Curso Online de Filosofia
Olavo de Carvalho
Aula 231
21 de dezembro de 2013
Boa noite a todos, sejam bem- vindos.
Eu escolhi um ensaio de um autor chamado Robin Philips a respeito de Herbert Marcuse. Este texto não é propriamente o assunto da nossa aula, mas é um subsídio que vai nos ajudar a chegar ao tema. O tema mesmo reside em uma série de distorções lógicas que se tornaram tão comuns no mundo de hoje que praticamente ninguém as percebe. Ou seja, a maior parte os meios de prova que são usados hoje, mesmo em meios aparentemente cultos, não são válidos de maneira alguma e se tratam de conceitos totalmente vazios que circulam sem que você possa identificar um objeto que esteja contido nesses conceitos, embora eles correspondam, da parte do usuário, a uma emoção muito clara que ele sente.
Veja a classificação das funções das linguagens do Karl Bühler: (1) a função denominativa, que é indicar objetos, (2) a função expressiva, que é manifestar sentimentos e (3) a função apelativa, que é agir sobre o interlocutor. Nesse modo de comunicação, as funções expressiva e apelativa passam a funcionar como se fosse denominativa: você está expressando uma opinião ou influenciando uma pessoa, dando a impressão de que se está falando de algum objeto identificável. Este modo de raciocinar se tornou praticamente endêmico e é algo terrível porque, uma vez que o individuo começa a falar nesta base, é muito difícil lhe explicar qualquer coisa: toda a possibilidade de uma discussão lógica, racional, fica eliminada de cara.
Vou mostrar como isso funciona. Por exemplo, conceitos como desigualdade social ou cultura negra são expressões de uso corrente em todos os meios sociais, desde a população mais modesta até os intelectuais, os governantes e o Papa. E o que é um conceito? Um conceito é um esquema mental que, ao pensá-lo, lhe permite reconhecer algum objeto que pode ser de natureza física ou de natureza ideal, mental, ou qualquer outra coisa, mas que tem de corresponder a algo, inclusive ao próprio conceito de conceito. Ou seja, quando estou lhe dizendo o que é um conceito, estou me referindo a um artifício mental reconhecível. Todos nós sabemos evidentemente que uma palavra, ou um termo --- em lógica se diz um termo, que quer dizer "limite" --- não é por si mesmo um conceito, pois um mesmo termo pode designar vários conceitos diferentes. Até chamar essas coisas de conceito é um pouco errado porque são apenas termos, mas não há conceito nenhum, na verdade.
Agora, se uma pessoa diz "ai" ou se solta um palavrão para cima de você, ela não está se referindo a nada, está apenas expressando um sentimento dela ou querendo despertar uma emoção em você. Quando a inteligência humana funciona normalmente, aquelas três funções da linguagem são muito distintas, não há a menor possibilidade de confundi-las. Mas, hoje em dia, essa confusão se tornou realmente endêmica e está tornando inviável qualquer discussão pública mais séria. Praticamente hoje só há manipulação de consciências. Manipulação que, nas suas origens, é planejada por pessoas muito capacitadas, que têm um plano de engenharia social, visando a introduzir uma modificação na sociedade, e criam então esses cacoetes mentais com um propósito específico e quase declarado. Mas a manipulação pode por sua vez se tornar um vício generalizado e as pessoas não sabem que estão se manipulando uma às outras: --- é o manipulador manipulado.
Quando chega a esse estágio, entra-se quase que em um nível subumano de comunicação --- como expressei sobre os cachorrinhos --- em que os termos são usados como sinais de reconhecimento: é para saber se você pertence a um determinado grupo ou não, ou seja, é um sinal de simpatia ou antipatia. E quando duas pessoas se comunicam nesta base, usando os mesmos termos acompanhados das mesmas emoções, elas se reconhecem umas às outras. Este reconhecimento dá um sentido de participação, e este sentido de participação dá às pessoas envolvidas nesse processo a impressão de que estão falando de alguma coisa perfeitamente real. A mera concordância de sentimentos com um grupo passa a valer como se fosse um conteúdo objetivo do termo, e naturalmente provoca a confusão entre o mero sentimento de segurança resultante da participação e a impressão de veracidade objetiva. Eu considero que este é o processo mais grave do mundo contemporâneo.
Dias atrás até o Papa andou dizendo que o maior problema do mundo é a pobreza, a desigualdade social. Não, o maior problema do mundo é a perda de capacidade de uso da linguagem como referência objetiva, porque sem isso não se pode resolver problema nenhum, quanto mais a pobreza no mundo. Para resolver qualquer problema, é preciso usar um pouco de inteligência. Se a inteligência é destruída primeiro: --- está tudo perdido. Imagine, por exemplo, um sujeito que está pobre, a mulher dele fugiu, ele perdeu o emprego e está louco. O que tem de ser consertado primeiro? Devolver-lhe a mulher, o emprego? Não, tem de consertar a cabeça do sujeito para ele poder ter emprego, uma mulher e assim por diante.
