Então vamos lá, boa noite a todos, sejam bem-vindos. O tema da Olly Orme foi sugerido por uma pergunta que alguém me lançou de Shoeford no Facebook durante a semana. A pergunta é, o que é a história? De algum modo nós tratamos desse assunto várias vezes de passagem aqui no curso, mas nunca de uma maneira assim explícita. A esta pergunta, muita gente tem oferecido respostas, existem uma série de debates a respeito do que é a ciência histórica. E de modo geral, esses debates hoje tomam a linha de quase uma indistinção entre a história e a ficção. O uso de recursos narrativos tirados da ficção extraídos da literatura de ficção pode predominar de tal maneira que, de certo modo, o historiador está livre para imaginar o passado, mais ou menos como bem-entenda. Em outras épocas, houve várias outras teorias que pretendiam fazer da história uma ciência estrita, como a famosa Escola dos Anais, na França, em que o ideal era uma história sem personagens, uma história sem indivíduos humanos, uma história que só se falava de preços, estatísticas, rotas de comércio, mercadorias, etc. E parecia, de modo que a história conoz parecia se mover por si, sem que precisasse ninguém acionar as rodas. Hoje nós não vi tudo isso, era completamente falso. Mas em todos os debates que eu vi sobre a natureza, possibilidades da ciência histórica, eles me parecem sempre começar, por assim dizer, no capítulo 3, sem colocar o problema desde a sua base mais elementar, que é o problema da nossa percepção de tempo e da nossa percepção de sucessão. É mesmo pouco importante que seja a nossa teoria da história, todo mundo é concordar que a história é uma narrativa de algum modo. Diz que a história trata de coisas que se sucedem no tempo. E o problema é que ao mesmo tempo que se sucede uma coisa que você está observando, muitas se sucedem que você não está observando e que não fazem parte da sua narrativa. Então surge o problema desta seleção, quer dizer, quais são os fatos, quais são os aspectos que o historiador vai selecionar e quais aqueles que ele vai desprezar. E de um tempo para cá, talvez por uma influência cantiana, a ideia é que essa seleção é puramente subjetiva. Max Weber, por exemplo, dizia que, aos selesfinalos aspectos que ele vai estudar, o historiador ou o sociólogo, no caso dele, postula um valor inicial e em função desse valor ele opera a sua seleção. Em março que a seleção é subjetiva baseada num valor inicial. E a garantia da objetividade, da científicidade desse estudo, consistência também tinha explicitar esse valor e de tal modo que a relação entre o valor postulado e as conclusões do estudo fique bastante clara e não seja uma coisa nublada. Isso foi o máximo que se chegou. Porém, eu para mim sempre coloquei o seguinte problema. A seleção dos fatos pode ser inteiramente subjetiva, é possível isso. A ideia subentendida em toda esta corrente de opinião é que os fatos são uma pasta, quer dizer, indefinida e sem limites próprios. E que nós aqui projetamos ali uma forma. Essa ideia vem do Kant, evidentemente. E eu sempre me perguntei se isso era possível. Por exemplo, se você vê uma floresta, um matagal, todo verde, você não vê ali uma hierarquia e uma forma por onde você possa começar a desenhar. Eu me lembro até de uma história, de um filósofo, que também era pintor e que veio passar um tempo aqui no Peru. E ele estava louco para desenhar paisare e quando ele chegou a ver a paisare, ele viu que não entendia a paisare. Aí eram umas formas tão estranhas que ele não conseguia desenhar. Não tinha já aquela longa tradição de formalizar a paisagem que ele tinha aprendido com os pintores europeus. Então ali precisava começar do zero, por assim dizer, e ele não sabia como. Então, quando você vê uma paisare, você vê um deserto. Eu digo qual é a ordem, qual é a forma daquele negócio? Não tem forma nenhuma. Então, sobretudo, como você vai descrever a história? Enquanto você está olhando a paisagem, o tempo está passando evidentemente. Então há alguma estrutura narrativa, ali há subentendido, mas você não consegue contá-la. Está certo? Por quê? Porque não há acontecimentos suficientemente destacados e visíveis para que você os observe. Então isso quer dizer que nós só podemos falar de uma narrativa ou desiste não apenas uma presença física, mas nos desiste uma ação. E toda ação tem um objeto determinado. Não existe nenhuma ação humana ou animal que se dirige a todo o universo ao mesmo tempo. Então, por exemplo, se você tem aqui um lobo correndo atrás de um coelho. Então é este lobo correndo atrás deste coelho. Ele não está correndo atrás de toda a fauna ao mesmo tempo. Ele não quer comer também toda a floresta ao mesmo tempo. A ação especifica o seu objeto e a sua meta. Então aí começou um princípio de ordem. Quem colocou esse princípio de ordem? O historiador que você está observando? Não, foi o próprio personagem. Então isso quer dizer que a ideia de que toda formalização, de que toda seleção de aspectos, por exemplo, uma livre criação da inteligência do historiador, ela falha na base. Existe uma seleção que é dada pelos próprios personagens e que eles não tenham como escapar. Então, esse seria um princípio geral de toda narrativa. Não existe a ação universal. A ação universal só Deus. Quer dizer, toda a ação tem um objeto e uma meta e ela hierarquiza a sequência de ações em função dessa meta. Então aí a coisa começa a ser descritível. Descritível não por um padrão que eu projetei nela. Quando o lobo está perseguindo o coelho, ele sabe perfeitamente o que ele está querendo e ele sabe perfeitamente se a ação deu certo ou deu errado. Esse o coelho escapou, então falhou, ele vai ter que procurar outro coelho. E se ele pegou o coelho, ele passa a ação seguinte, que é comer o coelho. Então aí existe uma ordem interna muito clara que não foi dada pelo observador, mas pelo próprio personagem. E este é para mim, vamos dizer, o critério de toda historiografia. Quer dizer, você compreender quais as ações que estão em curso conforme o seu objetivo, tal como está definido na mente dos personagens e tal como se expressa claramente na ação. Porém, acontece que há ações mais complicadas do que um lobo corredor atrás de um coelho. Por exemplo, numa situação política qualquer, onde um governante ou um político toma decisão, evidentemente a ação que tal como ele a concebe está limitada ao objeto tal como ele o vê e a meta tal como ele a concebe. Mas há outros fatores em jogo pelo simples fato de que há outras ações em curso ao mesmo tempo que cruzam com a dele e complicam a coisa formidávelmente. E