da atividade do pintura e que determino que elas eram a pintura e não outra coisa, então este método é usado para delinear todas as atividades culturais humanas, só que nunca foi tentado na filosofia, vamos falar, tem tanta pergunta aqui, gastei todo o meu tempo uma só, aqui tem uma pergunta que eu não tenho certeza, que está muito clara, Douglas Porto, baseado na premística do conhecimento obtido intuitivamente, ou seja, a partir de uma presença e também levando em consideração um modelo medieval cosmovisão elaborado por C.S. Lewis, explicado por M. Warren, no Silver Planet Narnia, seria possível dizer que cada período histórico é regido por um planeta deus, esse aprende suas questões filosofias à sua época, se eu entendo o que vocês querem dizer, a resposta é sim, mas não sim, mas do modo muito genérico e simbólico, existe um livro muito interessante a respeito, o autor chama o Jean-Charles Pichon, e o livro chama História da Myth, História dos Mythos, a certa onda você vai ver que de fato, em cada época você tem uma espécie de divindade simbólica que está inspirando, que cria toda a epistêmica da época, isso realmente existe, certo? Pichon começa a sua análise lá no Egito e vem até, por exemplo, o mito da juventude em 1968, então você vê que todos esses temas aparentemente novos, eles são de algum modo são cíclicos, e eu acho que esse é um assunto que vale a pena você estudar, lendo o livro do Pichon, vamos ver o que dá para fazer com isso aí. Hilton Custório de Aranhaújo Júnior, fazendo uma analogia com a teologia, ou pelo menos com a que é a católica, onde par do trabalho e se assentem desfazer as contradições aparentes e colocar as sentências no seus próprios níveis de significado, visando não escolher uma verdade fé, que correria em heresia, o que o senhor faz com o trabalho intelectual de Vovkann e Stegmüller e do Mário Ferreira do Santos foi feito partindo do mesmo princípio metodologico, ou seja, não foi, não foi porque usei o texto do Stegmüller e do Mário Ferreira apenas como índices de um fenômeno que eu mesmo tinha percebido, quer dizer, não estou tentando, vamos dizer, harmonizar sentências, que é um trabalho puramente lógico, na verdade, lógico dialético, que é, em parte, o trabalho dos teólogos, quer dizer, o meu objetivo não é harmonizar doutrinas, uma doutrina do Stegmüller com outra doutrina do Mário Ferreira, mas eu estou partindo do princípio de que eles estão falando de fenômenos reais, de coisas que existem, quer dizer, eu gostaria de encontrar uma explicação para os fenômenos e não uma simples harmonização de proposições, a Stegmüller e do Mário Ferreira do Santos. Se você quer uma confissão pessoal, eu tenho horror desse tipo de trabalho, harmonizar proposições. Esse é um dos motivos pelos quais eu me desintendo com a tal da filia da filia analítica, eles me oferecem atenção demais as proposições e pouca atenção aos fatos, até o ponto que o Michael Dunmett diz que a filosofia é uma coisa para quem gosta de argumentos abstratos, eu odeio argumentos abstratos, eu achei que nunca terá nada a ver com a história, mas o tema é que lidar com os fatos, com a realidade tal e como ela se apresenta, e não com tesis que foram criadas com base nas tesis, frequentemente, elas só servem como indícios de ação, de aspectos que apareceram para uma pessoa. Se você pegar as tesis de Karl Marx, ele está falando de algumas coisas que ele percebeu, então nós temos que ver para o enhorgar se essas coisas existem e se elas existem sob o aspecto que Karl Marx percebeu, se existem sob outros aspectos também. Então o que interessa é sempre a realidade das coisas e não o que os filósofos disseram. É claro que a Aristóteles diz que a investigação filosófica começa com a comparação entre as opiniões dos sábios, mas note bem, o que Aristóteles faz nunca é simplesmente tentar harmonizar proposições, ele usa as opiniões dos sábios como uma espécie de galeria de perspectivas diferentes que estão incidindo sob um mesmo objeto real. E como essas opiniões, as variações entram em contradição, então existe um fecho de contradições que é o próprio objeto. E é disso que a Aristóteles está falando. Eu tenho para mim, eu acredito que qualquer objeto existente, ele concentra em si muitas contradições. E pelo fato de que um objeto não existe só como uma entidade separada, mas ele é um fecho de relações possíveis com outros objetos. Então você imagina, por exemplo, a relação que um gato tem com um rato e a relação que ele tem com você. Essas relações não são trocáveis. Quer dizer, ele não pode se relacionar com um rato como se relaciona com você. Então esse conjunto de relações possíveis, que é o que eu chamo o circo de latência, isso aí faz parte do objeto. Portanto nenhum objeto se reduz a sua essência. Ele tem um conjunto de propriedades das quais algumas são mutamente excludentes, não podem coexistir. Eu gostaria de saber se o senhor pode nos falar alguma coisa sobre a obra das horas em frente. Que foi a esposa do António Olinto. Infelizmente não. Eu fui amigo da Zora, ela me entrevistou para o jornal da Academia Brasileira de Letras. Eu li muito o livro do António Olinto e nunca li nenhum livro dela, foi coincidência. Então você me desculpe. Muito bem, eu acho que hoje vamos parando por aqui. Essas são 11 horas aí. Muito obrigado e até a semana que vem.