Quando você perde essa noção da prioridade da inteligência para a sobrevivência humana e acha que é possível resolver os problemas primeiro e tornar-se inteligente depois, aí está tudo perdido mesmo. Isso quer dizer que tudo que se fala de pobreza, de desigualdade social etc. e etc., é tudo flatus vocis: ninguém vai fazer coisíssima nenhuma e se tentar fazer, vai ser pior ainda, como já tem sido pior há um século. O fato é que, o progresso da Modernidade começa com uma promessa de um bem-estar material para todo mundo e acaba por criar formas de miséria jamais conhecidas antes. Não se tem noção de populações inteiras que tenham morrido de fome, como aconteceu na Ucrânia depois em Biafra ou como vem acontecendo em vários lugares. Isso é uma coisa inédita na história do mundo.
Se nós perguntarmos por que foi assim, podemos apontar várias causas, mas uma delas é esta: as pessoas que estão comandando o processo não entendem o que estão fazendo. E não entendem precisamente por causa deste vício que estou lhes dizendo. Este vício começa a aparecer entre os intelectuais, sobretudo entre os séculos XVII e XVIII: --- mas principalmente neste último. Se você ler todos aqueles filósofos enciclopedistas, iluministas etc., verá que o pensamento deles é quase todo feito nas bases desses termos. [00:10] O próprio lema da igualdade --- que aparece na Revolução Francesa, por um exemplo --- até hoje ninguém foi capaz de definir o que é igualdade. Se disser igualdade absoluta, sabemos que isto é impossível pela própria natureza; e se a igualdade é relativa, ela é automaticamente desigualdade: tudo aquilo que é desigual sob algum aspecto é igual sob outro aspecto. O simples conceito de desigualdade já é uma confusão mental monstruosa.
Mais ainda: esse termo é usado para designar uma situação como a que há aqui nos Estados Unidos, onde o mais pobre dos pobres vive em um trailer, tem um carro na porta de casa e tem a sua subsistência assegurada pelo Social Security. até há pessoas realmente morrendo porque não tem o que comer. O mesmo termo é usado para designar essas duas situações, quando me parece que a primeira delas representa aquele estado de bem-estar social no qual a miséria não existe mais, existe somente a pobreza, a miséria foi eliminada. Mas o sujeito que mora em um trailer e tem um carro na porta de casa se sente um injustiçado social tanto quanto aquele que está no Sudão sem ter uma lagartixa para comer. É claro que o termo desigualdade não designa um fenômeno identificável, designa um sentimento que as pessoas têm e que é igual naquele que tem o mínimo garantido pela sociedade e aquele que não tem nada. Como podemos tratar desse fenômeno se nós nem entendemos esta diferença elementar?
Enquanto não resolver este modo de raciocínio baseado em um apelo emocional direto de certas palavras e na confusão entre o sentimento de participação e o sentimento de veracidade, não vamos conseguir resolver problema algum: quanto mais mexer, mais vai complicar. Quando se vê que existe uma crise da inteligência humana, da consciência humana, e que o não entender nada se tornou de certo modo endêmico, qual é o problema mais urgente? E claro que é este: se não restaurarmos a condição de uma discussão objetiva, não adianta ter a esperança de resolver problema algum. Tudo vai ser como a administração Barack Obama que começa dizendo Yes, We Can!, e no fim vemos que não podemos coisíssima nenhuma, não dá para fazer absolutamente nada: --- tudo o que o homem toca sistematicamente dá errado.
Há momentos dessa crise da inteligência humana em que a paralisia da inteligência chega a um ponto da catástrofe, e este pensamento de Herbert Marcuse, exposto pelo Robin Philips, é um exemplo disto: nada do que Marcuse pensou faz o menor sentido: --- do começo até o fim! É um filósofo profissional que não tem a menor idéia do que seja um conceito, ou seja, o instrumento mais simples e mais elementar da filosofia: --- ele desconhece. Curioso que a fonte da autoridade dele é justamente esse desconhecimento e essa incapacidade. Por quê? Na medida em que o sujeito usa o discurso como um meio de identificação e não como um meio de referência a entidades objetivas, ele passa a ter --- evidentemente --- uma penetração psicológica muito maior do que aquele que está falando de realidades. Se eu estou falando com você a respeito de um objeto --- entre eu e você --- o objeto é o mediador da nossa comunicação. Toda vez que eu me refiro àquele objeto, nós dois temos de olhá-lo para ver se estamos falando da mesma coisa. Mas se eu transfiro a comunicação inteiramente para a clave expressiva e apelativa, não preciso mais do objeto, a comunicação de certo modo é direta: eu ajo sobre a sua alma, sem que nem eu nem você tenhamos de prestar satisfação a um terceiro elemento.