isso não só no sentido simultâneo, quer dizer, você tem vários personagens de ação, eles têm vários objetivos diferentes e aquilo se entre cruza, mas também num sentido temporal. Existem processos de ação que começaram antes e que ainda estão em curso. Então, por exemplo, se um governo instituiu uma reforma econômica, qualquer desastrosa e ela ainda está desencadeando os seus efeitos, todas as ações que se desenrolam nesse íntere levam isso em conta de alguma maneira, de uma maneira mais consciente ou menos consciente. Então, de qualquer modo, nós voltamos a assim, não é possível estourar sem uma teoria da ação. Então, tinha compreensão a dar ação desde os seus esquemas mais mínimos até os mais complexos. E com isso, evidentemente, nós tentamos na teoria do poder, que é a ação voltada a determinar a ação de outras pessoas. Então, este evidentemente é um dos temas mais fundamentais da história. Porque? A história é a história daquilo que é realmente importante. Então, nós dizemos que uma ação é importante quando ela transcende o seu autor e o seu objeto e se propaga sobre outras pessoas. E sobretudo quando há várias ações, várias linhas de ação entre cruzadas que afetam um grande número de pessoas. Quero elas saibam, quero não saibam. Por exemplo, se você tem um camponejo lá no interior, ele pode não saber quais são as novas leis que estão sendo baixadas em Brasília, mas elas vão afetá-lo mais dia a menos dia. Às vezes, pode levar um tempo enorme até que ele saiba daquilo, mas ele já está na esfera de ação daquilo. Então, a mim me parece que a verdadeira ciência histórica é a ciência da ação, considerada na sua estrutura objetiva. E reduzindo ao mínimo o trabalho de seleção do historiador. No instante em que você determina um objeto, por exemplo, a voz estudar a história da Revolução Francesa, por que eu vou estudar a história da Revolução Francesa? É porque eu acho aquilo importante ou porque a Revolução Francesa tentou fazer algo importante. Se os personagens envolvidos não desejassem desencadear nenhum efeito que se propagasse por toda a espécie humana, aquilo não teria importância nenhuma. Então, na hora em que eu escolho aquilo, não é só porque eu considero importante, mas é porque existe um elemento importante, ali importante, aquilo que importa, aquilo que pesa, aquilo que me afeta de algum modo. Existe algum ser humano em todo o ocidente, cuja vida não tenha sido afetada de algum modo pela Revolução Francesa, que não viva sob leis que se originaram na Revolução Francesa, sob formas de governo, sob ideologias que se originaram lá. Então, evidentemente, a importância da coisa não é decidida pelo historiador, porque o historiador está dentro do panorama determinado, pelo objeto de estudo, e não o objeto de estudo está dentro do panorama determinado pelo historiador. É claro que existem acontecimentos que são de escala menor, cuja importância às vezes não é visível para todo mundo, mas que o historiador descobre que tem uma importância real ou potencial, quer dizer, coisas que ou desencadearam efeitos que se propagam por populações inteiras, ou pode vir a desencadeá-las amanhã. Então, eu acho que essa questão da importância objetiva não pode ser negligenciada de maneira alguma, e o problema da seleção, que virou uma espécie de fetiche para os historiadores, e eu acho que pode ser simplesmente resolvido pelo problema da seleção dos meios e das ações conforme, vamos dizer, os objetivos dos personagens envolvidos. Que toda ação humana tem o objetivo, isso aí é uma coisa que não precisa pensar muito, se ela tem as ações dos animais, tem o objetivo, quer dizer, você tem um futuro hipotético que é levado em conta como um dos elementos fundantes da ação presente. Sem isso, não haveria história e não haveria ação nenhuma, quer dizer, um indivíduo tende a algo que ele imagina que é possível e tenta realizá-lo, isso até um cachorro faz. Então, essa estrutura mínima da ação é também a estrutura da investigação histórica. O que que estava sendo buscado, quais foram os meios colocados em ação, quais as correntes de ação que se cruzaram com as quais os fatores que interferiram, e no fim das contas qual foi o resultado. Existe ainda um outro problema que se chama a filosofia da história, onde, em vez de se contentar com narrar as coisas como aconteceram, como o de Leopold von Renk, o objetivo da história, contar as coisas como elas efetivamente se passaram, tenta tirar conclusões da narrativa até o ponto em que ela chegou, e discernir, então, um sentido, um caminho geral que a história estaria percorrendo com vistas a um fim determinado ou indeterminado. Isso aí complica as coisas formidamente, porque a noção do sentido da história é uma noção que, em si mesma, não faz o menor sentido, porque para a história fazer um sentido, seria preciso que ela tivesse uma unidade, e para a história ter uma unidade, se nem necessário que todas as ações estivessem entrecruzadas de algum modo, e elas não estão. Nós sabemos que existem ações perfeitamente independentes, a história da influência das barbatanas do Camaruna Asmares. Não existe, evidentemente, então você pode fazer, por exemplo, uma estatística entre o número de vezes que as pessoas foram ao banheiro e o número de divorcios, por exemplo, uma coisa ter nada a ver com o outro, e assim como é, existem milhões de processos que às vezes são simultâneos, mas que um não influencia o outro no mais mínimo que seja, e você verá, a ideia de uma unidade da história começa a aparecer num instante em que começa a surgir para os seres humanos uma unidade geográfica, ou seja, em que todo o planeta se torna acessível de algum modo, até lá você tem as civilizações totalmente separadas e incomunicáveis que nunca ouviram falar da outra. De repente começam as grandes viagens, as grandes navegações e depois vem as linhas ferras, vem a aviação, etc. E isso cria uma unidade geográfica, quase uma unidade visual do planeta. E sem essa unidade visual, a ideia de um sentido global da história seria absolutamente impensável. No máximo que eu estive, eu poderia ver, é o sentido de algo que aconteceu à comunidade dele, e que para a comunidade dele faz sentido. Por exemplo, se você pega, sei lá, a história judaica, então você vê que quando você lê ali o Antigo Testamento, você vê que a história judaica é todo um diálogo entre a comunidade e Deus. Deus dá uma instrução, às vezes as câmaras obedecem, às vezes desobedecem e conforme a atitude deles, o destino deles vai sendo decidido, depois volta atrás e assim por diante. Então tudo aqui