Suponha, por exemplo, que o professor está demonstrando uma equação: ele a escreve na lousa, você calcula e diz que o resultado é tanto e o professor diz que é tal outro. Existe um terceiro elemento entre o professor e o aluno que serve de régua para saber quem está certo e quem está errado: --- se os dois estão errados ou estão certos. Existe uma autoridade do objeto, e ela que é o juiz da situação: sempre podemos voltar ao mesmo objeto, reexaminá-lo, olhá-lo de novo, para conferir. Mas, se o objeto é eliminado, e só sobra no lugar dele esse pseudo-objeto que é a emoção, o sentimento de participação etc., a comunicação se torna automaticamente muito mais eficiente. Porque, não tem um objeto para atrapalhar, não tem um terceiro elemento ao qual tenha de olhar para perguntar se você tem razão ou não. Na verdade, a própria idéia de ter razão já desapareceu nesse contexto. Quanto mais afetada uma inteligência estiver por esse processo, mais ela tem a possibilidade de espalhar a sua doença para milhões de pessoas. Então, se me perguntar qual é o problema mais grave do mundo, eu digo que é a crise da inteligência, pois é uma crise de dimensões antropológicas: --- o ser humano está perdendo a capacidade de pensar sobre fenômenos objetivos.
Um dos motivos que geraram isto é a própria ideologia científica moderna, na qual você só reconhece como fato aquilo que a ciência de laboratório já comprovou de alguma maneira. Ou seja, a única referência objetiva são conceitos em grande parte convencionais, ou descrições obtidas através de meios de medida, experimentos, equipamentos e etc. Então você recorta aquele pedacinho do universo e ali tem alguma objetividade. Essa objetividade, por sua vez, não é direta, depende da autoridade do meio científico. Por exemplo, as pessoas que discutem, usando dados da ciência, não estão se referindo a um objeto de experiência delas (um objeto direto), elas estão se referindo à autoridade de uma comunidade que supõe-se já examinou esse objeto e já sabe algo a respeito dele. Portanto, a referência não é direta. Qualquer teoria científica que você alegue não é um objeto de experiência do mundo real, é uma conclusão a que uma comunidade chegou por meios enormemente complexos.
O simples fato de a idéia de realidade objetiva ter se identificado com um conjunto de teorias científicas já mostra que essa idéia não existe mais, não há mais referências objetivas, existem somente teorias científicas. Quando nos referimos a teorias científicas e a usamos como elementos em uma argumentação, estamos sempre usando argumento de autoridade, porque nenhuma teoria científica pode ser provada no curso de uma discussão pública, ela só pode ser provada em certas circunstâncias laboratoriais muito específicas que não são acessíveis no curso da discussão pública. Então o que você faz? Você se reporta a uma comunidade científica na qual você confia e que diz que as coisas são de uma maneira ou de outra. Isso quer dizer que a produção científica inteira do universo não serve como substitutivo da noção imediata de realidade objetiva. E hoje em dia praticamente o único elemento que funciona como dado objetivo confiável é o que a ciência diz: --- o que é o mesmo que dizer que não há mais referência objetiva alguma.
Outro dia um rapaz me perguntou (até publiquei no Facebook): [00:20] "Descontadas as suposições religiosas, qual a diferença que resta entre os homens e os outros animais?" Imediatamente pensei: --- Mas você não sabe? Note que o pressuposto da pergunta é o de que não há diferenças objetivas, só há diferenças se você levar em conta elementos espirituais e transcendentes que só conhecemos através das religiões. Se você apaga isto, a diferença some. Isso quer dizer que a "ciência" tal como esse rapaz a entende não admite nenhuma diferença entre o homem e os demais animais e ela só existe em função de uma crença subjetiva que nós temos. No entanto, essa diferença está patente aos nossos olhos, sem que haja nem uma única ciência que a comprove. Mas há várias diferenças, e todas elas são imediatamente evidentes se você tiver a bondade de percebê-las.
A primeira delas é que somente o ser humano conhece todas as outras espécies animais. Por exemplo, um ser humano sabe que existem ursos polares e girafas, mas as girafas não sabem da existência dos ursos polares e vice-versa. Nós conhecemos até a existência de micro-organismos que para os outros animais são totalmente desconhecidos. Portanto, a noção de mundo animal só existe para o ser humano. Isto significa que o ser humano tem uma capacidade de apreensão que abarca o mundo animal como um objeto do seu pensamento, o que para o animal é absolutamente impossível. Só isso já mostra uma diferença incomensurável. Uma segunda diferença, decorrente da primeira, é que o ser humano cuida dos animais e os animais não cuidam dos homens. Essas duas diferenças são óbvias, patentes e, se for necessário prová-las, as provas são tão abundantes que não acabam mais.
Mas pergunto eu: existe alguma ciência que estuda e prova isso? Nenhuma. Portanto, isso é um dado objetivo, universalmente reconhecível e que é um dos fundamentos da própria ciência (porque só o ser humano pratica as ciências, os outros animais não) e que, no entanto, não é objeto de prova por parte de nenhuma ciência. São esses tipos de fatos --- básicos --- passíveis de provas em número praticamente ilimitado, que deveriam funcionar como premissa nas discussões públicas. Mas graças a esta função social da ciência de ser ela o juiz da objetividade de todas as discussões, um imenso repertório de conceitos fundamentais, sem os quais é impossível pensar, simplesmente desaparece da mente humana por não ser objeto de nenhuma ciência.