faz sentido, mas faz sentido só para aquela comunidade. Esse sentido faria isso para um chinês que estava milhares de quilômetros de distância, mas tem a menor ideia de que aquilo estava se passando. Nenhum do mesmo modo, a China é uma das poucas civilações que guardou um registro histórico muito meticuloso dos tempos antigos. Então você sabe todas as dinastias, quando o frente subiu o poder, quando caiu as guerras, etc. Então é claro que para o chinês isso fazia um sentido, era normal, por exemplo, para o chinês, ele vê o chinês dos tempos antigos, digamos, de três, quatro mil anos atrás, encarar o destino da comunidade inteira como se estivesse dado em miniatura na pessoa do Imperador. Então o Imperador tem que fazer determinados ritos, obedecer determinadas leis, etc. Porque se ele saísse daquele padrão, a comunidade inteira podia sofrer, quer dizer, a desordem na vida do Imperador tinha algo a ver com a desordem no todo. Até o ir todo mundo sabe que é o Itching, né? O Itching é isso aí, o Itching é destinado basicamente a um homem especial, a uma posição importante e cuja decisões de algum modo simbolizam o condenço ou o destino da comunidade inteira. Bom, mas isso valia para eles, né? Como interpretar, digamos, os acontecimentos bíblicos em termos do Itching, que falam, não é possível, só vai poder interpretar os acontecimentos bíblicos e função dos ensinamentos da própria Bíblica. Mas isso é o sentido da vida de uma comunidade, totalmente separada de outra comunidade. Então, a ideia de um sentido da história implica, então, uma unidade da história. E essa unidade da história não existe até hoje. Mas até mesmo hoje, que o pessoal fala de globalismo, tudo é global hoje em dia, você vê que os abismos entre nações são uma coisa incrível. Eu, por exemplo, com essa história de viver no Brasil, nos Estados Unidos, acompanhar a mídia brasileira e a mídia americana, eu ver os abismos de ignorância que existem entre um e outro é um negócio absolutamente espantoso, quer dizer, fritar no mesmo continente, dizem que são nações amigas muito próximas, mas mais uma não tem a menor ideia do que está acontecendo na outra. Pelo simples fato de que os canais de difusão são limitados. Então, você tem aqui nos Estados Unidos, você tem seis empresas que mandam na mídia inteira, e no Brasil também não é muito diferente, então você só recebe aquilo que essas fontes desejam. Então, outra coisa que me espanta muito, por exemplo, que eu acompanho muito a evolução da direita americana e da direita francesa, que as duas são muito importantes, são muito ativas, não só não há comunicação como não há possibilidade de entendimento, mas a linguagem é diferente, os valores são diferentes, os objetivos são diferentes, os sentimentos são diferentes, e na verdade são até antagônicos. Então, se você falar, por exemplo, de uma internacional direitista quase impossível, pode haver uma internacional comunista, mas de uma internacional direitista é quase impossível, por quê? Ou digamos, uma internacional anticomunista. Os motivos que as pessoas têm para ser anticomunistas são infinitamente variados e incompatíveis entre si, eles não podem se articular numa política. Então, tudo isso faz com que a história dessas comunidades permaneça separada e inarticulável com as de outras comunidades, e pior ainda tem aquela famosa observação do Eric Vergle, como podemos saber o sentido da história, se a história não terminou ainda, se nós não sabemos quando vai terminar. Então, quando você fala o sentido de uma coisa, o sentido de uma coisa é algo que está para além dela, portanto, implica o término dela. Terminou a história e daí tem um sentido que se prolonga para além, assim como você assistiu uma peça do teatro, terminou a peça, você aprende o sentido daquilo e o conserva decidir algum modo quando você vai para casa, mas isso implica que a história tenha terminado. Então, a ideia do sentido da história é uma ideia que não faz o menor sentido. Agora, em compensação, existe um outro aspecto atagônico a esse, é que todo e qualquer processo temporal é finito, não existe ação infinita. Então, do mesmo modo que a história nunca termina, as histórias sempre terminam, as ações sempre terminam, por mais complexas, e duradouras que elas seriam. Se você fala, a guerra dos 100 anos, você diz, bom, a guerra dos 100 anos acabou, não acabou? Então, isso quer dizer que ela fecha, quer dizer, um certo fluxo de ação, ele vende, encadeia os seus efeitos e ele encerra, chega a um ponto em que não tem mais como ir para a diante. Mesmo que se conserva os meus personagens, alguns elementos da situação anterior, a coisa se transmutou de tal maneira que não dá mais para você contar a nova história nos termos da antiga. Como, por exemplo, você não pode contar a história da Rússia hoje nos termos, você contava a história da União Soviética. A coisa mudou de tal maneira, quer dizer, os elementos se misturaram de uma maneira tão diferente que você pode dizer, aquilo de fato terminou. A União Soviética terminou, não tem... pode ter gente que queira restaurar, mas bom, mas se quer restaurar, porque terminou. Então, tem água, hein? Água, não aqui, ó. Então... Isso quer dizer que, no meu entender, é perfeitamente possível uma história objetiva e científica desde que ela se atenha, vamos dizer, às condições que são determinadas pelo nosso conhecimento do fluxo temporal e, vamos dizer, pelas limitações, não só do desconhecimento, mas do próprio fluxo temporal, entre os quais é isso que eu estou dizendo, que todo e qualquer processo é finito. Não há nada infinito, tá certo? Então, mesmo, vamos dizer, a existência da espécie humana. Ah, a espécie humana não terminou, sim, mas a espécie humana não existe como tal, ela existe através, quer dizer, dos indivíduos que representam os quais têm uma duração finita. Neste... Mas ainda, um elemento importantíssimo, não só na história, mas da memória, em geral, é o seguinte, é que algo tem de ser retido e algo tem de ser abandonado, tem de ser esquecido. Se não existisse memória e esquecimento e um permanente jogo entre essas duas, não teria sentido você falar em história, tá certo? Acontece que os elementos esquecidos, a ordem dos elementos esquecidos nem sempre coincide com a ordem dos elementos que eram irrelevantes para a ação, nem sempre que você esqueceu era o irrelevante para a ação. E uma das finalidades da história é precisamente corrigir o esquecimento, quer dizer, indicar quais são os elementos que eram irrelevantes para a própria ação considerada e que, por isso mesmo, não tem