E justamente este conjunto de objetos é aquele cuja articulação corresponde ao que nós chamamos de razão. Por exemplo, muitas pessoas confundem razão com a mera capacidade de raciocínio lógico. Mas o que é a capacidade de raciocínio lógico? É a capacidade de perceber a relação entre duas premissas e uma conseqüência, ou seja, você diz três frases separadas e percebe que existe uma unidade entre elas. Esta capacidade de perceber unidade é que define a razão. A razão é a capacidade de perceber a relação entre todo e parte. O raciocínio lógico é somente uma das formas disto, tanto que existe a capacidade de raciocínio visual ou até táctil, existem inúmeras capacidades de raciocínio diferentes, todas elas baseadas nessa relação de todo e parte. Então podemos defini-la como o senso do todo e da parte: --- esta é a definição mais abrangente dela.
Porém, se essa relação já desapareceu, se só sobram partes isoladas, então é impossível raciocinar sobre o que quer que seja e é evidente que toda e qualquer teoria científica trata apenas de partes isoladas. Eu já expliquei aqui neste mesmo curso que é impossível o estudo científico de um fato concreto: o estudo científico pressupõe uma delimitação abstrativa, sem a qual ele não é possível. Isso é uma coisa que todo praticante de alguma ciência ou que até estuda no ginásio deveria saber.
Também outra discussão que surgiu no Facebook e que ilustra isso de uma maneira quase espetacular é a noção de cultura negra. Essa expressão aparece a todo o momento e aparentemente ninguém se dá conta sequer de que --- não é que este conceito não corresponde a nenhum objeto externo --- ele não pode corresponder porque ele é um conceito autocontraditório. Um conceito autocontraditório se nega a si mesmo e não pode corresponder a nenhum objeto. Ou seja, para que um conceito valha alguma coisa tem de primeiramente atender a este requisito: ele não pode ser autocontraditório. Se ele não for autocontraditório, tiver aquele mínimo de coerência, mesmo assim não quer dizer que ele corresponda a algo de real. Mas se é autocontraditório, não vale sequer a pena perguntar se ele corresponde a algo de real porque isto é impossível.
Quando você diz cultura negra, você está caindo numa autocontradição terrível: pois se algo é cultural, não pode ser racial ao mesmo tempo. Aquilo que é racialmente determinado não pode depender de cultura alguma. Por exemplo, a própria diferenciação entre as raças (a pigmentação da pele) depende de algum fator cultural? Não, ela é um fator puramente biológico que a cultura não pode alterar de maneira alguma. Do mesmo modo, aquilo que é cultural depende da ação humana, são criações humanas, e não pode ser inteiramente determinado por um elemento biológico senão o próprio conceito de cultura desapareceria. Quando o sujeito diz cultura negra, ele está falando de uma impossibilidade pura e simples. Se nós falamos cultura inca, cultura paraguaia, cultura americana ou cultura européia, como estamos delimitando esta cultura? Estamos delimitando por um horizonte que pode ser geográfico, lingüístico ou histórico.
Por exemplo, existe uma cultura judaica que não é geograficamente localizada, mas ela tem identidade histórica: cada geração se reporta às anteriores e todos participam do mesmo senso de identidade ao longo dos séculos e dos milênios. Então ela tem uma unidade que é de ordem religiosa, lingüística e histórica. Em outros casos, existe uma referência geográfica muito clara, mas uma referência racial jamais existe. Isto significa que uma cultura pode ser delimitada geograficamente, lingüisticamente, ou por fatores religiosos ou pela sua continuidade histórica, mas não pode ser delimitada pela raça dos seus participantes: --- isso é absolutamente impossível. Tanto que você verá que elementos de uma mesma raça participam de várias culturas ao mesmo tempo, e que, por sua vez, determinadas culturas abrangem várias raças: --- isso é assim desde que o mundo é mundo.
Isto quer dizer que se você pode participar de uma cultura, esta participação não depende e não pode depender de raça alguma. Perceba que as culturas existem desde que o mundo é mundo. Um grego sabia perfeitamente distinguir entre a cultura dele e a cultura dos bárbaros. Aliás, [00:30] a própria palavra "bárbaro" é uma onomatopéia, porque diziam que só os gregos sabiam falar, os outros não falavam, eles só balbuciavam, por isso que chamavam bárbaros. Ou seja, ele conseguia distinguir a sua cultura da do outro, mas o conceito de raça só passou a existir a partir do século XVIII. Leiam a Historia da Idéia de Raça, do Eric Voegelin: a raça como um identificador biológico de seres não poderia surgir antes de surgir a ciência biológica moderna, e mesmo assim não foi imediato. A moderna biologia começa pelo menos dois séculos antes de aparecer a noção de raça, esta é um produto de uma evolução científica determinada. Portanto, se as culturas já tinham um senso de identidade milênios antes de haver a idéia de raça, então elas não podem depender da idéia de raça.