de ser lembrada. Por exemplo, qual era a cor da cueca que Robespierre está usando quando enonce o reto a morte? Falei, ninguém sabe e isso não vai fazer a mais mínima diferença. E, no entanto, isso é real. Alguma cueca ele está usando, ou nenhuma. Então, do mesmo modo, se você ver a cena do crime lá no fundo, podia estar passando um bicho que podia ser um cachorro, um gato, isso não vai fazer a menor diferença. Mas essas coisas não fazem diferença, mas elas são reais, elas estão presentes. A história é a história daquilo que aconteceu, como diz Leopoldo von Ranker, e não a história do ser. Isso é importante. O ser, a existência como um todo, não pode ser historiada, não pode ser narrada, porque seria a história de tudo. E nunca a história pretendeu ser isso. A história é a história daquilo que aconteceu, o que aconteceu? É ser um processo determinado, que tem os seus limites internos. Por exemplo, se eu estou tramando um crime, eu quero assaltar um banco, então é certo que eu vou assaltar esse banco e não aquele. Não posso assaltar dois bancos ao mesmo tempo. Então, existe um objetivo, existe um plano, existe uma sequência de ações, existem os obstáculos, existem dificuldades e o resultado. Então, isso fecha numa lógica interna, que não é o historiador que está colocando. Isso é importante. Quer dizer, quem seleciona e quem articula não é o historiador. É a lógica interna da própria ação, sem a qual ela não poderia se desenvolver. E é claro que o observador pode confundir as coisas, ele pode suspeitar motivos que são alheios ao personagem, ele pode confundir ação do um com ação do outro, mas descontemos a possibilidade do erro. Mas demódoa, geral, a possibilidade da ciência histórica repousa inteiramente na possibilidade que as ações tenham uma lógica interna e toda a inculceração, mesmo de um animal, tem uma lógica determinada pelo seu objeto, é dizer, o objeto sobre a qual ele incide e sobre a meta. Isso é o resultado esperado. E o resultado efetivamente obtido. Isso não pode ser imposto de fora. Acontece também que, em ações mais complexas, os objetivos mudam. O insurritor começa uma ação em um determinado sentido, depois ele muda de ideia sem contar para ninguém e começa a fazer uma outra coisa completamente diferente que não faz sentido na lógica da ação anterior. Então desencavar essas mudanças e essas incoerências da ação, essa é uma coisa que o historiador também pode fazer desde que ele se atenha aos limites próprios da lógica da ação. E também, lembrando ainda aquele velho preceito, o que é a ação? A ação é a modificação intencional deliberada de um estado de coisas, sendo que se o estado de coisas já está mudando e você quer conservá-lo, isso também é uma ação. Quer dizer, impedir a mudança de um estado de coisas é também uma mudança, evidentemente, já estava vendo a mudança num certo sentido e você quer interromper, então você quer mudar a mudança. Então, toda e qualquer ação é a mudança deliberada de um estado de coisas. E, nesse sentido, não existe só ação humana, existe ação animal, mas quando o lobo vê o coelho, o coelho está fora do estômago dele, o lobo acha que isso é errado, que deveria estar no estômago dele, então o lobo quer engolir-lo. Então, toda e qualquer ação é isso. E toda e qualquer ação supõe uma representação imaginar prévia do resultado a ser obtido. Sem isso não há ação nenhuma. Quer dizer, se não há uma deliberação, se não há um objetivo, então, não há ação, há apenas automatismos. E, como é que você descobre a intenção? A intenção não é uma coisa que você tem que adivinhar no subconsciente do sujeito. A intenção está patente na própria ação. Mesmo quando há uma camuflagem, a camuflagem faz parte da ação e o indivíduo não vai fazer uma camuflagem não intencional. Portanto, o mais complexo que seja a ação e alguma ser uma complexidade alucinante, em princípio, é sempre possível saber o que que o Sr. estava querendo, o que que ele estava fazendo e quais são as diferentes camuflagens que ele usou no curso da ação. Quanto aos elementos de ficção que são usados na narrativa histórica, é claro que a literatura de ficção desenvolveu mais recursos narrativos do que a ciência histórica. Por quê? Porque a literatura de ficção está atuando num panorama que tem mais possibilidades. Você está lidando apenas com histórias possíveis. Você pode inventar com o jeito que você quiser. Você não está limitado a documentos, a testimonhos, etc. Então, evidentemente, vamos proliferando os modelos de narrativa, os esquemas, os truques, etc. É muito mais do que na ciência histórica. É muito mais natural que a ciência histórica aprenda a arte da narrativa com a literatura de ficção, com a ressalva de que ela vai ter que se ater ao material que existe e não pode imaginá-lo livremente, exceto em pontos onde você não tem os fatos e você tem que costurar uma coisa com outra com imaginação. E isso, acho que é perfeitamente legítimo. Isso se faz em qualquer pesquisa científica. É um pedaço que você tem que suprir ou por dedução, ou por uma construção lógica, qualquer, ou por imaginação. Desde que leva resultados compatíveis, não há problema nenhum em fazer isso. E... É importante ver que não são os esquemas narrativos que determinam a ação. Não, você vai pegar esquemas narrativos que, no seu entender, são adequados para descrever aquela ação. Você vai pegar um esquema narrativo com esse copio de bausacro, de estandale, e vai inventar a história do seu jeito de maneira alguma. Então, o uso de elementos de ficção não desnatam elementos da técnica narrativa ficcional. Não tem nada que ver porque eles são a técnica de conteúdo narrativo e não os fatos narrados. Então, isso aí também, muitos teóricos, os vísperas confundiam o meio ambiente e criaram a dúvida de que seja possível uma ciência histórica objetiva e para justificar de algum modo a livre e invencionice. Mas isso, evidentemente, não tem o menor sentido porque qualquer ação que eu tente descrever, em qualquer ação que eu tente descrever, é limitado pela lógica interna da própria ação, assim como estou limitado pelo meu acesso aos fatos e documentos. Agora, um ponto importante é o seguinte, o material da história se constitui de fatos e fato vem de factum, quer dizer, aquilo que foi feito. Então, existe um ponto de certeza absoluta em história, aquilo que foi feito não pode ser desfeito, não tem como voltar atrás. Então, qualquer que seja o caso, e por mais complexo que seja o material que você está lidando, houve ações que se desenvolveram e que já estão feitas e que você pode até tentar imaginar de outro jeito, mas elas não são de outro jeito. Ou seja, alguma estrutura, objetiva elas tiveram, algum resultado objetivo alcançaram e isso não pode voltar atrás. Eu, como historador, eu posso ter alguma dificuldade de imaginar como a coisa foi, mas eu tenho que ser sempre guiado por esta palavra, fato, quer dizer, aquilo que foi feito. Então, por exemplo, Napoleão morreu no dia tal, ele não vai desmorrer, isso não vai voltar atrás. As batalhas que foram travadas alcançaram o resultado X e não pode ser desalcançada esse resultado. Então, eu tenho que tentar me guiar por esta noção da fatalidade que vem da mesma raiz. Existe um elemento de fatalidade na história. Fatalidade é um determinado futuro, mas sem dúvida, ela fecha o passado. Quer dizer, do conjunto do que poderia acontecer, só algumas coisas aconteceram e elas não desacontassem. Então, isso quer dizer que toda sequência temporal, ela tem uma lógica interna desde que exista uma ação. Então, a sequência temporal, por exemplo, dentro de um meropanorama estático, um deserto, uma floresta, talvez fosse possível até contar aquela história, a história da floresta, que é uma história que se prolonga por muito tempo, onde as ações são muito lentas, o crescimento de uma árvore. A escapa da escala de tempo. A nossa escala de tempo foi feita para contar ações humanas e não processos naturais. Então, quando tentamos temporalizar processos naturais, os nossos erros são da escala de bilhões ou trilhões. Ou seja, os processos naturais, nós temos que reconhecer que eles são longos demais para que nós possamos pegá-los de algum modo, ou pelo menos se eles não são longos demais, eles parecem ser e eles nos enganam. Não precisamos entrar nas discussões todas e se dão entre os paleontologistas sobre a duração das escalas pré-históricas. Isso é quase tudo imaginação. Aí nós estamos livres para imaginar as coisas como foram, por quê? Não se trata de ações propriamente, mas de processos naturais. Processos naturais podem ser imaginados como ações, por exemplo, ações de um Deus, ou ações de uma, entre outras, força natural. Mas são sujeitos que você não aprende. E a nossa imaginação histórica não foi feita para contar. Foi feita para contar ações onde existe um agente, de preferecer um agente humano. Então, eu acho que o que pode nos guiar sempre nas investigações históricas é essa noção do agente humano, das exigências internas da ação, partindo do princípio de que ninguém faz aquilo que não pode fazer, e levando em conta o elemento que eu insisto que são os meios de ação. Então, por exemplo, o lobo para correr atrás do coelho tem que ter a capacidade de correr, se não adianta. Uma cobra, se ela não pegar o coelho, na primeira, ela não vai pegar na segunda, porque ela não pode correr atrás do coelho. Ela pode saltar sobre ele, mas sair correndo não pode. Então, isso ela não vai fazer. Mas um lobo vai fazer, um urso vai fazer assim por diante. Então, em toda a situação, existe uma coleção de meios disponíveis, e os meios limitam severamente a possibilidade da ação. E, com tudo isso, se formem, então, a possibilidade de uma narração científica, razoavelmente objetiva, e eu confesso a vocês que eu tenho encontrado mais certeza no campo da história do que em qualquer outra ciência. Eu acho que as ciências físicas que se gabam tanto da sua exatidão, elas terminam sempre na física quântica, na quântica não indeterminamos total, não tem mais lógica que eles não confesso que não estão entendendo. E, bom, não existe nenhuma narrativa histórica que se desemboque numa confusão tão inestricável, ou não sei se tão absoluto. Então, eu ainda acredito que a história foi uma das primeiras ciências e ela ainda é uma das mais confiáveis no conjunto. Sempre recomendo pessoas que, para cada livro de filosofia que vocês leem, leam pelo menos cinco de história, é certo que é para você não sair voando no mundo dos conceitos abstratos e você sempre está se alimentando de fatos concretos. Vamos fazer um intervalo que eu devia dedicar mais tempo a respostas às perguntas. O vindo. Então, vamos lá. Aqui tem uma pergunta mais ou menos longa do André Luiz Binz. Descrevo para pedir orientação. Pode ser que eles tenham fazendo tempestade com a pudaga, mas vamos ao fato. Hoje, eu decidi reiniciar o cofre, visto que estava fazendo de maneira muito oferta. Então, vendo a apresentação do curso online de Filosofia, ocorreu que, lendo a parte que o senhor diz que a busca da verdade deve imperar até em critérios religiosos, fisico já era um costume. Parei a leitura e comecei a pensar sobre isso. Cheguei à conclusão de que buscar a verdade na religião e não utilizá-la como molde. Estava certo, só me faria bem. Mais ou menos nesse ponto, decidi parar de fazer essa reflexão e dar prosseguimento à leitura. Até clariu a reflexão. O senhor disse, então, que se pode utilizar a religião como baliza, desde que você entenda. Minha pergunta seria, o que fazer para entender bem a religião, poder utilizar ela como baliza? Porém, mais ou menos na hora em que eu formulia essa pergunta, eu me viar uma desconfiança sete, a respeito da religião, acompanhado da frase. Você vai se encorar no olavo e não em Cristo. Digo desconfiança, porque elas não formavam pergunta alguma. Bom, você tem razão, essa pessoa é uma apenas desconfiança e não perguntas formuladas. Na hora em que você já coloca isso aqui, neste plano, você tem aqui duas autoridades, uma do Cristo e outra do olavo, já está completamente desnivelado, porque o Cristo é no mínimo, no mínimo, um fator cósmico. O Cristo não é uma pessoa que está lhe dando uma ideia, não é um professor seu. Cristo é, vamos dizer, o conjunto dentro do qual nós estamos. Então você não tem como nivelar uma coisa com a outra. Quando é que você toma a Rangão com baliza, é pelo seguinte, é porque os mandamentos da Rangão têm uma amplitude da manha. Qualquer sentido específico que você atribua, por exemplo, a qualquer dos 10 mandamentos, você está diminuindo a coisa, sempre tem mais, mais, mais, mais. Então, por isso que eu digo que já você é tomado com baliza e não como instrução substantiva concreta. Porque na hora em que você dá um sentido concreto, você está dando o seu sentido concreto. Você está diminuindo a coisa, está recortando. Está compreendendo? Então, o sentido de cada um dos 10 mandamentos é tão, tão imenso que eu costumo considerar que eles não são mandamentos, que eles são leis ontológicas, eles são cumpridos de qualquer maneira, eles são estruturas do cosmos. Você está sempre fazendo aquilo que você queira, que a