Se você perguntar o que é cultura negra, o sujeito vai responder: --- a cultura dos negros. Por exemplo, um negro africano pode pertencer a um grupo animista ou ao Islã. Os grupos animistas são cada vez mais minoritários e o Islã está cada vez mais se alastrando hegemonicamente, então a probabilidade maior é que ele pertença ao grupo islâmico. O grupo islâmico abomina, proíbe e persegue os cultos animistas, de modo que o sujeito não poderia pertencer a essas duas culturas ao mesmo tempo: --- ele vai ter de escolher. Quando você fala de culturas antagônicas, bastaria acontecer esse caso uma única vez: se elementos de uma mesma raça biológica pertencem a culturas antagônicas, então é claro que a cultura não depende da raça.
Por outro lado, chamar de "cultura" aquilo que se pratica em certos guetos culturais hoje: --- na verdade, é uma subcultura, não chegam a ser uma cultura. Uma cultura tem de abranger todos os aspectos da vida e ser capaz de administrar o seu meio físico: --- isto é fundamental. Nós podemos falar, por exemplo, de uma cultura dos índios do Alto Xingu porque você sabe que ali existe uma comunidade que se adaptou àquela região, que toma posse da natureza física em torno e a administra, de modo a prover no mínimo a subsistência daquela comunidade. Se não existe nem isso, então não tem cultura nenhuma.
Quando você pega a cultura desses guetos, que já estão altamente trabalhados por discursos ideológicos etc., etc., você vê que ela não chega a ser uma cultura porque ela não é auto-suficiente, ela depende de uma outra cultura dentro da qual ela está e da qual ela vive. Por exemplo, a cultura negra de Nova Iorque vive evidentemente de vender DVD's, vídeos, etc., etc. Ora, essa indústria não é uma criação dessa cultura, ela já existe. A cultura do negro americano é uma subcultura dentro de outra cultura e, portanto, ela não tem meios de sobreviver por conta própria, então não chega a ser uma cultura. Para você distinguir o que é uma cultura de uma subcultura: --- é assim.
A nossa constituição define cultura como a expressão dos hábitos e valores populares. Digo que isso não basta para constituir uma cultura, a não ser num sentido analógico, quando você pode falar até de uma cultura familiar. Por exemplo, a família do Olavo tem certos hábitos, usa certas palavras, etc., etc. Você pode dizer a cultura dessa família, mas é um uso totalmente analógico e tremendamente elástico. O que define a cultura é o centro articulador de uma sociedade cuja sobrevivência depende dela. Por exemplo, a cultura grega do tempo de Platão --- para sobreviver --- não dependia absolutamente --- para sobreviver --- da cultura persa nem da cultura chinesa. Então a capacidade de administrar um meio físico é a condição número um para você poder falar que existe uma cultura. Pode-se perceber que só com essas observações a noção de cultura negra já acabou.
Se não existe objetivamente a cultura negra, mas ao contrário, existem culturas africanas totalmente incompatíveis umas com as outras, e se pessoas de raça negra participam de outras culturas, então eu pergunto: --- o que você quer dizer com cultura negra? Isto não quer dizer absolutamente nada, isto é apenas um slogan de um movimento político que explora a subcultura do gueto. Quando se fala cultura negra, não está se referindo a um objeto e sim a um sentimento de participação: se você ama as mesmas coisas e odeia as mesmas coisas, então você é amigo nosso. E esse sentimento de amizade e participação funciona nessas mentalidades como um substitutivo da referência à realidade. Quando duas pessoas se identificam uma com a outra, elas têm impressão de que sabem do que estão falando, mas na verdade elas só estão falando uma da outra e não de alguma coisa. E este modo de raciocínio de fato se tornou endêmico.
No caso do Brasil, praticamente toda a nossa grande cultura do século XIX foi feita por negros e mulatos. Mas, é essa a cultura negra com a qual os caras se identificam? Não, porque essa não é cultura negra, essa é a cultura européia tal como assimilada por um grupo racial que se torna então um agente criador dentro dela. Ou seja, o sujeito veio de uma raça, se incorpora na cultura que veio de outra raça e de certo modo se torna o dono do pedaço. Você não encontrará no século XIX expressões intelectuais mais altas do que Machado de Assis, Cruz e Souza, Castro Alves (que não era preto, e sim mulato). Na Rússia, Pushkin, o maior poeta russo, era preto e, na Alemanha, Thomas Mann era bisneto de preto. O que eles têm de cultura africana? --- Absolutamente nada. Quando os instrumentos de ação cultural usados pelo indivíduo --- quer dizer --- as formas que ele se apropria e se manifesta, vêm de outra cultura, ele pertence a esta cultura e não à sua raça originária: --- isso me parece ser a coisa mais óbvia.