não queira. De algum modo. Só existe assim, você ter um modo inconsciente e ter um modo consciente. Então, você diz, por exemplo, amar a Deus sobre todas as coisas. Eu digo, bom, Deus é de fato o único objeto de amor. Sempre o que quer que você esteja a mandar, é de você estar a mandar no fundo daquilo. Mas você pode fazer isso de uma maneira deliberada, consciente e buscar isso aí, buscar o amor de Deus. Ou você pode se contentar com aquele objeto que representa a Deus para você naquele momento e daí você fecha o circuito. É isso. Mas como é esse amor a Deus? Bom, esse amor a Deus é uma tímida e parabólica, como eu digo, o Mário Ferreiro do Santos. Você vai aproximando, aproximando, aproximando e nunca chega. Então, amar a Deus já é, automaticamente, um alargamento das possibilidades da alma. Então, você está sempre ampliando, ampliando, ampliando, ampliando. E é por isso que eu digo que esse mandamento deve ser tomado como baliza e não como um mandamento substantivo. Porque o circuito diz, bom, agora vou amar somente a Deus e mais nada. Eu falo, você não dá para você fazer isso. Você vai ter que amar a Deus através de alguma coisa que o simboliza aí, depois outra, aí, depois outra, e não tem outra maneira de você fazer. Então, inclusive porque as qualidades de Deus são do infinitas, você não tem como agarrá-las. Você quer dizer, amar a Deus dentro da limitação humana e Deus sabe perfeitamente disso. Agora, para você amar a Deus diretamente, você amar a mais nada, é de bom, então, em primeiro lugar, qual das três pessoas? As três, ao mesmo tempo, do mesmo jeito, não têm como você fazer. Neste. Então, porque Deus-Pai é inacessível. Deus-Pírito Santo é invisível e está por toda a parte. E só a terceira pessoa que esteve por aqui, você pode vê-la de algum modo, hoje até indiretamente através dos milagres. Então, você não pode amar os três do mesmo jeito, no mesmo nível. Então, amar a Deus se torna uma abstração. Então, ou amor a Deus, ou ele é uma busca constante. De um amor mais profundo, mais verdadeiro, através do amor das pessoas, através do amor à própria realidade como um todo. Ou ele não é nada. Então, por isso que eu digo, é uma baliza, é um limite que você vai chegar. A baliza é outra maneira de dizer, timis e parabólica. Aquela curva que vai, uma assíntota, que se aproximando e aproximando, mas nunca alcança. Aqui tem uma pergunta que não tem nada a ver com a aula, mas o Zeta Empesta perguntando se vamos conversar no domingo da segunda-feira à noite, Zeta Empesta. Pode me aguardar quando for 11 horas da noite aí no Brasil. Douglas pergunta, o fim da história, tal como sujeito por Fuku Yama, em livro homônimo, pode ser considerado como uma tentativa de atribuição de sentido à história por um indivíduo imerso nela mesmo, sem sombra e dúvida. E por isso mesmo, falha na base. Quer dizer, a história terminou aqui. Aí começou outra coisa. Digo que outra coisa se não a contribuição da história. Ademais, as pessoas têm muita mania de atribuir a humanidade inteira, coisa que estão acontecendo só nos centros mais ricos e avançados do planeta, o que acontece em Nova York, e tem impressão que é uma nova etapa da história da humanidade. Então, por exemplo, você falar desse superhumanismo, o que é superhumanismo? É você desenvolver certas potencialidades humanas para lendo seus limites conhecidos até agora. Quantas pessoas se beneficiaram disso? Duas, três ou quatro? Quanto tempo isso levaria? Vamos supor que isso aconteça para se estender até, sei lá, a Guiné-Bissau, o Paraguai, permillênios. Então, não vai chegar. Então, não há uma nova fase da história. Mesmo essa história de fases, porque só tem sentido você falar em fases quando há uma duração determinada. Você tem um toco, um tiro ou um olho, você corta em pedaço. Agora, se é um negócio indeterminado, a duração das fases é evidentemente elástica, o que lhe parece uma fase e hoje a manhã deixa de ser. Como a história que é essa famosa divisão de história antiga, da de média e história moderna. Claro que não faz o menor sentido. Nós usamos isso às vezes só para fins de indexação, mas não tem alcance objetivo nenhum. Então, tanto faz essas previsões, essa filosofia que implica uma mutação qualitativa da história como um todo, como acontece no marxismo, acontece na Gordo-Fukuian. A história vem até aqui de uma certa maneira, de repente ela transmuta e passa a ser outra coisa. Então, se no tempo do Karl Marx, alguém disser só, meu filho, o socialismo será apenas uma etapa da história do capitalismo. Ele ia cair de costa, ele não ia saber do que você está falando, mas não foi o que aconteceu. Então, são pessoas que partem de uma base conceitual muito limitada, de uma amostragem muito limitada e que quer generalizar por um universo inteiro, isso ultrapassa a capacidade de qualquer ser humano. Quando o gente quer fazer isso, que vai fazer o impossível, ele não vai fazer nada, vai fazer outra coisa e dar o nome do impossível. É o que faz o Fukuian, o que faz Karl Marx e outros tantos. Só pode existir sentido numa história encerrada. E para nossa felicidade, todos os processos humanos são encerrados, mas têm um fim, não há nada que continue indefinidamente. As ações humanas, o universo pode continuar indefinidamente, as ações divinas, mas não é disso que eu estou falando, todas as ações humanas têm um fim. Ou seja, processos que, depois de um determinado ponto, eles só podem persistir como memória ou como possibilidade encerrada. Ou talvez como potencial para um renascimento futuro, não prosseguem mais como processos reais históricos. Então, como eles podem ter o fim, nós podemos saber qual foi o sentido deles. Sobretudo, qual foi o sentido que ter para os personagens envolvidos. Por exemplo, vitória ou derrota. Não há quem possa confundir essas duas coisas. O jeito faz uma guerra, uma eleição, uma luta, ele sabe quem ganhou e que perdeu. E evidentemente, este é o sentido que ele tem para cada um dos personagens. E evidentemente, nós podemos falar, mas também pode ter um sentido para nós. Claro que pode ter um sentido para nós, mas o sentido que tem para nós já não faz parte dele. Ele faz parte da nossa história. Então, aquilo que eu aprendi, por exemplo, sei lá, com as guerras napoleônicas, ou com a história de Carlos Magno, ou qualquer outra coisa, bom, isso faz parte da minha vida e não da vida de Carlos Magno. Então, não confundir o sentido que faz para mim com o sentido que teve para os personagens envolvidos. André Nakane pergunta, na medida em que o marxismo adota um sentido universal da história, em