Agora, se você quer extrair a cultura negra, tirando tudo aquilo que é europeu e também tudo que é americano, a verdade é que não sobra nada. Você poder dizer "é a cultura que nós herdamos dos nossos ancestrais...", mas as tribos africanas que foram para o Brasil tinham culturas muito diferentes --- antagônicas --- e uma não participava da cultura do outro. O que você chama hoje de herança africana é um amálgama produzido ex post facto como um elemento de sustentação ideológica de um grupo ativista, e não uma cultura. Eu não tenho nada contra os grupos ativistas, eu acho que todo mundo pode ter o direito de se juntar para lutar pelo que julga serem os seus interesses. Porém, quando isso custa à perda da inteligência humana, a perda da possibilidade de uma discussão racional, aí é o quem pode mais chora menos, já é a barbárie estabelecida, que é exatamente o que acontece hoje em dia.
Para não cairmos nessa, sempre temos de lembrar que um conceito descritivo só serve para alguma coisa quando ele permite distinguir quais objetos estão contidos nele e quais não estão. Por exemplo, se o conceito de animal não serve para distinguir uma lagartixa de uma pedra, então ele não serve para absolutamente nada. O conceito evidentemente não é a própria coisa, mas é como que um elemento mnemônico [00:40] que lhe permite se referir mentalmente a um determinado grupo de objetos que, do seu ponto de vista e desde o seu posto de observação, têm algo em comum. Esse algo pode ser um elemento essencial e até acidental
Por exemplo, podemos nos referir ao grupo dos divorciados. Não há nada de comum entre os divorciados, exceto o fato de que eles tiveram o divórcio. Então eles são descritos por um acidente, não por uma essência, e, no entanto, este acidente permite reconhecer a unidade desse grupo e falar deles até estatisticamente. Ao dizer que aumentou ou diminuiu o número de divórcios, ou o mesmo está condicionado a esse ou àquele fator, está se referindo a uma diferença objetiva, embora seja uma diferença acidental. Mas quando o conceito não corresponde sequer a um elemento acidental, do que é que está falando?
Então conceitos como esses: (a) desigualdade social; (b) cultura negra; (c) ou ainda o conceito de discriminação, que é uma coisa maravilhosa. Como é que nós podemos imaginar o que significa eliminar a discriminação? Nós temos de conceber uma sociedade na qual ninguém é discriminado. Em que todos recebem exatamente o mesmo tratamento, independentemente das circunstâncias. Isso é absolutamente inconcebível, porque a sociedade consiste em discriminar. O simples fato de ter um sentimento de participação em um grupo já discrimina quem não está no grupo. Isso quer dizer que a luta contra a discriminação é baseada na discriminação. Você querer eliminar a discriminação é como querer eliminar o ar. É um conceito que não quer dizer absolutamente nada, mas que expressa um sentimento, e esse sentimento é identificável. Qual é esse sentimento? É o sentimento de que eles não gostam de mim ou eu não tive chance, eu fui prejudicado de alguma maneira. Então, qualquer pessoa que se sinta prejudicada por qualquer coisa pode expressar isso dizendo que foi discriminado.
Suponha que você é um judeu no campo de concentração, você está pesando 31 kg e já não tem o próximo rato para você comer: --- você foi discriminado. Aqui também você tem Barak Obama, criado por uma boa família, teve acesso a tudo etc., mas, como ele é preto, ele se sente discriminado. Ele tem o mesmo sentimento do judeu do campo de concentração. Você acha que esses dois fenômenos são o mesmo? Eu me lembro que a Benedita da Silva, quando era governadora do Rio de Janeiro, ainda se sentia uma negra pobre e discriminada, e era sincera nesse argumento, ela sentia isso. Ou seja, o passado se sobrepunha ao presente de modo que ela não sentisse a sua situação presente, ela operava na situação presente, mas não sentia que estava lá. Evidentemente é um estado de auto-engano. E é este estado de auto-engano que as pessoas expressam quando dizem que estão sendo discriminadas.
Também há outra pergunta: todo mundo que é discriminado, é discriminado por alguém: --- Você pode ser discriminado por todos ao mesmo tempo? Já aconteceu isso? Nem Judas Escariotes foi discriminado por todo mundo ao mesmo tempo, nem o Satanás é discriminado por todo mundo ao mesmo tempo. Isso quer dizer que a discriminação por um grupo implica a pertinência a outro grupo, no qual você não é discriminado. Se nós fossemos imaginar a discriminação total, o indivíduo que é rejeitado por toda a espécie humana, não seriamos capazes de citar nenhum caso. Portanto, se o termo discriminação revela alguma coisa, ele diz respeito à relação entre determinados grupos que se distinguem. Mas pergunto eu: --- esses grupos querem fundir-se, ou querem permanecer distintos? Você diz que quer preservar a sua identidade, pronto, você já discriminou o vizinho.
É impossível você raciocinar com esses conceitos. O que quer que você tente pensar usando estes termos como desigualdade, discriminação, cultura negra, opressão machista etc.: --- você não consegue raciocinar. E justamente porque não consegue raciocinar é que estes termos têm este apelo tremendo às consciências, porque, como eu disse, você não tem o objeto mediador, você não está se referindo a nada: --- está apenas trocando emoções e estímulos.
Isso quer dizer que o sujeito que faz isso --- e estou falando do engenheiro social que está planejando obter algum resultado e que, portanto, inocula esse tipo de chavões na cabeça das pessoas para induzi-las a comportar-se dessa ou daquela maneira --- para planejar esta ação: pode raciocinar desta mesma maneira? Não, porque ele está se reportando a um objeto existente, a uma coisa que existe na realidade: --- que é a comunidade sobre a qual ele pretende agir. Para saber se a operação está funcionando ou não, ele tem de se reportar a esta realidade objetiva. Portanto, o autor desta operação não pode raciocinar da mesma maneira que ele está ensinando os outros a raciocinar, ele tem de conservar a capacidade normal da inteligência ao mesmo tempo em que ele a deprime e debilita nas pessoas que são os alvos da operação.
Isso quer dizer que, hoje, praticamente, você só encontra uma inteligência normal em pessoas malignas (psicopatas) que são capazes de planejar essas coisas e que têm uma inteligência às vezes até superior ou em um reduzidíssimo número de observadores que querem a realidade objetiva e que percebem essa imensa tragédia que está acontecendo. Por exemplo, quando você lê as obras do Eric Voegelin, a cada três páginas, ele está chamando a sua atenção para esse fenômeno, dizendo que este conceito que você está usando não é um conceito. Conceito vem de com, que quer dizer "junto", e sepio, do verbo sepio, sepīre, que quer dizer "agarrar", "pegar". Em alemão, o conceito é Begriff que vem do verbo greifen, que quer dizer agarrar. Ou seja, você não está agarrando nada, você está pegando o ar, ou seja, não há um objeto: --- você está apenas se comunicando com outro ser humano.
E o que é o treinamento básico em filosofia e ciências humanas? Este é o primeiro requisito do treinamento básico: --- você aprender a lidar com conceitos de modo que possa sempre se certificar de que está falando de alguma coisa ou está agarrando o ar. Se você não sabe isso, então você não sabe absolutamente nada de ciências sociais. Das pessoas que usam esse tipo de discurso ininteligente, existem dois tipos: (1) aqueles que sabem que estão fazendo isso, que são --- pouquíssimos --- pessoas de altíssima inteligência (muitos trabalham para o CFR, para a KGB, para o David Rockefeller) e (2) as que não estão trabalhando para ninguém mas que também entendem o processo e tentam esclarecê-lo, que é exatamente o que eu estou fazendo aqui e o que Eric Voegelin fez a sua vida inteira: --- e assim por diante.
Como já fomos longe demais, este texto --- que vai ilustrar de uma maneira claríssima isso o que eu disse --- ficará para semana que vem.
Aluno: A cultura pode sofrer quantas divisões de localidade? [00:50] Apenas olhando a nível de grupos, até onde faz sentido a palavra cultura, passando por casa, bairro cidade, país? Se ela não for definida desde um contexto local e fechado, tudo não seria considerado cultura?
Olavo: Se você definir cultura no sentido da Constituição brasileira, que é a expressão dos modos de ser e dos valores populares, evidente que tudo vira cultura. Mas uma coisa é falar de cultura geral e outra coisa é falar de culturas. Para se admitir que uma determinada cultura existe como entidade identificável, a primeira condição é que ela seja o padrão de apropriação dos meios materiais de subsistência. Se ela não consegue subsistir por si própria, se ela depende de outra, então não é uma cultura, embora seja cultura no sentido genérico da coisa.
Quando eu falo apropriação, nem sempre significa uma posse territorial, mas a possibilidade de um grupo --- com base nos seus valores e costumes --- sobreviver ao longo do tempo, mesmo em ambientes distintos, assinala também uma cultura. É o caso da cultura judaica que existe e tem unidade e continuidade ao longo de milênios, embora tenha se deslocado e tenha até se desmembrado em mil pedaços. Seja nas épocas em que tem um território, seja nas épocas em que não tem, a cultura judaica provou a sua capacidade de subsistência. Mas há outras que são totalmente dependentes de uma cultura maior. Então elas não são propriamente culturas, são aquilo que Oswald Spengler chamava de pseudomorfose: --- uma forma cultural que aparece e depois é dissolvida.
Aluno: Estou lendo livro do Eugen Rosenstock-Huessy --- A origem da linguagem --- no qual o autor define a revolução como um momento de crise da linguagem, no qual uma gritaria inarticulada luta para afirmar-se contra uma linguagem antiga.
Olavo: A revolução só é uma gritaria inarticulada do ponto de vista dos seus participantes menores, porque o planejamento e a liderança de uma revolução pressupõem não só uma linguagem articulada, mas também uma capacidade de raciocínio conceitual muito nítida e perfeita. Você tem de ter um conhecimento objetivo dos grupos com os quais você está lidando. O que ele está falando não é em que uma revolução consiste objetivamente, mas no que ela consiste desde o ponto de vista apenas da linguagem.
Aluno: Como saber se um conceito é válido ou não? Existe algum método sistemático para isto?