que o fim seria o homem comunista, a teoria comunista não seria apenas uma justificativa moral para os astros presentes com relação ao nobre fim, mas tenta também a falsificar completamente a história para enquadrar o sentido idealizado. Bom, isso é o que eu já tenho explicado muitas vezes. Isso faz parte da essência da mentalidade repulsionária. Quer dizer, você se arroga o papel de representante de um fim a ser alcançado no futuro. Mas, onde você vai exercer esse papel? No futuro não, é agora. Portanto, você é o futuro no presente. Você representa agora o futuro. E o futuro é que vai julgar o presente. Portanto, você é o juiz do presente e do passado. Agora, acontece que esse futuro pode ser realizado, ele não pode, porque se ele fosse realizado, ele se tornaria presente e ele poderia ser julgado. E isso é incompatível, porque daí vai parar a revolução, acabar a revolução. E, además, aquele que, no momento, está na posição de juiz do universo, se tornaria ele o réu. Quer dizer, o que eu fiz, o resultado, vocês me julguem, nenhum revolucionário pode aceitar isso. Então, isso quer dizer que os fins da revolução são estruturalmente autodiáveis eternamente. Nunca podem ser alcançados. Esse seria contra-neitor com o próprio espírito revolucionário. Então, a furística única teoria de revolução que existe é a revolução permanente. Os caras que dizem que são contra a teoria da revolução permanente do trótico, não, eles são a favor também. Eles só não declaram isso, mas toda revolução permanente não pode acabar nunca. Então, quando termina, por exemplo, nós matamos todos os burgueses. Falam, bom, então agora tem os remanescentes da ideologia burguesa na cabeça, no inconsciente das pessoas. Ele tem que matar essas pessoas. E assim por diante, nunca, nunca termina. Então, é por isso que a ideia mais profunda do mentalidade revolucionária é a ideia da destruição, que ele chama de destruição criativa, que é, evidentemente, uma metonímia, uma figura de linguagem. Não existe destruição criativa. A destruição de uma coisa pode dar lugar à outra. Caso essa outra venha com uma energia própria positiva que nada deve à destruição, evidentemente. Então, morre uma geração e vem outra geração. Fala, bom, essa geração existe porque a anterior morreu? Não, ela foi gerada enquanto a anterior vivia. Se a geração anterior morresse antes de gerá-la, ela não existiria. Então, isso quer dizer que a geração seguinte ocupa o espaço, não porque a anterior morreu, mas porque ela vem com uma energia de vida que ele é próprio. Então, destruição criativa é só uma metonímia, uma figura de linguagem, um áculos, absolutamente vazia. E da destruição só nasce a destruição, evidentemente. Isso é sempre assim. Então, a revolução, como ela não... Toda e qualquer revolução, como ela não pode alcançar os seus objetivos, como os seus objetivos, tem que ser... eles são futuros e serão eternamente futuros. Então, só o que resta dela é a destruição. Por isso que o professor falou de Região Comunista. O Região Comunista não existe, ele não existe, nunca existirá, ele não pode existir. Toda e qualquer partido comunista que tome o poder, ele dirá, nós estamos construindo a socialista. Nós ainda não o temos, eles sempre dirão isso. Não pode ser que a pessoa diga, ah, acabou agora está o que o comunismo, agora vocês digam, vocês gostaram ou não gostaram? Eles não podem chegar nesse ponto. Então, isso aí seria o suicídio da revolução e dos revolucionários. Então isso não pode ser feito. Então, temos que sempre empurrar com a barriga para amanhã e amanhã. E o que nós vamos fazendo pelo caminho é só a destruição. O que nós destruímos? O corpo do inimigo. Você parasita o corpo do sistema capitalista e vive dele. Essa semana mesmo, eu vi a entrevista do David Horowitz, eu não li o livro ainda, mas a entrevista dele, resumindo o novo Leviatão, que ele tirou de anos de pesquisa, que ele faz naquele site dele, Discover the Networks, onde ele pega organização, por organização, mostra quem são os membros, aonde veio o dinheiro, etc., etc. Depois de anos, ele sumou tudo. Ele viu o seguinte, a dotação que as empresas, grandes empresas dão para a esquerda nos Estados Unidos, é de 3 bilhões de dólares. E para a direita, são 32 milhões de dólares. Veja o tamanho da diferença. Então, perguntar, mas de que lado então está o grande capital? É claro que está na esquerda. Então é isso que a revolução faz. Ela vai parasitando, parasitando, parasitando o capitalismo. Chega uma hora em que ela tem o poder total no capitalismo e acaba o capitalismo do caso disso, claro que não. Ele só vai se tornando, ele vai se esvaziando dos valores que o originaram, e vai se tornando cada vez mais odioso. E quanto mais você odeia o capitalismo, mais capitalismo você tem. E que é exatamente o que está acontecendo hoje. Então, eles não criam o socialismo, mas transformam o capitalismo no inferno e vivem disso. E quanto mais infernal via o capitalismo, mais cínico é tudo e mais eles ganham dinheiro com isso. E isso nunca vai acabar. Enquanto não erradicar do mundo um treco chamado mentalidade revolucionária. O que é mentalidade revolucionária? É a promessa de, vamos dizer, uma renovação total da sociedade desde as suas bases a ser operada por meio da concentração do poder político. Dêem o poder político e eu refarei a sociedade inteira, de Alta Barca. O sujo que vier com isso, ele tinha que ser transcafiado no hospício na mesma hora. Essa ideia não é um elemento estrutural permanente na história humana. Essa ideia tem uma origem. Começa ali século XIV, XV, e vai crescendo, crescendo, crescendo, crescendo. E hoje se ela atropa o mundo inteiro. Todo mundo hoje quer fazer uma revolução. Qualquer garota e quatorze anos, ele tem um mundo melhor na cabeça, prontinho. E as pessoas acham que isso é normal. Digo, olha, experimenta então reformar você mesmo. Por exemplo, tem um vício, você é fofoquero, você é bíbado, você é viado, você é fofoquero. Experimenta, mudar a vez é fácil. Então, você não consegue mudar nem você mesmo. Como é que você vai mudar o mundo? Você vai piorar o mundo, piorar você consegue. Então, nós temos que erradicar. Não é o socialismo, não é o fascismo, não é isso nem aquilo. É a mentalidade revolucionária em geral. Nós temos que acabar com tudo isso. Nem o que vem é com o rótulo cristão. Eu quero aqui a sociedade cristã, o reino do Cristo na Terra, e vou implantar isso. Ah, quer dizer, concentra o poder na sua mão e você vai fazer o reino do Cristo ou o seu reino? Você vai fazer o reino do Cristo e não exista nenhuma. Então, concentração, reforma integral da sociedade por meio da concentração do poder é a essência da mentalidade revolucionária. Isso tem que ser erradicado. Esse é um poder que nenhum ser humano tem, nem pode ter. E na verdade não chega a ter. O que eu direi é o poder de fazer uma confusão. Como fez o Hitler? Ou como fizeram os comunistas? Ficaram lá 60 anos destruíram tudo, e depois saíram, tchau, vou para casa, não quero mais, não brinco mais. Assim? Quer dizer, ouço o jeito, morre e leva um banho de gente com ele, ou então ele simplesmente diz, tchauzinho, ah, mudei de ideia. Na Rússia está cheio, o cara de KGB disse, agora mudei de ideia, não brinco mais. Agora eu sou democrata, agora eu sou monarquista. E tudo a mesera que vocês fizeram lá atrás, não tem mais concerto. Não adianta nem querer punir vocês, porque punir vocês também não vai consertar a coisa. Então, a revolução é o mal irremediável, todo e qualquer revolução, mal irremediável. O ser humano não tem essa historiada, temos que pensar globalmente, falar nem do ser humano tem a capacidade de pensar globalmente, isso não existe. Nós podemos pensar universalmente, o que é o coisa diferente. O universal são conceitos abstratos, generam que não estão lidando com a realidade concreta, mas com a estrutura do possível. Isso nós podemos, mas o global, quer dizer, o conjunto, a totalidade tomada concretamente, fala é inconcebível para nós. Nós só temos totalidade de abstratos universal, universal concreto, eu fiz só na cabeça de Deus. O que é a revolução? É realizar o universal concreto, meu Deus do céu. Então, o primeiro cara que teve essa ideia, já devia ter sido internado na hora, e os seus seguidores todos. Tem que tapar a boca desses caras amanhã, dizer, meu filho, você é louco, você não está bom, toma lá o seu remédinho, vai para casa. A gente pode, às vezes, remédiar males pequenos, que estão a nossa alcance. Por exemplo, a pessoa pensa, qual é a sua pretensão na vida? Diz-me, minha pretensão é educar algumas pessoas, e olha que isso dá um trabalho miserável, toma o meu tempo inteiro, e às vezes, faça a casa. Então, a limitação natural da possibilidade da ação humana é um elemento que não é discutível, não está em discussão, não pode ser negociado. Então, o Karl Marx reforma o mundo, fala, bom, então faz o seguinte, experimenta curar sua hemorroida, ele sofreu de hemorroida e cama cruz horrorosa, experimenta curar, você não consegue. Agora você vai curar todos os males humanos. André Alira perguntou, poderia dedicar cinco bons livros de história? Primeiro lugar, eu digo Ernest Cantorowski, os dois corpos do rei, eu acho um livro maravilhoso. Em segundo lugar, eu indicaria o livro do Maudre's Eckstains, Ritos da Primavera. Terceiro, eu indicaria o Autono da Idade Média, do Iano Huizinga. Quarto, eu indicaria o Origins da França Contemporânea do Hipoliténe, que é um livro que está cheio de erros factuais, mas que ainda assim, pela penetração psicológica, vale a pena. Você vê o poder do historiador de compreender o que as pessoas estão fazendo, é ali uma coisa impressionante. Quinto, a gente de queim quatro, tá bom, se viram coisas quatro por enquanto, se eu lembrar, eu falo muito. Ah, entrar ainda do próprio Ernest Cantorowski, a biografia foi dele com o segundo. É uma maravilha. Marcelo Rondon pergunta, sendo as ações a maneira de mudar o estado de coisa, ou iniciar algum outro processo, quais são os meios de se otimizar mudanças, no caso do cenário político brasileiro? Onde é quase totalidade dos meios com criação estão na mão dos manipuladores. Essa é a pergunta crucial, evidentemente, e eu não tenho a resposta definitiva. Mas o que eu tenho certeza é o seguinte, que não existe ação abstrata, não existe ação genérica. É um exemplo que eu dei até no outro dia no Hangout. Quando você vai, o arquiteto vai conceber uma casa, ele concebe o plano da casa toda uma vez, ele vê a casa pronta. Mais para construir, ele pode construir a casa pronta, não, ele tem que fazer tijolo por tijolo. Então, na concepção, ele vai dar, do todo para as partes, mas na construção ele vai dar as partes para o todo. Então, do mesmo modo, não existe ação genérica, só a essência concreta num momento e num lugar. E é isso que o pessoal da direita brasileira tem que aprender. Então, quando eles pensam, por exemplo, nós precisamos tomar o poder na República, eu digo, bom, experimenta tomar o poder no seu quarteirão, experimenta tomar o poder no sindicato que você frequente, experimenta tomar o poder na escola que você frequente, experimenta tomar o poder na sua igreja. Então, treinar no pequenininho, o poder está na raiz da sociedade, o poder não está nos cargos públicos. Esse pessoal da esquerda conseguiu dominar a Parada Federal, por quê? Porque eles foram dominando a sociedade desde baixo, exatamente assim. Sindicato por sindicato, escola por escola, jornal por jornal, está só derrada por está só derrada. E, então, quando eles chegam no poder federal, eles têm uma base social que o sustenta lá. A base social não precisa ser muito grande, porque quantas pessoas, se acho que precisa para isso, 20 mil, 30 mil resolvem. Quantas pessoas estão agindo efetivamente na esquerda? Não mais do que isso. Comparado com a população inteira, é o nada, só que eles estão em todos os postos decisivos, desde baixo até em cima, não é só em cima. Você elegeu por isso na República, o que é que adianta? Se não tiver base social, o que acontece é que vão fazer com o color. Derrubam o cara lá com uma facilidade, ou então, pior, nem derrubam, mandam no sujeito. Que é o que acho que vai acontecer com a S.U.N.E.V.S. O obce elege e até o PT manda nele. Por quê? Porque ele não tem militantes, ele só tem eleitorado. Eleitorado é uma turma que se reúne uma vez a cada quatro anos, durante cinco minutos vai lá, vota e volta para casa, esquece. Militante é aquele neguinho que está lá todo dia, trabalhando pela causa, dando dinheiro, arriscando tudo. Então, quem tem militância, ganha. Como é que se faz militância? Começa, treinando no pequeno. Então, esquece o Brasil. Pensa na sua igreja, no seu sindicato, na sua escola, uma estação de rádio, um jornal. Repartição pública. Mas começa pelo pequenininho. Então, essa é a minha sugestão. Vamos treinando pequeno, o que vocês chegam no grande. Você vai levar muito tempo, aí é o jeito de ter paciência. A situação ficou tão ruim que se você ficar com pressa, é que está ferrado mesmo. Tem que ter paciência de frio. Muito bem, eu acho que por hoje é só. Então, está bom. Então, até a semana que vem, muito obrigado.