Olavo: Existe um critério geral que é justamente esse mesmo que eu já dei. Um conceito é válido quando (1) não é autocontraditório. Aqui nos Estados Unidos se usa muito a palavra concept para designar um plano, algo que você quer fazer. Mesmo esse não pode conter autocontradição. (2) Ele tem de permitir distinguir quais objetos lhe pertencem e quais não pertencem. É o requisito básico da definição, segundo Aristóteles: --- você abranger todos os objetos que cabem ali e nenhum objeto que não cabe. Se o conceito não serve para isso, então certamente ele não tem a função lógica, mas ele pode ter a função psicológica da comunicação ou da influência. Ele não é um conceito, é um símbolo da unidade do grupo, é um símbolo articulador do próprio grupo: eles não estão falando de nada, mas estão como que mostrando uns aos outros os signos de que eu pertenço ao grupo e aquele lá não pertence.
Aluno: Em que ordem eu devo estudar as obras de Platão e Aristóteles?
Olavo: De Platão, o mais certo é estudar pela ordem cronológica: --- essa ordem cronológica é mais ou menos conhecida, embora ela seja um pouco hipotética. Quanto a Aristóteles, ele mesmo dividiu as suas obras e colocou as obras lógicas --- o Organon --- como obras introdutórias, e fez isso com toda razão. Eu acho que estudar primeiro as obras lógicas seria muito bom, desde que você comece por duas, que não são nem obras lógicas e sim sobre a linguagem: As Categorias e Da Interpretação. Eu começaria estudando primeiro As Categorias e Da Interpretação, depois passaria para as obras de poética, retórica, dialética e, por fim, as analíticas. Mas não fará nada mal se, no meio disso, você começar a ler a Metafisica. E deixar para ler depois as obras sobre assuntos mais específicos, como De Anima ou A Geração dos Animais etc.
Aluno: Ouvi de pessoas que respeito e admiro que a música de Debussy, Chopin e Beethoven não fazem bem porque são muito depressivas. Acredito que se o sujeito só escutar Chopan, Debussy e Chabrier, ele pode acabar mal. No entanto, como poemas de Manuel Bandeira e Fernando Pessoa são, embora às vezes, depressivos, muito uteis para simbolizar certos estados de espírito que inevitavelmente nós temos, por que com a música deve ser diferente?
Olavo: Você tem toda razão! A música não tem a obrigação de alegrá-lo. Além disso, é o que dizia Aristóteles: um quadro que represente o feio pode ser bonito enquanto quadro. Você tem um monte de quadros de Goya que representam coisas feias, mas o quadro enquanto tal é bonito. Sendo que a emoção vem em duas faixas: a emoção diante do objeto e a emoção diante de sua representação artística, que é diferente. Isso quer dizer que se o indivíduo, diante de um quadro ou de uma música, se deixa levar exclusivamente pela emoção básica que serve de objeto para essas obras, ele está confundindo a obra de arte com a realidade. Portanto, ele não está tendo uma verdadeira experiência artística, e sim uma experiência auto-hipnótica. A apreciação da obra de arte exige certo afastamento em relação ao seu objeto ou ao seu conteúdo: --- de modo que você possa contemplar a forma enquanto tal. Se não for isso, então a literatura universal é inteiramente depressiva, porque Dante fala do inferno, Shakespeare só fala de assassinatos, incestos, traições etc., e assim por diante. A própria Bíblia você não pode ler sem ficar deprimido.
Aluno: Nos países onde foram instaurados o comunismo durante o processo revolucionário havia, assim como há hoje no Brasil uma grande parcela da população consciente do que estaria por vir?
Olavo: Um excelente documento sobre isso são os livros do Dostoievski, escritos bem antes da Revolução, nos quais você vai ver que a preparação da revolução já estava em curso e havia muita gente consciente. Por exemplo, Os Demônios, são pessoas que ficam bebendo vodca --- ou bebendo chá quando não tinha vodca --- e discutindo a noite inteira. E ali, você vê o caráter explosivo do que estava acontecendo: --- todo mundo sabia que alguma coisa viria, mas não sabia exatamente o quê. Neste romance, há um sujeito que se comporta de uma maneira caracteristicamente psicopática, ele humilha as pessoas, manipula etc. E , enquanto isso, ele está preparando um incêndio numa favela para provocar desordem social. Quer dizer que toda aquela conduta anterior dele já é em vista de um determinado plano que está sendo executado. Então você vê que Dostoievski pelo menos tinha muito clara consciência do que estava por vir.
Aluno: O professor leu o livro do Carl Gallups O rabino que encontrou o Messias?
Olavo: Eu não li ainda esse livro. Estou muito curioso, mas vou ler depois. Obrigado pelo lembrete. [1:00]
Aqui tem uma pergunta sobre Joseph Campbell. Eu não conheço suficiente a obra do Cambell para poder responder.
Por hoje, vamos parar por aqui. Feliz Natal a todos, que Deus os abençoe: --- que tudo seja melhor no próximo ano. Até semana que vem, obrigado.
Transcrição: Tamas Souza, Felipe Vitorino e Tália Oliveira
Revisão: Felipe Mathews Nicolosi da Silveira